Basquete: Alberto Bial: 'Se eu não visualizar a possibilidade de o Vasco ser campeão, não posso ser o técnico'
Quarta-feira, 18/07/2018 - 00:20
O ano era 1997. Afastado do basquete masculino profissional há algum tempo, o Vasco da Gama decidiu retomar a atividade e apostou em Alberto Bial para comandar a equipe, liderada, então, pelo norte-americano Charles Byrd. Poucos meses depois, o Cruzmaltino era campeão carioca e, em 1998, tornava-se o primeiro clube carioca a conquistar um título internacional – o Sul-Americano. Duas décadas depois, o treinador está de volta a São Januário. Prestes a completar 66 anos – seu aniversário é em 1º de agosto, mesmo dia em que a equipe será oficialmente apresentada –, Bial disse em entrevista ao Site Oficial do Club que não vê a hora de iniciar o trabalho e dividir com seus comandados a gloriosa história do basquetebol do Vasco:

– Quem está chegando agora precisa dar valor à história do Vasco da Gama. Tem que chegar sabendo que deve entregar e se entregar ao que for proposto. Minhas metas são ousadas!

Site Oficial: Como você enxerga sua volta ao Vasco da Gama após 20 anos? E como foi o primeiro mês de trabalho, de montagem da equipe?

Alberto Bial: Minha vida passou por uma transformação grande desde o momento em que recebi o telefonema do Vasco da Gama. O convite mexeu muito comigo. Estava há 16 anos fora do Rio de Janeiro trabalhando em equipes em que fui praticamente empreendedor, em que me mobilizei para criá-las. Parei com isso e volto a uma instituição de 120 anos, um clube mundial, de uma força... Nosso primeiro objetivo era montar a equipe. Nos dois últimos anos, o Vasco da Gama reuniu grandes jogadores, mas não alcançou os resultados almejados. A escolha do grupo é o primeiro passo para que você tenha sucesso ao fim da temporada. É importante que você escolha atletas que possam entender o que é o Vasco da Gama, quem é o Alberto Bial e quem são as pessoas que estão por trás do basquetebol do clube.

Site Oficial: A apresentação está marcada para o dia 1º de agosto. Qual será o primeiro recado aos jogadores quando vocês tiverem este contato?

Alberto Bial: Será colocado aos jogadores a grandeza do Vasco da Gama. O ser humano é um animal egocêntrico, e o atleta, muitas vezes, comete uma falha grande na questão da sua vaidade. Ele fica muito preso à sua individualidade e se esquece que, no basquete, é preciso se despir do egoísmo e contribuir para nosso objetivo, que é o de montar uma equipe extremamente competitiva. Quero uma equipe que jogue com o DNA vascaíno. Vou lembrar aos atletas que o Vasco deu fim ao racismo no futebol, que no Vasco foram realizadas mudanças na política brasileira, e que pelo Vasco passaram vários atletas de destaque em várias modalidades esportivas. Quem está chegando agora precisa dar valor à história do Vasco da Gama. Tem que chegar sabendo que deve entregar e se entregar ao que for proposto. Minhas metas são ousadas!

Site Oficial: Qual sua expectativa para o Campeonato Carioca, que voltará a ser disputado após ter sido cancelado no ano passado?

Alberto Bial: Coincidentemente, em 1º de agosto, dia da nossa apresentação, faço 66 anos. Tenho um conhecimento largo do que é o basquete e da força dos times que vamos enfrentar. Jogo o Campeonato Carioca desde 1966. O meu último foi em 2001! É um campeonato que já teve tanta importância na minha vida... Agora tenho o privilégio de voltar a disputar o Carioca. E me sinto motivado como quando era adolescente. A rivalidade é fantástica, mexe com a cidade, com os torcedores, mas garanto que o Vasco da Gama trabalhará sempre com fair play. Teremos uma equipe competitiva e que vai jogar sabendo o valor que tem essa camisa.

Site Oficial: Relembre um pouquinho de sua primeira passagem pelo Vasco da Gama, em 1997/1998.

Alberto Bial: Foi muito legal todo o processo que participei naquela época. Além do título carioca (1997), tive a chance de conquistar com o Vasco o Campeonato Sul-Americano em 1998 – o primeiro título internacional de um clube carioca! Depois, Flor Meléndez e Hélio Rubens deram continuidade à essa trajetória, que levou o Vasco a ser um time praticamente imbatível entre 1997 e 2002. Mas a história do clube no basquete remonta lá de trás, com craques como Barone, Gogô, Edinho, Felinto e tantos outros. Isso será pauta com os meus jogadores. Eles precisam saber da importância da causa que defendem, e de saber os motivos pelos quais defendemos essa causa. Nosso grupo terá atletas que provavelmente usavam fraldas, ou nem nascidos eram, quando passei pela primeira vez em São Januário (risos).

