Agora campeão como técnico, Luisinho relembra títulos pelo Vasco

Segunda-feira, 28/05/2012 - 16:02

Os olhos de quem já viu de perto a Taça Libertadores da América e foi testemunha ocular de uma das maiores viradas da história do futebol brasileiro. Os gestos de um regente que sabe bem o caminho para se quebrar um tabu de 21 anos sem títulos. Discurso de liderança, tão fundamental para vencer dois Brasileiros ou um tricampeonato estadual que nunca antes fora conquistado. De quebra, cabelos brancos que lhe credenciam à passagem de ex-jogador para treinador. Basta pouco mais de uma hora de conversa para perceber que os pés de Luís Carlos Quintanilha seguem tão quentes como se ainda calçasse chuteiras.

Carioca revelado nas categorias de base do Botafogo, Luisinho foi um volante que passou a vida inteira rodeado por troféus. Em General Severiano, ajudou o clube a quebrar o jejum de títulos no fim dos anos 80. De casa nova, viveu o auge da carreira no Vasco, camisa que vestiu entre 1991 e 2000 e lhe deu todos os títulos possíveis. Jogou também por Celta de Vigo, Corinthians e Seleção Brasileira. Hoje, mesmo aposentado, o quase cinquentão Luisinho segue espalhando sua fama de pé-quente. Em seu primeiro trabalho como treinador, levantou a Série A3 do Campeonato Paulista, quebrando o jejum de 98 anos do Rio Branco sem títulos.

– Pode dizer que sou positivo. Demorei a ganhar os títulos. Comecei a carreira no Botafogo, ganhei um torneio nos juniores, mas o clube vivia aquele jejum. Pensava em ganhar um título pelo Botafogo, e conseguimos em 1989, contra o Flamengo. Depois, veio o bicampeonato em 1990. No ano seguinte, eu fui para o Vasco, e daí veio uma sequência. É aquela coisa do pé-quente, da sorte. Estava em uma grande equipe, mas também me preparei – disse o agora técnico ao GLOBOESPORTE.COM.

Mas esta fama de sortudo nem sempre acompanhou Luisinho. Volante de bom poder de marcação, virou profissional em 1982, um daqueles anos de jejum do Botafogo. As temporadas passavam e nada de o tabu acabar. Coube a Maurício encerrar com esta sina de maus resultados. Com gol do atacante, o Bota fez 1 a 0 no Flamengo e levantou o Campeonato Carioca de 1989, a primeira taça do time alvinegro em 21 anos. Na temporada seguinte, veio o bicampeonato, desta vez em cima do Vasco. Esta partida, aliás, seria uma das últimas do meio-campista com a camisa botafoguense. Apesar de o coração de torcedor continuar em General Severiano, seu futuro seria para sempre ligado a outro alvinegro.

Colecionador de títulos no Vasco

Contratado para reforçar a marcação do meio-campo do Vasco, Luisinho precisou de poucos jogos para conquistar o coração da torcida e ter a certeza que a mudança de clube foi acertada. No primeiro duelo contra o Botafogo, pela 14ª rodada do Campeonato Brasileiro, o volante foi um dos principais destaques da vitória por 3 a 0. Sorato e Bebeto marcaram os gols da vitória, mas Luisinho viveu um momento único.

– No final do jogo, embaixo do setor em que a torcida do Botafogo ficava no Maracanã, tomei uma bola na lateral, limpei o Renato Gaúcho e passei pelo Paulo Roberto. As duas torcidas gritaram o meu nome. Tenho um carinho especial pelos dois times. Sou botafoguense, o clube é a minha casa, até porque cheguei com 13 anos de idade. E o Vasco foi criando uma identificação pelo tempo. Foram dez anos muito vencedores. Desde que eu cheguei ao Vasco, em 1991, até a aposentadoria, em 2000, vesti a camisa do clube em todos os anos, mesmo jogando por Celta e Corinthians.

A identificação não é só por tempo de casa, mas também por título. Se passou em branco na primeira temporada, Luisinho participou da conquista do primeiro tricampeonato carioca da história do Vasco, entre 1992 e 1994. De volta após passagens relâmpagos por Celta e Corinthians, o volante ainda levantou seis troféus como jogador do Gigante da Colina: Brasileiros de 1997 e 2000, Carioca de 1998, Libertadores de 1998, Rio-São Paulo de 1999 e Mercosul de 2000. Destes, o mais especial é o Brasileirão de 1997, vencido em cima do Palmeiras.

– Estava com 32 anos e pensei: é a minha chance. Era um time fantástico: Juninho, Pedrinho, Felipe, Edmundo, Evair, Mauro Galvão. Queria é fazer meu papel no meio-campo e botar a faixa de campeão. O elenco era muito forte. Tinha Válber, Vágner e Carlos Germano também – recorda Luisinho, que ainda se lembra do temperamento intempestivo de Edmundo, que terminou o torneio como artilheiro, com 29 gols.

– Meu relacionamento com o Edmundo é maravilhoso até hoje, mas em 97 tivemos um processo difícil dentro do grupo do Vasco. Chegou um momento em que o chamei para tomar um chope comigo e o Mauricinho (atacante). Ele estava mais agitado do que o normal, e ajudamos a focar de novo. Disse que ele seria o artilheiro do Brasileiro, e foi mesmo.

