Yago Pikachu comenta saída do Vasco, aprova reformulação e não descarta volta no futuro
Terça-feira, 16/03/2021 - 08:50
O lateral-direito Yago Pikachu, jogador que mais vestiu a camisa do Vasco no século 21, com 253 jogos e 40 gols marcados, encerrou sua passagem de cinco anos pela Colina na semana passada. Em entrevista ao ge, o atleta de 28 anos vê o momento como o mais adequado para finalizar o ciclo em São Januário, porém lamenta que o capítulo final tenha sido o quarto rebaixamento.

- Primeiro é um sentimento de gratidão por tudo que passei no clube, conheci muita gente, funcionários. E agora vamos respirar novos ares. Acredito que era o momento certo, mas não da forma que está sendo com o rebaixamento. Mas acredito que fiz meu papel da melhor maneira possível, me doei o máximo desde aquele jogo contra o Madureira em 2016 até o último contra o Goiás. Saio de cabeça erguida e agradeço muito ao clube por tudo que passei - afirmou.

Pikachu concorda com o corte de custos capitaneado pelo executivo de futebol do Vasco, Alexandre Pássaro, a quem fez elogios. Vê como necessária a reformulação do grupo, que também não conta mais com Fernando Miguel, Henrique, Gustavo Torres, Léo Gil, Marcelo Alves e Ygor Catatau - o clube espera a definição dos casos de Marcos Júnior, Werley, Neto Borges e Lucas Santos. O experiente lateral crê que a transformação tornou-se ainda mais crucial com a perda de dinheiro com o rebaixamento.

- Depois do que aconteceu, essa reformulação é importante porque o clube vai perder uma receita. Acredito que os meninos da base vão ter muito mais oportunidade e sabemos que a base do Vasco é uma das melhores do Brasil e sempre revela jogadores. Esse era o momento de sair pelo desgaste que teve, pelo período, mas sempre quis sair pela porta da frente.



O ano de 2020 certamente foi o pior do atleta com a Cruz de Malta no peito, e os recorrentes atrasos até o permitiam a buscar uma rescisão unilateral. Preferiu preservar a relação e evitar os tribunais pelo carinho que tem pelo Vasco.

- Teve oportunidade de sair na Justiça, mas nunca foi meu desejo. Nunca passou pela minha cabeça colocar o clube na Justiça e essa negociação foi feita para sair pela porta da frente. Até porque tudo pelo que o clube fez por mim.

Pikachu deixa São Januário ainda mais vascaíno do que era na infância, quando ainda morava em Belém, no Pará, onde nasceu. Viveu grandes momentos, marcou gols e conquistou dois Cariocas, mas o movimento de associação em massa no final de 2019 que o fez se apaixonar ainda mais pelo clube.

- Fui vascaíno na infância, minha mãe (Suzy) é vascaína. Em 2015, meus pais vieram ao Rio ver um jogo do Vasco, contra o Corinthians. Minha mãe estava no camarote e já pensando uma transferência para o Vasco. Isso pesou muito.

- Com esse período que fiquei aqui, não tem como não ficar ainda mais Vasco. O que me pegou muito foi aquele movimento do sócio-torcedor de 2019. O que o torcedor fez foi incrível. O clube tinha 18 mil e foi bater quase 200 mil em um mês. Isso me surpreendeu muito. É um sentimento incrível por tudo que passamos aqui, pelo acolhimento e vou levar para o meu coração.

Confira outros tópicos da entrevista:

Negociação de saída e elogios a Pássaro

- Foi muito tranquila. Já tive uma conversa com o Pássaro depois do último jogo contra o Goiás. Na saída do vestiário, deu a entender que o clube teria essa reformulação e pediu para eu pensar no futuro e ver a melhor coisa para mim porque ele iria avaliar pela parte do clube. Tive aquele período de mais uma semana, e depois o clube me ligou dizendo que iria prolongar mais as férias, pois não estava nos planos. Tudo feito com muita seriedade. Fizemos da melhor maneira possível. Queria dar os parabéns ao Pássaro pela condução. Foi muito transparente.

Erros cruciais que levaram ao rebaixamento

- O Ramon era um cara que conhecia o clube já fazia dois anos e conhecia a característica de cada um. Foi um baque a saída dele. Estávamos passando um momento ruim, mas todos os times passam por altos e baixos. O Inter, São Paulo e Flamengo, por exemplo. Uma competição tão disputada vai ter isso. Não conseguimos assimilar quando houve esse momento ruim do clube. Foi uma surpresa. A eliminação na Copa do Brasil pesou muito mais do que as duas derrotas no Brasileiro.

