Carlos Leite fala sobre a carreira de empresário e relembra ajuda ao Vasco

Domingo, 16/08/2015 - 21:38
comentário(s)

Faltou talento para Carlos Leite se tornar jogador profissional, mas isso não o impediu de viver, e muito bem, do mundo da bola. O carioca, de 44 anos, é desde 2002 empresário de futebol. Hoje, a lista de clientes dele conta com aproximadamente 70 atletas, além de algumas parcerias extremamente vitoriosas, como a iniciada em 2008 com o Corinthians — se mantém até hoje e o líder do Brasileirão tem quatro clientes de Leite: Cássio, Fagner, Gil e Renato Augusto. Nesta entrevista exclusiva, o filho de portugueses e vascaíno confesso fala como prosperou no futebol, explica sua relação com o Timão, cogita ser dono de um clube no futuro e admite que se incomoda com as insinuações de que ser o agente de Mano Menezes pode interferir nas escalações do treinador. “Somos extremamente honestos e corretos”, jura.

BLOG_ É verdade que você começou a trabalhar como empresário por acaso?

CARLOS LEITE_ É, sim. Comecei em 2002, quando eu tinha lojas de pneus. Sempre fui torcedor do Vasco, ia aos jogos e me tornei amigo do Léo Lima, porque ele era meu cliente na loja. Um belo dia, estávamos almoçando, toca o telefone do Léo e ele fala para a pessoa que eu era o empresário dele.

E como você reagiu?

Perguntei se ele estava louco antes de atender. Aí, comecei a conversar com o empresário que estava na linha e queria se tornar procurador do Léo. O Léo Lima me explicou que estava cansado de ser enganado por empresários e que queria alguém de confiança. E trabalhamos juntos até hoje.

Mas como conseguiu dar o salto e se tornar um dos maiores empresários do país?

Uns nove meses depois do almoço, surgiu uma proposta do CSKA, da Bulgária, pelo Léo Lima e ele foi vendido. O Léo ainda me indicou o Souza, que também foi para o CSKA. E, nessa mesma época, conheci o Jorge Mendes (empresário de Mourinho e Cristiano Ronaldo, entre outros) e virei o representante dele no Brasil.

Você trabalhou quanto tempo para o Jorge Mendes?

De 2004 a 2006. Tenho ele como um professor, que me ensinou muitas coisas. Sou muito grato a ele. A partir de 2007, decidi seguir o meu caminho e ele entendeu perfeitamente. Tanto é que fazemos alguns negócios juntos, como a venda do Elias para o Sporting-POR.

Qual foi o seu momento mais feliz como empresário?

Foi em janeiro de 2004, quando consegui a liberação do Souza e do Léo Lima do CSKA. Eles estavam sem salários, então, contratei um advogado e entrei com ação na Fifa. Foram dias de apreensão e, para mim, era importantíssimo tirá-los. Aí, eles foram ao Marítimo, de Portugal.

Em 13 anos como empresário, você vendeu para o exterior Renato Augusto, Lucas Leiva, Willian, Souza, Elias… Ficou milionário?

Sem dúvida, o futebol dá dinheiro. Mas vi muita gente achando que o futebol é fácil e se dando mal. As pessoas só se lembram dos grandes negócios, mas há perdas, também.

Com quem você perdeu?

Em 2009, comprei os direitos do Enrico, meia do Vasco, mas não deu em nada. Depois, comprei o atacante Nilson, que está hoje no Santos. Ele era da Portuguesa e eu o levei ao Vasco, mas não consegui vendê-lo até o fim do contrato e perdi o investimento. Faz parte.

Você também resolve problemas pessoais de jogador?

Já aconteceu mais. Cheguei a sair de casa no meio da madrugada depois que um atleta meu foi parado na blitz, porque não pagou o IPVA. Mas meu telefone fica ligado 24 horas por dia.

Qual foi o jogador com quem você mais faturou?

Alguns foram importantes, como o Lucas Leiva (vendido ao Liverpool, em 2007, por nove milhões de euros) e o Romarinho. Eu o descobri no Bragantino, comprei os direitos, levei para o Corinthians e a venda foi interessante (oito milhões de euros ao El Jaish, do Catar).

