Beach Soccer: Lucão conta como Júnior Negão e o Vasco o tiraram do mundo do crime

Terça-feira, 02/05/2017 - 16:24
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Desde que vestiu pela primeira vez a camisa da seleção brasileira de futebol de areia, Lucão nunca sentiu o gosto da derrota. Atual campeão brasileiro e da Copa Libertadores pelo Vasco da Gama, o atacante é uma peça-chave em busca do pentacampeonato na Copa do Mundo das Bahamas, que está sendo disputada nas areias de Nassau até o próximo domingo. De origem humilde e criado no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, ele não tinha perspectivas de futuro até ser descoberto em 2012 por Júnior Negão, ex-jogador e coordenador técnico do cruzmaltino na época. Quando perdeu a mãe e ficou sem chão, o carioca se envolveu com o tráfico de drogas e até em furtos, mas encontrou a redenção no esporte e hoje se tornou uma referência mundial. Titular do Vasco e do Lokomotiv de Moscou na Rússia, Lucão tem a técnica e a versatilidade como marcas. É capaz de jogar em qualquer posição, sendo valioso no jogo coletivo idealizado pelo técnico Gilberto Costa.

Lucão foi autor de um golaço de bicicleta que ajudou o Brasil a derrotar a Polônia no domingo, chegando a 500 vitórias e assumindo a liderança isolada no Grupo D do Mundial. Invicta há 31 jogos, a seleção brasileira volta à quadra para enfrentar o Japão nesta terça-feira, às 19h30, de Brasília, com transmissão do SporTV. O time depende apenas de si para se classificar às quartas de final. Basta vencer os asiáticos e garantir o primeiro lugar da chave. No histórico entre os países, foram 138 gols marcados pelos brasileiros e 45 sofridos em 18 jogos. Em 2016, a equipe canarinho levou a melhor nos três encontros: 6 a 2 em Copacabana, 8 a 4 em amistoso em São Pedro D’Aldeia, e vitória por 2 a 1 nos pênaltis, após o empate em 4 a 4 no Mundialito de Santos.

- Eu ficava na rua fazendo besteira e não tinha expectativa de nada. A minha mãe ajudava um pouquinho como podia, mas não era o necessário. Aí eu consegui o convite do Júnior Negão, que me ajudou bastante. Ele foi o cara que abriu os caminhos para mim. Minha mãe faleceu quando eu tinha 18 anos. Meu pai nem me registrou, já faleceu também quando eu tinha quatro. Não conheci o meu pai, mas a minha mãe foi guerreira, com quatro filhos, e foi pai e mãe. A minha avó também ajudou. Fiquei sem chão quando perdi a minha mãe, aí tracei o caminho errado. Fiquei perdido. Fui fazer essas besteiras para ganhar um dinheirinho, para poder sair, ajudar a pagar as contas em casa e tudo mais. Eu tinha os meus irmãos que precisava ajudar - contou Lucão.

Passado no tráfico de drogas

Além de ter se envolvido com o tráfico de drogas, Lucão já trabalhou em lava-jatos, como mensageiro de uma produtora (como se fosse um motoboy, mas fazia os serviços a pé).

- Eu vendia trouxinha (de drogas) na rua. Já fumei maconha, mas nunca usei cocaína, só maconha mesmo. Eu ficava na rua fazendo besteira. Já roubei, já vendi, vendi na praia, já fiz diversas coisas, mas nunca matei, graças a Deus, nunca fiz nada de diferente - contou o jogador, que lembra do passado difícil e frisa a importância da oportunidade para transformar vidas.

Hoje, devido ao calendário irregular do futebol de areia, ele alterna temporadas no Brasil e na Europa e tem se acostumado a colecionar títulos. No Caribe, o atacante faz a sua estreia em Mundiais. Uma das grandes inspirações do carioca é a filha Lara, de sete meses, o seu amuleto da sorte - desde o seu nascimento, ele ainda não perdeu nenhum campeonato que disputou.

- Eu era uma dessas crianças que tinha esperanças de ser jogador futebol, mas não tinha oportunidade. O Negão deixou a porta aberta e eu agarrei a oportunidade com toda a força do mundo. É maravilhoso, não tem explicação - completou.

O atacante tinha um esporte como passatempo desde os 13 anos, mas não imaginava que poderia construir a sua carreira nas areias, depois de algumas frustrações nos gramados. Ele fez testes no Fluminense, no Botafogo e em clubes menores até fixar de vez o escritório na praia.

