Eurico Miranda explica como funciona o calote dos clubes e por que as dívidas aumentam

Quinta-feira, 17/10/2013 - 06:32
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Estranhamente o Ministério do Esporte não compareceu à audiência pública na Comissão de Turismo e Desporto, na Câmara dos Deputados, ontem, quando parlamentares, autoridades do governo e cartolas debateram propostas para o pagamento da dívida fiscal dos clubes.

Nos últimos meses, o Ministério do Esporte liderou as reuniões com deputados, através de seu secretário de Futebol, Toninho Nascimento. Ele elaborou, inclusive, uma proposta de Medida Provisória para anistiar os devedores. A MP estava em análise na área econômica do governo mas houve recuos.

A ausência do Ministério do Esporte coincide com dois fatos que podem ter influenciado no recuo.

Um deles é a recente manifestação de rua, em que foi pedido que o governo tratasse as questões públicas com o mesmo interesse da preparação da Copa do Mundo. O “padrão Fifa de qualidade” para os estádios, por exemplo, deve se estender para a saúde, a educação e segurança, principalmente.

Além disso, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), foi anunciado como candidato ao governo do Estado de São Paulo, na eleição do ano que vem.

Para um candidato que dependerá do voto popular e terá que dar explicações durante a campanha sobre seus atos ministeriais não é oportuno, agora, defender caloteiros da dívida dos clubes de futebol aos cofres públicos.

Estrategicamente o melhor é sair de fininho desse debate, mas ficou estranho, justamente quando os clubes, entre eles o Flamengo, afirmam que podem e devem pagar a dívida, precisando apenas de mais prazo.

Dívida nova

Extraoficialmente, a dívida dos clubes de futebol para com a Receita Federal e INSS é de R$ 3,5 bilhões. Ainda falta se conhecer o calote ao FGTS.

Na audiência pública na Câmara dos Deputados, o diretor da Dívida Ativa da União, Paulo Ricardo de Souza Cardoso afirmou que os clubes não honraram os refinanciamentos que fizeram e, pior, “há dívida nova que provocou um volume crescente no saldo devedor”. Paulo Ricardo garantiu que nos R$ 3,5 bilhões não está incluída a dívida do FGTS, pois não é um recolhimento fiscal. Quem sabe sobre isso é a Caixa, arrecadadora do Fundo, que não se manifesta.

Estranha novidade

Até então defensor do pagamento da dívida dos clubes, estranhamente o deputado Deley (PTB/RJ), manifestou-se favorável ao calote, engrossando a Bancada da Bola, grupo de parlamentares que defendemos interesses do futebol.

“Há um preconceito contra o futebol e muito disso vêm de jornalistas que vivem do próprio futebol”, afirmou Deley. “Não temos que ter medo de enfrentar a situação. Estamos num momento pra lá de crítico e devemos ter coragem de ir para o enfrentamento”.

O “enfrentamento” defendido por Deley é conquistar junto ao governo federal o perdão do calote de mais de R$ 3,5 bilhões a exemplo de benefícios do gênero já concedidos a agricultores, às Santas Casas, ao ensino universitário e bancos. “Por que quando se fala do futebol a pancada é contra?” indagou o deputado.

Explicação

A mudança de lado de Deley tem uma explicação: ele é candidato à presidência do Fluminense, clube pelo qual se consagrou. Se eleito, cairá no seu colo uma dívida enorme para administrar. Agora, deputado federal, ele pode usar sua influência para “limpar a barra” e assumir, se vencer, um clube livre de pendências fiscais. Esperto o deputado, muito esperto.

A dívida dos clubes é antiga, coisa de duas décadas. E se formou porque, como disse o ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda, houve problema de “má gestão”. Querem confissão mais expressiva para o calote?

O deputado Romário criticou a proposta da CBF para renegociar a dívida, que inclui rebaixamento de clube devedor ao fisco. No seu melhor estilo de indignação, disse Romário:

“Esta proposta não vai ocorrer, porque a CBF não vai rebaixar o Flamengo e o Corinthians se eles não pagarem as contas. Isso é uma bobagem. A verdade é que a dívida dos clubes continua, a reunião terminou e não se sabe o que fazer com isso.”

Calote revelado

Eurico Miranda explicou como o calote ocorreu e a dívida cresceu:

“Os clubes não recolheram (aos cofres públicos) os valores retidos dos jogadores e funcionários. É sempre assim. Depois se faz parcelamento mas não se paga mais”.

No bom português, quando retiveram valores de jogadores e funcionários e não recolheram ao fisco, como disse Eurico Miranda, é porque alguém ficou com a grana. E agora querem perdão. E isso é culpa da imprensa esportiva, no entender de Deley…

Fonte: Blog do José Cruz - UOL