Humorista Fábio Porchat lembra decisão da Mercosul como jogo inesquecível

Quinta-feira, 24/01/2013 - 15:14

A TV de tubo na sala do apartamento de Fábio Porchat, em São Paulo, estava ligada no futebol naquela noite de quarta-feira, 20 de dezembro. Afinal, o Vasco, time de coração do então jovem de 17 anos, jogava a final da Copa Mercosul de 2000. O adversário era o Palmeiras, e os três gols do Alviverde na primeira etapa tiraram Fábio do sério. Apaixonado por futebol, deixou-se levar pela emoção, e a ira recaiu sobre dona Isabella Robinson, sua mãe, que costurava enquanto assistia à partida ao lado do filho:

- Você é pé-frio! Você não tinha que estar aqui! Vai dormir! Que inferno! - esbravejou o jovem.

- Vai dar tudo certo, meu filho. O Vasco vai ganhar - disse dona Isabella, com a calma e o carinho de uma mãe zelosa, indiferente à probabilidade de uma virada do time carioca no segundo tempo.

- Não existe isso! Não dá tempo! - retrucou Fábio, antes de bater a porta do quarto e se refugiar, ainda ofegante de raiva pelo resultado adverso.

No quarto, porém, não esqueceu o jogo. Ainda que desacreditado, continuou a assistir ao segundo tempo do confronto. Aos 15 minutos, Romário diminuiu, em cobrança de pênalti. "Para quê? Não vai fazer diferença nenhuma!", gritava o rapaz com a TV. Após o segundo gol, novamente do Baixinho, dona Isabella bateu à porta: "Está vendo o jogo?". Mas Fábio não queria saber e novamente gritou com sua mãe, pedindo para ela sair.

O que parecia impossível, no entanto, aconteceu. O relógio marcava mais de 40 minutos da segunda etapa, e após um chute errado de Romário na grande área, Juninho Paulista emendou forte e Sérgio não conseguiu evitar que a bola encontrasse a rede. O meia correu em direção ao banco de reservas para abraçar os jogadores. Na casa de Fábio, a cena se repetiu. Só que era ele, correndo do quarto para a sala a fim de abraçar sua mãe.

- Eu nunca acreditei, mesmo quando estava 3 a 2. Eu sou meio pessimista. Quando empatou eu fui para a sala abraçar minha mãe, gritando gol. Eu berrava. Na época, eu morava em São Paulo, então estava na casa dos caras, no reduto palmeirense. Eu berrei pela janela, abracei minha mãe e falei que ela era pé quente, que era uma maravilha, e pedi desculpas - lembrou Porchat.

A emoção ainda não tinha acabado. Inquieto, o jovem Fábio reclamava do árbitro, pedia o fim do jogo já com quase três minutos de acréscimo. A disputa por pênaltis já seria uma vitória para o Vasco, que saíra da primeira etapa com um 3 a 0 adverso. Mas a bola procura o craque, diz a cultura popular. E encontrou Romário, sozinho, na área do Palmeiras para marcar o quarto gol e enlouquecer os torcedores.

- Quando eu virei para a TV e vi a bola sobrando para um, para outro, chutando de qualquer jeito e a bola entrou no gol, foi a hora que minha voz acabou definitivamente. Eu dei um berro, chacoalhando a televisão... e minha mãe assustada, até porque era meia-noite, eu comecei a gritar e jogar ela para o alto. E o jogo acabou logo depois. Então, foi muito marcante também por isso, por ter culpado minha mãe pela derrota, mas também pela vitória - disse, aos risos.

Participação no Jô Soares o fez largar tudo em São Paulo

A virada histórica sobre o Palmeiras é inesquecível para todo vascaíno, entre eles Chico Anysio, uma das maiores referências de Fábio Porchat e de grande parte dos humoristas. O gênio do riso, que faleceu em março deste ano, contou ao GLOBOESPORTE.COM em 2011 a relação dele com a final da Copa Mercosul, o que encheu Porchat de orgulho ao saber da coincidência: "Eu fiquei muito feliz ao saber que também foi o jogo inesquecível do Chico. Ele é um ídolo".

