Jorge Salgado e Julio Brant falam sobre as eleições deste sábado
Sábado, 14/11/2020 - 09:57
Pelo segundo sábado seguido, os sócios do Vasco vão às urnas para escolher o novo presidente no triênio entre 2021 e 2023. E, diferentemente do último final de semana, o formato da votação será diferente.

Por conta dos riscos de aglomeração e como forma de prevenção à COVID-19, a Assembleia Geral do clube determinou que a eleição fosse híbrida. Assim, os sócios podem votar presencialmente, na sede do Calabouço, ou online. Ao todo, segundo a Junta Deliberativa, 7981 associados têm direito a voto.

As eleições desse ano do Vasco estão marcadas por disputas judiciais entre as chapas e grupos políticos do clube. Uma liminar na sexta-feira (6) fez com que a eleição ocorresse no dia seguinte.

Às 20h do próprio sábado (7), uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) fez com que o pleito fosse suspenso. Ainda assim, a pedido do candidato Leven Siano, a votação prosseguiu. As chapas de Alexandre Campello, Jorge Salgado e Julio Brant chegaram a se retirar do local por discordarem da decisão.

Por falta de local para as urnas serem guardadas, a votação foi apurada e, às 4h20 da manhã, após a contagem de 3447 votos, Leven Siano se declarou vencedor do pleito e presidente do clube por ter 1155 votos, a maioria da totalidade.

Com a remarcação das eleições para este sábado (14), os candidatos Alexandre Campello, Leven Siano e Sérgio Frias retiraram suas candidaturas por não concordarem com a definição.

Leven, inclusive, reivindica judicialmente que a sua vitória na votação do dia 7 seja considerada e ele possa assumir a presidência do Vasco.

Com as desistências dos três candidatos, restaram na eleição as chapas "Mais Vasco", que tem como concorrente Jorge Salgado, e "Sempre Vasco", de Julio Brant. Os dois falaram com exclusividade ao ESPN.com.br e citaram o motivo pelos quais consideram que merecem ser eleitos.

Jorge Salgado

"Eu me preparei muito para isso e, agora, estou em um momento da minha vida em que tenho tempo para fazer isso. Não sou mais diretor da minha empresa, não tenho a obrigação diária de estar lá. Fiquei assistindo de fora os últimos 20 anos, vendo o clube sofrendo uma decadência. Na minha época, o Vasco entrava sempre com o objetivo de disputar o título. E, nos últimos 20 anos, a gente entra para participar, não para ganhar".

"Houve uma decadência financeira visível. A gente é a quarta ou quinta maior torcida do Brasil e na hora que arrecada é 12°. Olhando esse quadro todo, pensei que tinha que fazer alguma coisa. Então, aceitei esse desafio. Tenho certeza, que ao final desses três anos, vamos entregar um clube muito melhor. Nós temos um plano de trabalho, minha equipe são mais ou menos 80 pessoas, a gente levantou todos os problemas desses últimos 20 anos, as causas e as soluções. A gente tem tudo para fazer um bom trabalho"

Julio Brant

"A gente tem um projeto muito consolidado, sólido, nos últimos sete anos. É o mais maduro apresentado aos sócios, não começou para uma eleição, há seis, sete meses atrás. É um projeto que há seis anos eu venho discutindo e debatendo, com os vascaínos do Rio de Janeiro e Brasil afora, sobre aquilo que queremos fazer para o Vasco. Nós temos um projeto que, hoje, além da solidez, de uma gestão moderna, uma ruptura com o modelo que é feito até hoje no Vasco, tem a visão dos sócios do Brasil muito bem preservada e muito bem garantida".

"Trabalhamos muito para que todas essas minhas viagens, para a Paraíba, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Brasília, enfim, vários lugares do Brasil todo, para que toda essa visão ficasse refletida no projeto, para que pudéssemos trazer para a visão do vascaíno do Brasil o que ele quer do Vasco. A gente apresenta um projeto que tem uma solidez muito forte em termos de captação de recursos, tem uma proposta de gestão muito refinada, moderna, muito transparente, coisa que no Vasco tem sido muito difícil nos últimos anos, e em tudo isso uma visão profunda do sócio-torcedor do Rio e do Brasil todo".



