Ramon, sobre retorno ao Brasil: 'Quero voltar e disputar um Brasileiro para ser campeão, uma Libertadores e por aí vai'
Quinta-feira, 25/05/2017 - 22:31
A experiência na Turquia valeu a pena. Ramon, 29 anos, defendeu dois clubes no país - Besiktas e Antalyaspor -, sentiu o gostinho do que é disputar uma Liga dos Campeões, fez gol(aço) em Liga Europa, trocou passes com o venerado Eto'o e se entregou tanto dentro de campo que recebeu o apelido de "Crazy Motta". Valeu, mas o lateral-esquerdo ex-Flamengo, Vasco e Corinthians agora quer voltar.

Ramon tem contrato com o Antalyaspor até junho de 2018. No entanto, expôs ao presidente do clube o desejo de voltar a atuar no futebol brasileiro ainda este ano e encaminhou a liberação no fim da temporada. Mas, por quê?

- Sinto falta do calor humano do Brasil. Estar perto da minha filha, que é a coisa mais preciosa da minha vida, estar perto da minha família, da minha namorada, que sinto muita falta também. E deixar a minha família participar mais da minha carreira pois fiquei quatro anos fora, e eles não estiveram muito presente pela distância - explica o próprio.

Antônia, sua filha, tem quatro anos. Marina, a namorada, cursa Medicina no Brasil e também não foi com Ramon para a Turquia, portanto. Ele mora há quatro anos sozinho na Europa, e a saudade dessa gente toda pesa na decisão. Mas, já que esse é o caso, vai para qual clube?

- Não tem (nada certo) mesmo, apenas conversas. Gostaria de voltar para o Brasil, existem vários clubes que eu teria vontade de jogar. Mas tenho que me preservar até assinar com um - se esquivou.

Liga dos Campeões, "Crazy Motta", Eto'o...

No Brasil, Ramon defendeu por último o Flamengo, emprestado pelo Corinthians. Em 2013, foi para o Besiktas, que o contratou definitivamente no ano seguinte. Chegou na Turquia e, menos de duas semanas depois, já estava em campo como titular. Como havia sido alertado da força do Campeonato Turco - e no anseio de receber a aprovação dos torcedores -, mostrou uma vontade acima do normal na estreia. Ele sairia mais tarde daquela partida (um 3 a 3 com o Fenerbahçe) com o apelido de "Crazy Motta".

- Eu estava muito agitado durante o jogo, chegando à vera. Imagina, você chega num país totalmente diferente e, 10 dias depois, estreia no Turco. Eu estava jogando de forma maluca. Eles esperam que o brasileiro dê lençol, caneta e que não vai correr, mais qualidade do que vontade. Mas eu fazia os dois. Na minha estreia, eu estava discutindo com todo mundo, xingava em português, estava nem aí. E a torcida do Besiktas é assim, eles são meio malucos, então eu caí nas graças dos torcedores no primeiro jogo - recorda ele.

Foram no Besiktas as duas maiores experiências de Ramon em competições europeias. Na temporada 2014/15, a equipe turca jogou os playoffs da Liga dos Campeões. Eliminou o Feyenoord, mas acabou caindo diante do todo poderoso Arsenal a um passo da fase de grupos: empate sem gols na Turquia e derrota por 1 a 0, gol de Alexis Sánchez, na Inglaterra.

- Ouvir aquela música é uma sensação indescritível - relembra, sobre o tema da competição europeia.

Naquela mesma temporada, o Besiktas ainda eliminaria o Liverpool na segunda fase da Liga Europa. Ramon e companhia perderam por 1 a 0 na ida (gol de Balotelli), mas devolveram o placar na volta e avançaram nos pênaltis. Só que, nas oitavas de final, caíram para o Club Brugge - você pode conferir o golaço que Ramon fez nesse confronto no vídeo abaixo:




- O jogador tem muito a crescer quando sai (do Brasil), muito a evoluir. Primeiro pela cultura. A Turquia é um país lindo, incrível. Istambul, para mim, depois do Rio, é a melhor cidade do mundo. Tem uma cultura muito diferente da nossa, mas eles amam brasileiros, são muito atenciosos com a gente. Eu cresci muito aqui, aprendi a falar inglês. Isso faz você abrir a cabeça, você começa a conhecer pessoas de vários países, outras culturas. Você se torna uma pessoa melhor, cresce intelectualmente. Isso, para mim, reflete no campo - acredita ele.

Em janeiro do ano passado, depois de dois anos e meio com a camisa do Besiktas, aceitou a proposta do Antalyaspor, que também disputa a Primeira Divisão do Campeonato Turco. Ali, teve a honra de atuar ao lado de Samuel Eto'o. E, por muito pouco, não ganhou um rolex.

- No ano passado, faltavam sete ou oito jogos para acabar o campeonato. Ele precisava fazer cinco gols para ser o artilheiro. Ele estava na frente e acreditava que, com mais cinco gols, o Mario Gómez (alemão do Besiktas) não passaria.

- Acabou que dei quatro assistências e não joguei o último jogo, nem ele. E fiquei sem relógio, que era o que eu mais queria - disse Ramon.

