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PC: 'No Vasco, o meu sonho é ficar, fazer um trabalho a longo prazo'


Domingo, 22/08/2010 - 00:30

Paulo César GusmãoO tempo é o inimigo do treinador. Em uma partida, ele tem pouco mais de 90 minutos para pôr em prática as suas ideias. Quando não funciona, os ponteiros parecem andar para trás. Para evitar um atraso na carreira e ter que sair do Rio mais uma vez, tudo que PC Gusmão quer no Vasco é o que não teve em sua passagem pelo Fluminense: vida longa. Em 2006, o técnico ajudou a livrar o tricolor do rebaixamento. Seu futuro em 2007 estava escrito. Mas, de salvador, passou a indesejado nas Laranjeiras e foi demitido na quarta rodada do Campeonato Carioca. Foi o início da peregrinação pelo país até PC conseguir fechar o ciclo do temido e habitual entra e sai de treinadores no clube que é a sua casa. Sem ressentimentos com o tricolor, mas...

- Fiquei chateado quando fui despedido do Fluminense em 2007. Tirei o time do rebaixamento em 2006, ajudei a contratar e fiz a pré-temporada... Aí, logo no início do Estadual, depois de uma derrota para o América, sou despedido. Faltou continuidade - lamentou PC Gusmão.

A base daquele time tricolor que PC ajudou a montar era maioria no time campeão da Copa do Brasil de 2007. E que terminou em terceiro no Brasileiro.

- Era o time que eu montei, mas não deram tempo para mim - declarou PC.

E os dias, meses e anos passaram arrastados enquanto PC viajava. Aquela demissão significou mais do que a sua saída do Rio. Determinou a sua entrada na galeria dos treinadores promissores, mas sem um título de expressão. Em três anos, treinou seis clubes diferentes. Das Laranjeiras, parou em Pernambuco, no Náutico, onde foi vice-campeão estadual. A saga continuou no Itumbiara, de Goiás, onde foi campeão goiano de 2008 - o primeiro do clube. Vieram Figueirense e Juventude, do qual saiu prematuramente após nove jogos. Por fim, Atlético-GO, Ceará e Vasco, no qual espera ficar bom tempo.

- Preciso ter sequência. No Vasco, o meu sonho é ficar, fazer um trabalho a longo prazo, conquistar o Campeonato Brasileiro, levar o clube de volta à Libertadores. Mas preciso de tempo - disse.

Enquanto PC fala, o telefone toca, um fã pede autógrafo, o assessor de imprensa faz um comentário. O técnico quer umas horas para ele, mas não se importa em dividir alguns minutos com as pessoas próximas. Como a família e a mãe, que acabou de receber alta do hospital. Só que, na profissão de treinador, o tempo dos outros é sempre maior.

- O Muricy Ramalho e o Vanderlei Luxemburgo, por exemplo. Por tudo o que eles já fizeram no futebol, os títulos que conquistaram, o tempo de trabalho que os clubes concordam em gastar com eles é sempre maior. Eu tenho que vencer a desconfiança todo dia - afirmou.

No Vasco, ele venceu e convenceu. Único técnico invicto do Brasileiro, a sua chegada trouxe novos ares e esperança para um time desacreditado. Da ameaça da queda, para a disputa na parte de cima da tabela, o tempo voou. Mas os antigos problemas continuam. A convivência com os salários atrasados irrita. Mais maduro, PC pensa, pondera, mas não consegue concordar com o problema crônico dos clubes do futebol brasileiro. Em 2005, ao reclamar dos atrasados no Botafogo, desagradou à diretoria e preferiu sair.

- É muito ruim. Não vou ser hipócrita e dizer que não incomoda. Mas acontece em todo o Brasil e foge da minha área. Virou uma bola de neve - declarou.

Para PC, a felicidade de um treinador depende das marés do futebol. Hoje, ele está na cheia, invicto, repleto de amigos e sucesso. Na baixa, ocorre uma inundação de críticas e a esperança e amizades de ocasião desaparecem. Em vez de comemorar a fartura dos dias atuais, ele se prepara para os dias de crise.

- A decepção faz parte da vida em todos os campos profissionais. Assim é o ser humano. Vivemos de resultados, dentro e fora de campo - afirmou.

PC não gasta tempo nem mesmo para comemorar a incrível sequência de 14 jogos sem derrota. Se perder hoje de uma maneira que a torcida e diretoria entendam como imperdoável, seu método de trabalho, ainda que sólido, começará a ser questionado.

- A invencibilidade é importante, mas é o que menos interessa neste momento. Eu fui uma engrenagem nos dois times - comentou, em referência às campanhas no Ceará e no Vasco.

Quando a engrenagem emperra, o técnico é o primeiro elo a ser substituído. A saída é sempre dolorosa e deixa marcas que o tempo não apaga, como no Fluminense. Os amigos ficam. Foi assim com Romário. E poderá ser assim, em breve, com Romarinho. Ao lado de Rodrigo Dinamite, o filho do craque joga no Vasco e deverá ter uma chance no profissional. PC garante que Romário ainda não ligou para pedir um "moral" para o garoto. O contato, com o passar do tempo, diminuiu:

- Eu sou ocupado, ele também. Estou de olho no Romarinho e em todos os outros. Mas tudo tem seu tempo...

Fonte: O Globo online