Em entrevista, Edmundo fala de sua vida e carreira e relembra as várias passagens pelo Vasco

Sábado, 24/05/2014 - 10:22
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Nos anos 90, ele era personagem central do futebol brasileiro. Para o bem e para o mal. Tudo o que fazia repercutia. Os gols bonitos viravam gols antológicos. As confusões em que se metia eram amplificadas. Com pouco ou nenhum jogo de cintura, Edmundo Alves de Souza era presa fácil nas emboscadas midiáticas. Edmundo surgiu no final dos anos 80 em um Vasco que já tinha estrelas como Romário e Bebeto. Vinha do modesto bairro do Fonseca, em Niterói. Em 1993, o Palmeiras investiu 2 milhões de dólares e concretizou a maior transação no mercado interno até então. Funcionou. Já na primeira temporada, Edmundo ajudou o Palmeiras a sair de uma fila de 16 anos. Ao virar celebridade instantânea, Edmundo colecionou prêmios de melhor em campo e manchetes relatando suas brigas com adversários e companheiros. Dois títulos paulistas e dois brasileiros depois, ele chega ao Flamengo em 1995 para formar com Romário e Sávio o "melhor ataque do mundo". Na vida real, aquele Flamengo não deu em nada. Para piorar, no mesmo ano, Edmundo foi protagonista de um acidente na Lagoa Rodrigo de Freitas que acarretou na morte de três pessoas. O exame toxicológico mostrou que Edmundo não havia ingerido álcool, mas ele estava muito acima do limite de velocidade permitido no local. O jogador foi condenado a quatro anos e meio em regime semiaberto e dormiu uma noite na cadeia. As polêmicas seguiram quando se transferiu em 1998 para a Fiorentina, na Itália. Desde o momento em que chegou, já queria voltar. Conseguiu. Voltou ao Vasco, passou por Fluminense, Santos, Cruzeiro, Nova Iguaçu, Figueirense e Palmeiras. Teve uma breve passagem pelo Napoli da Itália e ganhou dinheiro no Tokyo Verdy e no Urawa do Japão. Acabou se despedindo no Vasco em 2012. Hoje, aos 43 anos, é comentarista da Rede Bandeirantes. Está bicho solto após dois casamentos com a namorada de infância Adriana Souza e com a jornalista Clarissa Ivalski que, somados, duraram mais de 20 anos. Com Adriana, teve Carolina (19 anos) e Edmundo Jr. (15 anos). Com Clarissa, Catarina (5 anos). E da relação com a ex-modelo Cristina Mortágua, nasceu Alexandre (19 anos), o filho distante que declarou ser homossexual.

Para entrevistá-lo, o diretor de redação de PLAYBOY foi ao escritório da sua empresa de eventos na Barra da Tijuca. Sérgio Xavier Filho havia feito a reportagem que estampou a capa da revista PLACAR em 1995. Edmundo aparecia com um ursinho de pelúcia na foto de Bob Wolfenson com a chamada "O Animal precisa de carinho". De lá para cá, fez análise e está mais sereno. Foram quatro horas de conversa, cinco momentos em que precisou parar para enxugar as lágrimas. O garoto irascível, genial e atormentado dos anos 90 foi embora. Em seu lugar, entrou um sujeito maduro, sereno e não menos atormentado.

Em 1995, "o Animal precisava de carinho". Você segue precisando de carinho?

Preciso até hoje. Naquela época, havia uma revolta interna e ela não passou. A diferença é que eu estou mais equilibrado. Venho de uma família pobre. Cheguei ao Palmeiras com um dos maiores salários do Brasil. Com todos os microfones apontados para mim, era mal compreendido.

E onde está a revolta?

O jovem não percebe os erros. Nessa época, eu precisava de carinho para compreender melhor o novo mundo em que eu estava me metendo.

Qual é o tamanho da miséria que você passou na infância?

Eu vivia em uma tremenda gangorra. Meu pai era barbeiro, minha mãe lavava roupa para fora, também era faxineira, fazia serviço em casa de família. O piso da nossa primeira casa era de chão batido. Só que eu tinha uma tia que trabalhava no Banco Nacional. Como ela não tinha filhos e meus pais estavam sempre na rua trabalhando, fui meio que criado por ela. Tinha acesso às coisas, tinha roupa, boa alimentação. A outra tia, a Marly, não tinha filhos e era professora de uma escola particular. Em função disso, eu estudava na escola dela. Era uma gangorra, eu vivia lá em cima com elas e baixava para a pobreza quando voltava para casa. Não passei fome, não.

Você já tinha algum ídolo no futebol?

Sou vascaíno e meu ídolo, claro, era o Roberto. Mas sempre gostei do Zico, de vê-lo jogar. Ele tinha o drible, eu me identificava mais com ele. Depois a gente se mudou para São Gonçalo, mais longe ainda que Niterói. Tentei uma vaga no Botafogo. Pegava o ônibus, ia até o centro de Niterói. Depois, a barca. Daí, mais outro ônibus até a Central do Brasil. Da Central, trem até Marechal Hermes. Dava umas quatro horas para fazer uns 60 quilômetros. E depois mais quatro horas para voltar...

