Ginástica Artística: Sérgio Sasaki fala sobre desempenho nas Olimpíadas e já projeta Tóquio-2020

Sexta-feira, 12/08/2016 - 06:26
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Sentado, com a cabeça baixa e as mãos entrelaçadas, Sergio Sasaki entrava na bolha. Pensava seguidamente: "eu treinei, estou preparado, só quero o acerto, não quero nada mais do que o acerto". Essa já seria a sua medalha. O joelho direito, o mesmo que precisou ser operado no primeiro mês do ano pré-olímpico, voltou a doer desde sábado. Ele fez segredo. A intensidade foi aumentando a cada dia, mas ele se manteve firme. Por nada iria deixar de disputar os Jogos do Rio. E foi em frente para enfrentar seis aparelhos, rezando para que o joelho não falhasse. Nesta quarta-feira, passou bem por todos e conseguiu o melhor resultado da história do Brasil no individual geral com a nona posição.

- Sempre soube que eu ia estar aqui. Com a perna pendurada ou não, com a lesão no menisco talvez, que eu não sei... Preciso fazer um exame aqui porque estou morrendo de dor. Mas sempre soube que eu ia estar aqui. Pendurado ou não, com um braço ou sem, eu ia competir isso aqui. Estou sentindo muita dor no joelho desde o primeiro dia. Não quis falar para ninguém porque isso não cabia no momento. Eu ia saltar um salto novo, acabei forçando um pouco mais e senti uma dor que veio aumentando cada vez mais. Então, fico feliz de ter me superado. Não pensava nem na medalha. Eu só queria acertar. Se fosse para ganhar, que ganhasse, se fosse para ficar em último, que ficasse. Eu só queria acertar - disse.

Chegar à final, superar o resultado de Londres 2012 (ficou em 10º lugar) num ciclo conturbado, teve valor de uma para Sasaki. Depois de ter sido freado por uma cirurgia no local, precisou de paciência e força para se recuperar. Após seis meses de trabalho intenso de fisioterapia e de muita angústia, foi finalmente liberado para retomar a rotina. Mas duas semanas depois, a passagem pelas argolas, quando executava uma maltesa, fez todo o sentimento ruim voltar. Com uma lesão no tendão longo do bíceps braquial do ombro direito, sofrida no dia 31 de julho, precisou de uma operação.

- Fiquei esses dias pensando. Tive um ano e três meses sem treinar por conta de lesões. Talvez fosse até injusto eu ganhar de atletas que passaram esses quatro anos treinando mais do que eu. Eles não tiveram lesões, não tiveram as dificuldades que eu tive. Claro que essa minha superação conta. Eles conseguiram se preparar de uma forma correta, não tiveram um ano turbulento. Eu pedi a Deus que me desse exatamente aquilo que eu merecia. E se é o nono, vou receber com o maior orgulho. Não é qualquer um que consegue chegar em nono. Foram três cirurgias, duas no último ano: uma no ombro e outra no joelho. Foi estressante olhar os atletas treinando. E poder estar aqui, e ainda ser o melhor brasileiro classificado, isso mostra que eu poderia ter chegado mais longe.

Depois de Londres a projeção feita por ele e pela comissão técnica era que se estivesse íntegro fisicamente poderia almejar um lugar no pódio no Rio. O que ninguém poderia imaginar é que exatamente no momento em que mostrava evolução fosse passar por uma fase tão complicada.

- Eu projetava meu 100%. E talvez o meu 100% seria terceiro, segundo, se eu tivesse uma preparação melhor. Mas dentro das circunstância meu 100% foi nono. O momento mais difícil talvez saber que estou um dia atrás de tal fulano. Estou dois dias atrás, três dias, um mês, dois meses, um ano... A cada dia tinha que treinar como dois dias. Saber que as pessoas estavam evoluindo e eu parado no tempo era algo que me consumia, me incomodava, me fez muito mal. Não gosto nem de pensar porque foi um ano muito ruim, o pior ano da minha carreira. Ganhei uma posição de Londres e para mim isso é uma vitória. Talvez a minha felicidade seja maior do que a do Oleg Verniaiev, que ficou em segundo, podendo ganhar. Felicidade não se mede. Eu consegui fazer meu 100%. Gostei de todas as provas que fiz. Hoje eu consegui fazer exatamente aquilo que treinei e isso é o que me deixa mais feliz. Sei que sem a torcida não seria igual.

Se o sonho de se ver entre os três melhores não foi possível em 2016, Sasaki volta seu foco para daqui a quatro anos.

- Eu sou novo, tenho vontade, meu sonho não acaba. Quero ir a Tóquio, se der a mais uma. Se o meu corpo deixar. Não é uma lesão, duas, um ano que fiquei parado que ia me fazer desistir do sonho de estar aqui. Então, vou trabalhar para estar lá.



Fonte: GloboEsporte.com