- A saída da Copa do Brasil abalou muito a nossa equipe. O que pesou mais foi essa eliminação e depois que chegou o Sá Pinto tentamos assimilar rápido, mas demorou muito. Mudamos de esquema, eu não consegui ter um bom rendimento e acabei saindo do time. No final, ele voltou a me usar até no meio. Mas a culpa passa por tudo mundo, diretoria, jogadores, por mim. Lamentamos muito esse rebaixamento e, vendo a tabela, percebemos que um ponto fez toda a diferença.

Análise sobre os laterais do Vasco

- O Zeca eu conheço de jogar contra. Tenho até duas camisas dele do Santos que troquei com ele. Tenho um contato bom. Fui no clube ontem pegar minhas coisas e desejei boa sorte. Joga nas duas laterais e pode agregar muito, é campeão olímpico e pode ajudar muito os jogadores que estão surgindo. O Cayo teve oportunidades com o Vanderlei e tem muito potencial para crescer. Jovem com velocidade e força. Riquelme jogou pouco no profissional, mas treinou conosco. É um jogador muito bem falado no clube, tem muita qualidade e acredito que ele possa em um ou dois anos possa ser referência na lateral-esquerda.

Despedida com emoção

- Procurei não ficar muito até porque sabemos do carinho dos funcionários. Caras que chegam às 6h da manhã e não tem hora para sair. Muitos chegaram a chorar, e eu também fiquei abalado. São cinco anos, e você acaba se apegando a todo muito, roupeiro, porteiro... Cheguei a falar com o Marquinhos e Ernando e desejei sucesso. Foi uma despedida triste por tanto tempo que fiquei no clube.

Momentos mais especiais no Vasco

- Vou colocar dois ou mais. Mas são a minha chegada e o título invicto do Carioca em 2016. Ficamos trinta e poucos jogos de invencibilidade. Além disso, a arrancada para a Libertadores em 2017. O último jogo contra o Ponte em São Januário para entrar na fase de grupos. O estádio estava lotado, e só dependia da gente colocar o Vasco na Libertadores depois de muito tempo.

Sentirá saudades do Rio?

- Aqui eu era mais casa, cara. O pessoal até brinca perguntando quantas vezes eu fui na praia. Posso contar umas 10 vezes (risos). Saudade pela sua beleza, conheci Angra, Búzios.... O Cristo que demorei também para conhecer (risos), só fui em 2019 numa matéria muito legal da Vasco TV. Acho que eu levo as amizades que criei aqui. Tive uma outra filha aqui (carioca). Pessoas importantes também que me ajudaram no Vasco.

Grandes amigos que fez no Rio

- Na minha chegada um cara que me ajudou muito e hoje tenho pouco contato foi o Eder Luis. Me abraçou e foi um dos mais importantes em 2016. Sentava do lado dele, perguntava de clube e cidade. Depois fui criando laços com outros. Luan Garcia, que está no Palmeiras, o Thalles, que infelizmente não está mais conosco. O Henrique é um dos caras que tenho mais amizade dentro e fora do clube.

Ida para o Fortaleza

- Momento de respirar novos ares e que eu possa dar meu máximo. Trabalhar duro e dar alegrias ao Fortaleza.

Se vê novamente no Vasco? Você é novo, faz 29 anos em junho...

- Falar nesse momento é complicado, mas deixei as portas abertas. Não sabemos o dia de amanhã, mas, se tiver oportunidade para voltar, voltarei. Não tem como esquecer o que passei nesse clube. Quem sabe a gente possa voltar? No futuro ver com mais calma.

Desejo para o Vasco e para os vascaínos

- Eu desejo toda sorte do mundo. Acredito muito nesse projeto que está sendo construído e nas pessoas que estão entrando para reerguer o clube. O Vasco é muito grande para estar na Segunda Divisão. Desejar uma boa sorte aos jogadores que estão no momento e os aos que estão por chegar. Sabemos da grandeza desse clube e agradecer ao torcedor pelo carinho de sempre. Desejar um bom retorno para a Série A. Acredito que o projeto dará certo e que o Vasco voltará para seu lugar. O torcedor não merece isso. Abraça e leva o clube nas costas.

Fonte: ge