Eurico fala sobre dívidas com Romário e Moreira, projeto olímpico e outros assuntos

Quinta-feira, 26/07/2012 - 06:32

Chegamos à última parte do primeiro depoimento, concedido por Eurico Miranda a um órgão de imprensa sobre o Vasco de seu tempo e dos dias atuais, depois que ele deixou a presidência do Vasco, transcrito em de três edições e que enorme repercussão teve no mundo esportivo.

DÍVIDAS DE ROMÁRIO E DE JOSÉ LUIZ MOREIRA

"Romário emprestou dinheiro num momento de dificuldade. Foram entre R$ 2.000.000,00 e R$ 3.000.000,00 que foram pagos. O que ele está cobrando, na Justiça, é o dinheiro que o Vasco deve a ele referente a direito de imagem e premiação, que totalizam R$ 11.000.000,00 ( onze milhões de reais ). É claro que a quantia não chega a R$ 57.000.000,00 ( cinqüenta e sete milhões de reais) mas os atuais dirigentes é que fizeram com que chegasse a esse montante porque eles são irresponsáveis e não pensam no Vasco; só pensam em resolver os problemas deles. O futuro do Vasco pouco lhes importa. Tudo começa e pode ser constatado no balanço de 2001 ( ele me mostra o balanço deste exercício ) onde se lê credores diversos: R$ 15.000.000,00 ( quinze milhões de reais ). Já em 2004, fizemos uma confissão de dívida no valor de R$ 22.000.000,00 ( vinte e dois milhões de reais), pagando ao jogador R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais ), em 13 ( treze ) anos mais o IGPM. Isto foi sendo pago até 2008 ( junho ) com aval do Clube dos Treze. Aí, quando saí, mandaram suspender o pagamento dizendo que não existia tal dívida e que não pagariam mais. Aí, juntando tudo, dá nisto que está aí. Quanto à dívida com o José Luiz Moreira, esse Vasco de hoje não é o Vasco que você conheceu. No Vasco que você conheceu, muita gente deu dinheiro ao clube e outros foram ressarcidos. Nos 18 (dezoito) meses em que a Globo fez um torniquete financeiro e não pagou R$ 0,01 ( um centavo), ia se pegando dinheiro, com terceiros, e dávamos cheques do Vasco. Este procedimento vem desde o tempo em que o Mário Cupello era o vice de finanças. O José Luiz pagava as contas do departamento de futebol e se nós não tínhamos dinheiro para ressarci-lo, dávamos cheques. Ele está executando esses cheques."

VALOR DO PREJUÍZO QUE ELE, EURICO, ASSUME

"Eu só assumo, como prejuízo que deixei na minha saída do Vasco, a importância de R$ 75.000.000,00 ( setenta e cinco milhões), que é a diferença entre os R$ 155.000.000,00 ( cento e cinqüenta e cinco milhões de reais ) que o Calçada me deixou, em 2001, e os R$ 230.000.000,00 ( duzentos e trinta milhões de reais ) que passei para o Roberto. Eu não chamo de herança maldita este prejuízo que vem desde o Calçada porque ele, Calçada, já recebeu o clube com dívidas. Eu não fiz grandes times porque administrei passivo que me foi entregue. Os que, lá, estão, não pagam nada e nem a ninguém, por conta disso a dívida do Vasco chegou a R$ 500.000.000,00 ( quinhentos milhões de reais). Indago a Eurico se ele não crê que isso seja, completamente, fora de qualquer parâmetro de aceitação, pois os clubes têm um patrimônio humano imenso (são torcedores que calculados chegam a milhões) e que, ao invés de seduzirem estes torcedores a investirem no clube, através de um trabalho inteligente, sedutor de venda de produtos com a imagem do clube e por intermédio de outros canais de receita, vivem, estes clubes, acumulando prejuízos sobre prejuízos. Eurico não tem como discordar e eu, então, pressiono para que ele me dê uma resposta do motivo, pelo qual, se acumula tanto déficit: “ É assim porque é assim. Isto é histórico." Falo do balanço publicado pelo OLHO VIVO e ele me revela: “ Não olhei o balanço mas A ATUAL GESTÃO É TEMERÁRIA porque eles não honram compromissos e o que são 2, viram 5."

PROJETO OLÍMPICO

"O Roberto não sabe nada. Não passa de um imbecil.” Começa, assim, Eurico Miranda, a falar sobre as acusações, que pairam sobre ele, de que, até hoje, a atual administração está pagando dívidas contraídas por causa do PROJETO OLÍMPICO que ele, Eurico, decidiu desenvolver no Vasco. No coquetel de lançamento da FOX, no Brasil, realizado no Copacabana Palace, no princípio deste ano, Roberto Dinamite "chorou" muito, com este editor, na presença do diretor de operações do OLHO VIVO, Wamberto Batista, sobre as ações que vem arcando por conta de pagamentos que não foram feitos, antes de sua chegada à presidência do Vasco, à atletas de esportes olímpicos, que foram contratados, no passado, para defender o clube, além do cartunista Ziraldo que, também, ficou sem receber os R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), que fazem parte de um contrato de prestação de serviços assinado pelo cartunista com o Vasco da Gama, e que, na Justiça, já tinham virado milhões de reais: "O Vasco não paga mais nada deste projeto. Isto está desmascarado. As ações trabalhistas do basquete, não têm nada a ver com o projeto, e as do remo idem. O vôlei foi criado sem ter nenhuma ligação com o PROJETO OLÍMPICO, o mesmo acontecendo com o futebol de salão. A única reclamação, a da vela, já foi liquidada. Quanto a esse assunto do Ziraldo, desconheço. O tema do Dener, é do tempo do Calçada e está sendo pago conforme acordo lavrado entre as partes."