Experiências rápidas por Celta, Corinthians e Seleção

O casamento de Luisinho com o Vasco só deu tempo em dois semestres. Primeiro, em 1993, quando o volante foi contratado pelo Celta de Vigo e jogou alguns meses na Espanha. Não se adaptou, mas pelo que considera pensamento pequeno de seus companheiros. Também não teve sucesso nos meses que vestiu a camisa do Corinthians e disputou o Campeonato Brasileiro de 1994.

– Na concentração, os jogadores brincavam com os resultados. Uma vez a gente enfrentou o Valencia e ficaram falando: "E aí, vamos perder de quanto hoje?". Aquilo me deixava irritado demais, não engolia aquilo. Tanto que fiquei alguns meses e voltei para o Brasil para disputar o tricampeonato carioca pelo Vasco. Depois tive a chance de voltar para a Espanha, mas surgiu uma oportunidade no Corinthians. A adaptação foi difícil, mas chegamos à final do Brasileiro, contra aquele time fantástico do Palmeiras. Chegamos, fomos vice-campeões, mas quis voltar ao Rio.

A passagem pelo Celta, aliás, foi o que causou o fim do ciclo de Luisinho na Seleção Brasileira. Foi convocado pela primeira vez em setembro de 1992 e estreou em uma vitória por 4 a 2 sobre a Costa Rica. Titular na US Cup, marcou um gol no empate por 3 a 3 com a Alemanha, mas se despediu na semifinal da Copa América de 1993, com a derrota para a Argentina nos pênaltis.

– Troquei o Vasco, que sempre brigava por títulos, por um time que disputava para não cair no Espanhol e longe da visão do Parreira. Logo depois, saiu a convocação para as Eliminatórias de 1994 e eu não estava. Mas não tenho mágoa. Abriram espaço para outros jogadores que não eram convocados, como o Mazinho. No fim foi legal participar de um grupo com Raí, Careca, Branco, Jorginho e outros.

Despedida com título e carreira rápida como agente

O encerramento da carreira profissional foi até forçado. Em 1999, Luisinho passou por três cirurgias no tornozelo e atrasou seu retorno ao Vasco em um ano. Só voltou a ficar à disposição de Oswaldo de Oliveira, então treinador do clube, na metade de 2000. Não houve tempo para brigar pela vaga de titular, mas pelo menos conseguiu levantar as duas últimas taças da carreira.

– Participava daquele grupo, mas não jogava mais. Era um time muito forte, difícil de se recuperar a posição. Pelo menos encerrei com dois títulos. No jogo final com o Palmeiras, pela Mercosul, nem fiquei no banco. Depois, teve a final da Copa João Havelange, que só aconteceu em janeiro por causa da queda de São Januário. Voltamos a treinar depois do Natal só para aquele jogo. Deu certo. A sorte bateu na porta.

O hiato entre a aposentadoria como jogador e o início da nova carreira durou um mês. Acostumado a defender o Vasco, Luisinho teve que lutar contra aquele time que o acolhera nos últimos dez anos.

– Fiz prova na Fifa para ser agente e iniciei logo com o processo do Juninho Pernambucano, que queria sair do Vasco para jogar no Lyon. Fiquei chateado com o Eurico Miranda, por uma conversa ruim que tivemos, e daí entrei com ainda mais vontade de vencer aquele caso. No fim, fizemos um acordo, mas tínhamos que ser firmes.

Nova etapa, agora como professor

A vitória como agente e os clientes famosos (além de Juninho, trabalhou com Pedrinho e Odvan) não iludiram Luisinho. Havia uma voz dentro de si que lamentava a distância do gramado. Depois de sete anos, o ex-volante ouviu os apelos interiores e formou-se como treinador de futebol no Rio de Janeiro. Após estágios com Vanderlei Luxemburgo, Ricardo Gomes, PC Gusmão, Oswaldo de Oliveira e Antônio Lopes, recebeu a primeira oportunidade: o time júnior do Nova Iguaçu.

– O Zinho me ligou e fez o convite. Na minha cabeça, eu queria o profissional, até por ver os caras que jogaram comigo, como o Jorginho, treinando time de cima. Mas aceitei e comecei o trabalho em julho do ano passado. A garotada ganhou a Taça Guanabara neste ano, mas eu saí uma semana antes, porque queria mais.

O algo a mais veio em forma de experiência no início de 2012. A saída de Cilinho fez Luisinho abraçar o projeto do Rio Branco, que tentava se levantar após anos de insucessos. A equação foi perfeita: a soma de um técnico sonhador e um time em busca de glórias passadas resultou em uma campanha quase perfeita. Com 13 vitórias, cinco empates e apenas três derrotas com o novo treinador, o Tigre conquistou a Série A3 do Paulista e, além de levantar a primeira taça de sua história, voltou a sonhar disputar a elite do Paulistão em 2014, quando completa 100 anos.

– Lembro que cheguei numa quinta, conquistamos a primeira vitória no sábado e já treinamos de novo no domingo. As coisas foram acontecendo naturalmente. No jogo final, a energia era tão positiva que os torcedores vieram nos buscar aqui na concentração duas horas antes do jogo. Foi uma campanha brilhante.

Sem saber se permanecerá no Rio Branco, Luisinho sonha com voos maiores. Se foi pé-quente para acabar com um jejum de 21 anos no Botafogo, participar do primeiro tricampeonato carioca do Vasco e ajudar o clube a vencer sua única Libertadores, o sucesso é o mínimo que espera.

Luisinho Quintanilha fala sobre o sucesso na carreira profissional


Fonte: GloboEsporte.com