Alecsandro: 'Aqui a cobrança foi muito rápida e, em alguns momentos, foi injusta'

Sábado, 21/04/2012 - 23:22

Receber olhares desconfiados dos torcedores não é novidade para Alecsandro. Com mais de dez anos de carreira, o atacante teve de driblar as críticas por onde jogou. Do Nordeste ao Sul do país, seus gols calaram as vaias, por vezes, fosse no Vitória, no Cruzeiro ou no Internacional. Porém foi em São Januário, no ano passado, que, segundo ele, passou pela pior crise.

Neste domingo, aos 30 anos, entra em campo contra o Flamengo com a responsabilidade de titular absoluto, sem qualquer concorrente à vista. Com 15 gols marcados em 21 jogos — um deles no amistoso de despedida de Edmundo —, o artilheiro do Carioca (12 gols, ao lado de Somália, do Boavista) reconhece os maus momentos, reclama das injustiças e agradece por, com pouco mais de um ano de casa, cumprir bem o papel para o qual foi contratado: balançar as redes.

— No Inter, eu tive um momento difícil, mas o torcedor reconhecia e, o mais importante, eu reconhecia que, ao ser cobrado pelo torcedor, tinha feito por merecer, não estava bem. Aqui a cobrança foi muito rápida e, em alguns momentos, foi injusta. O torcedor não teve paciência com um jogador que, em poucos meses, participou de uma campanha vitoriosa (Copa do Brasil). Foi o momento mais difícil da minha carreira, mas tudo passou. Hoje é só felicidade e tenho certeza de que não vou passar de novo por isso — afirmou o atacante, que em 13 meses de clube marcou 28 gols em 60 partidas.

As palavras do presidente Roberto Dinamite, no início do ano, de que iria buscar um novo camisa 9, incomodaram. Sincero, na época, brincou que poderia até chegar um novo atacante, mas teria de vestir outro número. A 9 é dele. E, pelas circunstâncias — desde a grave lesão do equatoriano Tenorio —, realmente ninguém o ameaça:

— Poder começar a temporada em 2012, treinando de igual para igual com todo mundo, começar como titular, fazer gols, jogar as finais do Estadual, estar brigando pela artilharia... É um começo bom. Lógico que, por ser o único camisa 9 do time, Cristóvão acabou tendo que me manter na equipe sempre. Ano passado, até comentei isso com ele, errava alguns lances, não fazia gols, ele acabava me tirando. Querendo ou não, tira um pouco da confiança do jogador. Hoje, não. Por estar fazendo gols, jogando quase todos os 90 minutos, tudo isso me dá uma grande confiança, além da boa condição física e técnica. Hoje, eu entro em campo sabendo que tenho 90 minutos para decidir , diferentemente do ano passado quando comecei a brigar pela posição com o Élton. Estou mais tranquilo.

“Sem gols perdidos”

Tranquilidade que teve também para admitir o fim da linha no Inter. Após um ano de conquistas, com o título da Copa Libertadores e participação no Mundial de Clubes, 2011 começou com lesão e banco de reservas. Leandro Damião assumia a vaga:

— Começou o Gaúcho e me machuquei. Fiquei fora de duas rodadas, o Damião entrou e fez gols. Quando voltei, fiquei no banco uns quatro jogos. Aí, sim, senti que estava perdendo espaço, o menino era uma revelação e hoje é o camisa 9 da seleção. Naquele momento, achei que ficando no Internacional estaria atrapalhando dois jogadores. A mim mesmo e o crescimento do Damião. Eu não iria me entregar nunca, ele ia ter que ralar muito para ser o titular absoluto. Preferi sair, tive outras propostas, como do Palmeiras. Optei pelo Vasco, era uma novidade jogar no Rio e acabou dando certo. O Felipão, o Roberto, me disseram : “Vem que você é meu camisa 9.”

Neste domingo, Alecsandro tem confiança para mais uma vez ser decisivo diante do maior rival do Vasco. Na semifinal da Taça Guanabara, ele deixou o seu. Naquele mesmo jogo, Deivid perdeu um gol feito que lhe rendeu inúmeras críticas. O atacante agradeceu no momento, pois garantiu a vitória vascaína e vaga na final. Mas se compadece do amigo. Pois sabe que nenhum centroavante está livre de viver semelhante situação. E garante que nunca passou por algo assim.

— Graças a Deus nunca perdi um gol daquela maneira. Falo graças a Deus porque para um centroavante é difícil, a gente viu tudo que ele sofreu. Inclusive, falei com ele logo depois. Acabei encontrando-o por acaso e conversamos. Gols perdidos assim, não tenho. Não desses que vocês chamam de inacreditável, de falar “este até minha avó faria”, “até meu filho faria”. Mas posso me lembrar de um, que o torcedor vascaíno e a imprensa acharam que foi um gol perdido. Aquele contra o Aurora aqui. Foi um lance difícil, tentei dominar a bola e escapou. Nem chutei para o gol, saí com bola e tudo e o goleiro estava dentro do gol. Mas se escolherem aí que seja esse, porque não recordo mesmo. Lembro de um da divisão de base, mas não há imagens (risos) — afirmou.

Alecsandro domina a bola em treino em São Januário


Fonte: O Globo online