Ao contrário da maioria dos empresários, você faz parceria com os clubes. Por quê?

Porque eu gosto de criar uma relação de confiança com o clube. Comecei no Grêmio, com a transferência do Anderson para o Porto. Foi um negócio complicado, porque envolveu a Justiça devido ao ex-agente dele. Aí, vendi o Lucas para o Liverpool, e assim foi.

A parceria com o Corinthians é a mais antiga?

É, sim. Começou com a ida do Mano Menezes, no fim de 2007. Eu procurei me espelhar no Jorge Mendes, que tinha pego o Mourinho para trabalhar. Ele enxergava que era importante ter um treinador de nome. Procurei o Mano quando soube que ele não ficaria no Grêmio.

O Corinthians havia acabado de ser rebaixado para a Série B, não tinha dinheiro…

Eu já tinha feito a negociação do Willian para o Shakhtar (por US$ 19 milhões), que era, até então, a maior venda da história do Corinthians. Com o Mano, a minha relação com o Corinthians ficou forte.

Você acha que teve participação no renascimento do clube, que subiu em 2008 e ganhou tudo desde então?

Ajudei muito o Corinthians no momento de maior dificuldade, com contatos, jogadores… Posso dizer que acertamos mais do que erramos, e essa relação continua firme, tanto é que quatro jogadores estão no elenco (Cássio, Fagner, Gil e Renato Augusto). Tem sido bom para o clube e para mim, também. Acho que fui uma gotinha no meio do oceano.

O Corinthians foi o clube que você mais ajudou?

Acho que foi o Vasco, até por ser torcedor e por já ter um know-how em 2009. Indiquei o Dorival Junior, o Rodrigo Caetano e levei 80% do time que ganhou a Série B daquele ano, foi vice-campeão brasileiro em 2011 e venceu a Copa do Brasil. O mais legal é que Vasco e Corinthians dominaram o futebol nacional no período. Na semifinal da Copa do Brasil de 2009, por exemplo, 19 jogadores eram representados por mim.

E você torceu para quem?

Eu torci para o preto e branco.

Quanto você gastou para reerguer o Vasco?

Não gosto de falar de valores, mas o Vasco não tinha dinheiro e era preciso apostar no futuro. Reconheço que passei um pouco do normal e a minha família ficou preocupada, mas disse que sabia o que estava fazendo.

Recuperou o investimento?

Fiz grandes negócios, como a ida do Anderson Martins para o Catar, o Souza para o Porto, o Fagner para o Wolfsburg, o Rômulo para o Spartak Moscou… A parceria durou até 2012, porque o presidente (Roberto Dinamite) se perdeu no meio do caminho. Também houve um pouco de vaidade. Mas não posso reclamar de nada.

Já se incomodou com as insinuações de que o Mano favorecia jogadores seus?

Isso me incomodou demais no início, até porque nunca aconteceu. É só perguntar para todos os presidentes e diretores do Corinthians. Machucou bastante, mas foram coisas plantadas. Afinal, chega um carioca em São Paulo, no Corinthians, e começa a fazer um trabalho…

E quando alegaram que o Mano convocava jogadores para a seleção por influência?

Isso me chateou, também. A ponto de eu ter tido uma conversa séria com ele, sugerindo que nós parássemos de trabalhar. O Mano respondeu: “Nós não devemos nada a ninguém, trabalhamos de maneira correta, então, seguimos juntos”.

Vocês nunca falavam sobre convocações?

Nunca. E há uma grande irresponsabilidade quando se fala dos jogadores. O André Santos, por exemplo, já havia estado na Copa das Confederações com o Dunga, em 2009. O Lucas Leiva também jogou as Eliminatórias com o Dunga. Já o Rômulo foi vendido antes da Olimpíada. Se eu soubesse que ele seria convocado, não venderia antes.

Mas uma convocação ajuda na hora da venda, concorda?

Ajuda, mas eu e o Mano nem falávamos sobre convocação. Tanto é que o Fagner foi o melhor lateral-direito do Brasil em 2011 e 2012, tinha idade para a Olimpíada, mas não foi.

O futebol é um meio sujo?

