Mauro Galvão, Marcelinho, Dodô e Edilson fazem sucesso com Seleção Brasileira Master

Domingo, 02/04/2017 - 09:45
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- O que houve com o Amaral? O cara sumiu. Ele visualiza no zap e não responde.

No fundo da van, Edílson puxava a resenha das melhores enquanto os gerentes da seleção brasileira de master buscavam entender a razão pela qual Amaral não deu as caras para o jogo, no tradicional "mim acher" digno de Aloísio Chulapa. Marcelinho, da frente, rebatia a conversa alto astral, e Kleber, lateral que na época de Corinthians cruzava a bola com as mãos, emendava.

- Tô com o pescoço duro de olhar aquela bola do Dodô. Demorou a cair, hein, parceiro? - arrancando gargalhadas ao lembrar um chute do Artilheiro dos Gols Bonitos que foi muito, muito longe da meta.

- Professor, o teu retrospecto é melhor que o do Tite! - brincava Marcelinho ao falar com Antônio Lucas, treinador e gerente da seleção, que soma mais de 60 eventos desde 2010 sem ainda conhecer o que é derrota. Na seleção principal, Tite também ostenta os 100% de aproveitamento.

O retrospecto é dos melhores graças a um time de muito respeito. Um banho de saudade para quem viu essa turma em campo. Com uns quilinhos a mais, Marcelinho mostra que o pé de anjo segue em dia, com viradas de jogo espetaculares. Dodô, apesar daquela bola nas nuvens, é o atacante de outrora, agora mais forte fisicamente graças às horas dedicadas à musculação. No meio, Flavio Conceição, com trajetória de respeito na seleção principal, mostra a pegada de sempre e a grande facilidade de marcação.

Marcelo Passos, vice-campeão brasileiro pelo Santos em 1995, morde cada bola e não para quieto, dando a dinâmica necessária para que um time de master funcione. Edu, canhota genial que foi convocado para a Copa de 1966 com apenas 16 anos e voltou a ser chamado em 1970, acredite, ainda entra em campo e mostra o seu talento, hoje vitaminado com muita experiência diante dos seus 67 anos.

Toninho Carlos, zagueirão campeão pelo Santos na década de 1980, apresenta a velha categoria. Com taça levantada pelo mesmo Peixe, o xará Toninho Oliveira avança na lateral direita com velocidade e cabelos brancos. Capone, ex-zagueiro de Galatasaray, Grêmio e muitos outros, respira a força e disposição necessárias. Também na zaga, o multicampeão Mauro Galvão segue dando aula de técnica e posicionamento. Que zagueiro! No gol, boa atuação de Leo, ex-goleiro do América-MG, hoje preparador da função no time sub-20 do Cruzeiro.

Na lateral esquerda, Kleber, que marcou época no Corinthians, ainda cruza daquele jeito. Foi dele o passe para o primeiro gol da noite, de Edílson, esse sim o showman da seleção. O Capetinha dá caneta, faz embaixadinhas iguais às daquele histórico Corinthians x Palmeiras que terminou em pancadaria, e até joga a bola para dentro da camisa, como se escondesse o objeto que mudou a vida de todos em volta. A jogada não foi bem vista pelo árbitro da partida, que decidiu amarelar o craque.

- A gente vem com o espírito de fazer um evento como esse na brincadeira, fazer algumas coisas diferentes, até porque o futebol tá chato. A gente fica reclamando. Aí quando a gente quer fazer alguma coisa diferente, é podado, é recriminado. Por isso o futebol hoje tá comum, não podemos fazer mais nada dentro de campo - desabafou o Capetinha.

Para completar o elenco, uma figura das mais importantes do esporte brasileiro, o tetracampeão mundial de boxe Acelino Popó Freitas. Em campo, Popó passou em branco, mas mostrou qualidade no comando do ataque durante a segunda etapa, perdendo um gol ao tentar encobrir o goleiro (veja no vídeo acima). O ex-lutador hoje faz faculdade de odontologia.

- Estou no primeiro período. No futuro vocês verão o doutor Popó - brincou.

Reativada há sete anos por Antônio Lucas, treinador com passagens por clubes como Rio Branco, Mogi Mirim, CRB, entre outros, e o ex-zagueiro do Santos, Toninho Carlos, a seleção brasileira de master faz uma média de dois jogos por mês, seja em eventos beneficentes ou em festas organizadas em municípios pelo Brasil. A ideia surgiu quando o pai da seleção, o locutor Luciano do Valle, ainda era vivo. Depois de fazer sucesso nas telas da Bandeirantes na década de 1990, a seleção ficou por um bom tempo inativa, mas voltou.

- Fui um dos padrinhos de casamento do Luciano do Valle no início da década de 1980. Ele fazia um trabalho bonito com a seleção de masters, mas parou e não quis mais. Era um trabalho muito bonito que era transmitido pela Bandeirantes. Tive a ideia de reativar. O Luciano era vivo ainda. Falei com ele, que disse: "Pode tocar, não tenho mais intenção". Demos uma roupagem nova, registramos a marca. Hoje é um trabalho profissional, tudo documentado. Os caras que vêm tem um compromisso moral e por escrito para cumprir com a obrigação. Fazemos uma média de dois eventos por mês pelo Brasil para reviver a história desses jogadores. Daquela safra o único remanscente é o Edu - conta Antônio Lucas, que tem ajuda de Paulo Bolou para administrar o time recheado de craques.

Naquela noite em Belo Horizonte, Marcelinho, Edílson, Dodô e companhia mostraram paciência proporcional ao talento para tirar fotos e dar autógrafos. O campo foi invadido pelos torcedores, que aproveitaram uma proximidade jamais vista quando os ídolos estão em atividade.

- A gente se sente privilegiado porque é um momento de devolver ao torcedor tudo aquilo que eles proporcionaram para a gente. Também é uma oportunidade de rever grandes jogadores que jogamos juntos ou contra. A seleção brasileira de master tem aberto oportunidade para muita gente - disse Marcelinho.

A seleção de master não tem ligação com a CBF, que, por sua vez, fez uma solicitação para que não fosse usado o logotipo da seleção profissional.

- Para a CBF, nós somos um mal necessário, porque ela não apoia os velhinhos. Então nós viemos para cuidar. Nós também estamos representando o futebol brasileiro. Muitos dos jogadores se sentem esquecidos. Então levá-los para um jogo já é um reativante. O cachê varia de mil a 5 mil. Não vai deixar ninguém mais rico, mas muitos contam com esse dinheiro - revela Antônio Lucas.

Depois da grande atuação em campo, Edílson, na base do "show tem que continuar", foi para o pagode. Um churrascão rolava ao lado, e o Capeta tratou de assumir o tantã para participar da roda de samba junto com o grupo Papo de Boleiro. Mostrando versatilidade dos tempos de jogador, na sequência abraçou o cavaquinho e fez bonito (veja no vídeo abaixo).

Ah, e lembra do Amaral? Depois de sumir, visualizar as mensagens no zap e não responder, ele deu sinal de vida no dia seguinte. Passa bem, está inteiro, e vai para o próximo jogo.





Fonte: GloboEsporte.com