Veja lista dos possíveis problemas no cadastro dos sócios que votaram na urna 7
Quinta-feira, 09/11/2017 - 11:01
Separada judicialmente das demais para receber sócios com cadastros suspeitos, a urna 7, já citada publicamente como "urna da discórdia", deu a vitória inicial a Eurico Miranda, que terá o resultado questionado na Justiça. Ganhador no restante do pleito, o opositor Julio Brant teve só 42 votos contra 428 do atual presidente, que por isso passou à frente na contagem geral - Fernando Horta teve quatro lembranças na relação polêmica. Na última quarta-feira, o UOL Esporte teve acesso à lista que está em posse da Justiça e foi utilizada na eleição e encontrou alguns indícios de irregularidade.

A polêmica se arrasta desde antes do pleito. No processo eleitoral, a oposição apontou que 691 sócios se filiaram entre novembro e dezembro de 2015, período estabelecido pelo próprio Eurico como "limite" para participação na eleição da última terça. A movimentação incomum para um período tão curto levantou suspeita de fraude na disputa pela presidência. Na Justiça, os rivais de Eurico conseguiram que esses afiliados em condição suspeita votassem em uma urna separada, que agora deve ser avaliada pela Justiça para verificação.

A reportagem verificou nomes e dados dos sócios e encontrou indícios de irregularidades como cadastros incompletos ou semelhantes e associações em datas que, teoricamente, não eram permitidas. Ao todo, cerca de 250 nomes apresentaram algum tipo de informação suspeita.

Na parte dos telefones, por exemplo, o número "fantasma" (21) 00000-0000 aparece cadastrado para 43 destes sócios. Entre os "válidos", há um único celular em nome de 21 sócios e outro no de 17. A reportagem tentou contato, mas os aparelhos estavam desligados ao longo de toda a última quarta-feira. Foram encontrados ainda números associados a grupos de cinco a sete pessoas da lista.

Há também 16 associações aos domingos, entre novembro e dezembro de 2015. Neste dia da semana, a secretaria não funciona, o que tornaria impossível, em tese, a filiação. Em dias de jogos, igualmente, a pessoa só consegue se cadastrar no programa de sócio-torcedor, que não dá direito a voto. Em um caso peculiar, a relação em posse da Justiça e utilizada para determinar os votantes da polêmica urna 7 mostra quatro pessoas que se associaram em 15 de novembro de 2015, um feriado em pleno domingo - sem funcionamento da secretaria de São Januário.

A reportagem também conferiu os endereços de tais sócios e constatou que muitas pessoas das mesmas ruas e avenidas se associaram na mesma semana. Foi o caso, por exemplo, de nove moradores de uma rua do bairro de Vaz Lobo, na Zona Norte, sendo quatro da mesma residência, que adquiriram seus títulos entre os dias 16 e 18 de dezembro de 2015.

O fato também se repetiu com oito moradores de uma avenida em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, que se tornaram sócios do Vasco entre 9 e 18 de dezembro de 2015. Outros exemplos foram encontrados com pessoas que moram em ruas principalmente de regiões da Zona Norte, Baixada e Niterói / São Gonçalo. Há também informações de endereços de difícil localização, com nomes como "Rua S", "Rua Pra", "Rua Ant" e "Avenida Atl".

O UOL Esporte ainda cruzou dados, checou endereços e apurou que uma família de quatro pessoas que mora há mais de dois anos em Piabetá, distrito de Magé, na região metropolitana do Rio de Janeiro, tem no cadastro associativo o endereço de um apartamento em área nobre na Lagoa, zona sul do Rio. Os familiares nunca moraram no bairro citado na ficha do clube. Um dos dois homens do grupo ainda apresenta o número de celular "(21) 0000-0000" no cadastro.

Encontram-se ainda sete sócios sem CPF. Neste quesito, porém, o Vasco já se defendeu de notificações da oposição apresentando um documento datado em 10 de novembro de 2014, assinado por Roberto Monteiro – hoje integrante da chapa de Julio Brant e que na época era presidente em exercício da Assembleia Geral – em que se dá a permissão de voto sem CPF para grandes beneméritos, beneméritos, eméritos, campeões, remidos e benfeitores - a maioria de idade avançada - mesmo sem terem se recadastrado. Ocorre, porém, que três destes sete não se enquadram nesta categoria, pois são os chamados "sócios-gerais", mais um indício de irregularidade.

Por fim, um novo caso suspeito. Em um mesmo dia (15/12/2015), dois jovens com 16 anos à época se tornaram sócios benfeitores remidos - título que pode ser dado diretamente pelo presidente por alguma relevância. Ambos os nomes, no entanto, não apresentam maiores relações com o Vasco. É possível que um benfeitor remido venda seu título e repasse a alguém, mas esta situação é rara. E aconteceu duas vezes no mesmo dia com pessoas sem qualquer ligação.

O UOL Esporte tentou contato com Eurico Miranda para ouvir o dirigente sobre as questões levantadas, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem.

Oposição quer que Vasco comprove pagamento destes sócios

Além de todos os indícios citados e levantados na matéria, a Justiça ainda irá apurar outra questão: a presença ou não de comprovantes de pagamentos desses 691 nomes nos últimos meses. Essas são as duas principais armas daqueles que tentam invalidar os votos - 90% para Eurico Miranda - da urna que decidirá o futuro do Vasco nos próximos três anos.

Associações em massa

Tais sócios ficaram sob suspeita e foram destinados à "urna da discórdia" por fazerem parte de uma associação em massa no fim de 2015. No total, foram 116 associados em novembro e mais 575 em dezembro - sendo 564 em um intervalo de 20 dias (entre 2 e 22/12/2015). A entrada dos novos sócios ainda ocorreu curiosamente em período turbulento, quando o clube lutava contra o rebaixamento em campo e nenhum movimento de adesão era sequer notado em outras categorias mais populares. Não havia, igualmente, nenhum atrativo na sede que justificasse essa movimentação.

Em 29 de dezembro de 2015, portanto logo depois dessa associação em massa, uma sessão extraordinária do Conselho Deliberativo suspendeu, sob influência dos aliados de Eurico Miranda, as adesões à categoria "sócio-geral", plano mais barato com direito a voto. Uma categoria mais cara ainda ficou disponível, mas foi cortada em poucos meses, impedindo associações.

À época, a diretoria argumentou que a decisão tentava direcionar o foco para o programa de sócio-torcedor, que não dá direito a voto. Opositores, claro, estranharam o movimento excessivo de entradas e a suspensão em sequência da categoria que dá direito a voto e se movimentaram para denunciar o caso.

Brant venceu nas outras urnas

Nas outras seis urnas "regulares" da eleição do Vasco, Julio Brant, candidato da chapa "Frente Sempre Vasco Livre", venceu Eurico Miranda com 1.933 votos contra 1.683. Após a apuração, ele se considerou vencedor e demonstrou confiança na confirmação da vitória pela Justiça.



Fonte: UOL