Tem de gostar muito...

Ou precisar muito. Ainda bem que isso não durou. Uma vez aprovado no Botafogo, fui morar na concentração.

Por que você saiu do Botafogo?

O Botafogo de hoje é organizado, na minha época não era. Nos juniores, de vez em quando não tinha janta. Como eram três anos na categoria e no primeiro ano a chance de jogar no time de cima era pequena, eles pediram para eu sair da concentração. Não estava sendo valorizado.

Tinha algo já com o Vasco?

O Isaías Tinoco [supervisor do Vasco] já tinha me visto jogar pelo Botafogo. Aí, uns meses depois, eu faço um gol no Maracanã na preliminar de Vasco x Botafogo.

Um golaço, dizem. Daqueles que, como o de Pelé na Rua Javari, muita gente jura que viu...

Olha, talvez o mais bonito da minha vida, só que não foi gravado. [Risos.] Pego a bola na minha intermediária após o escanteio. Driblo uns quatro jogadores do Botafogo, mais o goleiro e boto para dentro. E foi aos 45 minutos do segundo tempo, na preliminar de um jogo com mais de 100 mil pessoas [eram 34 870 pagantes].

E aí aparece a história de que você andava pelado na concentração.

Era verdade mesmo. Quem mora no Rio de Janeiro sabe que o lugar mais quente do mundo é Bangu. O segundo, Marechal Hermes. Lugar que era para dormirem oito pessoas, dormiam 30 sem ventilador, em beliches. A gente dormia pelado mesmo. O sono era intervalado. Dormia um pouquinho, tomava uma chuveirada gelada e voltava para dormir de novo. Aí, em um sábado, passei pelado do dormitório para o banheiro. Havia uma área aberta e dizem que a mulher de um dirigente me viu passando. A história é verdadeira, só que não foi por isso que saí do Botafogo.

A chance para jogar no time de cima do Vasco surgiu em 1991? O golaço do Maracanã ajudou?

Sim, mas demorou uns seis meses para surgir a chance. O [Antonio] Lopes, que treinava o profissional, me chamou para treinar com a equipe principal. Isso foi em 1991. E tinha muitos ali no meio onde eu jogava, William, Flávio, Bismarck, Geovani, muito jogador de nome na época. Na frente eram o Bebeto e o Sorato. Faltava espaço para mim. A oportunidade apareceu já com o Nelsinho Rosa de treinador. A gente tinha um jogo pelo Brasileiro em 26 de janeiro de 1992 contra o Corinthians do Neto [4x1 para o Vasco no Pacaembu]. O Luisinho [volante] foi expulso e teoricamente o Nelsinho deveria me tirar para colocar mais um marcador. E aí ele pediu que a gente ajudasse na função e deu tudo certo. Foi uma estreia fantástica.

Você já era bad boy em campo?

Nada. Sempre fui disciplinado. Tinha respeito à hierarquia. Eu dizia, na época, que morava dentro da mochila. Eu andava com uma mochila azul grande que tinha tudo. Surgia uma carona para Jacarepaguá? Ia com o Geovani para lá e dormia na casa de uma tia. O Bismarck morava em Niterói e aí eu dormia na casa da minha mãe. Até que, vendo essa situação instável, o [coordenador de futebol do Vasco] Paulo Angioni conseguiu que eu fosse morar no hotel onde o Vasco concentrava na Glória. Isso depois que fui convocado para a seleção. Aí me deram também um Chevetinho...

E quando você viu um dinheiro mais graúdo?

Nesse ano não vi muito, mas no primeiro jogo [contra o Corinthians, no Pacaembu] pintou um bicho bacana. Nós fomos de ônibus para São Paulo e o bicho foi pago na volta, e no próprio ônibus. Com o dinheiro na mochila, fui dormir na casa da minha tia. Aliás, ela [Lúcia Barros] nem é minha tia, e sim mãe do Luiz Cláudio, que jogou comigo no Botafogo e não fez sucesso. Cheguei de madrugada e só fui falar com ela no dia seguinte. Era folga, segunda-feira, tinha prometido que... [emocionado] se tudo desse certo, eu iria comprar uma máquina de lavar para ela. Ela reclamava que não aguentava mais lavar roupa. Fui ao shopping com o Luiz Cláudio e a gente comprou a máquina, roupa para mim e para ele, e ainda sobrou para eu abrir uma caderneta de poupança [enxugando as lágrimas].

Isso só com o bicho.

Mas fui ver dinheiro de verdade quando me transferi para o Palmeiras. Aí comprei uma casa para a minha mãe, um apartamento para mim.

Quando você se deu conta de que era famoso?

No Palmeiras, havia sido o maior negócio dentro do futebol brasileiro [2 milhões de dólares]. Tinha a responsabilidade de tirar o Palmeiras da fila de 16 anos. E fomos campeões no primeiro ano. São Paulo valoriza quem é bem-sucedido. Fotos, todo mundo olhando...

Você metia a mão no bolso para pagar a conta no restaurante?

