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Procurador pode pedir afastamento de organizadas de Vasco e Urubu


Quinta-feira, 16/09/2010 - 10:11

Oito membros de torcidas organizadas do Vasco e do Flamengo foram presos ontem durante a Operação Hooligans, deflagrada pela Polícia Civil do Rio para o combate a criminosos nos grupos.

No total, 12 mandados de prisão dos 19 expedidos foram cumpridos. Quatro suspeitos já estavam detidos devido a outros crimes.

Na operação, foram apreendidas oito máquinas caça-níqueis, que estavam em um bar frequentado por alguns dos presos, notebooks, celulares, um taco de beisebol e camisas com alusões às torcidas organizadas.

As detenções foram na capital, nos municípios de São Gonçalo, Niterói e Itaboraí e na região metropolitana.

A partir das 6h, 160 policiais civis e dez delegados, divididos em 52 equipes, circulavam pelo Rio de Janeiro e por outros municípios.

De acordo com a Polícia Civil, integrantes de torcidas vêm utilizando sites de relacionamento para marcar brigas e anunciar quais serão suas próximas vítimas.

As investigações começaram em março com a morte de um torcedor da 7ª Família da Força Jovem do Vasco, que teria sido atacado por membros do 8º Pelotão da Torcida Jovem do Flamengo.

Integrantes de organizadas do Botafogo e do Fluminense também são investigados pela polícia e podem ser presos nos próximos dias.

""Pelo menos 40 pessoas já estão identificadas como suspeitas de envolvimento com essas quadrilhas", disse o delegado Luiz Antônio Ferreira, da 73ª DP (Neves).

"Alguns são verdadeiramente torcedores do Vasco e do Flamengo, mas muitos utilizavam a torcida organizada apenas para promover vandalismo, depredação, briga", afirmou Ferreira.

Ao longo das investigações, os policiais descobriram que integrantes das organizadas realizavam festas em São Gonçalo e em Niterói para arrecadar dinheiro e marcar brigas com rivais.

Segundo a polícia, os convites para as festas eram vendidos, em média, por R$ 25. Quem pagava, ganhava ingressos para as partidas.

Por isso os envolvidos poderão ser enquadrados ainda como cambistas. "As torcidas têm direito a ingressos gratuitos fornecidos pelos clubes, mas faturam com isso", declarou o delegado.

Os acusados terão que responder na Justiça por formação de quadrilha, porte ilegal de armas, homicídio, tentativa de homicídio, rixa qualificada e lesão corporal, entre outros crimes.

Além da ação, o chefe da Polícia Civil anunciou que será criada a Delegacia de Ordem Pública para monitorar as organizadas e evitar brigas. O objetivo é identificar e prender criminosos dentro das torcidas organizadas como forma de prevenção para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Procurador fala em banir facções dos estádios

Responsável por denunciar os torcedores presos na Operação Hooligans, o procurador Paulo Roberto Mello Cunha Júnior admitiu ontem que pode pedir o afastamento de duas organizadas dos estádios com base no Estatuto do Torcedor.

Titular da Promotoria do Júri de São Gonçalo, Cunha disse que vai investigar se os presidentes da Força Jovem do Vasco e da Torcida Jovem do Flamengo tinham envolvimento nos crimes cometidos pelos integrantes das organizadas fora das arenas.

""Estamos analisando a aplicação do estatuto para ver se os líderes dessas organizadas se envolveram nesses crimes. Se isso for comprovado, podemos pedir o afastamento de toda a torcida por até três anos. Isso não está descartado", declarou Cunha.

Em julho, uma nova redação do Estatuto do Torcedor entrou em vigor. A lei endurece a fiscalização das torcidas organizadas.

Caso um membro da facção cometa infrações, toda a associação poderá ser responsabilizada e proibida de entrar nos estádios por até três anos.

Com o aumento de policiais nos esquemas de segurança durante os jogos e a criação do Estatuto do Torcedor, os integrantes de organizadas raramente brigam dentro dos estádios. Ajudados pela internet, eles marcam confrontos para dias que não tenham partidas de futebol.

No dia 24, o vascaíno Antonio Marcos Alves de Oliveira, 31, morreu depois de ser espancado em São Cristóvão por torcedores do Fluminense antes do clássico. O bairro é vizinho ao Maracanã.

Flamengo afirma que vai criar uma ouvidoria, e Vasco se cala

Flamengo e Vasco preferiram silenciar sobre a prisão de torcedores na Operação Hooligans. Seus presidentes não se manifestaram publicamente em relação à ação.

Mas, em nota oficial, o Flamengo informou que está criando uma ouvidoria para que "se possa normatizar a venda de ingressos para as torcidas organizadas".

Nas sedes da Força Jovem do Vasco e da Torcida Jovem do Flamengo, funcionários se recusaram a comentar a operação de ontem -diziam apenas que os seus presidentes não estavam no prédio.

A Força Jovem do Vasco postou em seu site duas notícias: uma sobre a prisão dos torcedores e outra defendendo seus filiados, com o título: "Torcedores presos alegam que não organizam brigas".

Fonte: Folha de São Paulo