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Confira como foi a passagem de Zagallo como técnico do Vasco


Quarta-feira, 10/08/2011 - 09:34

Mário Jorge Lobo Zagallo, o velho Lobo (como sempre gostou de ser chamado), que comemorou nesta terça-feira (09/08) seus 80 anos de vida, passou pelo Gigante da Colina em duas oportunidades na sua longa e vencedora trajetória. A primeira delas foi iniciada no dia 14 de agosto de 1980. O técnico, que se consagrou definitivamente no cenário futebolístico nacional em 1970, após a conquista do tricampeonato mundial no México, estreou com vitória sobre o italiano Bologna em amistoso jogado no campo inimigo: 1x0, gol de Paulo César Caju.

Contratado com a missão de quebrar a sequência de conquistas do Urubu, bicampeão estadual 78/79, campeão do Especial de 1979, campeão brasileiro em 1980 e tricampeão da Taça GB¹, Zagallo acabou permanecendo menos do que um ano no clube nessa sua primeira estadia. Se não venceu nenhum campeonato, pelo menos acabou impedindo o que a imprensa chamava de tetracampeonato carioca, feito até hoje inédito em se tratando de uma competição por uma mesma federação² na Cidade Maravilhosa.

Pela penúltima rodada do primeiro turno, o velho Lobo comanda o Almirante contra o Urubu do seu desafeto Coutinho e põe fim às esperanças inimigas de levar seu nono turno seguidamente em competições estaduais. O técnico que se intitulou “campeão moral” na Copa do Mundo de 1978, quando o Brasil acabou invicto, foi surpreendido pela estratégia de Zagallo que soube segurar o ímpeto adversário no tempo inicial, mas que ousou na dose certa na etapa derradeira, quase vencendo o jogo. O empate sem gols eliminou o rival e deixou apenas Vasco e Flu no páreo. Os tricolores acabariam se sagrando campeões em partida extra que teve prorrogação e disputa de tiros da marca do pênalti.

Com o Tricolor das Laranjeiras já garantido nas finais (e visivelmente com o pé no freio), o segundo turno era matar ou morrer para o Gigante. O Botafogo era um mero coadjuvante que continuava sua sina amarga de permanecer na fila. Do lado do time da Gávea, o sonho do tal tetra estava mais vivo do que nunca. Dois empates rubro-negros, no entanto, deixaram o clube da Colina isolado na liderança, sem nenhum ponto perdido. Mas Zagallo baqueou diante de Coutinho no confronto direto do returno, deixando o Urubu na boa. Mas a sorte que sempre o acompanhou em toda sua carreira mais uma vez deu as caras: para a surpresa geral, na rodada seguinte, o rival perde a invencibilidade em Petrópolis, diante do fraco Serrano, no dia do inesquecível gol de Anapolina.

De novo na ponta da tabela, o velho Lobo não vacila e leva o returno, pondo fim ao sonho do fajuto tetra que o Urubu e sua torcida contavam como certo. E para tornar essa decepção ainda mais dramática, no jogo da taça, a vitória vascaína contra o Americano foi obtida no minuto final da partida, com São Januário em delírio. Mas a felicidade que teve no encontro anterior não se repetiu no duelo final contra os meninos de Nelsinho, liderados pelo ótimo Cláudio Adão que acabou se tornando novamente campeão carioca, justamente ele, que acabara de trocar o Fla pelo Flu.

A derrota na final do Estadual não foi motivo para provocar a saída imediata do Lobo do clube. Afinal, havia uma competição mais importante pela frente: o Brasileirão. Depois de realizar boa campanha nas duas primeiras fases, o Vasco de Zagallo chegava às oitavas-de-final, curiosamente, tendo como adversário o mesmo Tricolor que o havia derrotado na decisão carioca alguns meses antes. Dessa vez o Gigante foi mais feliz: depois de meter 2x0 na partida de ida, na batalha da volta, o Almirante toma um susto, quando o time das Laranjeiras consegue ir para o intervalo revertendo a vantagem vascaína que jogava por dois resultados iguais. O Vasco diminui quase de saída e a dez minutos do fim, César define a parada.

