Promotora, sobre a base do Vasco: 'É uma vergonha nacional'

Quarta-feira, 15/08/2012 - 09:33

A briga do Vasco desde 2010, quando o Ministério Público visitou e constatou os problemas nos alojamentos e nas dependências para a base em São Januário, não é com a condição de sua estrutura para formar futuros atletas. O clube, através do departamento jurídico, trabalha para desqualificar quase todos pedidos do MP para melhorias nas condições de moradia dos cerca de 50 atletas que moram no Vasco.

Alheio a essa briga, na última quinta-feira, a juíza Katerine Nygaard, da Vara da Infância e da Juventude, determinou a interdição dos alojamentos para atletas da base em São Januário. A nova decisão judicial se baseia na última vistoria, esta da própria equipe da Vara da Infância e da Juventude, realizada há dois meses. Apesar de algumas melhorias ressaltadas nos primeiros relatórios de 25 de abril e 2 de maio (”o clube pareceu que se empenharia em melhorar o atendimento aos atletas”), a visita de 4 de junho indicou decepção com o clube, que mostrou alojamentos em pior estado, segundo as considerações finais que serviram para a nova determinação da juíza.

Até a noite dessa terça-feira, o departamento jurídico do clube não informou se havia recebido a notificação judicial que pedia interdição dos alojamentos e, em caso de não haver outro local para os garotos ficarem, a devolução de todos para suas casas. Uma das advogadas do clube, Luciana Lopes, já avisou que o clube vai recorrer mais uma vez da decisão.

A promotora do Ministério Público Clisanger Ferreira se mostrou revoltada com a vontade do Vasco de novamente recorrer da decisão.

- É uma vergonha nacional. Um clube gigante deixar essas condições para seus atletas. Não à toa que não aparece mais nenhum craque. Agora vão recorrer para dizer o quê? Não é só o MP que está dizendo que há problemas graves. A própria juíza constatou com a vistoria da Vara da Infância - lembrou a promotora.

Na primeira vez que contestou o pedido de interdição de suas instalações, o Vasco conseguiu liminar para utilizar os campos de Itaguaí. Em clima de guerra, a ação classifica o trabalho do MP como “desastroso”, “irresponsável”, “leviano” e mentiroso. Fora da resposta nos papéis, de concreto, porém, o único investimento foi em um novo refeitório para a base e nas obras do CT de Itaguaí.

Comparação com CTs de Inter e São Paulo

As ações de cada lado, do MP - mais o relatório da Vara da Infância - e do Vasco mostram dois mundos completamente diferentes. As fotos do Colégio Vasco da Gama são de cadeiras velhas, ar condicionados e até ventiladores quebrados. Na ação, os advogados vascaínos dizem que "sequer vislumbram a ilicitude praticada pelo CRVG".

- De fato, não há qualquer ilegalidade no atual proceder do clube, sendo o colégio do clube valoroso em dar aulas em ambiente muito mais favorável do existente nos colégios públicos do Rio - diz trecho da inicial de defesa do Vasco.

A promotora lamenta a visão do clube, de comparar as condições atuais com outras piores fora de São Januário.

- O MP faz a sua parte, inclusive quando investiga quais auxílios governamentais esses pais dos garotos recebem, porque sabemos que vêm de origem humilde. Mas não é porque são pobres que qualquer coisa deve ser oferecida a esses meninos - lembra Clisanger Ferreira.

Outro ponto de discórdia entre MP e Vasco diz respeito ao CT de Itaguaí, que primeiro foi interditado, mas depois teve suas atividades liberadas por meio de liminar. As obras devem seguir até meados de outubro, com amplas reformas em refeitórios, quartos e dependências, o que leva a inicial vascaína a constatar:

- A estrutura em Itaguaí rivaliza com os campos de treinamento padrões do Brasil, como os dois clubes São Paulo e Internacional, além de cumprir categoricamente as disposições legais - afirmam os advogados do Vasco, que viram o MP estar enganado ao dizer que o CT fica em zona rural. Para contestar, usam até mesmo da ferramenta Google Maps, que conta três escolas, um hospital (o Rural de Piracema), o Shopping Pátio Mix e o centro a, no máximo, 8 km de distância do local reformado.

Em junho, o Jogo Extra fez série de reportagens que apontava o descaso de clubes com o futuro do futebol brasileiro. O Vasco era o pior cenário da "Raiz do Futebol".

A primeira vistoria

Em 2010, o Ministério Público foi ao clube e constatou completo descaso com as categorias de base.

TAC adiado

O Termo de Ajustamento de Conduta proposta nunca foi assinado. Nele, constavam pedidos de melhorias para os cerca de 60 adolescentes que moravam no clube

Morte em Itaguaí

Sem médicos no local, o garoto Wendel Venâncio morre em fevereiro de 2012 no CT de Itaguaí



Fonte: Extra online