Diretor do COL garante São Januário como campo de treinos na Copa do Mundo: 'O Vasco foi muito bacana com a gente'

Domingo, 30/06/2013 - 16:25

O homem que comanda a operação brasileira na Copa das Confederações é graduado em Administração e Educação Física e tem pós em Ciência da Computação. Desde 1987, trabalha na retaguarda dos esportes coletivos. Começou no vôlei, passou pelo futsal e fez vitoriosa a candidatura do Rio a sede das Olimpíadas de 2016. Diretor-executivo do Comitê Organizador Local da Copa-2014, o mineiro Ricardo Trade, de 55 anos, analisa erros e acertos do evento-teste e aposta no sucesso.

Como tem sido comandar um grupo de quase sete mil pessoas e que passará de 15 mil na Copa do Mundo-2014?

O ponto fundamental é querer oferecer o melhor serviço. Sempre falo para a minha equipe: tratem as pessoas como vocês gostariam de ser tratados. Sorriso e cordialidade são fundamentais. O foco dessa operação é tratar bem todo mundo. Desde do desembarque do torcedor no aeroporto até deixar o estádio. Ajustamos com as cidade o plano de transportes de 11 capítulos, baseado em “não aos veículos particulares, um mínimo possível de veículos se aproximando do estádio, uso maciço do transporte público e incomodar o menos possível o cidadão local”.

Mudou a operação da primeira para o segunda rodadas. Por quê?

A gente reforçou a equipe de voluntários do lado de fora. Há integração grande com as secretarias de transporte e de segurança. A área de serviços de espectadores quer que o voluntário não erre na informação da cadeira certa, do corredor certo. Aumentamos o cuidado com os banheiros, para que estejam limpos, com papel higiênico, sabão líquido, tudo higienizado.

Mas houve muita reclamação sobre os bares, com filas e até falta de comida, além do preço caro...

A Fifa contrata as concessões, mas nós temos um papel importante ali, através do Serviço ao Espectador, que é o de orientar, encaminhar à fila que estiver mais vazia. Nós conversamos muito com a Aramark, que é a concessionária da Fifa para alimentação, para ajustar isso, chegarem mais cedo, se prepararem, não deixarem faltar comida, como aconteceu em alguns jogos. A cerveja e o refrigerante têm que estar gelados, para que o torcedor sinta um prazer total de estar ali.

O secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke se queixou do serviço de alimentação ao GLOBO...

O serviço para o público tende a melhorar e não foi o mais adequado. A gente reconhece que a entrega tardia dos estádios prejudicou a concessão, que não pôde chegar antes para testar as coisas. Isso ajuda a ser problema. Mas há um outro lado de alimentação que funciona muito bem, que é o back office, para os voluntários e agentes de segurança do COL. Há um restaurante para voluntários e outro para terceirizados. Isso é fundamental para deixar as pessoas motivadas para trabalhar.

E os ingressos?

É outra atribuição da Fifa. A gente está conversando com o Thierry Weil (diretor de marketing da Fifa) para poder montar os centros de ingressos mais cedo para a Copa do Mundo. O espaço é cedido pelas cidades, mas a montagem é feita pelo serviços de ingressos. O COL dá a segurança privada e os voluntários.

O que deveria mudar nos centros de ingressos para 2014?

Acho que deveriam existir mais locais. Pelo menos no Rio de Janeiro e em São Paulo. É uma decisão da Fifa, mas já disse a ele (Thierry Weil) que seria bom ter mais nessas duas, que são cidades muito grandes. Buscar um ingresso na Barra é um tormento para o torcedor que mora na Zona Sul e em outros locais.

Por que não se pôde retirar o ingresso no estádio?

É questão de segurança, para evitar tumultos na área do estádio. É preciso incentivar a cultura da antecedência e evitar aglomeração desnecessária no dia do jogo.

Jornalistas reclamaram de poucos voluntários falarem inglês...

A gente vai trabalhar nisso. É claro que na África do Sul (2009 e 2010) foi mais fácil porque todos falam inglês. Mas podemos treinar e criar um elemento estimulador. Os voluntários fizeram bonito, mas podemos fazer muito mais no inglês. Por outro lado, houve muitos elogios ao atendimento dos voluntários e dos seguranças. Repito: sorriso e cordialidade são fundamentais.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, criticou o transporte em entrevista ao GLOBO...

