Capitão do Pan, Luan supera perda do filho e sonha com Olimpíadas de 2016

Quinta-feira, 23/07/2015 - 11:49
comentário(s)

Quando Luan converteu um pênalti contra o Fluminense pelo Campeonato Carioca, em fevereiro, explodiu de alegria. Tudo estava dando certo para o zagueiro. Ele se firmara como titular após perder a posição e amargar a reserva no fim do ano passado. Naquele momento, se sentia no topo do mundo. Mas não demorou muito para a felicidade ser substituída por uma profunda tristeza. Quando chegou em casa após o clássico, recebeu da esposa Clarisse uma terrível notícia: ela perdera o bebê que seria seu primeiro filho.

Era o mesmo a quem o vascaíno havia dedicado a comemoração de seu gol, colocando a bola sob a camisa do Vasco e chupando o dedo. Um duro golpe. Cinco meses depois, Luan está se reconstruindo. A memória da tragédia familiar segue viva, mas ele se supera a cada dia com a dedicação ao futebol. No Pan de Toronto, é o capitão da seleção brasileira, que está na semifinal contra o Uruguai. O duelo será nesta quinta-feira, às 18h35 (de Brasília). O GloboEsporte.com acompanha tudo em Tempo Real.

- Imagine a cabeça de um cara que fez um gol num clássico e chega em casa com a notícia de que sua esposa perdeu o filho? É uma derrota bem diferente de uma derrota dentro de campo. Um filho é tudo na vida de uma pessoa. Nem tinha visto meu filho ainda, tinha dois meses na barriga, e eu já amava como nunca amei ninguém na vida. Foi difícil. Estávamos empolgados, dois jovens apaixonados, podendo ter um filho. Mas o segredo é você trabalhar, se apegar às pessoas que gostam de você, fazer as coisas que você ama que essas coisas são superadas. Deus sabe de todas as coisas. Em breve, vamos conseguir – comentou o defensor de 22 anos.

E Luan trabalhou mesmo. Tentou não perder o foco no futebol, tanto é que, no fim de semana seguinte, fez um dos gols da vitória por 2 a 0 sobre o Bangu no Carioca. O apoio dos vascaínos e colegas de equipe foi essencial. O zagueiro colocou na cabeça que se doar ainda mais ajudaria a passar pelo obstáculo na vida pessoal.

- Na época, a torcida do Vasco foi muito importante, muito fiel a mim. Meus companheiros me ajudaram. No outro jogo, consegui fazer outro gol. A confiança dentro de campo fez com que eu superasse, estava vivendo um momento muito bom, e tudo isso foi superado. Hoje estou tranquilo, meus pais ficaram tristes, mas já estão bem. De 10 mulheres, isso acontece com pelo menos cinco, mas ninguém anda escrito na testa que perdeu o neném. Como sou uma pessoa pública, veio à tona - disse Luan, que já disputou 93 jogos pelo time profissional do Vasco.

Aproveitando a boa fase nos gramados pelo Vasco, voltou a ser convocado para amistosos da seleção olímpica. Apesar de ser zagueiro, estava marcando seus gols (já tem cinco no ano: quatro pelo Vasco e um no Pan). Mas quis o destino que, novamente, Luan tropeçasse em uma pedra em seu caminho. Essa, muito menor, claro. Uma lesão na coxa esquerda o cortou não só do time do Brasil como do clássico na semifinal do Carioca contra o Flamengo. Bressan, do arquirrival, hoje companheiro na seleção que está no Canadá, foi convocado para seu lugar.

A superação, mais uma vez, veio com trabalho. O garoto esteve em campo na decisão estadual contra o Botafogo e conquistou seu primeiro título como profissional. Um prêmio para Luan que, de 2006 a 2012, jogou na base vascaína, morou em um alojamento em São Januário e, há três anos, se profissionalizou. Depois, era só ladeira acima. No dia 12 de junho, foi convocado pelo técnico Micale. Pouco menos de um mês depois, recebeu a braçadeira de capitão.

Uma chance de ouro em busca de um dos seus maiores sonhos: as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, um título que seria inédito para a seleção brasileira, que tem três pratas e dois bronzes na história da competição. No caso dos Jogos Pan-Americanos, a chance de fazer história está mais próxima. Atrás da Argentina, que tem 11 medalhas pan-americanas (seis ouros, duas pratas e três bronzes), e do México, com nove (quatro ouros, três pratas e dois bronzes), o Brasil possui sete pódios.

Ao todo, são quatro ouros, duas pratas e um bronze. Mas a última vez que a seleção foi ao topo do pódio foi em 1987, em Indianápolis - quando Luan nem era nascido. Na época, a equipe tinha como destaques o goleiro Taffarel e o zagueiro Ricardo Rocha. O meia Raí não chegou a entrar em campo por conta de uma lesão. Mais tarde, os três viriam a ser tetracampeões mundiais na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos.

- Seria marcante. Entraria para a história do futebol brasileiro sendo um medalhista de ouro no Pan. Mudaria tudo. Voltaria com mais moral para meu clube, ganharia confiança dentro da seleção que, ano que vem, está montando um time para as Olimpíadas. Quero fazer grandes jogos e crescer como atleta e pessoa. Tenho a oportunidade de jogar o Pan, um campeonato que todo mundo vê, então fico muito feliz e honrado. Se Deus quiser vou conseguir o ouro.

E Luan já sabe para quem vai dedicar a medalha caso ela chegue.

- A Clarisse (esposa) merece, ela estava aqui no Canadá, foi embora no domingo. Ela é bem tranquila, tem a cabeça boa, como eu, e a gente sabe que as coisas acontecem na vontade de Deus. Se ganhar essa medalha, vou dedicar à ela e à minha família - concluiu.

A última partida do Brasil no Pan foi o empate em 3 a 3 contra o Panamá, na segunda-feira. O resultado confirmou a liderança do Grupo A, e os panamenhos terminaram com a segunda vaga. Canadá, à qual a seleção venceu por 4 a 1, e Peru, que perdeu do time verde e amarelo por 4 a 0, foram eliminados.

As semis serão na quinta-feira, a partir de 18h35 (de Brasília). Primeiro, o Brasil duela com o Uruguai, e em seguida, às 21h35, México e Panamá tentam a outra vaga na final.



Fonte: GloboEsporte.com