Candidato da Frente Vasco Livre, Alexandre Campello fala sobre valorização da marca e outros assuntos
Domingo, 22/10/2017 - 15:32
Valorização da marca Vasco, equilíbrio financeiro e modernização de São Januário. Essas são as principais propostas do médico Alexandre Campello, candidato à presidência do clube carioca. Membor do grupo político Frente Vasco Livre , que faz oposição à Eurico Miranda, ele concedeu entrevista para falar sobre sua plataforma de governo.

Nas eleições presidenciais do dia 7 de novembro, concorrerão também Fernando Horta e Julio Brant, além do atual presidente Eurico Miranda. O ESPN.com.br fará pedido de entrevista para todos os presidenciáveis.

Julio Brant foi o primeiro entrevistado.

Procurado por meio da assessoria do Vasco, Eurico Miranda não quis falar com a reportagem.

Leia abaixo a entrevista com Alexandre Campello:

ESPN - Como você avalia atual gestão do Vasco? Você se posiciona como oposição?

Alexandre Campello - A atual gestão parou há muito no tempo. O Vasco da Gama é um gigante no esporte nacional e internacional, com uma torcida apaixonada e uma história linda, mas definitivamente ainda não entrou no século XXI. Hoje, diagnosticamos que o Vasco fatura muito pouco com bilheteria e com o programa de sócios, tem baixa interação com a torcida, e eleições sem abrangência e legitimidade. Além disso, o clube tem apenas a décima marca mais valiosa do Brasil. Em relação à segunda pergunta, a Frente Vasco Livre é formada pelos principais grupos de oposição que militam na política do Vasco, entre eles o Identidade Vasco e o Cruzada Vascaína, os dois maiores. Iniciamos nosso projeto ainda no ano passado, em busca de um nome de consenso. Acabei escolhido e aceitando o desafio. Fui médico do Vasco entre 1984 e 2004, depois entre 2008 e 2012, conheço os vestiários, os corredores de São Januário, e sinto que tenho a oportunidade de marcar meu nome na história do clube de uma maneira diferente.

ESPN - O que você pretende mudar na gestão do Vasco?

Alexandre Campello - O legado a ser deixado por nossa gestão se traduz em algumas prioridades estratégicas: o resgate do relacionamento com os vascaínos, a partir de um novo plano de sócios, mais adequado ao perfil do sócio e do torcedor; alavancar a marca Vasco, hoje apenas a décima mais valiosa do país, quando deveria, tranquilamente, figurar entre as quatro maiores; promover o equilíbrio financeiro através do aumento de receitas não oriundas das cotas de TV, tais como marketing, plano de sócios, exploração da marca e licenciamentos; e a construção de um Centro de Treinamento, com recursos próprios.

ESPN - Quais os planos do seu grupo para São Januário?

Alexandre Campello - Acreditamos que São Januário precisa ser modernizado. Queremos melhorar não apenas o entorno, mas também deixar o estádio e suas dependências mais confortáveis para o torcedor. Vamos transformar positivamente a experiência de quem sai de casa para assistir a um jogo do Vasco. Dar atenção ao nosso estádio certamente será uma das prioridades da gestão que pretendemos implementar. Por meio de parcerias com entidades da Sociedade Civil, serão desenvolvidas propostas para tornar São Januário um estádio moderno, acessível e ambientalmente sustentável. Mas tudo pensado com os pés no chão. Quem fala em ampliação imediata e transformação em arena, infelizmente, está vendendo sonho. Mas é possível, sim, melhorar. Uma de nossas prioridades, por exemplo, será a construção de um museu e remodelação da sala de troféus.

ESPN - E a construção do CT?

Alexandre Campello - Em relação ao CT, nossa prioridade também é resgatar o terreno perdido que foi cedido pela prefeitura do Rio ao Vasco. O orçamento para o CT é de R$ 30 milhões. Contempla três campos profissionais, área para departamento médico, sala de musculação, sala de imprensa, alojamento, refeitório e um ginásio. Entendemos que é imprescindível para o Vasco entrar no século XXI com um Centro de Treinamento que, além de moderno, vai permitir mais tranquilidade para os atletas profissionais e juniores trabalharem dentro de uma mesma filosofia determinada pela comissão técnica. Os R$ 30 milhões seriam financiados através da lei de incentivo ao esporte, cotas colaterais que os sócios poderão doar, da mesma forma que doam para seu esporte favorito, a venda de títulos de benfeitor remito e patrocinadores e parceiros diversos. Na nossa estimativa de equilíbrio financeiro, no terceiro ano o clube terá superávit para arcar com recursos próprios se necessário.

ESPN - Quem são seus principais apoiadores?

Alexandre Campello - O forte da Frente Vasco Livre é o poder de mobilização de seus militantes. Como disse, a FVL é formada por sete dos mais representativos grupos de oposição do clube. Quando organizamos reuniões semanais, jantares de arrecadação ou mesmos nas idas aos jogos, mais de 90% dos presentes são sócios elegíveis, ou seja, aqueles com mais de cinco anos como sócio do clube. Também procuramos apoio da comunidade luso-brasileira, junto aos empresários e outros profissionais influentes. Nunca fui de pedir apoio a antigos ídolos, embora tenha operado quase todos eles (risos). Acho que os ídolos são patrimônios dos clubes como um todo, e não de um ou outro grupo político. Em relação à classe artística, temos o apoio do ator Marcos Palmeira, um grande vascaíno que, mesmo envolvido com a gravação de um filme, se dispôs a participar virtualmente do lançamento da nossa plataforma de campanha e compromisso.

