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Em entrevista, Cristóvão fala sobre 2011, cuidados com saúde e R. Gomes


Sábado, 07/01/2012 - 17:00

Depois de mais de três meses e muitas emoções desde o dia em que Ricardo Gomes sofreu o AVC em campo até o fim do Brasileiro, Cristóvão aproveitou o fim do ano não apenas com descanso. O técnico também fez um check-up completo da saúde. A preocupação maior do auxiliar que dirigiu o time no segundo turno inteiro do Brasileiro e também na Sul-Americana era com a garganta.

— Todo ano eu faço exames, mas é claro que esse problema do Ricardo serviu para reforçar essas preocupações. Mas, graças a Deus, está tudo bem — disse.

Na entrevista ao Jogo Extra, Cristóvão mostra mais ainda seu lado estudioso do futebol — as análises de adversários, vídeos e esquemas táticos que invadem até suas férias. Fala como é se sentir um novato nos duelos contra Abel Braga, Vanderlei Luxemburgo e Oswaldo de Oliveira e conta o que mais sente falta na hora que deixar de ser técnico para voltar a trabalhar com Ricardo. Aliás, Cristóvão revela que recebeu ligações de empresários interessados em cuidar de uma possível "carreira solo".

Nesse período como treinador do Vasco, você recebeu críticas e elogios, naturais a todos que comandam um time de futebol, mas não teve medo de arriscar. Como foi sentir na pele esta coisa de céu ou inferno de acordo com o resultado?

Eu assisto ao mesmo jogo que o torcedor, que os dirigentes, que todo mundo. E às vezes as impressões de uma mesma partida são diferentes. É assim mesmo. Todo mundo quer ver o time jogando bem e vencendo. Muitas vezes fui criticado até antecipadamente, depois elogiado. Creio que o importante é sempre você acreditar no trabalho que desenvolve.

Mas você chegou a mudar bastante o esquema do Ricardo Gomes, que venceu a Copa do Brasil. Ele chegou a jogar com três volantes. Concorda?

Sim, é verdade. Mas muitas vezes as mudanças são de acordo com o adversário que vamos enfrentar. No segundo turno, fomos obrigados a fazer muitas modificações, seja por contusão, seja por necessidade de criar alguma coisa que possa surpreender o adversário. Aqui, como todo mundo vê o jogo de todo mundo o tempo todo, o que você puder fazer de diferente pode ser bom. Você não surpreende se não modificar. Claro que é preciso ter as peças para isso. Às vezes dá certo, às vezes não, mas sei que, na maioria das vezes, minhas decisões deram certo.

Até pela função anterior, de analisar adversários, você parece estudar muito. Considera-se um estudioso do assunto?

Procuro ver as coisas que estão acontecendo no futebol, aprender o tempo inteiro. Tenho amigos que encontro e conversamos sobre futebol. Como quando encontro o próprio Ricardo. Passo horas vendo vídeos, edito os vídeos, preparo meu time em cima disso. Treino as situações de jogo. Mas claro que, no futebol, tem coisas que são imprevisíveis. A gente treina para aquelas que são previsíveis.

Como é essa troca de experiências com amigos?

Antes do Ano-Novo passei um dia inteiro na casa do Ricardo. Fiquei com ele de tarde até umas 21 horas. Conversamos sobre tudo, mas também sobre muitas coisas do Vasco. Falamos sobre estrutura de futebol profissional, do que precisa melhorar, mas não só no clube, dos clubes em geral, do que precisa evoluir. Também nas férias, encontrei um amigo antigo, o Sebastião Rocha. Ele é uma pessoa muito estudiosa. Está no futebol do Qatar, é experiente. Conversamos, ele me falou sobre algumas coisas diferentes que têm visto e assim aprendemos.

Como você gosta de ver seu time jogar, seu ideal de jogo?

O melhor retrato do meu time foi o primeiro tempo contra a Universidad de Chile (1 a 1 pela Sul-Americana). Aquele é o time que eu gosto. Aconteceu muita coisa que eu treino, que a gente deseja que seja feito. Contra o Grêmio (4 a 0), Atlético-MG, Botafogo, também fomos maravilhosos. Com movimentação, grande posse de bola, variação de jogadas, troca de posições, sempre com dois atacantes entrando na área. Conseguimos marcar por pressão, sem sofrer contra-ataques.

E como vai ser enfrentar Abel, Luxemburgo e Oswaldo de Oliveira, seus adversários no Rio. Sente-se um novato?

Eu me sinto um novato, é isso mesmo. E um privilegiado. Como foi quando disputei, junto com o Ricardo, o título de melhor treinador do Brasileiro contra o Tite, que foi o campeão. Imagina? Num campeonato que tinha Muricy, Felipão, Vanderlei, Leão? É uma honra.

Você concorda que o futebol brasileiro privilegia a força e não a técnica?

Não concordo com isso, senão o Ganso não jogava, o Douglas também não. Claro que o futebol precisa de velocidade e força, mas no Barcelona, por exemplo, os jogadores não são grandões, fortes. No meu time tem o Felipe. É uma pena a questão do tempo que vai chegando. Como eu desejaria que o Felipe tivesse 25 anos! Que ficasse sempre com essa idade, seria um privilégio para o futebol. Ele consegue jogar com alto nível e é pura técnica, um jogo extremamente cerebral.

Você chegou a fazer exames para ver como está a saúde?

Nas últimas semanas fiz endoscopia, fiz também um mapa para monitorar a pressão, exames de sangue, fiz tudo. Todo ano eu faço, mas esse problema do Ricardo serve para reforçar a preocupação.

Você é religioso?

Não sou frequentador, mas sou católico, rezo bastante. Nossa, como agradeço... Acho até que Deus ficou de saco cheio de tanto que agradeci. Caiu essa missão para mim e sei que cumpri muito bem.

E você recebeu propostas de trabalho após esse ano?

Não foi proposta, mas recebi telefonemas de empresários querendo saber se tinha empresário, se tenho interesse em levar carreira solo. Queriam saber se aparecesse algum clube interessado, essas coisas. Mas não me interessa pensar nisso agora.

Vai sentir muita falta quando voltar ao trabalho de auxiliar-técnico do Ricardo?

Vai dar uma aliviada (risos), mas é um trabalho fascinante. Essa convivência, essa coisa de ver acontecer o que você trabalhou. É muito bacana. Mas vou me sentir à vontade, vou estar junto dele, vou participar, como já fazia. Claro que é diferente, mas torço pela volta dele logo.

Ele disse recentemente que seria um brinde te enfrentar.

Eu nunca tinha pensado nisso. Mas seria da mesma forma para mim. Foi assim quando enfrentei o Felipão, que foi meu técnico no Grêmio. O Leão também, o Caio Júnior, o Cuca, outros encontros. Mas enfrentar o Ricardo seria especial. Somos parceiros além do profissional. Seria eu, como cria, e ele, como mestre. Ficaria muito feliz.

Você conhece todos os truques do Ricardo... Poderia surpreendê-lo?

A gente tenta, né (risos)? Mas depende do que a gente tiver na mão.

Fonte: Extra Online