Associações de jogadores cobram da Globo definição sobre Estadual e sugerem Brasileiro enxuto
Segunda-feira, 30/03/2020 - 09:45
A Fenapaf (Federação Nacional de Atletas de Futebol Profissional) e o Sindicato dos Atletas de Futebol endereçam cobranças para CBF e Rede Globo sobre a indefinição em torno dos estaduais, paralisados por causa da pandemia do coronavírus. As entidades que representam os jogadores também sugerem um novo modelo de disputa para o Campeonato Brasileiro 2020, com menos datas que o normal, para tentar acomodar as competições.

A grande novidade por parte dos jogadores é a ideia de reduzir o número de datas do Brasileirão. O torneio tem início previsto para o primeiro fim de semana de maio e conta com 38 rodadas. No entanto, para que o calendário deste ano se encerre até em dezembro, os sindicatos entendem que só a redução de partidas viabilizaria o campeonato.

"Nós já conversamos várias possibilidades. Vai depender como a epidemia vai andar. Se tudo voltar ao normal até maio, dá para encaixar tudo. Se não voltar, vai ter que mudar o modelo de competição", disse Alfredo Sampaio, representante do Saferj (Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio Janeiro) e da Fenapaf, ao UOL Esporte. "Só que aí isso também passa por alguns problemas contratuais. A Globo tem contrato para transmitir 38 partidas. Se diminuir o número de partidas, a Globo pode não querer pagar. A gente falou sobre diversas formas [diferentes de tocar o Brasileirão]."

Esse é um dos grandes impasses para serem solucionados pelas partes envolvidas —federações, clubes, TVs e jogadores. Um exercício em cima das datas que a CBF tem até o final do ano, dependendo do avanço ou contenção da pandemia no Brasil, mostra o quão complicada é a logística para acomodar os estaduais e um Brasileirão de pontos corridos, com turno e returno —veja os cenários.

Alfredo Sampaio mencionou uma sugestão feita por parte das entidades representativas dos jogadores. "Citamos dois grupos de dez jogando entre si, campeão de um contra o campeão de outro. E aí teríamos 22, 24 datas se fosse jogo ida e volta. O importante entender é que essa decisão depende muito da questão do vírus. Se o vírus acabar em maio, tudo bem, mas e se acabar em junho ou julho? Aí não tem como ter 38 datas."

A sugestão sobre a mudança de formato do Brasileirão 2020 se deve ao entendimento dos atletas de que não há a possibilidade de estender o calendário até meados da próxima temporada. A CBF também não tem intenção de interferir em seu calendário para 2021. Eles também descartam igualar o formato adotado na Europa, com os jogos se iniciando em agosto de um ano e terminado em junho do outro ano.

Por outro lado, há os interesses das TVs. Não só da Globo, mas também da Turner, que tem acordo com oito clubes da Série A neste ano para tarnsmissões. Nenhum dos grupos se mostra entusiasmado ou favorável a uma mudança de formato e o retorno do mata-mata, como a coluna De Primeira adiantou.

"A gente acha que a CBF está esperando o cenário para ver que tipo de calendário pode ter. Isso nos preocupa, porque os estaduais não acabaram. Os atletas estão com o campeonato paralisado, de férias e com um mês para receber. A CBF deveria trazer tranquilidade e dizer que, independentemente do que acontecer, vai trazer datas para o calendário", afirmou Alfredo Sampaio.

Promessa da CBF nos bastidores

O posicionamento público aguardado da CBF pelos jogadores já foi manifestado em contato privado com as federações estaduais. Também em conversa com o UOL Esporte, o presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), Rubens Lopes, revelou uma promessa da CBF de que os estaduais serão respeitados. O dirigente afirmou que não cogita definir o Campeonato Carioca de 2020 em uma disputa fora das quatro linhas. "O Campeonato Carioca será decidido no campo, tão logo seja possível o retorno aos treinos. Recebemos a afirmação da confederação de que serão disponibilizadas datas para finalização", contou Lopes.

A Federação Mineira de Futebol (FMF) diz o mesmo, conforme antecipou a coluna De Primeira. Um dos motivos para a manutenção do Mineiro é justamente o fato de a Globo já ter desembolsado o valor dos direitos de transmissão para os 12 participantes, inclusive os de menor expressão, na íntegra. O montante foi pago antes do início da competição.

"O valor já foi pago no início da competição. No Mineiro, o pagamento é sempre assim. Então como vai acabar o campeonato sem ser transmitido? Devolverão o dinheiro à Globo?", indagou Leonardo Barbosa, diretor de competições da FMF. Barbosa afirmou, ainda, que a CBF assegurou que os estaduais serão finalizados antes da primeira rodada do principal campeonato do país.

A partir daí, há um quebra-cabeça, com as TVs envolvidas nas duas pontas. Se a Globo já pagou por alguns campeonatos regionais em sua totalidade — como o Baiano e o Gaúcho —, ainda resta uma parcela pendente sobre os direitos do Paulista, por exemplo. Ao mesmo tempo, a Globo também tem preferência para que o cronograma de 38 partidas do Brasileirão seja respeitado, também por ter acordos comerciais, com patrocinadores e assinantes do pay-per-view, atrelados a ele.

"Estamos vivendo outro pesadelo. Antes era o vírus, agora é a receita da televisão. Há a possibilidade de os atletas ficarem desempregados e sem recurso. Esses jogadores do estadual têm contrato de quatro, cinco meses. Eles recebem um valor e guardam o restante para viver diante das incertezas. Alguns podem se empregar, mas a grande maioria fica sem trabalho", comentou.

Por isso, Alfredo Sampaio volta a cobrar a Rede Globo e a CBF sobre um posicionamento mais claro: "A CBF deve garantir que vai achar datas para o estadual e a Globo garantir que fará os pagamentos. Os demais clubes, os grandes clubes estão de férias. Esses caras têm como se virar, mesmo com salários atrasados. Mas a grande maioria que joga estadual não tem."

Um dos pedidos de Alfredo Sampaio é que a CBF destine parte de sua arrecadação para auxiliar clubes de pequeno e médio porte no Estadual. A preocupação é que esses times não consigam honrar os contratos firmados com os atletas. Parte das equipes assinam com jogadores até abril, quando se encerram os principais estaduais do Brasil.

"A CBF, como entidade máxima do futebol brasileiro, deveria chamar essa responsabilidade para ela. Ela teve arrecadação suficiente e deveria destinar parte do que arrecadou para os clubes que vivem dificuldades por causa deste momento. Em off, a CBF disse que não faz isso por ser uma entidade privada. A gente não concorda com isso, que ela é uma entidade privada. Não é uma resposta que, no meu modo de ver, seja correta e coerente", concluiu




Fonte: UOL