Júlio César concorda com testes de uso de vídeos durante as partidas

Segunda-feira, 14/09/2015 - 23:08
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A Comissão Nacional de Clubes sugeriu, a CBF comprou a ideia e a Fifa será consultada sobre a possibilidade de o Brasileirão do ano que vem ter uso de imagens pela arbitragem durante as partidas. A ideia inicial é a criação da função de Árbitro de Vídeo, que teria o poder de interferir em lances capitais – em que houvesse dúvidas ou em que fosse percebido erro do juiz de campo. Os comentaristas de arbitragem da TV Globo são contrários à iniciativa, e treinadores e jogadores divergem.

Técnicos de alguns dos principais clubes do país são simpáticos à proposta, mas com ressalvas. Levir Culpi, do Atlético-MG, um dos clubes que mais reclamaram de arbitragem ao longo do Brasileirão, apoia a iniciativa, desde que os jogos não tenham paradas longas.

- Sou de acordo. Estava vendo tênis, e dá uma segurança legal. Você olha e não vê, faz o gol e não leva, bola não entra e juiz dá. É uma perda grande, mas dá, sim, para recorrer. Se não parar muito o jogo, se for uma parada de 30 segundos, pode diminuir a margem de erros – opina o treinador atleticano.

A interferência externa poderia acontecer em seis casos, segundo a CBF: se a bola entrou ou não; se a bola cruzou a linha de fundo em lances que resultaram em gol ou pênalti; definição sobre o local onde ocorreu uma infração próxima à linha da área, sendo pênalti ou não; gols e pênaltis ocorridos após lances claros de falta ignorados pela arbitragem; impedimentos em lances de gol ou pênalti; jogo brusco grave ou agressão física. Roger, técnico do Grêmio, é favorável à medida.

- Concordo plenamente. Faço coro a essas intenções. Outro dia vi que os árbitros têm 90% de acerto nas decisões. Vamos ajudá-los com os 10% restantes. Infelizmente, os 10% em alguns momentos são lances capitais, que influenciam no resultado da partida. Sou de acordo que haja um auxílio para o árbitro trabalhar em sua plenitude – comenta o comandante tricolor.

Na última Copa do Mundo, foi usada a tecnologia de linha – em que sete câmeras apontadas para cada gol faziam um monitoramento em 3D e avisavam ao árbitro, em um relógio que ele carregava no pulso, se a bola cruzara a linha ou não. Aconteceu com o brasileiro Sandro Meira Ricci na vitória de 3 a 0 da França sobre Honduras no Beira-Rio. Um gol marcado por Benzema foi confirmado pela tecnologia. Na visão de Mano Menezes, técnico do Cruzeiro, esse tipo de lance deve ser o ponto de partida da modificação - ele é contrário a uma interferência externa maior.

- O futebol tem características que não permitem colocar um instrumento externo para decidir um lance, porque o lance continua, você não para o lance naquela hora. Se estivéssemos assistindo a uma partida de tênis, você pode requerer o replay, porque o lance acabou; no futebol, não. Você imagina: o jogador deu um soco na área, e o jogo continuou. Como vai parar o lance e depois continuar? O futebol não permite isso. Podemos avançar naqueles lances duvidosos, em que a bola entrou ou não entrou, que são definidores do resultado do jogo.

René Simões, comandante do Figueirense, também defende uma mudança gradativa. Ele é favorável à interferência em lances capitais.

- Sou a favor de tudo que favoreça o que é correto prevalecer. Às vezes, o erro é para o teu time, mas tem que voltar se analisarem o erro. Só que é cultural no futebol brasileiro. Vai demorar a pegar. Poderíamos começar com os chips na baliza, para o impedimento, câmeras acopladas à cabeça dos auxiliares. Isso ia te dar exatamente o que ele está vendo, então poderia ser alguma coisa. E ter uma outra câmera. Se ele estiver mal posicionado, você veria. Sou a favor da tecnologia, sou a favor da parada técnica, isso melhora o espetáculo e vendemos um espetáculo. Do jeito que está sendo feito, não é o melhor possível.

A divergência também envolve os atletas. Lucas, lateral-direito do Palmeiras, é contrário à medida, ao passo de Julio César, lateral-esquerdo do Vasco, concorda com ela como teste.

- Acho que o pessoal está colocando para debaixo do tapete uma situação que teria de ser resolvida de outra forma. No meu modo de pensar, é preciso profissionalização dos árbitros. Eles precisam ter a condição de trabalhar só com isso, mas não é o que acontece. Eles precisam melhorar a capacidade de treinamento, de estrutura, de salários, precisam melhorar muitas coisas para apitarem melhor. Os clubes têm treinamento diário, fisiologia, psicologia, e os árbitros também tinham de ter essa situação para que consigam melhorar o desempenho dentro de campo – afirma o palmeirense.

- Acho que tem ter um teste, ver como vai ser. Futebol sempre foi motivo de discussão, na imprensa, na torcida, entre jogadores, por causa disso. Se tiver (o recurso), vai acabar toda a discussão. Acho que vai ficar um pouco chato (risos), mas vale a pena testar num campeonato. Acho que as partes envolvidas têm que conversar bastante para ver a melhor solução – opina o vascaíno.

Mano sugere dois árbitros

Mano Menezes tem uma sugestão alternativa. Para ele, deveria ser estudada a presença de dois árbitros dentro de campo. A medida não seria inédita: foi utilizada nos Campeonatos Paulistas de 2000 e 2001 – e depois abandonada.

- Minha opinião é que o futebol ficou muito rápido para um só árbitro apitar. O campo de jogo tem 110m por 70m, em média. Se no futsal, que o espaço é menor, nós temos dois árbitros, se no basquete, que o espaço é muito menor, nós temos três, por que no futebol vamos deixar uma pessoa correndo 110m para ainda ter que tomar uma decisão? Lógico que ele vai chegar com uma capacidade de decisão prejudicada. O argumento das pessoas é de que teremos dois critérios de arbitragem. Ora, estamos cansados de dois critérios pelo mesmo árbitro...

Na visão do treinador do Cruzeiro, a divisão do campo entre dois árbitros privilegiaria o aspecto técnico do apitador. Ele teme que a escolha dos juízes esteja focada em aptidões físicas.

- Você estar mais próximo, correndo menos, facilita a decisão. Outro aspecto é o seguinte: hoje, para ser um árbitro, você precisa ser quase um super-homem nos aspectos físicos, e nem sempre um pessoa que é ótima fisicamente é ótima em interpretação. Estamos perdendo o melhor árbitro por interpretação e estamos escolhendo o que corre mais. Estamos perdendo o talento do árbitro. Invertemos a ordem.

Fonte: GloboEsporte.com