Vasco, especial eleições - Salgado faz apelo a Leven e vê clube com maior faturamento em três anos: 'Eu acredito na recuperação'

Depois das discussões judiciais e da eleição suspensa no último dia 7, o Vasco elegerá um novo presidente no próximo sábado (14), com um modelo de votação híbrido, com o sócio podendo participar de forma presencial ou virtual.

O ESPN.com.br dá sequência às entrevistas com os candidatos. Nesta sexta-feira (13), Jorge Salgado, da chapa Mais Vasco, é o entrevistado. Além dele, também foram entrevistados Julio Brant, da chapa Sempre Vasco, que segue na eleição, Alexandre Campello e Sérgio Frias, que desistiram do pleito.

Veja abaixo a entrevista completa com Jorge Salgado:

- Qual seria a primeira ação, caso eleito?

"A gente tem que atuar duas frentes. Temos que procurar uma solução para o Caixa do clube. Até que, hoje, o clube é um dos poucos da Série A que está equilibrado. Hoje, temos uma dívida de 210 milhões para uma despesa equivalente. A gente acaba tendo um pequeno prejuízo no balanço por conta da despesa financeira. O que temos que fazer? O clube está equilibrado, o que massacra a gente são as dívidas de curto prazo, que massacram o clube. Por isso se vê no noticiário que o Vasco está atrasando salários. Às vezes, até fornecedor. Não é que o clube esteja desalinhado no ponto de vista receita e despesa. Mas, às vezes, sofre ações judiciais e não tem caixa para pagar sua despesa e a ação. Então, temos que corrigir isso, é a primeira coisa que temos que fazer. Eu trabalho com a minha empresa e a gente lançou um projeto de uma debênture, para fazer essa captação, que vai render ao investidor juros de, mais ou menos, 7%, então, vai ser uma debêntures competitiva, nós vamos oferecer garantias. É um título de cinco anos, um ano e meio de carência e, a partir daí, a gente começa a pagar mensalmente esse título, até o final de cinco anos. Já fiz a apresentação desse fundo para mais de 50 investidores vascaínos, ficaram muito surpresos, não estavam sabendo que o clube estava tão avançado no ponto de vista de planejamento de despesas, de dívidas. Então, isso é um trabalho que a gente realizou e temos que executar isso assim que entrar no clube, para trabalhar as dívidas de curto prazo. No decorrer da gestão, a gente pretende fazer uma nova captação, para atacar nossa dívida. Pagar a dívida cara e atacar a mais barata com mais longo prazo, melhorando o perfil dessa dívida. Ao final dos três anos, está planejado reduzir essa dívida de uns 650 para 400 milhões, e aumentar nossa receita em torno de 200 para 350, 400 milhões. Se você considerar os oito primeiros colocados, todos tem uma arrecadação de 350 a 400 milhões. Muitos atingem essa arrecadação com venda de jogador. Nós, ano passado, ficamos equilibrados sem vender nenhum jogador. A maioria dos clubes tiveram prejuízo operacional, só não tiveram pela venda de jogadores. Mas essa venda de jogadores é algo extraordinário, não é recorrente. Não se pode contar com a venda de um jogador para se planejar financeiramente. Mas o Vasco é uma empresa, se for analisada assim, estamos prontos para decolar. Porque qualquer venda de jogador vira tudo lucro. Então, é uma situação mapeada, tem solução, mas é preciso de competência, pessoas que conheçam futebol para realizar esse planejamento".

- Como vê as desistências de outros candidatos?

