Bebeto e Mauro Galvão falam sobre 'virada de casaca' na ida para o Vasco
Domingo, 18/06/2017 - 15:27
Odiado por muitos, sonhado por outros, temido ou constrangedor, o banco de reservas do Maracanã será neste domingo ponto convergente em um Fla-Flu de emoções. Em algum momento, todos os olhares estarão em Conca, sentado ainda na fama de protagonista da conquista do título brasileiro de 2010, pelo Tricolor. O argentino correrá o risco de ser xingado pelos fãs de outrora - se é que não serão mais altos os aplausos rubro-negros, sua esperança agora.

O Fla-Flu das 16h - não deixem, ao fim do dia, de anotar no diário - pode ser apenas mais um. Ou talvez entre para a biografia de Conca, como ocorreu com Bebeto na primeira vez que em vestiu a camisa do Vasco para enfrentar o Flamengo, em 5 de novembro de 1989, pela 13ª rodada do Brasileiro. Ele não anotou. Então, esqueceu. Melhor assim.

- Não lembro bem. Mas eu, que nunca tinha sido expulso, acho até que levei vermelho naquele dia. Essas coisas a gente tem que esquecer... - conta Bebeto.

Foi expulso, sim. E teve mais: Zico e Júnior arrebentaram, o Flamengo venceu por 2 a 0, com dois gols de Bujica, e a torcida rubro-negra cantou um clássico da discografia de Beth Carvalho: "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão". O Maracanã de 59.076 pagantes ficou imenso, bem maior do que o franzino e encolhido Bebeto.

- Foi difícil para mim. O Flamengo sempre foi minha casa. Do outro lado, estava meu ídolo, Zico, meu espelho. Foi aquela confusão toda... É muito triste ser xingado pela torcida que sempre te aplaudiu. As pessoas não entendem, mas eu fiz de tudo para renovar com o Flamengo pela metade. Mas o então presidente Gilberto Cardoso Filho foi mal... Meu passe foi para a Federação.

Um drible, um adeus. A finta sobre o Flamengo jamais foi digerida.

Já Conca vive ainda dias de incerteza após a sutura de menisco a que se submeteu em setembro. Seus dez minutos em campo, na última quarta-feira, contra a Ponte Preta, nada esclareceram. Hoje, ao menos já se terá uma resposta para outra dúvida: como irá se comportar a torcida do Fluminense ao ver o ídolo em outra camisa, naquele banco de reservas, ponto convergente de um Fla-Flu de emoções?

BRANCO TAMBÉM TROCOU O FLUMINENSE PELO FLAMENGO

O ex-jogador Branco enxerga em Conca um pouco da sua história. Colecionador de títulos pelo Fluminense nos anos 80, com a conquista do Brasileiro como apogeu, em 1984, o então lateral-esquerdo decidiu se aventurar no Flamengo, em 1995, após uma segunda passagem pelo Tricolor em 1994, entrecortada por uma aventura no Corinthians no mesmo ano.

- É uma história parecida com a minha. Conca teve sucesso pra caramba no Fluminense. Agora, está no Flamengo. Quando eu fui, Romário tinha sido contratado e o Kleber Leite (então presidente) me fez o convite. Eu queria vir para o Rio. Sorte que a torcida tricolor nem pegou no meu pé. Apenas gritava: "Eô, eô, o Branco é tricolor" - lembra o ex-lateral.

Sem resistência dos antigos fãs, Branco não teve dificuldades no Flamengo. Nem dificuldades, nem títulos, é bom lembrar.

- Ganhei tudo pelo Fluminense, não ganhei nada pelo Flamengo e ainda perdi um título graças a um gol daquele barrigudo, o Renato Gaúcho. Muita gente diz que manchei minha carreira, mas foi legal ter jogado no Flamengo, onde fiz 12 gols. Mas preciso destacar: no Fluminense, vivi um casamento perfeito. O clube abriu as portas do mundo para mim.

MAURO GALVÃO: 'TEM QUE SER PROFISSIONAL'

Mauro Galvão sentiu duas vezes a dor de quem trai seus fãs. Ídolo do Internacional a partir do fim da década de 70, foi para o Grêmio nos anos 90. Xerife do Botafogo de 87 a 90, ganhou alguns dos mais importantes títulos da história do Vasco, de 97 a 2000.

- Foi difícil para mim. A torcida sempre sente muito. Mas o que atenuou um pouco foi o intervalo longo entre minha passagem por um clube rival e outro. Não saí do Inter para o Grêmio. Nem do Botafogo para o Vasco - lembra.

O ex-zagueiro acredita que Conca não sofrerá tanto desgaste. Os tempos mudaram, o futebol também.

- Antigamente, essa situação era o fim do mundo. Achavam que a mudança para um clube rival era uma traição máxima. A cobrança era uma loucura. Isso mudou. Conca tem que demonstrar no campo que é profissional e jogar bem - encerra.




Fonte: Extra Online