E-book 'Vamos todos cantar de coração - Os 100 anos do futebol do Vascão', do jornalista Claudio Nogueira, será lançado em março; confira trecho

Quarta-feira, 24/02/2016 - 15:27
comentário(s)

Centenário vascaíno em e-book

Para celebrar os 100 anos do futebol do Vasco, cujo departamento dedicado a este esporte foi criado na virada de 1915 para 1916, vamos lançar em março o e-book "Vamos todos cantar de coracão: Cem anos do futebol do Vascão." Para quem gosta da história do futebol brasileiro, segue um trecho da obra:

"Camisas Pretas; Expresso da Vitória; Time da Virada, Time do Amor; Machão da Gama; Gigante da Colina; Time de São Januário; Vascão; Almirante; Trem-Bala da Colina.

Todas essas expressões, tão diversas entre si, foram criadas ao longo dos anos para exaltar glórias e conquistas do Club de Regatas Vasco da Gama, uma das equipes de maior destaques do futebol nacional e, em alguns momentos, também internacional. Se nasceu do remo, foi no futebol que se engrandeceu.

Para isso, o time de futebol, que começou pequeno na virada de 1915 para 1916, embora já fosse um grande no remo, teve de superar rivais aparentemente mais poderosos, dentro e fora de campo. No gramado, nos confrontos 11 contra 11, e fora deles, ao ter-se posicionado firmemente contra os preconceitos raciais e sociais que existiam no futebol carioca desde o fim do século 19 até a década de 20. Era a época dos Camisas Pretas, assim conhecidos pela cor do uniforme, que também já se tornavam conhecidos pela capacidade de virarem as partidas, em especial no segundo tempo. Campeão carioca logo no ano de estreia em 1923, com um elenco cheio de atletas negros, pobres e semianalfabetos, foi bi em 1924, depois de ter-se recusado a eliminar esses mesmos atletas para ser aceito na nova liga, a elitista Associação Metropolitana de Esportes Athleticos, a Amea. Mais adiante, começou a viver seu melhor período em meados dos anos 40. Uma equipe que foi se formando aos poucos se tornou conhecida como Expresso da Vitória, pelos vários títulos, alguns invictos, como os Cariocas de 1945, 1947 e 1949, além dos de 1950 (o primeiro de um time carioca no Maracanã) e de 1952, que só não foram invictos.

O principal deles se deu a 14 de março de 1948, em Santiago do Chile: o Sul-Americano de Clubes Campeões. Não havendo ainda Campeonato Brasileiro, os vascaínos, campeões invictos do Rio, então Distrito Federal, em 1947, representaram o país. E não decepcionaram. Mesmo diante do favoritismo do Colo-Colo, dono da casa, do Nacional, do Uruguai (país que já havia vencido a primeira Copa do Mundo, em 1930) e do River Plate, campeão argentino de 1947 e que contava com craques como Di Stefano, Labruna e Lostau, prevaleceu a equipe brasileira, treinada por Flávio Costa. Por terem feito a melhor campanha no torneio (pontos corridos), os vascaínos asseguraram a conquista com o 0 a 0 com o River Plate no tempo normal e na prorrogação, mesmo sem poderem contar com seu maior craque, Ademir Menezes, que havia fraturado o pé na segunda partida, mas tendo em Friaça seu artilheiro, com quatro gols. O Sul-Americano foi o melhor presente para os 50 anos do clube, além de ter sido também a primeira conquista do futebol brasileiro no exterior, antes mesmo da seleção.

Cinquenta anos depois, em 1998, ano do centenário vascaíno, a equipe tornaria a dominar o continente. Campeã brasileira do ano anterior, em 1997, foi à Libertadores da América, e após um início vacilante, a equipe treinada por Antônio Lopes engrenou. A 26 de agosto, cinco dias depois do aniversário de 21 de agosto, e fora de casa, em Guayaquil, Equador, o Vasco - mesmo sem Edmundo, craque do Brasileiro-1997, negociado com o futebol italiano - levantava a Copa Libertadores da América, superando o Barcelona local por 2 a 1, depois de tê-lo batido em São Januário, duas semanas antes, por 2 a 0 (gols de Donizete e Luizão em ambas as partidas das finais). Muito dessa conquista fora assegurada na semifinal, em que o Vasco venceu (1 a 0) e empatou (1 a 1) com o River Plate, da Argentina. No empate, em pleno Monumental de Nuñez, na Argentina, o gol fora de Juninho Pernambucano, lance lembrado até hoje numa das canções da torcida. A base daquela temporada contava com Carlos Germano, o zagueiro e capitão Mauro Galvão, o lateral Felipe, os apoiadores Luisinho, Juninho Pernambucano, Pedrinho e Ramón, além dos atacantes Luizão e Donizete.

