Divulgação do balanço patrimonial movimenta a política do Vasco
Quarta-feira, 02/05/2018 - 06:30
Durante meses, a divulgação do balanço de 2017 do Vasco era vista como um momento importante no tabuleiro político do clube. Iria Alexandre Campello expor as entranhas dos problemas financeiros, colocando o antecessor Eurico Miranda em xeque, apesar do apoio na última eleição?

Pois foi exatamente o que Campello fez. Precedendo o balanço, o presidente escreveu longa carta explicando toda a difícil situação financeira do Vasco e citando problemas da última gestão, como antecipação de receitas e falta de pagamento de impostos e parcelas do Profut.

O movimento foi recebido de forma mista pela oposição. Aqueles mais ligados a Julio Brant, o candidato com quem Campello rachou antes da eleição, mantêm a desconfiança e ressaltam que o balanço não responsabiliza Eurico. O próprio Brant evitou se manifestar em relação ao documento. Em nota curta, seu grupo, o "Sempre Vasco", afirmou o seguinte:

- A Sempre Vasco vai se reunir para analisar o balanço e decidir se vai ou não se manifestar.

Por outro lado, outros nomes da oposição viram com bons olhos a postura de Campello. Também candidato à presidência no último pleito e agora membro do Conselho Fiscal, Otto Carvalho elogiou o balanço e pediu providências aos conselheiros.

- Toda pessoa de responsabilidade com o Vasco precisa pensar no clube, acima do interesse pessoal. Acredito que o presidente do Conselho Fiscal (Edmilson Valentim) vai convocar reunião em breve para dar um parecer.

Oposição acusa Eurico de gestão temerária

O parecer do Conselho Fiscal é o próximo passo num movimento que começa a se formar para tentar responsabilizar Eurico Miranda pelos números. A expressão mais ouvida nas conversas é "gestão temerária".

Os exemplos citados são as antecipações de receitas, os impostos não pagos e as vendas de jogadores – a mais questionada foi a de Mateus Vital ao Corinthians por R$ 5 milhões.

Por outro lado, pessoas ligadas à gestão de Eurico apontam diminuição da dívida do clube (de R$ 690 milhões para R$ 645 milhões) e que os gastos apontados no balanço estavam dentro do orçamento de 2017.

Depois de o Conselho Fiscal emitir um parecer, as contas devem ser levadas a votação no Conselho Deliberativo. Caso sejam reprovadas, é possível que se tente punir Eurico.

Pelo Profut, por exemplo, o dirigente poderia ficar inelegível por cinco anos – só se permite que sejam antecipados 30% das receitas do ano seguinte do mandato. Veja o artigo:

Art. 4º Para que as entidades desportivas profissionais de futebol mantenham-se no Profut, serão exigidas as seguintes condições:

a) o percentual de até 30% (trinta por cento) das receitas referentes ao 1º (primeiro) ano do mandato subsequente; e


b) em substituição a passivos onerosos, desde que implique redução do nível de endividamento;

VIII - previsão, em seu estatuto ou contrato social, do afastamento imediato e inelegibilidade, pelo período de, no mínimo, cinco anos, de dirigente ou administrador que praticar ato de gestão irregular ou temerária;


Dados contestados e turbulência política

Alguns pontos do balanço, porém, foram contestados. Membros da gestão de Eurico, procurados pela reportagem, afirmaram que Martín Silva tem 100% dos direitos econômicos pertencentes ao Vasco, ao contrário do que o documento diz. Os percentuais de Evander, Breno e Wellington também estão errados na visão destes dirigentes.

A reação das correntes políticas ligadas a Eurico é algo a se observar no tabuleiro do Vasco. Isso porque Campello perderia o apoio deste grupo no Conselho Deliberativo, já bem fragmentado devido à presença da chapa de Julio Brant.

- Não dá para você trair o cara na chapa (Brant), e depois trair o cara que o elegeu (Eurico). Qual a chance de isso dar certo? – questionou um membro ativo na política do Vasco.

Além disso, boa parte do grupo de sustentação de Campello é ligada a Roberto Monteiro, presidente do Conselho Deliberativo e interlocutor de Eurico Miranda no movimento que garantiu o apoio à eleição. A maioria dos vice-presidentes são mais próximos a Monteiro do que a Campello, como, por exemplo, o vice-presidente de futebol, Fred Lopes.



Fonte: GloboEsporte.com