Luxemburgo pede à torcida: 'Um pai não abandona um filho. Então, não abandonem seus jogadores'
Domingo, 12/05/2019 - 10:22
Campeão paulista, brasileiro, carioca, mineiro, pernambucano, capixaba, paranaense, da Copa do Brasil, da Série B... Passagens por gigantes brasileiros e até pelo Real Madrid para comandar Zidane, Ronaldo e companhia. Esse é um super-resumo do currículo do novo técnico do Vasco: Vanderlei Luxemburgo.

Em contrapartida, o treinador estava parado desde outubro de 2017, quando foi demitido do Sport, e gerava dúvidas. Ia parar? Está ultrapassado? Precisa estudar? Com muitas respostas a muitas perguntas, Luxemburgo está de volta ao futebol. Vai comandar o Vasco até o fim do ano, pelo menos, e garante que tem muito a oferecer - o currículo realmente diz isso.

Para colocar em prática suas ideias, Luxemburgo pede o apoio de um importante aliado: a torcida do Vasco. Em crise financeira e esportiva nos últimos anos, o Cruz-Maltino tem tido constantes "conflitos" com os torcedores, entre protestos em aeroportos e nas arquibancadas.

- O Vasco vem de três rebaixamentos. E o torcedor está magoado. Mas eu queria que ele esquecesse esse momento. Eu e você, torcedor do Vasco, temos um compromisso importante. Um pai não abandona um filho. Então, não abandonem seus jogadores. Vamos juntos nessa empreitada. Eu vou ser importante, você vai ser importante, os dirigentes vão ser importantes. Esqueçam esse passado, que não é bom para o Vasco. Vamos construir um futuro juntos. Tenho certeza que você vai abraçar o Vasco da Gama - disse Luxemburgo, em entrevista para o Esporte Espetacular.

O técnico recebeu nossa equipe no lançamento de sua cachaça, em São Paulo, no dia do seu aniversário de 67 anos e na festa de comemoração pela volta ao futebol. Experiente, Luxemburgo acredita que ainda tem o que oferecer como treinador e mostra como quer que o Vasco jogue sob seu comando.

- Eu acho que posso contribuir. Com essa modernidade toda, que eu possa entender que temos de voltar às nossas raízes. É o grande resgate que eu quero fazer. Eu quero que meu time drible, dê caneta, seja audacioso. Quero que meu time tenha um futebol brasileiro que fez a diferença. Não quero um time robô. Quero que tudo isso que está acontecendo agora não modifique nossas características. Quero um jogador que quebre linha. Se estiver tudo fechado ali (na defesa adversária), dá dois dribles, escangalha aquilo ali. Quero voltar à essência dentro do que temos aí. A minha proposta vai ser essa.

Antônio Lopes, responsável por lançar Vanderlei Luxemburgo ao futebol justamente no Vasco, em 1982, confia no sucesso do novo treinador cruz-maltino.

- O Vasco fez um contratação muito boa, um profissional excelente, muito capaz, muito competente. Eu tenho certeza que ele vai acertar o time do Vasco e que o Vasco vai voltar a ser aquele time que ele sempre foi - disse Lopes.

Quem também conhece muito bem o trabalho de Luxemburgo e confia no sucesso do treinador comandando o Vasco é Carlos Alberto Parreira. O ex-técnico da seleção brasileira, inclusive, disse que também contrataria Vanderlei.

- Eu não sou o presidente do Vasco, mas se fosse teria contratado o Luxemburgo. O Luxemburgo respira futebol, o DNA dele é futebol e com certeza ele estava avido pra trabalhar. Com a motivação e o trabalho do Luxemburgo eu tenho certeza que o time vai melhorar. Luxa, boa sorte! - falou Parreira.