Um dos maiores sucessos que tivemos foi a operação de transporte para os nosso clientes. E a operação de transporte para as cidades é um plano das cidades conosco. No Rio, está funcionando bem, com metrô e trem chegando à porta do Maracanã.

É possível melhorar a operação nos estádios para a Copa do Mundo-2014?

Muito mais. Com os estádios prontos em dezembro de 2013 e no fim de março de 2014 com todas as estruturas temporárias instaladas, não correremos riscos, como no amistoso Brasil x Inglaterra, em que o raio-x foi montado no dia do evento. Entregando antes, tudo será testado antes, podemos contratar os stewards antes. Poderemos afinar a operação, o que é essencial.

E para a finalíssima de hoje: o que muda no Maracanã?

Limpeza maior nos banheiros, treinamento maior dos voluntários para não haver erros, reforço no número de stewards, que passou de 1.050 nos dois primeiros jogos para 1.300.

E os protestos? As seleções reclamaram que tiveram de andar mais para os treinos por questão de segurança. Foi difícil administrar?

Essa área de serviços às seleções teve muitos elogios. É claro que, quando algum problema é identificado, que ofereça risco para acessar o estádio, a segurança assume e torna a rota diferente. A única reclamação que tomei conhecimento foi em Recife, por causa da distância, e o trânsito, agravados pela chuva intensa.

E os campos de treinamento?

Há algo a melhorar, é claro. Já doamos equipamentos até para melhorar a grama. Não deu para pôr a grama no melhor dos mundos, mas, em Recife, o acesso aos dois campos de treinamento e a chuva dificultaram. Houve elogios ao Engenhão, ao Sesc Venda Nova, ao Pituaçu e aos Bombeiros de Brasília. São Januário vai permanecer. O Vasco foi muito bacana com a gente. E vai melhorar ainda mais. Sobre os centros de treinamentos, esperamos ficar com o mínimo de 90 campos para as 32 seleções escolherem. Já chegamos a 70 e queremos cumprir nosso objetivo.

Na África do Sul-2010, 19 das 32 seleções escolheram ficar na região de Johannesburgo. O senhor acha que as seleções vão se concentrar mais em que locais?

Pela experiência que a Fifa nos passa, depende de técnico para técnico. Não são nem os dirigentes. Pelo número de bons locais no estado de São Paulo, é um grande candidato a receber. Nosso interesse é que se espalhem pelo Brasil. O Espírito Santo tem três centros, Goiás, também. São estados sem jogos da Copa, mas que se candidataram a receber seleções, com bons locais, não distantes de onde há partidas. Todos os campos de treinos ficam, no máximo, a 100km de algum aeroporto que comporte avião com 120 lugares.

A Fifa está preocupada em levar a boa imagem de dentro dos estádios, de uma competição de sucesso de público e técnico, para fora dos estádios, onde foi arranhada pelos manifestos violentos. Qual seria a sua sugestão?

O grande sucesso nosso se deve ao excelente relacionamento que temos com a Fifa. Eles estão no meu prédio (no Riocentro), e não preciso ir a Zurique constantemente para pedir alguma coisa. Ajuda muito a boa relação com o governo federal, com o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luís Fernandes, próximo de nós, para os planos de transporte, de segurança, vistos de trabalhadores, uso de espaços nos aeroportos, e fundamentalmente a relação com os estados e cidades. Tudo começou com o Fábio Starling, que faleceu, e que era o gerente geral de relacionamento com as sedes. Ele construiu a relação.

O que mais o emocionou?

Foi o show das torcidas. As pessoas cantando o Hino Nacional, incentivando o Taiti. A torcida sempre dará show no jogo do Brasil, mas deu também em todos os jogos de estrangeiros. Isso contagiou. Eu, como cidadão, digo que a Copa do Mundo é boa para nós. Há números provando. Vamos fazer uma Copa inesquecível. Se não for para mudar as coisas, não vou. Temos que acreditar que somos capazes. Nós, brasileiros, somos bons. As pessoas dizem que a Fifa vem aqui impor, e não é verdade. Eles nos ouvem, dividem com a gente.

Do que o senhor não abre mão?

Da equipe. Venho do esporte coletivo. Lá, você põe a equipe para tocar e deixa jogar. Encosto a cabeça e durmo bem. É importante delegar, dar moral a eles. É um dos caminhos para fazer uma grande Copa.



Fonte: O Globo online