Antes de apostar e fazer sucesso na carreira artística, Fábio Porchat de Assis tinha tudo para ter uma "vida comum". Nascido no Rio de Janeiro, ele ficou na cidade por apenas um mês até ir para São Paulo, onde residiam seus pais. Aos 18 anos, cursava administração quando teve um "estalo" e decidiu que seria ator e tentaria a carreira de humorista. Este momento foi no Programa do Jô, quando teve a oportunidade de mostrar um texto de sua autoria com base no seriado "Os Normais", na TV Globo (veja no vídeo ao lado).

- Eu escrevia textos para mim mesmo e eu tinha essa imitação que eu fazia o Rui e a Vani. Eu escrevi um bilhete e o Jô deixou eu ir lá na frente. Até ali eu não tinha feito nada de teatro, a não ser no colégio, aquelas peças que todo mundo participa. Eu fui lá na frente, fiz, a plateia começou a rir, o Jô riu, a banda riu. Quando estava todo mundo rindo eu pensei “caramba, é isso que eu quero da minha vida”. E no dia seguinte eu liguei para a minha tia avisando que ia morar no Rio. Me matriculei na escola de teatro e cinema e foi imediato, larguei a faculdade - contou.

Dez anos após "largar tudo" e sete depois de se formar na escola de teatro, o sucesso faz parte da vida de Fábio Porchat. O humorista, no entanto, acredita que tudo tem acontecido passo a passo, apesar da rapidez. Em cartaz com o stand-up "Fora do Normal", na TV em "A Grande Família", na internet com o "Porta dos Fundos" e no cinema recentemente com o filme "Totalmente Inocentes", ele não para de trabalhar. E ainda precisa conciliar o casamento com a atriz Patrícia Vásquez e, é claro, a torcida pelo time de coração.

- É bom essa coisa do passo a passo porque dá para entender o que está acontecendo com você. As coisas aconteceram rapidamente, mas é porque eu faço tudo muito corrido, a minha vida é muito corrida. Eu estou em várias mídias ao mesmo tempo. Então, eu não paro de trabalhar. É claro que você tem que contar com a sorte, com o talento, mas também com o trabalho e a dedicação. E eu não paro de trabalhar. Acho que as coisas vão acontecendo por causa disso. Se não dá certo aqui, eu já estou fazendo outra coisa ali. E o Vasco aí no meio - brincou Porchat, que costuma ir a São Januário nos jogos às quartas-feiras.

Juninho, o ídolo, e Júnior Baiano, o herói do título

Com a vida recheada de trabalho, Porchat não encontra mais tempo para brilhar nos campos de pelada. Desde que veio para o Rio, raros foram os momentos em que conseguiu disputar uma partida com os amigos. Meio-campo raçudo, ele conta que gostava mesmo era de ficar no gol: "Quem é goleiro, ou é pereba ou é maluco. E eu era maluco, de sair no pé do atacante". Até por isso, ele assume idolataria pelos goleiros que marcaram sua geração, Hélton e Carlos Germano, além do ídolo Juninho Pernambucano.

- Eu era muito fã do Hélton, porque além de ser bom com as mãos, ele repunha a bola muito bem, pegava a bola e já lançava o ataque. O Carlos Germano era um grande goleiro, eu sempre “era ele” no futebol, na adolescência. Então me identifico com ele. Mas realmente sou fã do Juninho. Falar isso é até um lugar comum, porque o Juninho, ainda por cima, é um exemplo de atleta. Eu não vi o Dinamite jogar, eu era muito pequeno e não lembro. Eu sei que ele era uma máquina. Mas eu não vi, por isso eu digo o Juninho - afirmou.

A equipe comandada por Joel Santana na final contra o Palmeiras era formada por jogadores renomados. Além de Juninho Pernambucano e Hélton, Odvan, Juninho Paulista, Romário, Euller e Mauro Galvão estavam no elenco. Até hoje, fica difícil explicar o apagão ocorrido no primeiro tempo. Mais ainda, de onde o time tirou forças para conseguir a virada no fim da partida. Mas Fábio Porchat tem a explicação: a expulsão de Júnior Baiano foi o que levou o Vasco ao título.

- Eu acho que é raro você ter uma atuação dessas (no primeiro tempo), ainda mais numa final. Até porque o Vasco tinha um time muito bom e deu um apagão que até quinze do segundo tempo estava perdendo por 3 a 0. E o Júnior Baiano, sempre ele, fez o favor de ser expulso... Eu tenho essa teoria: o Júnior Baiano, rubro-negro que é, infernizando a vida do vascaíno, não tinha como ganhar - teorizou, com bom humor.





Fonte: GloboEsporte.com