"Eu fico muito decepcionado. Eu acho que você tem razões para desistir se você percebe que não tem nenhuma chance de ganhar a eleição. Não digo nem ganhar. Mas, se você está muito atrás, se tem certeza de que não consegue nada, você tem uma justificativa para sair. Agora, se você tem chance de ganhar, você tem que comparecer. É um desrespeito com o sócio, com o vascaíno, com as pessoas que ficaram na fila em São Januário. Porque é muito simples. Decisão judicial se acata, não se desobedece. O que aconteceu foi um verdadeiro escândalo. No final da semana passada, eu fui para minha fazenda em Minas. Tranquilamente, estou passando meu final de semana, quando a chapa me telefona dizendo que tinha eleição marcada para o dia seguinte. Conseguimos ir para São Januário, com menos de 13 horas. Nossa chapa não tinha cédula, abrimos uma gráfica de madrugada, conseguimos imprimir, comparecemos à eleição, de acordo com uma decisão judicial. Ela transcorria normalmente, na boca de urna, aparecia que eu iria ganhar a eleição, se não fosse interrompida, porque eu estava descontando no final (a diferença). Aí, vem, mais ou menos umas 20h, outra decisão, suspendendo a eleição. Nesse momento, os candidatos decidiram que as urnas deveriam ficar lacradas com as assinaturas de cada candidato e a votação interrompida. Qual foi a surpresa disso tudo? O presidente da junta mais o candidato (Leven Siano) não obedeceram à ordem judicial. As outras chapas, a minha, a do presidente (Campello) e do outro candidato (Brant) se retiraram e ficaram duas chapas no recinto. Eles continuaram a eleição, que estava suspensa por decisão judicial. Quando foi 2h, resolvem abrir as urnas que estavam lacradas, sem nenhuma fiscalização das chapas que se retiraram. É muito difícil aceitar um resultado dessa maneira. E o estádio já estava com as luzes apagadas. Eles ficaram, resolveram contar esses votos. Como isso pode ser válido? Eu não posso aceitar esse tipo de resultado. As eleições estavam marcadas para esse sábado (14). Houve o movimento de liminar, que alterou para o sábado passado. Eu sempre me coloquei à disposição para obedecer às ordens judiciais. Agora, a eleição voltou para o dia 14. Eu vou comparecer. Já fiz um apelo ao candidato que se diz vencedor das eleições (Leven Siano) comparecer, também, a essa eleição. Para ratificar sua vitória. Se ele tivesse um sentimento de vascainismo, tivesse a certeza da vitória, deveria comparecer às urnas sábado. É muito esquisito ele não querer comparecer, no mínimo. Então, esse imbróglio todo poderia ter sido evitado lá atrás. Mas os poderes do clube não se entendem, há conflito de interesses. Eu não sei como isso não se resolveu de uma forma pacífica. Faltou bom senso, grandeza nessas decisões todas. É muito triste para a imagem no nosso clube, para o vascaíno. O clima é de guerra, eu tenho sofrido ataques no meu celular, mais de 350 mensagens que eu recebi da chapa adversária me insultando, me ameaçando, dizendo que sabia onde eu moro. Uma baixaria absurda. Eleição deveria ser um momento de festa, onde todos são vascaínos e se encontram para decidir quem será o presidente. Deveria ser um momento de confraternização entre os candidatos, os sócios. Hoje, a gente não tem esse ambiente, um nível muito baixo. As pessoas querem ganhar de qualquer maneira. Eu não tenho o menor problema em perder uma eleição, desde que seja limpa, auditada, feita dentro da conformidade. Eu já perdi uma eleição em 1997, houve fraude de tudo que é jeito. E, novamente, o clube está nesse imbróglio. Quer dizer, o clube não evoluiu nesse campo. É muito triste isso, um péssimo exemplo para a sociedade, para a torcida do Vasco".

- Quais os planos para o Centro de Treinamento e obras em São Januário?

"Não é porque os projetos começaram em outra gestão que nós vamos abandonar. Achamos que são projetos que possuem bastante êxito, foram bem planejados. O CT já foi inaugurado, os profissionais já estão lá, falta concluir. Eu acho que, em três anos, dá para finalizar esse CT de profissionais e da base, não vamos interromper essas obras. Em relação ao estádio, eu conheço o projeto. Estive presente em duas apresentações, achei interessante o projeto, é muito bem elaborado, muito bem concebido, houve um estudo, realizado antes da execução do projeto, em que foram visitadas as arenas que foram construídas recentemente. Eu vou apoiar, também, esse projeto. Obviamente, entrando eu terei que me inteirar novamente, porque faz oito meses ou um ano que eu vi. Então, vou olhar novamente o projeto com pessoas da área, mas nós queremos fazer uma reforma do estádio de São Januário. Está prestes a completar 100 anos, já não atende mais às necessidades do torcedor, administrativas. As pessoas trabalham lá de forma precária. Agora, temos que nos inteirar dessa carta de intenção que o Vasco assinou com a WTorre, em que ela seria uma espécie de gestora do estádio, teria algumas fontes de receitas e o clube outras. Temos que conhecer de que maneira a WTorre vai captar os recursos para construir um estádio, se será por um banco, que depois vai captar esses recursos através de um fundo imobiliário. Enfim, a gente vai ter que entender essa dinâmica toda para aí sim iniciar a construção do estádio. É uma meta que temos, eu ficaria muito feliz se pudesse começar a obra desse estádio".