Confira, abaixo, outros trechos da entrevista de Vanderlei Luxemburgo:

Volta ao futebol

- Eu falei que só ia voltar se tivesse uma oportunidade boa para fazer um trabalho, que me desse condição. Surgiu o Vasco do nada. O Vasco é um grande clube, que vive um mau momento. Na analise de mercado, vendo várias coisas, vi que era uma grande oportunidade de me juntar, que preciso fazer um bom trabalho, para ficar satisfeito comigo mesmo, e o Vasco, que precisa desse grande trabalho. Acho que era um momento importantíssimo. Não foi uma coisa arriscada, não, foi uma coisa muito bem pensada que tem tudo para dar certo.

Tem vontade de dar uma resposta?

- Não tenho. Eu tenho uma história dentro do futebol. No Brasil, a história fica muito esquecida. Eu tenho falado constantemente que será que o pai de quem me chama de ultrapassado é ultrapassado? Será que o pai de um jovem advogado é ultrapassado ou experiente? São coisas que dentro do futebol usam muito. Foi bom, foi legal. Faz parte da nossa cultura. Mas não quero mostrar coisa para ninguém, Mauro (Naves), de coração. Eu quero trabalhar. Não quero mais discutir futebol pela imprensa, pelo meu canal no Youtube.

Evolução do futebol

- Talvez, (tenha precisado) me adaptar às circunstâncias atuais. Ao que se vive atualmente. Buscando as coisas que estão acontecendo dentro do trabalho em si, não houve um avanço tão grande. Eu fui muito achincalhado e tomei muita porrada, porque todo mundo dizia que eu levava a patota do Luxemburgo. "A patota do Luxemburgo", a "patota do Luxemburgo". E isso ficou rotulado. Só que os clubes não tinham uma comissão técnica multidisciplinar. Não tinha isso. A minha ideia era mostrar que tinha de ter CT, comissão multidisciplinar, para preparar os jogadores.

- Eu, Telê, Evaristo, Parreira, sempre fomos head-coach. Nos preocupávamos com tudo. Com a comida do jogador, com o jogador fora de campo. A gente fazia tudo. Quantos médicos fizeram cardápio para jogador de futebol? Por que não tinha nutricionista. Os técnicos hoje são head-coach. Nós temos a obrigação, com tudo o que tem de estrutura hoje, de recuperar o atleta de um jogo para o outro.

Pensou em parar?

- Não. Estava esperando. O Vasco casou comigo. Num momento justo. Tive várias propostas. Não queria arriscar. Aí veio esse negócio do Vasco e em dois dias mudou toda a minha vida. Tudo o que eu não estava preparado para fazer, voltar ao futebol, mudou. Eu me transformei muito rápido. Eu fui envolvido muito rápido pelo Campello. Ele falou o que poderia acontecer.

Reforços para o Vasco

- Eu tenho um elenco que está contratado. Se não chegar ninguém, tenho de sair trabalhando e fazer um trabalho excelente, mas vamos conversar com a diretoria, analisar. Não adianta falar alguma coisa agora, porque vou cometer alguma injustiça.

Enfrentar Sampaoli

- O Vasco é um time grande. Não pode jogar contra o Santos achando que vai perder para o Santos. O Vasco é um time grande. E a gente conhece o que faz o Sampaoli, não é novidade, sabemos como funciona. Se pegar os três zagueiros que o Muricy jogava quando foi tricampeão brasileiro... Só um exemplo do Sampaoli com um time do Brasil. Ele é ótimo treinador. Um excelente treinador. Legal, Sampaoli, legal essa troca de informação. Muito legal. Você está no Brasil fazendo sucesso. Não tenho resistência nenhuma contra você.

- Queremos esse intercâmbio. A única coisa que incomoda é quando denigrem a imagem dos técnicos brasileiros para elogiar o Sampaoli. Não pode tirar as conquistas de ninguém. Pode enaltecer o Sampaoli, o Diniz, mas isso não significa que você tenha de denegrir a imagem de outros profissionais.



Fonte: GloboEsporte.com