Nas quartas-de-final, dois empates sem gols contra a Ponte Preta – e dessa vez era o adversário quem tinha a vantagem – eliminam o Vasco da competição. Zagallo continua, mas seu cartaz já estava em baixa. Depois da terceira derrota no primeiro turno, de novo valendo a Taça GB, o velho Lobo deixa o Gigante da Colina.

Quase dez anos depois, em 1990, Zagallo retorna à equipe cruzmaltina com uma missão grandiosa: o então campeão brasileiro, que já estava na fase de quartas-de-final da Taça Libertadores, desejava chegar ao topo do mundo ainda naquele semestre. O velho Lobo pega de cara o forte Atlético Nacional de Medellín. Mas com uma equipe em mau momento e inexperiente, que não contou com o seu melhor jogador em plena forma – Bebeto –, o Gigante decepciona. Empata sem gols no Maracanã e cai na partida decisiva, que acabou acontecendo em campo neutro no Chile, por causa dos episódios de terror psicológico direcionados ao elenco vascaíno ocorridos na casa do adversário, prélio em que fomos derrotados, mas que foi considerado nulo.

A derrota abate o elenco. A campanha no Brasileiro é apenas regular. Na segunda fase, a equipe tem seu melhor momento, logo abafada pela derrota frente ao emergente Bragantino de Vanderlei Luxemburgo, resultado que praticamente nos tirou a chance de lutar pelo bi em sequência, o que seria o nosso tricampeonato nacional. Na Taça Adolpho Bloch – que ficou também conhecida, pelos otimistas, como Campeonato Carioca Extra, mas pelos pessimistas como Torneio dos Eliminados³ –, Zagallo leva o Vasco ao título colocando vários atletas da base para jogar, como Germano, Ayupe, Luciano e Pedro Renato.

A nova temporada, com calendário invertido, inicia-se de novo com o Brasileirão. As poucas contratações e a continuidade de um desempenho abaixo do esperado do time que comandava prolongam sua permanência por apenas mais cinco jogos em 1991. Zagallo deixa o Vasco para nunca mais retornar. Meses depois, assumiria o posto de coordenador técnico da seleção brasileira, onde escreveria mais uma página brilhante e repleta de glórias que culminaria no tetracampeonato mundial nos Estados Unidos.

Parabéns, Mário Jorge Lobo Zagallo, ou tão somente, velho Lobo!

NÚMEROS DE ZAGALLO NO VASCO


99 jogos
49 vitórias
34 empates
16 derrotas

TÍTULOS/TROFÉUS


Troféu Colombino (disputado na cidade de Huelva-ESP) 1980
Taça Gustavo de Carvalho (2º turno do Estadual do RJ) 1980
Taça Adolpho Bloch 1990

GALERIA


Placar 539
Placar 539
Zagallo em 1980
Zagallo em 1980
Zagallo em 1980
Zagallo em 1980
Zagallo em 1980
Zagallo em 1980
Duelo de Titãs
Duelo de Titãs
Reconciliação
Reconciliação


OBSERVAÇÕES


¹ A Taça GB em 1980 foi disputada nos moldes originais, ou seja, foi uma competição independente do Carioca.
² O Fluminense não se considerava, naquela época, vencedor do título de 1907, de modo que jamais se autoproclamou tetracampeão por já ter tido sucesso em 1906 e depois em 1908/09. O Botafogo venceu um tetracampeonato carioca de 32 a 35, mas dois deles foram pela AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos) e dois pela FMD (Federação Metropolitana de Desportos). Em 33 e 34, não jogou clássicos; em 35, teve apenas o Vasco como grande pela frente.
³ Naquela temporada, nenhum time carioca figurou entre os oito times que avançaram à segunda fase do Brasileirão, portanto, não houve nenhum representante do Rio de Janeiro nas quartas-de-final. Dos quatro grandes da capital, apenas o Flamengo declinou de jogar o torneio.

CRÉDITOS


Pesquisa e Texto: Alexandre Mesquita
Revisão e Formatação: NETVASCO
Fotos: Reprodução Arquivos de Alexandre Mesquita