- Acha que o clube deve atuar na gestão do Maracanã?

"A gente vai tentar entrar. Eu tive uma primeira conversa com a atual gestão, fui muito bem recebido. Não vai ser problema nenhum participar dessa gestão do Maracanã, se assim a gente resolver e decidir. Mas o Vasco tem que voltar a jogar no Maracanã. Para se ter uma ideia, o Vasco foi o primeiro campeão carioca do Maracanã, em 1950, por isso que a gente fica do lado direito, foi uma escolha do Vasco, na ocasião. Mas isso é uma questão menor. A maior é que devemos, sim, voltar a jogar no Maracanã. Nosso torcedor gosta, é um estádio moderno, confortável, que se consegue entrar e sair, tem transporte público, tem estacionamento, todas as facilidades".

- Qual seria a sua política com relação a reforços no time profissional e quais as metas para o esporte nesse período?

"Essa gestão teve muitos pontos positivos. Agora, o futebol não evoluiu. Achei uma gestão falha, bastante ineficiente. A gente gastou mal, tem um elenco muito inchado, com cerca de 50 jogadores. E a gente tem improvisado muito na gestão do futebol. Temos uma média de três treinadores por ano. Esses querem sempre contratar jogadores e esse estoque fica lá, porque o outro que entra também quer contratar. O clube só quer contratar, não quer vender. Eu não posso ter 11 jogadores no campo, mais 11 no banco, mais os goleiros, mais 10 que não jogam e mais 20 que recebem e nem são relacionados. A gente está jogando dinheiro fora. A gente tem que ter uma gestão muito mais eficiente do que temos hoje. A gente tem que ter menos jogador, com maior performance. Se possível, também ter um treinador que começasse seu trabalho em janeiro e terminasse em dezembro ou seguisse para o próximo ano. A gente, aqui, tem uma cultura de, a cada momento de fragilidade, trocar o treinador. Isso é uma cultura nossa, que é muito presente, até hoje. Não é minha cultura, eu gostaria de bancar o treinador em momento difícil. Porque tem o seguinte, o melhor emprego que tem é ser treinador de futebol. Porque, no Vasco, treinador de futebol trabalha três meses e recebe 12. É uma beleza isso, mas quem fica com esse ônus. A gente mapeou uma ineficiência de mais ou menos 2 milhões de reais. Em doze meses, dá 24 milhões. Em três anos, 72 milhões".

- Como é seu planejamento para gestão de outros esportes e futebol feminino?

"Todos esses esportes demandam custo. A prioridade, dada a escassez de recursos, é priorizar o futebol e dar um pouco ao remo, que é nosso esporte estatutário. Os outros esportes vão se viabilizar na medida que a gente resgatar nossa certidão CNB, que é uma questão de Imposto de Renda, que com ela consegue-se captar recursos via incentivo fiscal. É assim que esses clubes atuam. Tem essa certidão, fazem um projeto e vão nas empresas para tentar captar recursos para esses esportes. É isso que queremos".

- Como planeja fazer a gestão salarial do clube?

"Isso vai passar por uma captação de recursos. Precisamos captar recursos para colocar nossa casa em ordem. Precisamos de tempo na captação desses recursos, para pagar. Voltamos no problema do endividamento. Sem uma injeção de dinheiro novo é muito difícil. A gente tem feito apresentações a investidores e planejamos ter uma injeção inicial para os primeiros seis meses. Agora, a meta é pagar salário em dia. Eu tenho a minha empresa, no dia 25 do mês, eu pago salário dos meus funcionários há 37 anos, nunca atrasei um dia. Por que não fazer isso no clube? Se a gente for responsável, tiver planejamento, não entrar em maracacutaia, roubalheira, sacanagem, a gente consegue. O que a gente não pode é dar espaço para algumas situações que acontecem toda hora. A gente escuta cada coisa que acontece em gestões agora, no passado. A nossa candidatura está sendo colocada para acabar com isso, para ter uma gestão de maneira responsável, dentro da lei. Ter uma área de compliance para ver se estamos cumprindo nossas obrigações de acordo com o regulamento. Eu sei o quanto isso ajuda em uma gestão".