O Antalyaspor de Ramon está em quinto lugar a duas rodadas do fim da competição. Seis pontos atrás do Galatasaray (4º), tem chances remotas de se classificar para a Liga Europa, que é para onde vão o terceiro e o quarto colocados. Abaixo, você confere outros pontos da entrevista com Ramon:

Um balanço dos quatro anos na Turquia. Valeu a pena?

- (As expectativas) Se cumpriram totalmente e em todos os sentidos. Claro que financeiramente valeu a pena, mas o crescimento que eu tive como homem e jogador foi incrível. Foram dois anos e meio no Besiktas, no qual fui titular sempre e joguei um playoff da Champions, contra Feyenoord e Arsenal, e acabamos sendo eliminados por 1 gol contra o Arsenal. Depois fizemos uma boa Europa League e eliminamos o Liverpool, mas acabamos perdendo para o Club Brugge. No Antalya, estou há um ano e meio. Cheguei para uma reconstrução, e funcionou. Fizemos um excelente segundo turno na temporada passada e estamos brigando pela última vaga da Europa League faltando duas rodadas para o fim, o que seria histórico para o clube. Espero sair daqui com o time classificado para a Europa League. Seria um título para mim sair fazendo história no clube

Apelido de "Crazy Motta"

- Isso foi engraçado porque, quando cheguei aqui, eu não falava nada de inglês nem de espanhol. Para minha sorte, tinha dois portugueses no meu time, então eu conseguia me comunicar através deles. Só que, dentro de campo, quando você não fala nada, tem que se defender de alguma maneira. E eu acabei criando um personagem me fazendo de maluco. No primeiro jogo, eu estava louco. Um narrador daqui até perguntou de qual favela do Brasil eu tinha saído, porque eu parecia maluco dentro de campo. Mas um maluco pelo lado bom. E aí virou um personagem, começaram a me chamar de doido, doido, e ficou "Crazy Motta'.

Eto'o

- O Eto'o é incrível, é uma pessoa que está sempre sorrindo, sempre feliz. É o nosso capitão, um líder de verdade. Está sempre protegendo o grupo, questionando o que o grupo quer. Isso é muito importante, ele tem o grupo nas mãos. É incrível. E a gente tem uma comunicação muito boa com ele porque ele fala espanhol, jogou muito tempo na Espanha e aprendeu o espanhol perfeitamente. Como jogou com muitos brasileiros também, ele fala um "portunhol". Se falar português com ele, você vai entender. Isso é muito bom, facilita a comunicação dentro de campo. No ano passado, foi o vice-artilheiro da competição, 23 gols. Agora, faltando duas rodadas para acabar, ele tem 18. Dá um caldo ou não (risos)?

Quando nevou, ele quase não chegou ao treino

- Tem uma história que eu vou contar para os meus netos. Eu nunca tinha visto neve na vida e era louco para ver, treinar na neve e tal. No Brasil, a gente não tem neve. E eu sou de Vitória, lá a temperatura mais baixa é 17 graus. Eu dormi num dia que estava muito frio e acordei com a cidade branca, muita neve. Fiquei fascinado. Peguei meu carro, nunca tinha dirigido na neve, e saí. Vi que não tinha muita gente na rua e fui fazendo o caminho normal para o treino. Eu não sabia que tinha que passar só pelas ruas principais, porque à noite passa um caminhão com uma máquina tirando o gelo e jogando sal para derreter. Fui passar pela rua normal que eu passava, e era uma ladeira, tinha que subir um morrinho e depois descer. Para subir, o carro não subia, porque a roda ficava girando. Bateu um desespero, não saía do lugar, o carro não subia. Se botasse o pé no freio, ele descia porque escorregava. Foi desesperador, e foi assim até virem me ajudar. Empurraram o carro, e eu comecei a descer a ladeira. Quando desci, não conseguia parar o carro de jeito nenhum, e era uma rua estreita, fiquei desesperado. Chegou uma hora que a rua ficou reta, e eu parei e fiquei. Todo mundo atrás de mim buzinando, e eu não saía do lugar. Até baterem dois caras na minha janela e me ajudarem. Eles entraram no carro e, como sabiam dirigir na neve, desceram até a rua principal. E eu consegui chegar no treino (risos).

Saudade da família

- Sempre fiquei sozinho nesses quatro anos, e isso pesa muito para minha volta. Minha namorada está terminando a faculdade de Medicina e não tinha como vir, e minha filha não mora comigo.

Quais são as chances de atuar no Brasil este ano?

- Muitas, a temporada aqui acaba daqui a 10 dias. Depois estou de férias e podendo estar livre para assinar com um clube do Brasil. Meu desejo é voltar nessa janela de agora.

Motivos para voltar ao Brasil

- Estou com saudades de jogar aí, acompanho os estaduais, Brasileiro e Libertadores e estou com saudades de jogar, entender o que a torcida está gritando, sentir a emoção que é jogar no Brasil. Meu objetivo é voltar ao Brasil e encerrar aí, estou no auge da minha forma física, tenho um personal que fica comigo. Trabalho todos os dias com ele, então estou pronto para jogar o meu melhor. Quero voltar e disputar um Brasileiro para ser campeão, uma Libertadores e por aí vai.



Fonte: GloboEsporte.com