ESPN - Qual a sua relação com o Vasco? Como surgiu a ideia de se candidatar a presidente?

Alexandre Campello - Tenho 57 anos, dos quais 25 passei como médico do Vasco. Sou de família portuguesa, vascaíno apaixonado e requento São Januário desde o tempo em que as sociais possuíam bancos de madeira e em torno do campo havia uma pista de atletismo de carvão. Pós-Graduado em medicina desportiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), iniciei minha carreira no clube do coração, ainda como acadêmico, em 1984, no time de juniores, do qual faziam parte jogadores como Romário, Mazinho e Lira. Em 1986, fui alçado aos profissionais, dando início à uma vitoriosa trajetória, que teve como ponto alto os títulos estaduais de 1987, 1988, 1992, 1993, 1994, 1998 e 2003; os Campeonatos Brasileiros de 1989, 1997 e 2000; a Copa Libertadores de 1998; o Rio-São Paulo de 1999 e a Copa Mercosul de 2000. Em 2004, por divergências com o comportamento ditatorial do atual presidente, me afastei, voltando a acompanhar o Vasco apenas como torcedor. Em 2008, a paixão falou mais alto, e por isso, a convite do então presidente eleito, Roberto Dinamite, retornei a São Januário como membro do departamento médico. Colaborei na conquista de mais uma taça, a da Copa do Brasil de 2011. Em 2012, percebendo que o clube tomava rumos com o qual não concordava, optei por me desligar. E, no ano seguinte, debrucei-me sobre as questões políticas, ingressando no grupo Identidade Vasco. A ideia da candidatura, como disse, partiu da tentativa de diversos grupos de oposição de encontrar um nome de consenso, um nome que unisse a oposição e não estivesse desgastado após a derrota para Eurico Miranda em 2014.

ESPN - É possível você fundir sua candidatura com a do Julio Brant?

Alexandre Campello - É inegável o quanto a Frente Vasco Livre tem trabalhado pela união. A ponto, inclusive, de ter reunido sete importantes grupos de oposição em torno de único nome. Em relação ao Julio, tivemos diversas conversas. Inicialmente, propomos uma prévia, nos moldes da eleição, com a participação dos sócios aptos a voto, para definir uma candidatura única. Ele, que num primeiro momento dizia topar até par ou ímpar como modelo para definir um candidato de consenso, recusou. O grupo dele quer pesquisa, mas nós entendemos que pesquisa é falha. Pesquisa cada um tem a sua, além de poder ser direcionada e manipulada. Ficou combinado, então, que nenhum dos dois grupos falaria mais sobre pesquisa ou prévia, que tentaríamos, juntos, chegar a um modelo que atendesse aos dois grupos. No entanto, essa semana fomos surpreendidos por uma declaração do Nelson Sendas, escolhido como vice-presidente da chapa do Julio, afirmando que, baseado em uma pesquisa feita por eles, e que dava em Julio em segundo e como principal nome para derrotar o Eurico, abria mão do cargo para me ceder. Obviamente isso criou um mal-estar. O combinado não era mais falar em pesquisa. Se é assim, queremos a prévia. Julio, se você está tão forte nas pesquisas, não há motivos para temer a prévia. Aceite! E assim não teremos problemas para definir uma candidatura única de oposição em 7 de novembro.

ESPN - Fale sobre sua trajetória profissional

Alexandre Campello - Sou cirurgião-ortopedista, abri três clínicas médicas, que são cases de sucesso e funcionam muito bom. Acumulei ao longo dos anos experiência como gestor, como líder, e, financeiramente, tenho uma vida estável, o que vai permitir que eu me dedique exclusivamente ao clube caso eu venha a ser eleito. Aliás, enquanto membro do departamento médico, eu já era aquele funcionário que procurava fazer além da minha função.

ESPN - O que vocês pretendem fazer com as categorias de base do Vasco?

Alexandre Campello - A ideia é que o Centro de Treinamento integre a base e os profissionais. Queremos acompanhar de perto os garotos. Valorizar a base é valorizar o mais importante ativo do Vasco, além de ser fundamental na montagem de um time aguerrido, que tenha identificação com a camisa do clube. Manter o Certificado de Clube Formador (CCF), respeitando determinados requisitos exigidos, também será prioritário. Dos grandes clubes do Rio, o Vasco foi o último a obter o documento concedido pela CBF e que permite uma série de benefícios – entre eles, o de proteger os jovens atletas de interesses de outros clubes. É preciso mais investimento para que esses atletas formados no Vasco permaneçam no clube por mais tempo e, se forem negociados, que isso ocorra quando estes estiverem mais valorizados. Acho inadmissível, por exemplo, o Vasco vender um jogador como o Philippe Coutinho sem que ele tenha sido ídolo do clube.



Fonte: ESPN.com.br