OBJETIVO NO CONSELHO DE BENEMÉRITOS

"Quero fazer com que o Vasco retorne aos seus valores maiores tradição e respeito ao Vasco da Gama -, ou seja, voltar a ser o Vasco que eu aprendi a amar. Você pode modernizar voltando à tradição. O meu Vasco não foi subserviente; não aceitou imposições. Acho que dei mais do que devia, ao Vasco da Gama, mas não me arrependo. Não estarei mais na linha de frente; podem ficar sossegados porque não voltarei a concorrer para ser presidente administrativo. O Conselho de Beneméritos, que presido, é um poder moderador que preserva o patrimônio, principalmente moral, mais do que o físico. O Vasco é um clube DIFERENCIADO. Nunca aceitei benefícios que foram oferecidos sem que o Vasco tivesse opinado, mas, infelizmente, nos dias de hoje, o Vasco está fora do processo decisório, quando ele tem que estar dentro desse processo de tomada de decisões. O VASCO, HOJE, É UM CUMPRIDOR DE ORDENS E NÃO DÁ, MAIS, ORDENS."

A CANDIDATURA JOSÉ FERNANDO HORTA

“Em primeiro lugar, é preciso perguntar, ao Fernando Horta, se o nome dele pode ser lançado para a presidência do Vasco. Se ele é o nome certo, eu não sei. Se ele quiser, pode até ser." Comento: Fui informado de que, no pleito passado, o Fernando não quis ser o candidato do seu grupo porque você queria ficar com o departamento de futebol e ele não concordou. Responde, Eurico: " Não é verdade que eu queria ficar com o futebol."

SAÚDE COMPROMETIDA POR CAUSA DO VASCO

Indago se ele considera que esteja com a saúde comprometida por causa do Vasco. Resposta: " Sem dúvida. Saí do Vasco porque tinha um tumor de alta malignidade, na bexiga, que tirei e, graças a Deus, não recidivou. NINGUÉM ME TIROU DO VASCO; EU SAÍ PORQUE QUIS. Na eleição para presidente do Conselho de Beneméritos, o Calçada foi candidato a vice-presidente, na chapa contrária, e eu tive o dobro de votos da chapa dele, Calçada. Isto, só oito meses depois da minha saída. O Amadeu Pinto da Rocha foi uma figura irrepreensível em todo este processo. Apoiou -me contra o Roberto, sem participar.

"BLINDAGEM" DA ATUAL DIRETORIA

"Tirando o OLHO VIVO, ninguém vaza nada enquanto eles estiverem servindo à interesses. Veja, então: o regulamento diz que não pode ter jogo transmitido, para a praça, e o FLA X FLU foi transmitido para o Rio.

PANORAMA DO FUTEBOL BRASILEIRO

"Ninguém sabe no que isso, que está aí, vai dar porque ninguém faz contestação. Há uma passividade; todo mundo concorda. Vou botar jogo às nove horas porque vai pro Japão, pra Coréia. Aí, bota. Isso não existe. Para pagar pelo televisamento, tem que haver uma variedade de opções de horários. O que faz uma legião de seres humanos torcedores é o estádio. Não se faz isso pela televisão. Não há comparação. Tem gente que muda de clube quando vai ao estádio e, hoje, há uma campanha forte para tirar a gente do estádio porque não tem cerveja, não tem transporte e não tem segurança. Aí, o torcedor só vai à jogos especiais."

PRIVATIZAÇÃO DO MARACANÃ

"Há uma passividade, como já disse. O Maracanã não pode ser para um dos clubes. O Maracanã tem que ser de todos os clubes. Sempre me insurgi contra essa história do Maracanã ser do Flamengo. O que é do estado, é de todos. Isso está igual ao caso do estádio do Corinthians. O Vasco tem que fazer tudo com sangue, suor e lágrimas sem o dinheiro do Estado. Por que entregaram o Engenhão para o Botafogo, depois que o quiseram entregar, para o Flamengo, e o Márcio Braga não quis.

QUAL É A FALTA QUE O EURICO FAZ

"Eu faço falta porque eu era sempre a voz que se levantava. Hoje, quando ameaçam se levantar, levam uma cacetada e se aquietam. Quanto mais me batiam, minha reação era maior."

COPA DE 2014

" Vejo com muito pessimismo pelo fato de que nós vamos disputá-la com a obrigação de ganhar e decisão, no Brasil, você não pode perder. Essa Copa é uma decisão, para nós. Quando o Governo entrou, melhorou tudo. Sem ele, é impossível fazer uma Copa. da maneira como estava, eu via com pessimismo. O Grondona ( presidente da Associação Argentina de Futebol) disse uma frase perfeita: a Copa é da FIFA feita no Brasil. Gastaram dinheiro, no Maracanã, só para a final. Culpam a FIFA, mas tinham que peitá-la para botar mais jogos do Brasil, lá." concluiu nossa entrevista, EURICO MIRANDA.




Fonte: Jornal Olho Vivo – Ano I – Nº 5 – pág. 7 e 8