Eu já era noivo da Adriana e aí resolvi levá-la ao Jardim de Napoli, que ficava perto do hotel onde eu morava em Higienópolis. Me contaram que lá tinha o melhor polpetone do Brasil. Não sabia que aquilo era reduto palmeirense. Nesse dia, o seu Tonico [Buonerba, o proprietário] disse que eu não precisaria pagar a conta não só naquele dia, mas nunca mais. Todo domingo que estou em São Paulo para comentar jogos pela Bandeirantes, eu saio mais cedo do Rio para almoçar com eles.

Mas a vida no Palmeiras não foi só felicidade, certo? Você vivia às turras com o treinador Vanderlei Luxemburgo.

Eu o tratava como pai, um baita treinador, nunca fui treinado por alguém melhor do que ele. Mas ele sempre quis uma afirmação desnecessária. Naquele momento, vindo do Olaria, Bragantino, ele precisava de reconhecimento. Aí achou que, brigando comigo, iria ter essa notoriedade. Um dia ele me substituiu e eu saí falando "se for para me tirar todo o jogo, nem precisa me colocar". Foi o que me tirou da Copa de 94. Não era nada de mais. O problema é que falei isso gesticulando, com o dedo em riste. Ele me afastou e eu não fui chamado para os últimos amistosos. Ronaldo e Viola estavam contra a Islândia em Florianópolis, fizeram gols...

E com os outros jogadores? Não saía faísca?

Quando se aparece mais, tudo o que você faz recebe um peso maior. De fato, de fato, a única pessoa com quem briguei do grupo foi o Antônio Carlos [zagueiro]. As pessoas diziam que eu não me dava com o Evair [companheiro de ataque de Edmundo]. Somos diferentes, ele do dia, da igreja, mais na dele. E eu da noite, mais expansivo. Em um dos meus afastamentos do grupo pelo Vanderlei, o Evair foi importante. O treinador reuniu o grupo para decidir pelo meu retorno. O primeiro que se levantou foi o Evair: "Ele é maluco, fominha, tem todos os defeitos, mas é imprescindível aqui". No auge da história de que a gente não se dava, ele fez isso. Nos aproximamos depois do episódio.

A origem dos problemas é sempre a mesma. Você é um animal competitivo. Está agora aqui tranquilo comigo. Mas, se formos jogar bola, você não vai mais me tratar bem...

[Risos.] É, é verdade... Uma vez no treino do Vasco, toquei e recebi a bola torta. Xinguei o sujeito. Toquei pro outro, o cara perdeu a bola. Xinguei de novo. O time não funcionava. O Lopes parou o treino e me abraçou. Basicamente ele me disse o seguinte: "Eles não têm a sua qualidade, eles não são iguais a você. Se fossem, seriam os maiores salários do clube". Aquilo abriu a minha mente. Já com 30 e poucos anos, parei para pensar. Tinha tudo o que sempre quis, filhos saudáveis, bons amigos, só não tinha paz e tranquilidade. Procurei uma psicóloga.

Mas você já tinha passado por psicólogos?

Foi a primeira vez que fui de coração aberto. Se eu brigo com 20 pessoas, provavelmente não são os 20 que estão errados. Passei a ter mais jogo de cintura. Era um cara, mesmo ganhando, difícil. Não conseguia recuperar a minha paz de espírito após um jogo. Levava umas três, quatro horas para ficar normal. Não dava beijo na minha mulher e nos meus filhos. Não queria ver ninguém. Voltava para casa, dava uma dormida no quarto e só então voltava a ser sociável. Sempre me entreguei demais ao jogo, mesmo nas vitórias, imagina nas derrotas...

E você não era fácil antes das partidas também.

No dia do jogo, já não falava com mais ninguém. Telefone, nem pensar. Nada de "bom dia", "boa tarde". Chegava duas horas antes no vestiário. Tinha um ritual que era colocar o uniforme, pegar uma manta e um travesseirinho, mesmo com calor. Não dormia, mentalizava tudo o que iria acontecer no jogo, calculava quem ia me marcar. Quando isso não dava certo, a coisa degringolava. [Risos.]

E noitadas em véspera de jogos?

Jamais. Na véspera, nunca. Na sexta, muitas vezes. Cheguei várias vezes no recreativo do sábado virado da noitada.

Você se arrepende de alguma expulsão em especial, alguma briga?

Teve aquela em 1995, em Quito [o Palmeiras enfrentava o Nacional do Equador pela Libertadores], quando eu chutei uma câmera de TV. Foi na saída do intervalo. Eu tinha perdido um pênalti aos 44 minutos, estava furioso, não queria falar com ninguém, o repórter insistia na entrevista. O fio do microfone esticou no meu pescoço. Nisso, o câmera caiu no chão e eu, irritado, "pum" [chutou a câmera].

E aí você foi parar na delegacia.

Não, não cheguei a ir. Pela lei deles, se eu ficasse no hotel, não poderia ser detido. Fiquei alguns dias sem poder sair do hotel. Nem foi tão duro, tinha até um cassino lá dentro. [Risos.]

Em um jogo do Vasco contra o América, em Natal, você se irritou com o árbitro cearense Dacildo Mourão e soltou a seguinte frase: "A gente vem na Paraíba, um paraíba apita, só pode prejudicar a gente, né?" Olhando agora para trás, você se envergonha dela?

