Confira possíveis cenários para a reunião do Conselho Deliberativo que vai analisar denúncias contra Campello
Segunda-feira, 14/05/2018 - 11:11
A turbulência do Vasco se estende à política do clube. Na noite desta segunda-feira, o Conselho Deliberativo vai se reunir na sede náutica da Lagoa, na Zona Sul do Rio de Janeiro, para ouvir denúncias de conselheiros contra o presidente Alexandre Campello e decidir sobre a instauração de uma comissão para apurar os fatos.

A convocação foi feita pelo presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro. Antes aliado, ele agora é adversário político de Campello, desde que seu grupo, o Identidade Vasco, rachou com a gestão - 13 vice-presidentes ligados à corrente entregaram seus cargos há nove dias.

Desde o racha, Campello tem tentado reorganizar sua diretoria. Ele ainda não anunciou substitutos para as vice-presidências. Passou a última semana procurando alianças políticas e fazendo convites, mas, com a realização da reunião, os acordos só devem ser firmados a partir de terça-feira.

Preocupação com impeachment/suspensão

O grande temor de Campello é o impeachment. E a reunião desta segunda-feira é vista como o primeiro passo para que isso se concretize. No documento de convocação, há um item que deixou margem a interpretações de que é possível que seja pedido o afastamento temporário do presidente enquanto as denúncias forem apuradas.

Entretanto, no domingo, no programa "A Voz do Vascaíno", Roberto Monteiro afirmou a Carlos Leão, presidente do grupo político Cruzada, que isso não acontecerá na reunião desta segunda. A tendência é que apenas seja decidida a instauração ou não da comissão de inquérito.

Leia o que diz o artigo 2.b da convocação:

Discutir e deliberar sobre a adoção ou não de medida(s) liminar(es) e/ou preventiva(s) em defesa dos interesses sociais e/ou da garantia da instrução probatória e lisura do procedimento, assegurando ao Presidente da Diretoria Administrativa o exercício do contraditório e da ampla defesa.

Como está o tabuleiro?

Ciente disso, Campello buscou se movimentar. De imediato, recebeu apoio de beneméritos como Fernando Horta, José Luis Moreira, Otto Carvalho, Jorge Salgado e Antônio Peralta.

A princípio, o grupo político de Horta foi o apoio de Campello. O presidente conversou com nomes e convidou Claudio Gomes, do Expresso da Virada, para assumir a vice-presidência de Comunicação, considerada estratégica. Outro nome cotado para uma pasta foi o de Carlos Araújo - a princípio para Patrimônio e, depois, para Obras e Engenharia.

Do grupo, Campello ouviu a sugestão da criação de um Conselho Gestor para o futebol, englobando beneméritos que o apoiaram, como Jorge Salgado e José Luis Moreira, além do próprio presidente e o gerente de futebol. Entretanto, a ideia não foi à frente - Campello pensa em acumular a vice-presidência de futebol por enquanto.

Aproximação com antigos aliados

Ao longo dos dias, Campello se distanciou deste grupo e passou a buscar aliados entre os grupos que apoiam Julio Brant. Ele convidou João Marcos Amorim e João Ernesto Ferreira, da Cruzada, para assumirem as VPs de Finanças e Relações Especializadas.

No Vascão Gigante, chamou Luiz Gustavo Jassus, o Mussinha, para Relações Públicas - convite rejeitado. Na PetroVasco, Rodrigo Saavedra vai aceitar a proposta para tocar a pasta de Patrimônio. A resposta oficial de todos deve ser após a reunião.

A aproximação com estes grupos - que, no início da campanha eleitoral, também foram seus aliados, na chapa formada com Julio Brant - fez com que a base de Horta fosse deixada de lado.

Grupo de Horta não quer mais participar

Por isso, em uma reunião, ficou decidido que, neste momento, não haverá participação do grupo de Horta na gestão de Campello - o que implica na recusa de Claudio Gomes à VP de Comunicação. O posicionamento, porém, não é definitivo e depende da postura do presidente nos próximos dias.

- O Campello é péssimo político, na acepção da palavra. Inabilidade e insensibilidade extrema. O que o protege hoje é a extrema rejeição à dupla Eurico Miranda e Roberto Monteiro - disse um sócio que tem acompanhado de perto as movimentações políticas do Vasco.

E o Eurico?

A menção a Eurico não é por acaso. O ex-presidente vascaíno ainda tem influência na política do clube. Hoje, seus pares mais próximos garantem que ele está reticente quanto a um processo de impeachment. Por outro lado, um grupo que o apoiava de maneira firme, o Casaca, começa a se distanciar de algumas posições do atual presidente do Conselho dos Beneméritos.

Eurico e Campello se reuniram nesta semana para conversar. A questão é que ainda há desconfiança mútua. Um fato que diminuiu as chances de entendimento entre os dois foi o acordo feito por Campello na Justiça, em que concordou em cancelar a concessão de títulos de benemérito a 28 indicados por Eurico em 2017.

E o Brant?

Ex-aliado de Campello, com quem rachou nas vésperas da eleição, Julio Brant e seu grupo, o Sempre Vasco, se mantiveram distantes do atual presidente nos últimos dias. A princípio, eram contrários a qualquer participação na gestão, mas já há o entendimento de que as correntes que os apoiam, que receberam convites de Campello, devem aceitar.

Por outro lado, o Sempre Vasco se posicionou claramente contra o processo de impeachment. Em vídeo na última sexta-feira, Brant classificou de tentativa de golpe a atual manobra de Roberto Monteiro.

- Fomos surpreendidos com uma convocação do Conselho Deliberativo com uma pauta muito pesada. Alteramos a pauta da nossa reunião e passamos a discutir a reunião de segunda-feira. Esse grupo de oposição vai votar contra qualquer golpe preparado para segunda. Queremos, sim, apuração; queremos, sim, que qualquer desmando feito pelo clube venha à tona. Mas golpe esse grupo não vai aceitar - disse Brant.

O que esperar?

Hoje, o cenário é curioso: Campello buscou apoio justamente no grupos aliados de Brant, seu antigo parceiro. O movimento o afastou tanto da chapa de Fernando Horta quanto da esfera de Eurico Miranda. Este segundo grupo, que tem duas correntes diferentes - nomes mais ligados pessoalmente ao ex-presidente, e o Casaca -, pode tomar rumos opostos na reunião, como alinhamento com Roberto Monteiro e/ou abstenção.

Será assim, em meio a alianças políticas, que o Vasco saberá se as próximas semanas serão de ainda mais turbulência fora de campo ou não.



Fonte: GloboEsporte.com