Júnior Negão foi olheiro e levou joia para o Vasco

Um de seus primeiros treinadores foi Benjamin, ex-jogador da seleção brasileira. Mas foi Júnior Negão quem abriu as portas e o fez enxergar o novo caminho. O ex-jogador é atualmente o coordenador técnico da seleção. Negão não sabia do passado de Lucão quando o viu pela primeira vez, mas logo percebeu se tratar de um atleta diferenciado e o trouxe para o Vasco em 2012 a fim de lapidar o seu talento na modalidade.

- Eu pensava que o Lucão era filho de um amigão meu que tinha morrido, depois fui ver que não era. O pessoal falava muito dele, que era um jogador de decisão, que fazia muitos gols. Você via que ele era diferenciado. Além disso, chutava muito forte, era um jogador muito inteligente e habilidoso. Eu botei ele no Vasco, pois vi que era um bom menino. E ele pegou tudo rapidinho. Depois eu soube das histórias dele, e foi mais um motivo para queremos ajudar, afinal, ele queria dar outro rumo para a vida dele. E ele conseguiu dar um rumo melhor. Ele, o Bokinha e o Mauricinho eu também ajudei a fazê-los entrar em um caminho legal. Este título mundial pode coroar todo esse processo - analisou Júnior Negão, segundo maior artilheiro da história da seleção brasileira, com 318 gols, sendo superado apenas por Neném, que anotou 336.

Lucão, o jogador que mais evoluiu, segundo técnico

Para Gilberto Costa, Lucão foi o jogador que mais evoluiu no último ano. O treinador do Brasil ressaltou a importância de usar o esporte como um instrumento de inclusão social.

- O Lucão talvez seja o jogador que mais evoluiu na equipe, não só uma evolução tática, como técnica e como homem. A história dele é uma prova de que o esporte é uma ferramenta muito importante de oportunidade para qualquer ser humano. Ee acabou chegando em uma seleção brasileira, mas existem muitos esportes que você pode participar, ter um lugar para jogar, um clube. Ele chegou em um lugar mais especial, está em uma seleção, então, a capacidade de inspirar é maior. E ele veste essa camisa. É um rapaz que mostra que todos merecem oportunidade. Talvez ele não vá conseguir dar as respostas que precisamos em um primeiro momento, não é de uma hora para outra que se tem disciplina e respeito às regras. Temos de ter paciência. Muitos podem não conseguir, mas não podemos fechar a porta. Se você salva um, é muito importante entender, independentemente do passado, se esse cara quer mudar. Quando você estende a mão e o cara te dá uma esperança de mudança, você tem que salvar - destacou o comandante da seleção.

Vivendo um sonho, Lucão espera marcar muitos gols para dedicar à filha com ousadia e alegria. Ele só volta ao país para matar as saudades da família em setembro, após a temporada europeia.

- A felicidade é indescritível. Não tenho palavras, eu até chorei sozinho em casa. Eu jogo "beach soccer" desde menor. Um dos meus primeiros treinadores foi o Benjamin, e eu sempre me inspirei nos ícones do esporte. Quando tinha a arena em Copacabana, eu era um dos caras que ficava na fila desde madrugada para vê-los jogar. Era muito bom, eu adorava, e sempre gostei de estar na praia. É gratificante demais estar aqui agora, poder jogar a primeira Copa. Vou dar o meu melhor para vencer esta taça. A ansiedade dá em todo mundo, mas nervosismo eu acho que eu não tenho não. O meu sonho é levantar a taça e não parar aí. Quero diversas taças da Copa do Mundo com a seleção, no Brasil com o Vasco e na Europa com o Lokomotiv. São os meus sonhos. Vou dedicar todos os meus gols a minha filha, Lara, faço tudo por ela - finalizou.

Matemática da classificação

Se derrotar o Japão, a seleção brasileira assume o primeiro lugar do Grupo D e enfrenta o segundo colocado do Grupo C na próxima fase. Se perder para os japoneses no tempo normal e o Taiti não vencer a Polônia no tempo regulamentar, o time verde e amarela ficará em segundo da chave, e os nipônicos assumem a ponta pelo confronto direto. Caso o Brasil perca para o Japão no tempo normal e os taitianos passem pelos poloneses no tempo normal, haverá um tríplice empate com seis pontos e a definição dos dois classificados será pelos critérios de desempate entre as três seleções (a começar pelo saldo de gols). Se a equipe canarinho perder para o Japão na prorrogação ou nos pênaltis, também garante o primeiro lugar na primeira fase.

Tabela do Brasil na Copa do Mundo das Bahamas:

Grupo D - Brasil, Taiti, Japão e Polônia:

28 de abril - Brasil 4 x 1 Taiti
30 de abril - Polônia 4 x 7 Brasil
2 de maio - Brasil x Japão - 19h30 (horário de Brasília) - SporTV
4 de maio - Quartas de finais
6 de maio - Semifinais
7 de maio - Final



Fonte: GloboEsporte.com