As pessoas são preconceituosas, eu não sou. Chamar uma pessoa de baiano em São Paulo é normal, certo? E, aqui no Rio, o baiano é o paraíba.

É normal, mas nem por isso deixa de ter o aspecto preconceituoso. Os nordestinos são colocados todos na mesma bacia. E não costuma ser um tom elogioso...

[Interrompendo.] Fui infeliz na frase, mas não era preconceituoso. Na minha família, havia nordestinos. É como o meu amigão, quase irmão, o Luiz Carlos. Ele é escuro, e eu falo com todo o carinho do mundo um "fala, negão". Preconceito? Tudo comigo sempre foi exagerado. Até os gols, alguns normais viravam "antológicos". E as cagadas também, aumentavam porque eram minhas. Até o meu apelido de "Animal", que era uma gíria da época para coisas boas, acabou ganhando uma conotação negativa.

Espera aí, o apelido era perfeito para você. Tinha mesmo o lado de algo incrível, positivo, e tinha também o significado da agressividade, que combinava com o seu jeito.

É, mas o engraçado é que ele não foi feito para mim. O Osmar Santos usava para o jogador que era o melhor da partida. "O animal do jogo." Como eu era muitas vezes o melhor em campo, o apelido pegou em mim. O Adriano, que é um cara que eu amo, acabou virando "Imperador"! Ele faz as mesmas cagadas que eu, até mais, mas virou "Imperador".

Vamos só lembrar que na Itália, em Roma, tivemos imperadores mesmo e um deles se chamava Adriano. Ele deu sorte, certo?

É, tudo bem. Mas e o Luís Fabiano, que também faz muitas cagadas e vira "Fabuloso"? Sorte também?

Você voou em 1997. Campeão brasileiro pelo Vasco, artilheiro e recordista de gols no Brasileirão. Como você não era titular na Copa da França?

O [técnico da seleção Mário Jorge] Zagallo tinha o seu ataque titular, Ronaldo e Romário. Mas o Romário se machucou já na França e foi cortado. Achei que eu era a bola da vez, mas aí veio aquela entrevista que dei para a Rádio Globo ao meu amigo Apolinho [Washington Rodrigues, radialista que também foi técnico do Flamengo em 1995]...

Você acha que não virou titular da seleção com a saída de Romário por causa de uma entrevista?

Eu não acho, tenho certeza. O Apolinho estava no Brasil e, quando soube do corte do Romário, me ligou e fez uma longa entrevista. Às vezes, a gente fala demais mesmo. Disse que tinha chegado a minha hora de ser titular. Para piorar, os jornalistas que estavam na França não gostaram de eu ter dado uma entrevista exclusiva para alguém que nem estava lá. Eles ficaram de cara virada para mim. E o Zagallo, mais ainda. De cara, ele colocou o Bebeto no lugar do Romário e o reserva imediato ficou sendo o Denílson. Fiquei sem espaço. Aí teve o episódio do jogo contra a seleção de Andorra, que foram uns 13x0 e todo mundo do banco entrou, menos eu [na realidade, a partida foi 3x0 para o Brasil e seis reservas entraram em campo, Edmundo não era um deles].

Você jogou mais bola do que o Ronaldo em 1997?

Não só em 1997, eu joguei mais que ele a vida inteira.

Jogou mesmo?

Joguei. Fiz o dobro de gols [Ronaldo marcou na carreira 481 gols. Edmundo, 344]. Fui campeão mais vezes. Ah, ser campeão brasileiro não tem valor. E ser campeão italiano tem? Joguei na Itália, lá é campeonato de dois, três times. Aqui tem 12 times que podem ser campeões. Ser artilheiro aqui é duro. O Ronaldo jogou aqui e não conseguiu. A única coisa que diferencia o Ronaldo é o desempenho com a camisa da seleção brasileira. Fez mesmo gols antológicos, mas jogar, efetivamente... Acho que o Romário jogou mais do que eu. Zico, Rivellino, Paulo César Caju, uma porrada de jogadores foram melhores do que eu. Mas o Ronaldo, sem sacanagem, não acho.

E o Romário, que já se atritou com você, foi melhor mesmo?

Sim. Ele era sensacional. O Romário tinha uma coisa só dele que era a finalização. Mais a percepção de posicionamento e a velocidade de pensamento. Convivi com ele no início da carreira. No pique de 20, 30 metros ele ganhava de qualquer um. Só que ele era preguiçoso, nunca trabalhou. Teve um incrível Vasco e Botafogo que ele fez três gols [em 1988, Vasco 4x3 Botafogo]. Ele saía 10 metros atrás dos zagueiros e chegava 10 metros na frente.

Outro dia eu revi aquele Brasil x Uruguai, 2x0 nas Eliminatórias de 1994...

[Interrompe animado.] Esse jogo foi sensacional! Ele me ligou do intervalo. A gente era muito, muito colado. Eu estava no Maracanã. O primeiro tempo dele foi maravilhoso, só que o gol não saiu e ficou 0x0. Ele me ligou do vestiário no intervalo: "E aí, bacana?" Respondi para ele: "Calma, que o gol vai sair. No segundo tempo, fez os dois golaços. O segundo gol foi sacanagem. Ele dá o drible da vaca, o goleiro meio que sai para o lado certo, o Romário corta caminho e ainda chega na frente. Aquilo é coisa de quem tem muita velocidade.

