Advogada Luciana Lopes foi uma espécie de 'anjo da guarda' de Carlos Alberto durante processo por doping

Quinta-feira, 23/05/2013 - 12:22

Luciana Lopes milita no direito desportivo há 13 anos. Mas não dispensou sua apresentação antes de iniciar a defesa de Carlos Alberto. Aos auditores da Sétima Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro, reforçou ser, sim, filha de Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj). No entanto, a advogada conta que o fez exatamente para mostrar que não estava ali como tal. Para Carlos Alberto, por exemplo, ela foi a grande responsável por ele sair da audiência absolvido da acusação de doping. Aliás, foi Luciana, e não o jogador cruz-maltino, quem atraiu a maior parte dos olhares durante as mais de cinco horas na tarde/noite da última quarta-feira.

Presa num engarrafamento, Luciana Lopes chegou atrasada e obrigou o adiamento do início do julgamento. Entrou na sala acompanhada do pai e do filho Arthur. Foi enfática no discurso e emotiva ao extremo quando ouviu a sentença de absolvição. Deixou a sessão com lágrimas nos olhos e uma sensação de triunfo coletivo e pessoal. Ganhou de Carlos Alberto todo o crédito pela vitória em primeira instância.

- Agradeço a Deus por ter colocado a Luciana no meu caminho. Ela me passou segurança e me fez não perder a esperança de provar minha inocência. Quando a conheci, eu estava cabisbaixo e triste. Parecia que já estava punido, porque minha energia estava muito baixa. Ela ficou do meu lado o tempo inteiro. Pela educação que recebi da minha família, aprendi que não se deve esquecer de quem é legal com você. Então, ela vai ser uma pessoa de quem jamais vou esquecer e a quem vou ser grato para o resto da minha vida - disse.

Sentado ao lado de Luciana, Rubens Lopes pouco falou. No entanto, o presidente da Ferj, que é médico, deu uma de pai ao chamar rapidamente a atenção da filha, logo depois de o auditor Cláudio Neves questionar a uma das testemunhas de defesa se seria possível o atleta saber se um medicamento estava contaminado previamente à sua ingestão. Luciana respondeu ao pai dizendo que aquela pergunta seria feita por ela, mas precisou adiá-la devido à necessidade, pedida pelo tribunal, de abreviar o procedimento.

Essa, segundo ela demonstrou, foi o máximo de intervenção de seu pai neste e em todos os outros julgamentos dos quais participou. Luciana afirmou que a decisão de se apresentar aos auditores citando o parentesco com Rubens Lopes teve como objetivo exatamente se desvincular dele.

- Eu tive que falar porque houve muitas especulações. Disseram que era um absurdo. Acho que um absurdo é a filha do presidente de qualquer entidade não poder trabalhar. Estou na Justiça Desportiva há 13 anos e meu pai é presidente da federação há quatro. É algo que me incomoda, mas em momento algum abala minha defesa e minha ideia de que tudo vai dar certo. Procuro sempre fazer o melhor possível.

Depois de se apresentar, Luciana Lopes iniciou sua defesa lançando mão de um telão com uma apresentação em Power Point. Estavam previstos 186 slides, mas ela não chegou a exibir o décimo. Indo pelo caminho da “sociedade do medo”, apresentou imagens com frases do tipo: “Poncio Pilatos não absolveu Jesus por medo da reação da turba justiceira”. Pouco depois, viu questionado seu método, avaliado como muito longo. Chegou a sugerir, então, que o julgamento fosse suspenso. Mas, após recesso pedido pelos auditores, admitiu ficar restrita à defesa falada, mas que duraria o dobro dos 15 minutos regulamentares.

O discurso durou quase metade de uma partida de futebol. Pouco depois de ouvir do procurador que estava “fazendo um show”, exigiu um pedido de desculpas e partiu para sua explanação. A base foi uma analogia com a Inquisição, que na Idade Média procurava e eliminava as pessoas que questionavam a Igreja. Após 40 minutos, ouviu abraçada a Carlos Alberto os votos dos auditores. O resultado, uma goleada por 4 a 1, foi, segundo ela, apenas o desfecho positivo de um trabalho que foi além da questão jurídica.

- Não poderia deixar que um inocente caísse num abismo de depressão e tristeza. Tentei o tempo inteiro estar perto do Carlos Alberto o motivando. Mesmo nos momentos em que tive dúvida, precisava deixá-lo de cabeça em pé. Então, agradeço ao Carlos pela oportunidade que me deu. Sem conhecer meu trabalho, mostrou confiança desde o começo - destacou.

A luta da dupla, entretanto, começou antes de entrar no tapetão. Durante o mês que antecedeu o julgamento, Carlos Alberto confessou a pessoas próximas ter sentido um certo distanciamento da diretoria do Vasco, clube com o qual tem contrato até 2 de agosto. Luciana Lopes também chegou a ter divergências com integrantes do departamento jurídico do clube - ela não é funcionária, mas contratada para alguns julgamentos. Jogador e advogada se uniram pela causa e prometem permanecer assim para os recursos que virão pela frente.

- O Carlos Alberto pode comemorar esse título, mas sabe que o campeonato não acabou - resumiu a advogada, sobre a frase do meia-atacante, que comparou as sensações.

Carlos Alberto foi pego no exame antidoping com as substâncias proibidas Hidroclorotiazida, um diurético que combate a hipertensão arterial, e Carboxi-Tamoxifeno, encontrada em medicamentos contra câncer de mama. A promotoria ainda pode recorrer da decisão de absolvição e o jogador pode passar por novo julgamento. Há ainda ao menos três esferas para recurso: ao Pleno do TJD-RJ, ao STJD e à Corte Arbitral do Esporte (CAS).

Luciana Lopes e Carlos Alberto


Fonte: GloboEsporte.com