Autuori, sobre saída do Vasco: 'Apenas cumpri o que foi combinado'

Quinta-feira, 29/08/2013 - 11:21

O ano não tem sido fácil para Paulo Autuori. Depois das críticas por ter deixado o Vasco, ele luta para tirar o São Paulo da zona de rebaixamento. Mas, com uma sinceridade cada vez mais rara no futebol, encerra a polêmica sobre a troca de clube, defende Ganso das críticas e reafirma que o futebol brasileiro precisa mudar.

Você foi muito criticado por ter saído do Vasco e acertado logo com o São Paulo. Esses comentários te magoaram?

Não me incomodaram, não. Quando cheguei, disse que era vascaíno e continuo sendo, mais do que muitos que me criticaram.

Os dirigentes do Vasco falaram que você poderia ter esperado um pouco mais.

Há quanto tempo eu saí do Vasco? Mudou alguma coisa desde então? A resposta é não. Os prazos que deram, as promessas que fizeram até hoje não foram cumpridos. Eu não ia empurrar com a barriga como sempre fazem. E sabe por quê? Eu não faço média com dirigente, imprensa ou torcedor. Eu trabalho pela saúde do vestiário, pelo compromisso que tenho com jogadores e funcionários. A verdade está ali dentro. Apenas cumpri o que foi combinado.

Você acha que deixou algo de positivo em São Januário?

No futebol, gostam muito de jogar flores, mas na verdade não fazem o que falam. Eu gosto de poder encarar de frente um jogador ou um funcionário com quem trabalhei, para quando encontrá-los depois ele me olharem e dizerem: ‘Esse cara cumpriu o que prometeu. Ele é sério, tem palavra’. Cumpri com a palavra que dei a essas pessoas com quem trabalhei. Fui verdadeiro. E eles são testemunhas disso.

A primeira vitória do São Paulo depois de tanto tempo trás um alívio para a sequência do trabalho?

A vitória não representa nada até ganharmos mais jogos. Nos dois ou três últimos jogos, poderíamos ter vencido e não conseguimos. O futebol premia sempre o mais eficiente e não temos sido assim. Mas a poder de reação dos jogadores tem sido bom e isso aumenta a confiança.

O elenco do São Paulo não é bem melhor do que a campanha do time no Brasileiro?

As pessoas acham que só juntar bons nomes resolve tudo. A história mostra que não é assim, nunca foi. Esquecem do trabalho, do ambiente. E falo isso de forma geral, não é que seja o caso específico do São Paulo. O time é bom no papel? Claro que é. Mas apenas isso não adianta nada. No final, se os resultados forem bom, acham que tudo foi feito de forma correta.

Não assusta ter que assumiu um time que briga para não ser rebaixado?

Eu não vim para ser o salvador. No Brasil, qualquer treinador está sujeito a passar por essa situação. O técnico brasileiro que assume um time no meio da temporada não treina o time, só joga. Se os resultados são ruins e o time melhora, aí o cara é considerado o melhor do mundo proque mudou o time. E na verdade ele não teve tempo de fazer nada. Se os resultados não melhoram, ele vira culpado sem ter culpa de nada também.

O Ney Franco fez duras críticas ao Rogério Ceni quando deixou o São Paulo. Como você analisa essa situação?

Eu já trabalhei com o Rogério na minha outra passagem aqui. Sinceramente, acho que cada um reage de uma forma a determinados tipos de situação que acontecem. Não estava aqui, não sei o houve de verdade, não me cabe julgar ninguém.

Não é estranho que um clube como o São Paulo passe por um momento tão ruim?

Quando um clube ganha muitos títulos durantes muitos anos, quem comanda esquece o futuro e só pensa no presente. E, na verdade, deveria haver uma transição gradativa. É quando está vencendo que se deve pensar em mudanças, antever os problemas, justamente para evitar uma queda muito brusca. Como não pensam assim, a transição passa a ser radical e aí é mais difícil reencontrar o rumo.

Por que o Ganso ainda não confirmou o que se esperava dele quando surgiu?

A qualidade do Ganso é inegável, é cerebral, mas acabou sendo vítima dessa necessidade do futebol brasileiro de se criar um ídolo. É uma urgência desnecessária. É a diferença entre o sucesso e o prestígio. Quantos compositores existem por aí que fazem sucesso só com uma música e somem. Prestígio é ter uma carreira consolidada. O Ganso vem de uma cirurgia, está recuperando a condição física e tem um longo caminho a percorrer. Os que desabrocham rápido e se mantêm no topo são exceções.

Enfrentar o Botafogo ainda mexe com você?

O Botafogo está no coração, porque foi o clube que me deu a primeira grande chance no Brasil, quando ninguém me conhecia. Mas já enfrentei o Botafogo muitas vezes e não será um jogo diferente dos demais. O Oswaldo faz um ótimo trabalho lá, o time faz um excelente campeonato. Não vai ser fácil.

Fonte: Extra Online