Se o Romário não tivesse se machucado em 98, o Brasil seria campeão?

Mesmo com o Romário cortado, tínhamos todas as condições de ganhar. O problema foi a convulsão do Ronaldo no dia da final que mexeu com todos. Aquela seleção da França era o Vasco de 97. Explico. O Vasco de 96 era horrível e, com a entrada de dois atletas, encaixou. Chegaram Evair e Mauro Galvão, dois jogadores mais velhos. Só aí que o Juninho virou o "super-Juninho", o Ramón jogou pra caramba, eu tive um ano excepcional, a partir dali viramos todos craques. A França era a mesma coisa, alguns jogadores até estavam bem na Itália, como o Thuran e o Djorkaeff, o Zidane ainda não era tudo aquilo. De repente, viraram um time.

Voltemos à convulsão. O que só você viu?

Fui o primeiro que viu. Eram quartos conjugados com uma porta no meio. Levantei [depois do almoço, no dia da final da Copa] para ir ao banheiro. Nisso, a porta estava aberta e vi ele tendo a convulsão. Ele estava deitado na cama e o Roberto Carlos estava na cama paralela, com a televisão ligada. O Roberto estava com o fone no ouvido e não percebeu nada. Ronaldo estava todo roxo, com a boca espumando e o corpo se contraindo. Saí para chamar o médico que estava numa estrutura distante. Quando voltei, eu e o César Sampaio tivemos a coragem de desenrolar a língua dele. Quando os médicos vieram, a imagem não era tão forte.

Quando eles chegaram, a convulsão tinha terminado?

Nós já tínhamos controlado. O doutor Joaquim da Mata, que era mais jovem, auxiliou mais. O doutor Lídio Toledo era mais velho e, assim como o Zagallo, demorou para chegar.

E foram eles que decidiram pela escalação de Ronaldo...

Eles chegaram atrasados, não viram e depois escalaram, essa é a grande verdade.

Se você tivesse sido escalado para jogar desde o início, ainda assim haveria um abalo.

Com certeza. Cara, todo mundo se concentra e a convulsão do Ronaldo quebrou a concentração. Entramos dispersos, a França se aproveitou disso e botou 2x0 no primeiro tempo.

Quando vocês souberam que o Ronaldo iria jogar?

No lanche, antes da partida, apareceu o Ronaldo, todo cabisbaixo. Não comeu nada e saiu para falar ao telefone no campo atrás do refeitório. Aí o Leonardo chamou a atenção dos médicos: "Esse menino não está bem, tem que levar ele para fazer exames". Uma hora depois, já na preleção, soubemos que o Ronaldo tinha ido fazer os exames. O Zagallo contou aquela história da Copa de 62, que o Pelé não podia jogar, que o Amarildo entrou e o Brasil foi campeão... Aí, disse que Ronaldo não iria jogar e quem iria entrar era o Edmundo. Aí eu soube que seria titular. Ele se dirigiu a mim: "Edmundo, essa é a sua oportunidade". Fomos para o estádio. Trocamos de roupa e, quando nos reunimos para fazer o aquecimento, chegou o Ronaldo. Já vimos ele mais sorridente dizendo: "Vou jogar, cadê minhas coisas? Vou jogar..." Aí eles se reuniram, Zagallo, Zico, Lídio e Joaquim e Américo [Faria, supervisor]. O Zagallo, de longe mesmo, me sinalizou: "Edmundo, segura um pouquinho". Tá bom.

E deu no que deu.

O médico é que deveria ter pulso para não permitir a escalação de alguém que tinha tido uma convulsão. Tirar o melhor do mundo não era uma decisão muito fácil.

Por falar em melhor do mundo, qual é o tamanho do Neymar para você?

Vamos medir na Copa. Seu desempenho no Mundial será importante para ganhar moral no Barcelona. Ele é diferente lá, não guarda posição, arrisca nos dribles. O Barcelona montou uma mecânica de jogo para que só o Messi tenha o direito de arriscar. Vejo o Neymar com o mesmo potencial do Messi e do Cristiano Ronaldo.

Ele já chegou no patamar de Zico e Romário?

Acho que está próximo de alcançar. Falta ainda para pegar o Zico. Ele precisa ser protagonista de um grande time. A gente vive falando de Barcelona, Real Madrid, mas o Flamengo do Zico foi protagonista do futebol mundial. A gente valoriza demais o que vem de fora. A Champions League parece interplanetária. Não é nada, eu joguei, deitei em cima daqueles malandros lá de cintura dura. É mais difícil jogar aqui, 45 graus de temperatura, campo ruim, torcida jogando coisa. Bota o Iniesta, o Messi para jogar aqui em Bangu. [Risos.]

Qual é a mágica do Felipão?

Nunca trabalhei com ele, mas algo de especial ele tem. Pega a mesma seleção destroçada do Mano Menezes e faz um grupo campeão. Treinar é fácil. Gerir um grupo é duro, e o Felipão faz isso com maestria... Claro que a torcida pesa. Eu estava nos estádios em todos os jogos na Copa das Confederações. Chorei em todas as partidas com o hino. Eu choro, canto, apesar das limitações, do padrão Fifa... [Risos.]