Site Oficial: Qual a sua expectativa para este grupo de jogadores que está sendo montado?

Alberto Bial: Montamos um grupo miscigenado, onde ninguém se conhece. Não há panelinhas, eles vão se conhecer todos dentro do Vasco da Gama. Uma frase, formada por três palavras, sintetiza o que vou passar a eles: atenção é tudo. Quero que estejam atentos a cada treinamento, a cada jogo, saber onde estão pisando. Eles têm talento, mas tem outras equipes com muito talento também. Nossa ideia é potencializar os talentos. Para isso, precisamos da força do conjunto. Conversei com dois jogadores, que me disseram: "Bial, estou com fome de bola!". E eu disse a eles: "Estou almejando coisas enormes, altíssimas". O Duda, por exemplo, é um cara ótimo de grupo, que sabe lidar com os outros atletas, muito pouco egoísta.

Site Oficial: Até onde você acha que esse time pode chegar?

Alberto Bial: Estou tomando cuidado para não criar uma expectativa muito grande, porque a gente sabe que as dificuldades são enormes. Mas, se eu não visualizar a possibilidade de o Vasco ser campeão, não posso ser o técnico. Essa visualização será feita diariamente. Por mais que seja uma missão difícil (ser campeão), não é impossível. Depois que começarmos a treinar, aí veremos onde poderemos chegar. Existem outros times consolidados, equipes montadas há muitos anos, e nossa equipe está saindo do zero. O NBB começa no dia 13 de outubro. Se a gente chegar entre os 12, garantindo vaga no playoff, é bom; se chegar entre os oito, melhor ainda; chegar às semifinais é quase um título! Se estiver na final, aí será indescritível. Não vamos deixar de ambicionar este objetivo.

Site Oficial: Como você gosta que suas equipes joguem?

Alberto Bial: A reciclagem que mais mexeu comigo foi na Espanha. Fortaleci alguns conceitos, como do ataque concatenado, com pivôs mais leves, e cinco jogadores de muita versatilidade. É importante que seja um basquete com muita consciência e leitura de jogo. Não jogo com dois pivôs fixos. Jogo com um pivô e outro procurando abrir o campo de jogo. Todos os nossos movimentos são com quatro abertos. A defesa urge para que o jogador que marque a bola não seja ultrapassado. Vamos treinar duas ou três rotações. Meu treinamento, minhas táticas, é tudo muito simples. A técnica individual é o que mais prezo e mais trabalho. Daí, a sincronia, tanto no ataque quanto na defesa, vai existir. Espero que nosso time chute de 20 a 25 bolas de três pontos por jogo. Holloway, Gemerson, Padolinha, Vitinho e Duda são exímos chutadores de três pontos.

Site Oficial: Já pensou em um quinteto titular?

Alberto Bial: Não vou usar quinteto titular. Essa rigidez de manter jogadores titulares não faz bem ao esporte coletivo. Tem que flexibilizar. Ainda mais no basquete, que você pode fazer uma substituição com um segundo. Posso começar com Vitinho, Duda, Holloway, Pilar e Sam (Muldrow). Depois de 30 segundos, pode ser Vitinho, Holloway de dois, Gemerson, Lupa e Lucão. Vitinho pode ser uma grande sacada. É um jogador com potencial muito grande, vamos ver se ele segura essa onda. Acho que vai segurar.

Site Oficial: Que tipo de contribuição você espera da torcida do Vasco da Gama nessa caminhada rumo às conquistas?

Alberto Bial: A torcida do Vasco vai ser de essencial importância para o contexto dessa equipe de basquete. Principalmente se a equipe entregar o que pode, que é o empenho, a garra, o tesão de ter conquistas, de fazer voltar esse legado de sucesso. Eu entro no táxi, não falo nada, e o motorista diz "Boa sorte no Vasco". Eu vou na feira, compro uma água de coco, e o atendente diz: "Que legal que você voltou. Vai com tudo, Bial". Então repito: se a gente entregar, faremos milhares e milhares de pessoas seguirem esse time. Precisamos fazer sempre um pouquinho mais. O jogador tem que pensar: s o Bial marcou o treino às 9h, vou chegar às 8h30 pronto na quadra. Se o treino termina 12h, vou ficar até 12h30. Vamos jogar dentro do nosso limite. No dia em que fui apresentado como técnico, gravei um vídeo desafinado cantando: "O Vasco é o time da virada, o Vasco é o time do amor". Cara, isso contagia qualquer um! São músicas, vibrações que mexem com qualquer ser humano. Ir ao Vasco todos os dias deve ser uma bênção.



Fonte: Site oficial do Vasco