Dinamite fala sobre a Copa do Mundo: 'Conheci o Barbosa, e ele carregava um fardo muito grande'

Sexta-feira, 06/06/2014 - 12:39
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Eles moram na Barra da Tijuca há décadas e têm seus nomes ligados à história das Copas do Mundo. Agora, estes cinco homens terão a oportunidade de ver pela primeira vez um Mundial se iniciar no país. Em um mergulho no passado, O GLOBO-Barra conversou com estes ícones do futebol nacional para saber o que pensam da seleção atual, como veem os protestos contra a realização do campeonato no Brasil e como encaram o legado do evento para a região onde vivem. Em um ponto, todos concordam: o Brasil está entre os favoritos.

— Não faço comparação entre as seleções do passado e as atuais, mas vejo que hoje há muitos mais jogos de intercâmbio, o que é muito bom — observa Zico, estrela do Flamengo que competiu nos mundiais de 1978, 1982 e 1986. — Na nossa época, praticamente só se jogava no Brasil, sem torneios na Europa.

Imortalizado ao erguer a taça na Copa de 1970, Carlos Alberto Torres, capitão do time tricampeão, concorda que muito melhorou para os atletas nas últimas décadas:

— O jogador brasileiro tem como constante o gosto pela improvisação, a criatividade. Mas mudou muito o aspecto profissional. Mesmo no Brasil, que tem um profissionalismo capenga, houve melhora.

Com os olhos cheios de nostalgia, Júnior, colega de Zico no Flamengo e na seleção em 1982 e 1986, lembra que a vida dos atletas no passado era mais simples.

— Os jogadores acompanharam a globalização. Hoje os valores financeiros são não sei quantas vezes maiores, o que os deixa muito mais protegidos. E havia uma relação bem mais cordial e espontânea com a imprensa. Agora, há uma série de restrições, por conta dos valores envolvidos. Mas será que não estaríamos iguais a eles se fôssemos nós os profissionais de hoje?

Para Júnior, a geração de 1982 tinha uma quantidade sem igual de jogadores “fora de série”, como Zico, Maradona, Michel Platini, da França, e Karl-Heinz Rummenigge, da Alemanha. Ele diz que as seleções atuais têm mais jogadores de nível excelente, mas, paradoxalmente, poucos de “grande quilate”.

De falhas na organização aos protestos

O entusiasmo de voltar a ver uma Copa no Brasil após 64 anos foi em parte ofuscado pela sucessão de protestos contra sua realização. Bebeto é membro do Comitê Organizador Local (COL), e reconhece as falhas no planejamento para receber a competição.

— A escolha do país-sede foi feita há sete anos, e o Brasil sabia que requisitos tinha de seguir para receber a Copa. O atraso de alguns estádios, por exemplo, é inaceitável. Existia uma planilha. E os aeroportos? Não vão ficar prontos, como combinado. Qual será a nossa imagem perante o mundo? Estão metendo o pau — diz o ex-jogador, que fez história na seleção campeã de 1994, quando festejava seus gols simulando embalar um bebê, para homenagear Mattheus, o filho recém-nascido.

Zico é mais enfático.

— A África do Sul teve problemas também, mas soube aproveitar a chance e usou a Copa para alavancar o turismo. Estamos desperdiçando uma grande oportunidade.

Morador da Barra há 25 anos, Roberto Dinamite, membro da seleção nas Copas de 1978 e 1982 e atual presidente do Vasco, está animado, mas reconhece que o clima no bairro não é de euforia.

— Acho que, quando é lá fora, há uma mobilização maior. Mas o morador da Barra não é muito de ir para a rua mesmo — contemporiza.

Dinamite ressalta que em outros países também houve protestos, e que um novo título poderia resgatar a autoestima do futebol brasileiro.

— Temos o trauma da Copa de 1950. Conheci o Barbosa (goleiro acusado de falhar na final contra o Uruguai), e ele carregava um fardo muito grande. Acho que uma grande vitória pode apagar isso e fazer com que haja mais reverência pelos craques daquela época e os do presente.

Carlos Alberto Torres, o único dos ícones entrevistados pelo GLOBO-Barra que já havia nascido na ocasião da derrota do Brasil para o Uruguai, não se lembra da comoção que assolou o país:

— Tinha 5 anos e não lembro de nada. Na época, eu morava na Vila da Penha, que, num tempo em que mal se tinha televisão, era um local muito distante (do centro dos acontecimentos).

Para ele, este passado é pouco valorizado pelos jogadores. O resgate da história das Copas é uma expectativa dos cinco ídolos. Prevista para sábado, a inauguração do Museu da Seleção Brasileira, na nova sede da CBF, na Barra, poderá contribuir para reavivar a memória futebolística da nação.

Legado para Barra chega em 2016

Os sacrifícios vividos por moradores da Barra durante os últimos anos de obras intensas deverão começar a ser compensados a partir de 2016, acreditam os ex-jogadores.

— Estamos esperando ainda muita coisa acontecer, principalmente na mobilidade urbana. Espero que o que não ficar pronto para a Copa, pelo menos esteja encaminhado — diz Júnior.

Zico faz coro com os sentimentos do ex-colega de Flamengo. Ele avalia que poucas obras ficarão prontas para a Copa, mas espera que o legado chegue com os Jogos Olímpicos:

— A Barra vai passar a ser parte da cidade graças à boa infraestrutura herdada dos jogos. Teremos metrô e um parque olímpico espetacular.

Dinamite, por sua vez, acredita que o tão discutido legado chegará para o Brasil e para a Barra como chegou para todos os locais que realizaram o Mundial. Para ele, a Copa e as Olimpíadas permitiram que se acelerasse o ritmo de transformações:

— Estes eventos proporcionam uma entrada de investimentos muito grande em um espaço de tempo curto.

Morador da Barra há 16 anos, Carlos Alberto Torres releva os inconvenientes vividos nos últimos anos:

— As obras atrapalharam o trânsito, mas trarão coisas boas. Temos de aplaudi-las.






Fonte: O Globo Online/Barra