Quem ameaça o Brasil?

A Espanha ainda é a Espanha. O Brasil terá três adversários fortes: Espanha, Argentina e Alemanha. Pouco provável que saia um campeão diferente desses. A Argentina vem muito forte, tem jogadores, e a Copa no Brasil motiva para eles também. O Messi precisa jogar bem, já é a terceira Copa dele, é bom não esquecer.

Quem você aposta no Brasil além do Neymar?

Fred. O Thiago Silva pode se destacar, o Paulinho é bom pra cacete, mas pra decidir, é lá na frente. Por que o Fred? Porque o Brasil tem muito volume de jogo, a bola chega muito.

Você jogou na Fiorentina entre 1998 e 1999. O quanto você desperdiçou a sua passagem pela Itália?

Ah, 100%. Porque é um lugar lindo, pessoas maravilhosas. Desperdicei mesmo minha passagem por lá. Tinha acabado de ser campeão pelo Vasco, só que cheguei na Itália e fui direto para o banco. Eu me arrependo muito, muito mesmo, de ter feito tanta força para voltar ao Brasil.

O que deu errado então?

O Vasco me vendeu após a Copa América, só que fui "entregue" no fim do ano. Nesse meio tempo, apareceram muitas propostas melhores. Então fiz o possível para não ir. Queria melar, a Fiorentina não era um clube de expressão. Enfiamos uma cláusula que me dava folga para voltar ao Brasil em todo Carnaval. E eles toparam! Tudo que eu pedia eles colocavam no contrato. Eu comecei no banco mesmo, reclamei ao treinador e ele me prometeu que, assim que eu voltasse da seleção na Copa Ouro [janeiro de 1998], eu entraria no time. Nesse meio tempo, a Fiorentina engrenou vitórias. Voltei da seleção na semana anterior ao Carnaval. Segui no banco. Fiquei furioso. A gente não aguenta quem não tem palavra. Comprei uma passagem para voltar. Não porque era Carnaval, é porque coincidiu, né? [Risos.] O Zagallo me ligou dizendo que, sem jogar, eu não poderia ir à Copa. Voltei. E virei titular. Passei a marcar gols, arrebentei. Veio a Copa do Mundo e o novo treinador, [Giovani] Trappatoni, veio falar comigo na França. Disse que confiava em mim, que eu ia ser titular absoluto. "Só que agora eu quero aumento", avisei. [Risos.] Ora, eu vi que o [argentino] Batistuta e que o [português] Rui Costa ganhavam mais do que eu. E eles me deram o aumento.

E você teve mais um problema no Carnaval de 1999...

No Carnaval seguinte, as parcelas do salário estavam atrasadas. Continuava no contrato que eu poderia voltar ao Brasil no Carnaval. Aproveitei para cobrar as parcelas atrasadas. Eis que vem um jogo contra o Milan, em casa. Éramos líderes do campeonato. Nesse jogo, o [atacante belga] Oliveira se machucou, o Batistuta se machucou, o Esposito [italiano, outro atacante] entrou, tomou cartão e foi suspenso. Chegou a segunda-feira, os caras não me pagavam. Peguei o avião e vim pro Brasil. O que aconteceu? No domingo seguinte, de Carnaval, a Fiorentina jogou contra a Udinese e perdeu. Sabe quem jogou de atacante? Serena, que era lateral-esquerdo. Aí o Milan ganhou em casa e passou a gente na tabela. Eles botaram a culpa em cima de mim. Dizem que foi por causa do Carnaval. Voltei. No jogo seguinte, ganhei praticamente sozinho contra o Empoli. Mas o Milan não perdeu mais e acabou campeão. Ah, e eles não me pagaram, tive que receber os atrasados na justiça.

Onde você ganhou dinheiro na carreira?

Ganhei dinheiro no atraso dos clubes, essa é uma grande verdade. [Risos.] Quando não recebi do Flamengo, fiquei com 15% do meu passe. O Vasco ficou um período sem me pagar, ganhei mais 15% do passe. Quando fui vendido para a Fiorentina, tinha 30% da negociação e ganhei um bom dinheiro. E depois no Japão. Quando eu recebi os dólares no Japão, eles valiam quatro reais. Amigos compraram imóveis e ganharam dez vezes mais do que eu, que fiquei com o dinheiro em dólar.

Quais são os seus sonhos?

Ser presidente do Vasco. E estou filiado ao PDT. Para me candidatar à próxima eleição, precisaria me desvincular da Rede Bandeirantes até 4 de julho e a Copa vai até 13 de julho. Dificilmente eu serei candidato agora.

Qual seria a sua bandeira como político?

Combate às drogas, até pelo lado pessoal. Perdi um irmão para as drogas.

O seu irmão se afundou na cocaína. Terminou encontrado em um porta-malas cheio de balas. Quanto tempo você levou para se recuperar?