- Como foram os empréstimos realizados para o clube recentemente? Colocaria patrimônio próprio no clube?

"Eu emprestei recurso ao Vasco várias vezes ao longo da minha trajetória vascaína. Mas, o último empréstimo que eu fiz foi em 2013, e eu não recebi até hoje. No mês de março, o presidente me chamou e fez um apelo que eu emprestasse mais recursos ao clube, porque estávamos em uma situação aflitiva, com três ou quatro meses de salários atrasados, com jogadores que à qualquer momento poderiam sair do clube, com passe livre. Me sensibilizei e combinei com ele o seguinte: ‘Não faz sentido eu colocar mais dinheiro, antes de eu receber o que eu tenho. Vamos chegar a um acordo e tentar criar uma solução'. Eu peguei o dinheiro que eu emprestei em 2013 e corrigi de acordo com o que estava escrito no contrato. Deu uma quantia elevada, eu dei um desconto e acresci o novo empréstimo. Qual é a cláusula desse empréstimo? ‘Você vai receber isso se eu vender algum jogador ou quando a gente receber a premiação do Campeonato Brasileiro, no final do ano'. Eu aceitei, os advogados assinaram e está lá o contrato. Mas criam narrativas mentirosas sobre isso. Eu que sou vítima entro como vilão. Eu estou prestando um serviço ao Vasco em um momento de dificuldade e tentam manchar minha pessoa sobre isso" "Em uma situação emergencial, se eu puder, tiver condições, vou ajudar. O que fez o Palmeiras com o Paulo Nobre? Por que o clube está nessa situação extraordinária? Porque o Paulo adiantou recursos ao Palmeiras, acreditou na recuperação do Palmeiras, que se recuperou, ele recebeu todo dinheiro e não teve prejuízo algum. Eu acredito na recuperação do Vasco. Se precisar, em um momento de sufoco, eu vou emprestar o dinheiro, se eu tiver".



Vasco, especial eleições: Brant prega organização econômica e diz que judicialização de eleições 'só prejudica o clube'

Neste sábado (7), depois de decisão judicial, será eleito o presidente do Vasco, em São Januário, para o triênio de 2021 a 2023.

O ESPN.com.br entrevistou alguns dos candidatos à eleição do clube, em uma série de publicações sobre suas propostas para o clube.

Após publicar uma entrevista com o atual presidente, Alexandre Campello, candidato a reeleição, a reportagem divulga o conteúdo do segundo entrevistado: Julio Brant. Ele é o representante da chapa Sempre Vasco e está em sua terceira tentativa de se eleger.

Vale ressaltar que, por conta do adiantamento do pleito, as entrevistas com os candidatos Jorge Salgado e Leven Siano, marcadas para a próxima semana, não puderam ser realizadas.

Confira abaixo a entrevista com Julio Brand:

ESPN: Caso eleito, qual seria sua primeira ação como presidente do clube?

A primeira ação nossa, claro, é conversar com os funcionários e atletas e colocar os salários em dia. Essa é a nossa primeira obrigação. Eu sempre digo para a turma o seguinte: não existe projeto pirotécnico, mirabolante, sem salário em dia. O nosso compromisso é colocar o salário em dia. Sei que muitas vezes não é muito charmoso, mas é obrigação nossa. Os salários não são pagos (em dia) no Vasco há 20 anos, há 20 anos o Vasco não cumpre com uma obrigação básica de qualquer empregador, que é o pagamento de salário. Quando você não cumpre o contrato mais básico da sua empresa, da sua organização, você dá um sinal péssimo para o mercado de que você não cumpre contrato nenhum, porque o contrato mais básico de uma empresa, de uma organização, como o Vasco, é contrato de salário, contrato de trabalho, que prevê o pagamento de salário, e o Vasco não paga os salários. Nossa primeira medida é colocar os salários em dia, e depois, em paralelo, começa uma profunda remodelação do modelo de gestão do clube, que nós chamamos de Plano de 100 dias, um plano de reformulação total do nosso modelo de gestão e de trabalho dentro do clube. Isso finaliza ao fim de 100 dias, e aí você tem o clube totalmente rodando numa outra plataforma de gestão.

