Dirigentes de Botafogo e Fluminense criticam reunião de presidentes de Vasco e Urubu em Brasília
Terça-feira, 19/05/2020 - 23:31
Montenegro, do Botafogo, critica movimentos de Flamengo e Vasco: "Eles podem se tornar homicidas"

Para Carlos Augusto Montenegro, ex-presidente e membro do comitê gestor do futebol do Botafogo, os rivais Flamengo e Vasco põem em risco as vidas de jogadores e funcionários ao agirem pela volta mais rápida do futebol. Em contato com o GloboEsporte.com, o dirigente usou a palavra "homicida" para adjetivar a atitude dos co-irmãos cariocas nos bastidores da bola.

- Não tem justificativa para a volta do futebol. Estamos com um problema sério principalmente no Rio de Janeiro. No Brasil, estamos chegando perto de 1 mil pessoas (mortas) por dia. Todos os hospitais com problema. Não sei se as pessoas estão sendo irresponsáveis, homicidas ou se não estão regulando bem. O futebol não é atividade essencial - disse.

- Os clubes têm que ser grandes dentro e fora de campo. É uma atitude de time pequenininho. Eles podem se tornar homicidas forçando uma barra dessas. Quem vai se responsabilizar se um atleta ou um funcionário passar para um membro da família, alguém em casa? Que protocolo é esse? As pessoas vêm treinar e, quando voltam, podem estar contaminadas - completou Montenegro.

Na manhã desta terça-feira, os presidentes de Flamengo (Rodolfo Landim) e Vasco (Alexandre Campello) estiveram em Brasília para reunião com o presidente da República, Jair Bolsonaro. O encontro serviu para tratar da possível volta ao trabalho dos dois clubes no Distrito Federal. Mesmo durante a pandemia, o Mané Garrincha seria usado para treinos, oferta que foi feita pelos administradores do estádio há três semanas.

- Já conversei com o Nelson (Mufarrej, presidente) e com todos. A posição do Botafogo é de não jogar. Acho que a posição de Flamengo e Vasco é fazer um Carioca só com eles dois, uma Copa do Brasil só com eles dois e um Campeonato Brasileiro só com eles dois - continuou Montenegro.

A posição divergente no futebol carioca não é novidade. No início deste mês, a Ferj liberou os clubes a decidirem sobre a volta aos treinos, a depender da posição das autoridades governamentais. A iniciativa dividiu os quatro grandes do estado. A carta endereçada à opinião pública trouxe as assinaturas de Flamengo e Vasco, mas Botafogo e Fluminense se recusaram a participar.

Mais respostas de Montenegro

Botafogo foi informado sobre a reunião?

Estão agindo por conta própria, ninguém procurou a gente. Porque eles sabem que a gente não é irresponsável. A gente pode ter problema, faltar dinheiro... Não temos o elenco do Flamengo, mas aqui não tem irresponsável. A síntese é a seguinte: isso é uma covardia com os jogadores, a comissão técnica e os familiares dessas pessoas todas.

Cautela com a pandemia

Por que arriscar a vida dos jogadores, dos profissionais de futebol? O problema não é protocolo, mas tudo o que está acontecendo. Há falta de respiradores nos hospitais. Quero ver os clubes comprarem respiradores para esses jogadores, os funcionários, as famílias. Porque no hospital não tem.

Estou trabalhando para o Ministério da Saúde no Ibope e sei que o caso é sério. Em muitos estados, seríssimo. E as pessoas pensando em futebol? Estão brincando com coisa séria. Então, combinem e façam todos os campeonatos só com Flamengo e Vasco. Arriscado o Vasco voltar a ser vice em tudo. Joguem só os dois, porque o Botafogo não vai jogar.

Comparação com Bundesliga

Estão querendo comparar com a Alemanha, mas já passou pelo pico. Por isso estão engatinhando uma volta. Aqui no Brasil, ninguém sabe. Estamos indo para segundo no mundo em número de casos.


Vice do Fluminense ataca Vasco e Flamengo por reunião em Brasília: "Enorme desserviço à população"

Sem autorização do governo e da prefeitura para voltarem a treinar no Rio de Janeiro, Flamengo e Vasco estudam a possibilidade de retomar as atividades presenciais em Brasília e se reuniram nesta terça-feira com o presidente Jair Bolsonaro para tratar do assunto. Do outro lado da corda, Fluminense e Botafogo criticaram os rivais pelo movimento ainda em meio ao pico da pandemia no Brasil.

Depois de o Botafogo detonar a dupla através de Carlos Augusto Montenegro, membro do comitê gestor do futebol do clube, o Fluminense também se posicionou pelo seu vice-presidente geral, Celso Barros. Médico pediatra e ex-presidente da "Unimed-Rio", o dirigente, que já havia criticado o parecer do Ministério da Saúde pela volta do futebol, atacou os rivais em publicação nas redes sociais:

– No Rio de Janeiro, que é a base desses dois clubes, as mortes não param de crescer. (...) Com todo o respeito, penso que o Vasco e o Flamengo prestaram um enorme desserviço à população carioca e brasileira, ao procurarem endossar que tudo isso não passa de uma "gripezinha" e que, no caso deles, significa retornar as atividades, desrespeitando os atletas, funcionários e suas famílias.

Afastado pela diretoria desde novembro do ano passado, Celso Barros não vinha participando mais da política do clube, antes mesmo da paralisação, mas busca ajudar com sua influência na busca por patrocínios. Aos 67 anos e parte do grupo de risco, ele tem ficado confinado em sua casa na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, durante a pandemia.

Veja o texto na íntegra:

"Hoje tomamos conhecimento de uma reunião em Brasília, dos presidentes do Flamengo e do Vasco, com o presidente Jair Bolsonaro.

Certamente ocorreu uma discussão sobre a volta do futebol no Brasil. Esses clubes, que tem um enorme número de torcedores, passaram para todos discurso contrário, a princípio, ao distanciamento social. Esta tem sido uma defesa do Governo Federal, que é contrária a todas as lideranças mundiais.

No Rio de Janeiro, que é a base desses dois clubes, as mortes não param de crescer. Em entrevista, o prefeito do Rio diz que não poderão existir treinos e convida os clubes a ouvirem a Bia, que contraiu o COVID-19 e graças a Deus já se recuperou. Bia era ou é a Secretária Municipal de Saúde. Salientou ainda que ela é rubro-negra.

Com todo o respeito, penso que o Vasco e o Flamengo prestaram um enorme desserviço à população carioca e brasileira, ao procurarem endossar que tudo isso não passa de uma "gripezinha" e que, no caso deles, significa retornar as atividades, desrespeitando os atletas, funcionários e suas famílias.

Que Deus nos proteja!"

Fonte: GloboEsporte.com