Eu estou destruído até hoje. Perdi meu irmão, meu pai, minha mãe [os pais morreram doentes poucos anos depois]. O meu chão se foi. Não vou me recuperar nunca. Trocaria fama, carreira, dinheiro, tudo [emocionado]... para tê-los hoje comigo. Em um momento, precisei me afastar deles para tentar ser alguém. Finjo que sou feliz. Meu irmão não chegou a trabalhar no tráfico, ele era usuário. Mas, sem trabalhar, ou você ajuda a vender ou faz pequenos furtos para sustentar o vício.

Em um momento, você se afastou da família. Você chegou a elaborar na cabeça esse afastamento?

Estamos falando aqui francamente [mais lágrimas], não é? Eu já saí de concentração no sábado para subir o morro e buscar meu irmão que estava cheirando. Em uma dessas muitas vezes, alguém me viu descendo e saiu dizendo que eu estava envolvido com drogas. É demais isso. Só que em um momento isso começou a atrapalhar. Eu não era nem Xuxa nem Roberta Close. Nem ajudava meu irmão de verdade, nem jogava bola. Eu buscava o Luizinho, dava banho, dava leite, porque ajudava a amenizar o efeito da cocaína. Quando o encontrava, ele já estava dois ou três dias sumido.

E como você descobria onde ele estava?

Fácil. Voltava ao bairro e perguntava: "Onde está o Luizinho?" Com dois telefonemas mais, achava. O mais legal é que ele tinha um respeito enorme por mim [emocionado], ele tinha três anos menos que eu. Uma semana depois, ele estava cheirando de novo. Foi aí que resolvi conversar com meus pais, eu chorava todos os dias. Aí, disse para eles: "Só vou chorar por ele mais uma vez, que vai ser quando ele morrer". Por incrível que pareça, o meu desprezo fez o Luizinho mudar. Ele ficou dois ou três anos sem usar drogas, já casado, trabalhando. Morreu assim.

E morreu por alguma dívida antiga?

Ele tinha sumido e minha mãe tinha me avisado. Achei que era recaída. Dias depois, ele foi encontrado. Eu jogava no Japão e recebi a notícia com muitas horas de atraso por causa do fuso. Iria voltar na hora, só que o Luizinho já estava em estado de decomposição, o corpo foi achado no porta-malas do carro e era preciso enterrar logo. Segurei a onda, fiz os últimos jogos do time e depois fiquei com meus pais. Especularam que poderiam ser dívidas atrasadas, não me interessei em saber. Meu pai ficou muito mal. Chegou a fazer uma tatuagem com o rosto dele.

Você tinha mais ligação com o seu pai ou com sua mãe?

Ah, com o meu pai. Mas o meu pai tinha mais ligação com a minha mãe. Meu pai me deu o que eu tenho de melhor. Aprendi muito. Mas nada de bola. Ele tinha pernas em tesoura. Não entendia nada. Só não gostava que falassem mal de mim. [Emocionado.] Vira e mexe, me ligavam para dizer que ele estava brigando no bairro por minha causa.

O que você se lembra do acidente de carro na Lagoa Rodrigo de Freitas, em 1995, no qual três pessoas morreram?

Tudo. Outra memória viva e triste. Estávamos eu e um amigo. O primeiro lugar estava lotado e fomos para o segundo. Aí apareceram três meninas.

Mas o acidente em si, como foi?

O menino do outro carro não era habilitado e, em uma curva mais acentuada, aconteceu. Eu vinha por dentro, ele veio por fora e atravessou na minha frente. Não houve tempo nem para frear. Bati nele e fui capotando. Ele e a namorada morreram na hora. Tinha uma menina no banco do carona que sobreviveu. E uma do nosso carro, a Joana, foi a única que não teve escoriação. Só que teve hemorragia interna e morreu no hospital.

Você pagou as indenizações?

Para todos do meu carro e do outro. Sete pessoas. Mesmo quem não teve sequelas acabou se aproveitando. O caso acabou sendo, por assim dizer, exemplar. Houve um linchamento público. Fiz um acordo com todos. Fiz questão de fazer isso sem discutir muito, funcionou como autopenitência.

Você ficou com o carimbo na testa após o acidente. Isso faz com que você se lembre dele todos os dias quando olha no espelho?

Sobre o carimbo, há controvérsias. Eu, minha mãe, meu irmão sempre tivemos a testa um pouco saliente. Aí, depois do acidente e voltando da Itália, em 1998, sentei ao lado de um cirurgião plástico brasileiro chamado Artur Pororoca. Ele olhou a minha testa e disse que era simples. Ofereceu fazer a cirurgia de graça, e o de graça sempre fica mais caro... Ele abriu e tirou um tendão, tanto que a minha testa toda enruga e o meio, não [demonstra o fenômeno].

O acidente mudou a sua forma de dirigir?

Sim. Hoje dirijo pouco. Tenho motorista. Fiquei com trauma. Não bebi naquele dia, nunca fui de beber. Escolho um dia na semana para beber, e pouco. E jamais dirijo nesse dia.

A sua mulher dirige?

Sim, mas [constrangido] eu já não estou mais com ela...

Opa, isso não estava na nossa pesquisa.

Faz uns quatro meses.

Você está de novo no mercado.

É. [Risos.]