ESPN: Como vai funcionar a gestão salarial do Vasco? Qual a solução para você conseguir, imediatamente, caixa para colocar os salários em dia? Haverá algum investidor, como vai funcionar?

Na verdade, não é um problema, é uma escolha. É um modo de gestão, o Vasco optou, passou a funcionar de forma a não pagar salários. É um modelo de gestão que o Vasco decidiu fazer. O que nós vamos fazer? Nós vamos mudar essa lógica, inverter essa lógica. É claro que não se inverte essa lógica sem dinheiro, e o Vasco tem dinheiro. É um clube que fatura R$ 230, R$ 240 milhões por ano, dependendo do número que aparece, não é qualquer coisa. Você tem uma folha salarial de futebol que ronda os R$ 4 milhões, R$ 4,5 milhões por mês, mais a folha dos funcionários, quer dizer, não tem muito sentido o Vasco não pagar salários em dia. É claro que temos uma série de obrigações, de passivos, que cada vez são criados, cada vez aumentam, esse é o problema, e que devem ser tratados. E nós vamos tratar isso como? Com gestão de recursos. O Vasco precisa crescer, faturar mais, está muito aquém do faturamento potencial que ele tem. E não estou falando de sonho, estou falando de mercado, se você olhar os outros clubes do tamanho do Vasco, o Vasco tem que estar faturando pelo menos 100% do que fatura hoje. Faturando mal, teria que faturar na onda de R$ 450 milhões por ano. Fazendo um trabalho pleno, como a gente quer fazer, deveria rondar os R$ 700, R$ 750 milhões, esse é o tamanho que o Vasco tem que ter. Isso não é clubismo e nem é um dado de política, é um dado técnico, é mercado, é um estudo que nós fizemos. Esse é o potencial de faturamento do Vasco, desde que feito o trabalho correto, competente. E o que nós vamos fazer? Para fazer frente às obrigações do Vasco imediatas, estamos desenvolvendo , e está quase pronto, um fundo de direitos creditórios, que vai receber parte dos recursos dos projetos que nós já estamos fazendo com os nossos parceiros para que a gente tenha no início já à disposição, no primeiro ano, de R$ 70 a R$ 200 milhões à disposição para o clube. O que determina isso? Tem algumas premissas, uma delas é o nosso desempenho no futebol. Parte desses direitos estão ligados à essa questão, a participação do clube no futebol. Vamos ter que, obviamente, qual é o final, como que o Vasco inicia a próxima temporada. Mas no pior cenário, já falando aí de aumento, miseravelmente de 40% num primeiro ano em termos de receita. É um faturamento importante e queremos regularizar os salários, fazer contratações, investimentos importantes no clube, rapidamente ganhar mais competitividade. Queremos que no primeiro ano o Vasco seja campeão, pelo menos de um campeonato, então queremos começar a mudar o clube do começo, logo de início, e isso se faz com gestão competente, com parceiros corretos e pés no chão. Sem maluquice e sem demagogia.

ESPN: Qual será o padrão de reforços para o clube?

O Vasco virá forte para o mercado para trazer nomes de peso, mas não significa que sejam jogadores famosos. Nós vamos usar isso, vamos trazer jogadores que vão suprir, de imediato, necessidades do elenco, mas que vão estar dentro da realidade do clube. Nosso principal objetivo é pagar salário. Não faz sentido nenhum se contratar um jogador de 22 milhões de reais e estar com três, quatro meses de salário atrasado. O cara não joga sozinho, o elenco olha para você e diz: ‘Você arruma 22 milhões para comprar um jogador, mas não arruma para pagar salário?' Esse é o vestiário. Além disso, tem uma questão ética, de priorização, que para mim é inegociável. E não é o salário do mês, é a programação salarial do ano. Nós vamos para o mercado com inteligência. Nomes que se tornar grandes nomes no Vasco, por fazerem desempenho bom no Vasco e se tornarão ídolos no Vasco. E, a partir daí, serão vendidos e o clube ganhará com essas vendas. Para isso nós damos um foco para gerência de análise de mercado, que vai ter toda estrutura suficiente para o Vasco ter que ser o melhor conhecedor do mercado brasileiro e sul-americano. Tem clubes que estão disputando a primeira colocação que fizeram isso, com jogadores que vieram dessa maneira. Contratar com 600 milhões de euros é mole, contrata Messi e Cristiano Ronaldo e pronto, melhor time do mundo.

