Daniel Freitas fala da dificuldade em contratar a essa altura da temporada

Sexta-feira, 21/09/2012 - 16:26

O prazo para inscrição de atletas no Campeonato Brasileiro se encerra nesta sexta-feira com quase nenhum nome de peso mudando de casa. A exceção foi a saída de Ganso do Santos para São Paulo. Se enquanto a janela internacional esteve aberta o futebol brasileiro foi presenteado com nomes como Forlán, Juan e Seedorf, o período de dois meses até o término das inscrições é marcado por reforços que, em sua maioria, são apostas dos clubes que buscam amenizar deficiências dos seus elencos. Uma realidade imposta pela escassez no mercado nacional e pela proibição para jogadores que já disputaram sete partidas pela Série A de defenderem outro clube no mesmo torneio.

Alguns clubes, como o São Paulo, ainda tentam opções mais ousadas. Caso de Ganso e também do zagueiro Rafael Tolói, que rapidamente conquistou a vaga de titular. Mas a dificuldade é grande. O Flamengo, por exemplo, ainda sofre para encontrar o seu camisa 10 depois da saída de Ronaldinho Gaúcho. Tentativas frustradas por jogadores como Riquelme e Diego antes do fechamento da janela para transferências internacionais se transformaram em investidas mais modestas, como última opção. A solução da vez é o experiente Cléber Santana, que já treinou nesta sexta-feira entre os titulares.

- Está muito difícil (contratar). Na Série A, os grandes jogadores já chegaram ao limite de sete jogos pelos seus clubes. Na Série B, os clubes cobram valores absurdos pelos atletas que se destacam. Temos necessidade. É uma condição que colocamos já há algum tempo, mesmo naqueles momentos em que estávamos com alguns resultados positivos. Mas eu gostaria que nesse momento tivéssemos a presença de mais dois ou três elementos contratados, que seriam importantes para o crescimento da nossa equipe - desabafou Dorival Júnior, em entrevista concedida no início deste mês.

Se teve dificuldade para contratar, o Flamengo aproveitou para aliviar a folha salarial durante a janela. Dono do segundo maior salário do elenco, Deivid rumou para o Coritiba quando tinha seis jogos na competição.

No rival Vasco, o gerente de futebol Daniel Freitas usa argumentos idênticos aos de Dorival Júnior para ilustrar a dificuldade de contratações após o fechamento da janela internacional.

- É muito difícil conseguir alguma contratação nesse período porque não dá para pegar ninguém de fora do Brasil, os principais jogadores da Série A já completaram sete jogos, e os destaques da Série B têm valores exorbitantes exigidos por seus times. Só mesmo se tivéssemos uma carência grande é que valeria apostar.

Ney Franco, do São Paulo, explicou seu raciocínio para o período de escassez no mercado.

- Não adianta contratar apenas por contratar. Para fazer isso, prefiro observar alguém da base. É claro que observamos os atletas que atuam na Série B, mas até agora ninguém chamou a atenção. Os bons jogadores já completaram sete jogos.

O Palmeiras, porém, julgou que havia o que pinçar na Série B e contratou Thiago Real do Joinville. Outra aposta foi ainda mais alternativa. Tirou o experiente lateral-esquerdo Leandro do América-RJ, que disputa a Copa Rio.

Dirigente do Bahia fala de "discriminação" de atletas das Séries B e C

Para clubes de menor porte, onde dificilmente se poderia apostar em jogadores consagrados ou com alto valor de mercado, o período é igualmente escasso, mas as metas mais modestas tornam um pouco maior o leque de opções. No caso do Figueirense, por exemplo, dois dos três contratados neste intervalo viraram titulares: o lateral Elsinho, que era do CRB-AL, e o volante Claudinei, contratado ao Boa Esporte-MG. A dificuldade, porém, é agravada pelo desespero dos grandes que ainda precisam contratar e acabam buscando reforços na mesma fonte: as divisões inferiores do Brasileiro. Chico Lins, gerente de futebol do Figueirense, explica:

- O mercado interno não apresenta grandes oportunidades. Até o Flamengo está tendo dificuldade de encontrar jogadores. Imagina a dificuldade do Figueirense de disputar com clubes maiores. A demanda é grande e a oferta é pequena. É difícil encontrar jogadores de qualidade. E as opções que aparecem não buscam o Figueirense como primeiro clube. É muito dificil encontrar esse nome e disputar com outros grandes clubes. Em outros anos, o mercado estava com mais dinheiro e mais ofertas. Nós tivemos que buscar nomes na Série B e em equipes que não atravessavam uma boa fase.

Quem discorda de tudo isso é o diretor de futebol do Bahia, Paulo Angioni. Ele acredita que os clubes têm de passar a valorizar o mercado interno, independentemente do fechamento da janela internacional. Para Angioni, existe mais oferta do que procura no mercado brasileiro. Desde 21 de julho, quando se encerrou o prazo para transferências internacionais, o Bahia contratou o lateral Romário ao Audax-SP e o atacante Denílson, do Audax-RJ. Além deles, Caio César, meia que já atuou pelo Eintracht Frankfurt e também foi tentado pelo Figueirense, e Cláudio Pitbull, cujo último clube foi no Manisaspor, da Turquia, também assinaram com o Tricolor Baiano. Nestes dois casos, o acerto foi possível em função de o vínculo com as equipes estrangeiras ter se encerrado antes do fim da janela de transferências internacionais.

- Não é complicado contratar após o fechamento da janela. Penso que você tem que dar oportunidade para o mercado interno. Hoje ficou muito mais fácil o repatriamento de atletas, mas a gente não pode esquecer que, antes da crise (europeia), ninguém queria vir para o Brasil. O mercado interno tem que ser o principal objetivo dos clubes. O Brasil tem uma abundância de jogadores. Tem que acabar com a discriminação de jogadores das Séries A, B e C. O clube tem que valorizar esse mercado interno, porque existe uma crise social grande no futebol brasileiro. Hoje existe mais oferta do que procura.

Quem se destacou no número de reforços após o fechamento da janela internacional foi o Náutico, com oito contratações: os atacantes Reis e Dimba, os volantes Josa e Dadá, o meia Rogerinho, o zagueiro Alison e o lateral Patric. Carlos Kila, gerente de futebol do Timbu, concordou em parte com Ney Franco, afirmando que o clube que tem uma sólida base tem melhores chances de ter sucesso nesse período.

- Planejamos bem o grupo antes dessa janela se encerrar, mas sabemos que é bem difícil. Contratamos alguns jogadores depois desse período em função de nossas necessidades, então aproveitamos atletas que estavam disponíveis no mercado, como Alemão e Josa. Agora, nesse cenário de dificuldade para contratar, quem tem uma boa categoria de base se sobressai.

Fonte: GloboEsporte.com