Em entrevista, Fernando Prass fala sobre carreira e posição de goleiro

Terça-feira, 19/06/2012 - 08:41

Goleiro tem mais de 100 partidas pelo Vasco e fala de sua carreira desde a época do Grêmio

Nome: Fernando Büttenbender Prass
Nasceu: Porto Alegre, 9 de Julho de 1978
Posição que atua: Goleiro do Vasco da Gama
Títulos como jogador:
• Grêmio: Campeonato Gaúcho (1999) e Copa Sul (1999)
• Vila Nova/GO: Campeonato Goiano (2001)
• Coritiba: Campeonato Paranaense (2003 e 2004)
• Vasco da Gama: Campeonato Brasileiro – Série B (2009), Copa do Brasil (2011)

Comecei nas categorias de base do Grêmio em 1991 e fiquei até 2000. Emprestado pelo Tricolor Gaúcho, fui jogar um Campeonato Paulista pelo Francana, depois passei pelo Vila Nova de Goiás e mais um ano no Coritiba. Depois desse meu primeiro ano no Coxa, que foi 2002, acabou o meu vínculo com o Grêmio e permaneci no Coritiba por quase quatro anos. Depois fui negociado para Portugal, e joguei pelo União de Leiria, até por curiosidade, fui para substituir o Elton, que havia saído do Vasco pra lá e fiquei três anos e meio em Portugal. Em 2009 eu recebi o convite do Vasco, acreditei no projeto e aqui estou já há um ano e oito meses.

FutRio: Como você decidiu que seria goleiro de futebol?

Fernando Prass: Nunca tinha pensado em ser goleiro quando era menor. Foi meio que destino. Eu não jogava no gol, eu era volante, mas quando faltou o goleiro do meu time, fizeram um revezamento e eu fui o primeiro a ser escolhido e deu certo. Joguei bem, meu time ganhou e o pessoal pediu pra eu ficar. Aí fui ficando, e fomos jogar um torneio de futebol de praia no Rio Grande do Sul, e o pessoal do Grêmio me viu. Daí por diante nunca mais saí do gol.

FutRio: Qual a maior dificuldade de um goleiro de futebol hoje em dia?

Prass: Primeiramente é complicado analisar quem não foi goleiro, claro, que não tiro o direito de analisar, mas é uma posição complicada. Por mais que a pessoa tenha jogado, entenda de futebol, é difícil. O goleiro tem uma visão diferente. A visão do goleiro é contrária dos outros jogadores. Em certos momentos, só mesmo o goleiro pra saber o que aconteceu no lance. Mas a bola é uma das maiores dificuldades. Claro que o futebol evolui, a bola se tornou impermeável, com isso, tem menos aderência, é mais leve e dá a impressão de oscilar mais. O mercado do futebol exige que se tenha novidade, então todo ano troca a bola, e isso, complica nós goleiros.

FutRio: Em algumas partidas, o goleiro é muito exigido, outras poucas, e pode acontecer dele não ser exigido nos 90 minutos. É melhor para o goleiro ser exigido o tempo todo por que assim ele entra no clima do jogo?

Prass: Os jogos mais perigosos para o goleiro são aqueles que somos pouco ou não somos exigidos. Por mais que você mantenha a concentração, mas não participa do jogo, a tendência é que você se desconcentre. Outro ponto é manter o aquecimento, você pode fazer movimentações, alongamento. Mas a mais complicada é sentir a bola, porque por mais que você mantenha a concentração, fique aquecido, mas você não tem o contato com a bola é difícil, porque daqui a pouco pode vir aquele chute de fora da área, a bola faz uma curva, ou um cruzamento, então por mais que você esteja aquecido, você não está em contato com a bola. Por isso que esses jogos para o goleiro são mais perigosos.

FutRio: Principalmente numa cobrança de penalti, existe o fator sorte. Para o goleiro escolher o lado que vai pular, existe o fator de lado preferencial, como por exemplo, o lado que se dorme, o fato de ser canhoto, destro?

Prass: Pênalti existe o fator sorte sim. Claro que tem que trabalhar explosão, velocidade de braço, de reação, mas, em relação ao lado, acho que todo mundo tem um lado que tem um pouco mais de facilidade pra fazer os movimentos, de repente uma perna você tem mais impulsão que a outra, e isso pode determinar seu lado preferencial, mais do que isso, acho que é o estudo do jogador, vamos supor que eu pule melhor para o lado direito que para o esquerdo, mais se eu tenho a sensação que o jogador vá bater para o lado esquerdo, eu vou pular no esquerdo, mesmo que seja o meu lado mais fraco. O alto nível que é o futebol, pode ter essa diferença, mais é mínima de ter um lado melhor que o outro, principalmente o goleiro. O jogador que chuta com a perna esquerda e com a direita, pode ter uma diferença maior. Mas goleiro, em termos de fazer defesa, tem que ser praticamente igual dos dois lados.

FutRio: Como é o estudo que o goleiro faz antes das partidas para uma eventual cobrança de falta perto da área, uma penalidade?

Prass: Principalmente no Campeonato Brasileiro temos acesso a todos os jogos, e são jogadores que a gente já conhece. Então, você procura saber quem vai jogar, escalação do time, saber se o jogador gosta de bater com o lado interno do pé, se bate forte, se quando ele (o jogador) fica cara a cara com o goleiro, se ele gosta de driblar ou de cavar a bola, se ele é bom no jogo aéreo. Tudo a gente estuda para não ser surpreendido no jogo, de repente o cara que você não prestou muito atenção nele, ele é destro, mas daqui a pouco ele puxa pra esquerda e chuta forte, pode surpreender, então tem que estar atento a todos os detalhes.

FutRio: O Carlos Germano, ídolo do Vasco, é seu preparador de goleiros. Como é o dia a dia de um goleiro?

Prass: O goleiro trabalha a maior parte das vezes isolado do grupo. É um trabalho bem mais individualizado do que o dos jogadores.Por ser um profissional que já trabalhou na posição, como é o Carlos Germano, e teve sucesso, ele sabe no olhar, na conversa, o que você está precisando, se hoje tem que segurar mais um pouquinho porque está mais cansado, se hoje tem que trabalhar mais uma outra situação que está sentindo mais dificuldade no jogo. O Germano é um cara bem tranquilo porque ele dá bastante espaço para isso, mas sem perder o comando, porque afinal, ele é o treinador de goleiro.

FutRio: O goleiro tem uma comemoração solitária na hora do gol do seu time. Como é ter que pular e vibrar sozinho?

Prass: A gente procura comemorar com a torcida já que estamos sempre do lado oposto. A gente sempre fica sozinho, a única exceção é São Januário, quando a gente defende no gol perto do banco de reservas, porque aí a gente comemora com o pessoal, ou então no segundo tempo quando o pessoal do time tá aquecendo atrás do gol. Mas é uma comemoração solitária mesmo.

FutRio: Alguns goleiros tem suas superstições antes de entrar em campo. Você tem alguma?

Prass: Não. A superstição que eu tenho é de trabalhar bastante. Goleiro é 80% transpiração, então tem que trabalhar muito para na hora do jogo poder abrir mão dessas superstições. Acho que você estando bem trabalhado, e o seu trabalho passar confiança na hora do jogo, não precisa dessas superstições para te amparar dentro do jogo.

FutRio: Algum atacante que te deu mais trabalho?

Prass: Dentro da área eu joguei contra o Túlio e ele era impressionante. Mas até hoje, o Romário, dentro da área eu não vi igual e não sei se vai ter.

Fonte: Coluna Bate-Bola com a Dani - FutRio