Posso dizer que algumas pessoas querem fazer dinheiro de qualquer maneira, enquanto outras falam uma coisa e não cumprem. Do tipo: o que era cem vira 200. Mas tudo isso me ajuda, porque sou extremamente honesto e correto.

Como você garimpa jovens promessas e outros atletas?

Tenho uma rede de observadores e algumas parcerias em pontos estratégicos. Também tem indicação dos próprios jogadores. Entre os meus clientes, não há muita rotatividade, tanto é que continuo com quase todos até hoje.

Quantos jogadores tem?

Por volta de 70, sendo uns 20 da base. E faço questão de falar praticamente com todos. Minha empresa ainda tem oito funcionários fixos.

Já pensou em ser dono de um clube de futebol?

Ainda me considero muito jovem, tenho responsabilidades com meus atletas, mas já tive esse sonho, sim. Penso em ter um clube no futuro ou, daqui a uns dez anos, se tiver com disposição, ajudarei o Vasco.

Você já emprestou dinheiro a clubes. Algum lhe deve?

Alguns devem, mas faz parte, tanto é que nunca havia entrado com ação, mas terei de fazer. Há um que me deve faz dois anos. Pedi em janeiro que me pagassem a partir de 2016, parcelado. Mas nem responderam.

Já teve vontade de trabalhar no mercado do exterior ou com jogadores gringos?

Nunca pensei. Tem que ter um limite, se não você perde qualidade no serviço.

Qual jogador você gostaria de ter empresariado?

Seria sensacional se eu tivesse trabalhado com o Romário. Ele foi um fenômeno, muito diferenciado, autêntico. Mesmo sabendo que era um cara difícil, pelo temperamento, eu gostaria.

É verdade que você tem camarote no Maracanã?

No Maracanã e no Engenhão.

Chegou a jogar futebol?

Eu gostava de bola. Ainda gosto, tanto que bato minha pelada toda semana. Mas não daria para ser jogador profissional. Eu sou metido a atacante, jogo de teimoso.

E sua família gosta de futebol?

Sou casado com a Patrícia há 17 anos e ela, inclusive, trabalha na parte financeira da minha empresa. Temos três filhos: a Carolina, de 16, a Stephanie, de 10, e o Bruno Luca, de 3. Eles gostam, mas não são fanáticos.

Para fechar: o que achou da decisão da Fifa de proibir que empresários tenham parte dos direitos econômicos dos jogadores?

Acho que deveria acontecer alguma regulamentação, porque o clube não pode ter só 5% do jogador. Eu nunca fiz algo do tipo, porque o clube não tem interesse em vender o atleta. Mas a decisão foi muito radical e prejudica demais os clubes, que não podem utilizar seus jogadores para rentabilizar.

Vários empresários estão adquirindo clubes.

Eu tenho que seguir a regra. Não penso em ser dono de um clube por causa disso, até porque teremos eleição na Fifa em breve e vários clubes na Europa têm feito pressão para voltar ao regulamento de antes. Essa mudança só beneficiou os gigantes europeus. Porto, Atlético de Madrid e outros contavam com os investidores e empresários para montar grandes times.

Existe a chance de algum jogador seu ser vendido até 31 de agosto, quando fecha a janela?

Existem algumas coisas em andamento, mas não posso dizer antes de se concretizar.

ALGUNS DOS ATLETAS AGENCIADOS POR CARLOS LEITE:

- Cássio (Corinthians)
- Souza (Fenerbahce-TUR)
- Renato Augusto (Corinthians)
- Kelvin (Palmeiras)
- Everton (Flamengo)
- Talisca (Benfica)
- Fagner (Corinthians)
- Gil (Corinthians)
- Wallace (Flamengo)
- Bruno Paulista (Sporting-POR)
- Romarinho (El Jaish-CAT)
- Romulo (Spartak Moscou-RUS)
- Anderson Martins (Al-Gharafa-CAT)
- Ramon (Besiktas-TUR)
- Felipe Bastos (Al Ain-EAU)
- Titi (Kasimpasa-TUR)
- Gabriel (Flamengo)
- Paulinho (Flamengo)
- Marcelo Mattos (Vitória)



Fonte: Blog do Jorge Nicola - Yahoo