Maracanã não vem sendo utilizado no Estadual 2018
Domingo, 25/02/2018 - 00:58
Ao longo de décadas, a história do Maracanã se confundiu com a do Campeonato Carioca. Tanto que o estádio registra, pelo Estadual, os dez maiores públicos da história do futebol brasileiro — no Fla-Flu decisivo de 1963 ostenta o recorde mundial de 194.603 torcedores em jogos de clubes. Neste sábado, às 17h, o clássico voltará a ocorrer, pela mesma competição, mas em outro local, a Arena Pantanal. E em outra realidade: o ex-Maior do Mundo já não serve para o campeonato. E vice-versa.

A partir de 2016, quando as portas foram fechadas em razão dos Jogos Olímpicos, a relação nunca mais foi a mesma. Ao contrário de 2015, quando 19 partidas do Carioca foram disputadas no Maracanã, nas três últimas edições (contando a atual) apenas nove jogos ocorreram no local. Todos clássicos, para garantir o mínimo de viabilidade financeira. Enquanto Flamengo e Fluminense desembarcaram em Cuiabá para disputar mais um clássico, o estádio teve sua grama retirada para a realização de cinco shows. Dois deles grandes: o do britânico Phil Collins, na última quinta, e dos americanos Foo Fighters, no domingo.

O principal motivo para este afastamento é financeiro. O Maracanã e o Carioca tomaram caminhos opostos. Reformado para a Copa do Mundo, o Maracanã tornou-se caro para a realidade brasileira. Já o Estadual, conhecido como o mais charmoso do país, sofre um desenfreado processo de desvalorização. Um sintoma é o fato de que, destes nove últimos jogos disputados entre 2016 e 2018, cinco não se pagaram. Foi o caso dos clássicos Fluminense x Botafogo (prejuízo de R$ 290 mil) e Flamengo x Vasco (R$ 458 mil) disputados este ano.

— A Copa do Mundo foi a pior coisa que aconteceu para o futebol carioca. Criaram um estádio apenas para aqueles 30 dias que se tornou inadequado depois disso — diz Rubens Lopes, presidente da Federação do Rio (Ferj), entidade que lucra até com os jogos no vermelho, e que também reclama da concessionária: — A voracidade financeira criou dificuldades. O futebol deixou de ser prioridade para eles. O Sinval Andrade (ex-presidente do Maracanã S.A.) chegava a pedir para a gente desmarcar jogo do Botafogo porque não interessava.

Para Maracanã, jogos com menos de R$ 1 milhão de lucro não valem

Os clubes também têm relação delicada com a concessionária, que não opera os jogos. Quem paga diretamente os custos são eles. Com o Fluminense, o consórcio recebe R$ 100 mil de aluguel. Só de água e luz, gasta-se mais que isso. São pelo menos R$ 100 mil por jogo de prejuízo total. Para a Maracanã S.A., é muito melhor ter o estádio fechado em relação a qualquer jogo do tricolor, que também procura uma maneira de reduzir estes valores.

— O Fluminense negocia com a concessionária formatos de setorização do estádio, como, por exemplo, a abertura somente de seu anel inferior, com o intuito de reduzir custos de operação e viabilizar jogos de baixo público — informou o clube, por meio de nota oficial.

No acordo com o Flamengo, o aluguel vai de R$ 300 mil até R$ 650 mil. Descontando água e luz, sobram R$ 150 a R$ 500 mil líquidos para a concessionária Maracanã S.A. Para ela, os jogos do rubro-negro que interessam são apenas os com renda acima de R$ 1 milhão.

— No Carioca só se tem lucro na final. Se as condições regulatórias fossem outras e o torneio tivesse outro modelo, se saberia onde pode jogar, e se preveria o Maracanã — afirmou o presidente Eduardo Bandeira de Mello, ironizando: — Pode voltar a ser plano A. Se não ficar fazendo festa junina e baile de carnaval.

Concessionária põe culpa nos clubes

Os clubes e a Ferj reclamam que os fornecedores da Maracanã S.A. são sempre os mais caros do mercado. O GLOBO apurou com fontes ligadas à Odebrecht — majoritária na concessionária do estádio — que o grande problema é a falta de planejamento e calendário por parte deles. E que a falta de um contrato de longo prazo com fornecedores encarece o processo. Os contratos de Flamengo e Fluminense, por exemplo, foram atualizados no final de 2016. Eles passaram a discutir jogo a jogo como seriam feitas as operações e, no caso do rubro-negro, os aluguéis.

Tal situação cria problemas como o ocorrido no ano passado. A mais de um mês do jogo contra o Corinthians, pelo Brasileiro, a concessionária procurou o Flamengo para saber se o confronto seria disputado no estádio. Ouviu da diretoria que esta decisão só seria tomada mais próximo do jogo. A espera tinha como intuito saber como as duas equipes estariam na tabela de classificação, pois os rubro-negros não gostariam que o rival fosse campeão no Maracanã.

— Os clubes não têm um calendário. Não chegam no administrador e dizem "Quero fazer 20 jogos no estádio esse ano". Com isso, não fecham também pacotes com os fornecedores. Porque os clubes não se juntam e fecham um pacote com uma mesma empresa de ingresso? — disse uma fonte ligada a Maracanã S.A.

Hoje, as duas partes dizem que a relação é melhor. O presidente da concessionária, Mauro Darzé, tem mantido diálogo com a Ferj e com os clubes. Nestes encontros, mostra interesse em viabilizar mais jogos no estádio. O Maracanã estará apto a receber jogos a partir do dia 10. No entanto, por conta do show da banda americana Pearl Jam, no dia 21, também não receberá as semifinais da Taça Rio.

— Embora o diálogo tenha melhorado, fica difícil saber qual o foco da consessionária. Temos conhecimento de show no dia 21, data das semifinais da Taça Rio. Maracanã é para futebol ou show? E a pergunta que fica é: quanto tempo para desarmar o circo? Ou melhor: o Maraca Music — questiona Rubens Lopes.

Ao contrário dos compromissos desta semana, o evento de março será realizado com a grama coberta. Com isso, o prazo para reabertura é mais curto: cerca de dois dias. Depois disso, o Maracanã voltará a ter o futebol como atração principal. Até os próximos shows.

Arena Pantanal é mais usada

Só em janeiro, a Arena Pantanal realizou mais jogos que o Maracanã nas últimas três edições do Estadual. Além dos jogos, o estádio de Cuiabá tem funcionando dentro dele a Escola Estadual Governador José Fragelli, vocacionada ao esporte. Parte dos camarotes foi revertida em salas de aula e, além das disciplinas normais, os alunos fazem aulas de diversos esportes. Isso é possível porque o estádio faz parte de um complexo com ginásio poliesportivo, piscina olímpica, quadra de areia e um palácio de artes marciais.



Fonte: O Globo Online