ESPN: Como vai administrar os problemas internos do Vasco?

O que tem que acontecer é que as regras têm que ser respeitadas. Divergências sempre vão acontecer, faz parte do processo. Agora, existem regras que norteiam o tratamento dessas divergências. E essas são comumente desrespeitadas no clube. Esse é o problema. Quando se tem isso acontecendo, passa a ter um problema de legitimidade no processo como um todo, de falta de credibilidade, de seriedade. As pessoas têm que respeitar as regras do jogo, o Estatuto, os poderes, o funcionamento do clube. Porque se isso acontecer o clube roda sem nenhum problema. O que tem acontecido no Vasco é um constante desrespeito às regras, que tem trazido uma instabilidade para todos. Existe um dado de que as agências de risco financeiro analisam que é o risco político. Quanto maior, mais chances de um problema acontecer e o Vasco é isso. Esse tipo de problema tem que começar a ser entendido como algo do passado. Tem que pensar que se perder a eleição, perdeu, tenta na outra eleição. Qual o problema disso? Mas não, se impede o tempo todo de se fazer mudanças e todo processo político fica contaminado.

ESPN: Como vê adiamento ou não das eleições e o processo eleitoral do Vasco?

Eu vejo com muita tristeza tudo isso. Essa confusão entre o Campello e o Mussa, essa briga de poder. O Campello está invadindo o poder do Mussa. É a mesma coisa que o Mussa chegar e falar: ‘Não, eu não quero o Benítez, contrata outro jogador'. É a mesma coisa. A eleição é coordenada por um poder, que é a Assembleia Geral. O presidente administrativo não pode convocar, decidir, dizer como vai ser. Isso é muito claro, expresso no Estatuto. Então, essa briga entre os dois, que é uma tentativa, na minha opinião, de o Campello ganhar alguma sobrevivência, acaba com que se crie um caos político que só beneficia quem está lá. Eu quero tranquilidade no processo eleitoral. Eu estou indo para a terceira eleição e sempre participei de acordo como é colocada de acordo com a Assembleia Geral vigente. Todas elas contra mim, e sempre cumpri. É um absurdo, agora, ele querer usurpar um poder da Assembleia Geral e dar para ele. Só restou ao Mussa ir à Justiça para fazer valer o seu poder. Aí, quando se coloca na Justiça, ela toma a decisão. Esse é o problema de se Judicializar o processo. Diga-se de passagem, a eleição de 2017 ainda não acabou. O Campello está presidente por força de uma liminar que eu ganhei á atrás. Então, os processos nunca terminam, fica um bolo de decisão que só prejudica ao clube.

ESPN: O que pode falar sobre as obras no CT e em São Januário?

Prioridade nossa é o CT, número um. Sem estrutura não se faz nada. Os jogadores precisam do local para seu treinamento e conseguir condicionamento físico, fisiologia. Vale lembrar que nós, em 2014, trouxemos a Tecnoplan, porque fomos a primeira chapa a colocar em discussão a estrutura. É importante dizer, essa empresa é responsável pelo CT hoje, nós colocamos a disposição a Tecnoplan para fazer o projeto. O que eu tenho falado sobre São Januário não é manter o estádio velho, é manter a tradição do estádio. Um estádio como ele é, raiz, e não uma Arena moderna no sentido de atropelar as nossas tradições. O que é isso? Se fazer um estádio muito caro se tem dois problemas: a dificuldade por razões econômicas e ter que se cobrar muito caro pelo ingresso. E quem vai vir a um jogo em São Januário custando 150, 200 reais? Ninguém. Não é a nossa origem. Queremos um estádio que seja viável economicamente, que mantenha nossas tradições populares, barato de se ver jogo, onde o torcedor se sinta em casa. Reeditar aquilo que tínhamos no passado da geral, que o ingresso custa cinco, oito reais. E vai se ter, também, a área cara, que custa 500 reais. Mas vai ser um camarote com todo conforto. E nós queremos que a definição do modelo arquitetônico, a gente coloca três projetos a disposição e seja feita a escolha pela torcida. Não pode ser escolhido por meia dúzia em uma sala de reunião. Aí sim vamos ter um estádio que é a cara do Vasco. E nossa visão é que o projeto possa gerar recursos suficientes para dar a contrapartida que o Vasco tem que dar em um projeto como esse e não ficar na mão de terceiros. O Vasco tem que ser sócio do projeto. Porque se entrega o projeto para terceiros, você vira visitante na sua casa. Claro, óbvio que vai ter uma agenda que vai trabalhar junto com o parceiro, mas o nosso negócio prevalece. E, para isso, nós criamos, dentro do nosso projeto, propriedade que suportam, no mínimo, um terço do valor do projeto. E o projeto é a parte do nosso orçamento, que não contamina o orçamento do clube. Ele se paga e ele gera lucro, de forma independente.