Aliás, quando você entrou no mercado?

Cedo, sempre gostei muito de mulher, mais do que os outros. Tinha um amigo, o Maurinho, lourinho de olho azul. Eu dizia que ele entrava com o vídeo e eu com o áudio. Entendeu? Ele chamava as mulheres e eu contava as histórias.

E a primeira vez?

Foi com uma prima minha, eu acho.

Eu acho?

Foi com ela, a Saionara, era uma prima mais velha. Eu tinha uns 13 ou 14 anos. Ela já tinha uns 18, 19 anos, já era mulher. Eu não sabia nem onde era o buraco direito. [Risos.]

Conta direito essa história.

Ela que me pegou. Era complicada a coisa na época. A gente beijava pra caramba, roçava pra caramba, só que ninguém tinha dinheiro pra motel, não tinha carro pra transar dentro. Ficava tudo na ameaça. Com a primeira namorada, a Daniela, que morava em Guadalupe, é que posso dizer, com certeza, que o ato se consumou. E com prazer, tinha uns 15, 16 anos.

Você reconhece que é mulherengo. Casou cedo e emendou o segundo casamento no primeiro. Pelas minhas contas, você está há mais de 20 anos em uniões estáveis.

Namorei três anos a Adriana e fiquei casado com ela mais 12 anos. Seis meses depois, conheci a Clarissa. Aí namorei com ela quatro anos e fiquei mais cinco casado. Eu tive uma vida, entre aspas, regrada. Sempre tive uma relação principal e aí dava os meus pulinhos. [Risos.]

As separações com as duas mulheres foram tranquilas?

Por incrível que pareça, nenhuma das duas separações foi por traição. Foram por ausência minha dentro de casa. Por sair pra jogar futevôlei 10 da manhã e voltar 10 da noite, fugir da festa de família. Traí e não tenho vergonha de admitir. Só sou bom para os eventos dos meus filhos. Agora estou bem, posso jogar baralho sem hora para voltar, levar mulher para casa, beijar quem eu quiser na boate...

Mas, Edmundo, você já não fazia isso antes?

É, fazia casado e magoava quem eu gosto. Amei demais as duas. E magoar quem você gosta é triste. Isso me fazia mal. Hoje vivo bem, até saio para jantar com elas, dou risada, pergunto dos namorados.

Não as duas juntas, imagino...

Juntas, só em aniversários. Porque a Adriana achava que eu já estava com a Clarissa quando me separei dela. E isso não é verdade. Mesmo. Outra verdade verdadeira [tom mais solene] é que nunca tive amantes. Peguei um monte de mulheres, mas nunca tive amantes.

E os filhos?

São maravilhosos, muito educados, carinhosos comigo.

E o Alexandre, que foi fruto de uma relação com a modelo Cristina Mortágua e hoje está com 19 anos?

Pago 30 salários mínimos para o meu filho que tem 19 anos. Ele não faz faculdade e não consigo baixar a pensão. Estou sempre errado, assim como aconteceu no acidente. Bateu lá na justiça, é o Edmundo, eles canetam contra.

Você costuma falar com ele?

O Alexandre, cara, eu gosto dele da mesma forma que dos outros. Mas ele... Ele trilhou o caminho próprio. Foi morar em São Paulo, é estilista, é noturno, dorme de dia. Troca de telefone toda hora. Temos pouco contato. Em função da distância, perdemos a afinidade. Mas amo ele. Meu telefone continua o mesmo. Até faço um apelo para que ele me ligue, me visite.

Vocês vão precisar resolver essa história mais para a frente.

Vamos, vamos. Nós tivemos um contato. Ele e a mãe tiveram um problema na delegacia [em 2011, Alexandre denunciou a mãe por agressão. E, na delegacia, Cristina agrediu o filho e a delegada antes de ser detida]. A psicóloga fez com que eu tivesse dez sessões de terapia.

Em conjunto?

Dez, eu e ele juntos. Botamos para fora um monte de coisas. A gente se acertou. Logo depois, ele completou 18 anos. Ele sempre teve o sonho de liberdade, poder viver o mundo dele. Aí decidiu ir para São Paulo.

Vocês falaram sobre sexualidade? A opção sexual dele não é a sua.

Não chegamos a falar abertamente. Nas entrelinhas, deu para ver, deu para entender. A escolha é dele. O conselho de pai que dei foi o seguinte: comportamento na vida é tudo. A sua sexualidade pouco importa, mas seja gentil e respeite as pessoas. E seja trabalhador, corra atrás, não espere as coisas caírem do céu. Ele é educado com todos, comigo.

Para terminar, uma curiosidade. Você é amigo mesmo do Caetano Veloso?

Eu me aproximei do Caetano por causa do filho dele, o Tom, que adorava futebol. E o Caetano também gosta. Frequentávamos a mesma praia em Ipanema. Conheci a Paula Lavigne, que era casada com o Caetano. O pai dela, o seu Arthur, foi meu advogado. Mesmo quando eu jogava fora, voltava e ia almoçar lá. Altos papos. Aprendi milhões de coisas com ele. Uma das maiores alegrias da minha vida é frequentar aquela casa.



Fonte: Placar