No ano 2000, a 20 de dezembro, uma data histórica para todos os vascaínos. Estes sempre lembram com emoção e orgulho a chamada Virada do Século, na qual o time superou o Palmeiras por 4 a 3, com um jogador a menos, em pleno Parque Antarctica, na final da Copa Mercosul, uma espécie de precursora da atual Copa Sul-Americana. Na melhor de três, cada equipe havia vencido um jogo. No terceiro, disputado com mando de campo do Palmeiras por sua melhor campanha, o time da casa abriu 3 a 0 no primeiro tempo. Parecia que ao Vasco estava reservado "mais um vice". Mas a equipe treinada a partir daquele dia por Joel Santana iria fazer história, principalmente a partir da entrada de Viola, no intervalo. Com três gols de Romário e um de Juninho Paulista, o Vasco virou por 4 a 3, justificando mais do que nunca o apelido de Time da Virada, e conquistou seu terceiro título na América do Sul, depois do Sul-Americano de 1948 e da Copa Libertadores de 1998. Eram tantos craques no time de 2000, que este era comparado ao Expresso, contando com nomes como o de Romário, que voltara a São Januário depois de 12 anos fora para ser campeão brasileiro pela primeira vez, Juninho Pernambucano, Juninho Paulista, Mauro Galvão, Jorginho, Felipe, Viola, o goleiro Helton, enfim, uma seleção.

FUNDAÇÃO

Reconhecido como um forte elo entre portugueses e brasileiros e como um dos mais importantes clubes poliesportivos do país, o Vasco foi fundado inicialmente para a prática do remo, a 21 de agosto de 1898, um domingo, em assembléia encerrada às 14h30m, na sede da Sociedade Dramática Filhos de Talma (uma associação teatral), no bairro carioca da Saúde, próximo ao Centro da cidade. Desde então, são 117 anos de uma viagem rumo a um destino de glórias. Se o remo foi o ponto de partida, o futebol vem sendo o caminho pelo qual a bandeira preta e branca com uma cruz em vermelho tem atingido tantas almas e tantos corações mundo afora. Neste ano de 2015, o Vasco celebra os 100 anos de criação de seu Departamento de Futebol, a 26 de novembro de 1915.

Se já era uma potência nas regatas, nos gramados o começo foi dificil. Os sócios precisavam se cotizar para comprar os primeiros barcos, até que em 1905 e 1906, o clube chegou ao bicampeonato no remo do Rio, antes de festejar seu primeiro tricampeonato carioca desse esporte em 1912, 1913 e 1914. O futebol desembarcara no Rio em 1897, trazido da Inglaterra, pelo carioca Oscar Cox (fundador do Fluminense), e o primeiro Campeonato Carioca dessa modalidade havia sido disputado em 1906. Mas, entre os vascaínos, as sementes deste esporte só seriam lançadas mais ou menos no mesmo período em que o clube dominava o remo, amplamente. Em 1913, a convite do Botafogo, um combinado de Lisboa esteve no Rio, para amistosos. Isso fez com que a colônia portuguesa da cidade se animasse a começar a dar seus primeiros chutes e a fundar clubes específicos de futebol, como o Centro Esportivo Português, o Lusitano e o Lusitânia, o único a ter sobrevivido. Interessada em criar um Departamento de Futebol, a diretoria vascaína propôs uma fusão ao Lusitânia, que já o praticava.

O problema, porém, era o fato de que o Lusitânia só aceitava portugueses, ao passo que o Vasco era aberto a todos. Além disso, a Liga Metropolitana de Sports Athleticos (LMSA) não aceitaria a inscrição de uma equipe sem brasileiros. Prevalecendo a política de integração dos vascaínos, Vasco e Lusitânia se fundiram a 26 de novembro de 1915, mantendo-se o nome Vasco da Gama. Inscrito na liga, o time estreou na Terceira Divisão carioca, a 3 de maio de 1916, no estádio do Botafogo, contra o Paladino Futebol Clube. O resultado não poderia ter sido pior: Paladino 10 a 1, com o primeiro gol vascaíno marcado por Adão Antônio Brandão, que iria fazer história no clube como atleta de futebol, remo e outras modalidades. A derrota quase acabou com o futebol no Vasco, já que os remadores consideravam-no um esporte pouco másculo.

A primeira vitória, porém, ocorreria a 29 de outubro de 1916, por 2 a 1 sobre o River, gols de Cândido Almeida e Alberto Costa. Grande no remo, mas ainda pequeno futebol, o Vasco penava para ganhar jogos. Mas subiu para a Segunda Divisão carioca em 1917, ali permanecendo até 1920, quando chegou à série B da Primeira Divisão. Dois anos depois, foi campeão da Série B, para chegar `a Série A, em 1923, com um elenco repleto de negros e pobres que jamais seriam aceitos nos chiques Fluminense, Flamengo, Botafogo e América. Desafiando todos os preconceitos, o Vasco foi campeão carioca em 1923, na temporada de estreia, e ali começava a revolucionar a história do futebol brasileiro."




Fonte: Blog do Nog