ESPN: Como vai tratar a questão da gestão conjunta do Maracanã?

Eu acho que o Vasco tem que liderar essa conversa com o Maracanã. O Maracanã é o maior palco do futebol mundial e se tornou graças, também, ao Vasco, que foi protagonista de momentos históricos do estádio. É fundamental que o Vasco participe do Maracanã, e o Maracanã precisa do Vasco. O Vasco é o único clube que coloca 80 mil no Maracanã, além do nosso rival, lota o estádio com um jogo de Série B. E nós temos que usar isso para o nosso engrandecimento, podemos usar de forma inteligente, balanceando os jogos. Jogos de público maior, Maracanã. Menor, São Januário. Jogos de pressão, que precisa virar resultado, São Januário. Finais de campeonato, Maracanã. De forma a conseguir o melhor resultado financeiro na equação de bilheteria.

ESPN: Dá para competir com o Flamengo?

O Vasco será, de fato, uma referência no futebol brasileiro e mundial. Não só contra o Flamengo, mas contra clubes do mundo inteiro. Não tenham a menor dúvida. É nossa obrigação colocar o Vasco no tamanho que ele tem, isso sem clubismo algum. Estou falando de fatores reais. O Vasco nasceu para ser um clube grande. Eu não estou falando que a gente entra e isso acontece no dia seguinte, lógico que não. Ganhar do Flamengo, sem dúvida. É inadmissível que o Vasco entre em campo e perca um jogo para o Flamengo. Tem que entrar suando sangue para ganhar do rival. E nós vamos ganhar. É inadmissível passar um mandato sem ganhar do rival. Qualquer jogador que vista a camisa do Vasco tem que saber que esse jogo é vida ou morte. Aí tem as questões objetivas, sobre gestão. Nessas, a curva é um pouco mais longa. Tem que fazer o dever de casa. E nós vamos fazer de imediato. Eu quero chegar no final do meu mandato com o Vasco como referência de futebol e de gestão de futebol.

ESPN: Qual seu plano para a gestão do futebol feminino e dos outros esportes?

Infelizmente, foi sucateado ou paralisado. Tudo aquilo que gerar resultado, inclusive financeiro, foi paralisado. Nós vamos retomar isso. E temos um projeto finalizado para retomar através de leis de incentivo, tanto no basquete, quanto no vôlei, no paralímpico, em várias modalidades. No remo, para se ter uma ideia, nós já enquadramos na lei de incentivo para a reforma de toda estrutura, para a parte de apoio, nutrição, fisiologia, psicologia. A gente vê clubes locais como o Minas, Franca, Pinheiros que, por ano, levantam 25, 30 milhões de reais por leis de incentivo. Nós temos isso no nosso projeto, para o primeiro ano 25, segundo 38 e terceiro 47 milhões. Isso é possível. E, claro, queremos, no futebol feminino, ir além do que a CBF obriga. Queremos de fato profissionalizar o futebol feminino, com parceiros de patrocinadores que se interessem na modalidade e que entrem querendo montar um time campeão e profissionalize toda a categoria, como o masculino.

ESPN: Teme que o processo eleitoral ocorra como em 2017?

Isso existe, sempre existe, nós estamos preparados para isso. E vamos batalhar da mesma forma que em 2017. Nosso grupo jurídico conhece muito bem o processo eleitoral do Vasco, porque são três eleições, com fraudes muito grandes, lutando contra grupos políticos muito poderosos que estavam na política há mais de 50 anos.

Fonte: ESPN.com.br