Por Libertadores, times poupam jogadores e esvaziam estaduais

Sexta-feira, 13/04/2012 - 12:28

Os Estaduais sempre perdem a queda de braço com outras competições. E o principal algoz é a Copa Santander Libertadores. É de olho no principal troféu do continente que os clubes deixam de colocar força máxima em campo. O resultado é que a falta de interesse dos participantes contamina os torcedores.

Em 2012, Flamengo, Fluminense, Vasco, Santos, Corinthians e Internacional se encaixam nessa descrição. O Timão, na ânsia de conseguir a conquista inédita, foi quem mais acionou os reservas ou fez um mistão para entrar em campo pelo Paulista: oito vezes, em 18 jogos.

– O tempo de recuperação é difícil, por conta das viagens. E temos de direcionar dessa forma – explicou o técnico Tite, em coletiva.

E por falar em Paulistão, o único jogo do Santos em que não houve lucro foi justamente quando o Peixe colocou seu mistão para enfrentar o Ituano.

Como o foco está em outra competição, o Estadual acabou se tornando banal. O clássico Botafogo x Vasco, pela Taça Rio, levou 8.190 pagantes ao Engenhão, quando o time cruz-maltino jogou com reservas e saiu derrotado.

– Os times grandes têm seus interesses. Somos nós que fazemos o investimento – defendeu-se Roberto Dinamite, presidente vascaíno, no arbitral que discutiu soluções para o esvaziamento do Estadual.

A torcida prefere pagar para ver um duelo de ponta pela competição sul-americana. O Fluminense, no primeiro jogo pós-título da Taça Guanabara, levou 659 pagantes contra o Resende, em Volta Redonda. E quando encarou os venezuelanos do Zamora em uma quarta-feira à noite pela Libertadores, o público foi de 21.252.

– Com todos os problemas que o Carioca tem, os clubes grandes ainda botam reservas. Entendo que eles têm uma parcela de responsabilidade no baixo público – afirmou Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Rio (Ferj).

Quando não é a Libertadores, é a Copa do Brasil e seu mata-mata. Fato é que os Estaduais deixaram de ser prioridade. Tanto dos clubes, quanto do torcedor.

CARIOCA

O fato inédito de três cariocas estarem na mesma edição da Libertadores fez o Estadual pagar o pato. Com Flamengo, Fluminense e Vasco focados na disputa da principal competição do continente, só o Botafogo ainda não poupou jogadores no Carioca-2012. Por mais que não utilizem reservas em todos os jogos, sempre que algum compromisso pela Liberta se aproxima, a preferência é clara: reservas no Carioca. Tirando os casos de desfalque por lesão, o Vasco foi quem mais usou reservas ou times mistos até aqui: sete vezes, até no clássico com o Bota. O Flue repetiu a dose contra o Flamengo. Os dois acabaram derrotados. Mas nenhum dos que levaram a pior pareceu se importar, já que prioridade é a Libertadores.

PROPORÇÃO TIME RESERVA/JOGOS

Vasco: 7/16 jogos
Fluminense: 6/16 jogos
Flamengo: 3/15 jogos

PAULISTA

Além da disputa da Libertadores, o Mundial de Clubes foi mais um causar esvaziamento. A vítima foi o Paulista-2012, que nas primeiras três rodadas viu o Santos colocar reservas em campo. Sem Neymar e Ganso, o Peixe não atraiu torcedores quando foi para o interior. O time alvinegro ainda usou os reservas em mais três partidas. É de São Paulo o Participante brasileiro da Libertadores que mais poupou jogadores: o Corinthians. Foram nada menos que oito ocasiões em que o Timão não teve força máxima. Parcela significativa dos 18 jogos do time de Tite. Para se ter a dimensão da falta de importância que a competição tem para o Corinthians, das oito vezes que o time reserva, ou mistão, foi a campo, duas foram clássicos.

PROPORÇÃO TIME RESERVA/JOGOS

Corinthians: 8/18
Santos: 6/18

GAÚCHO

No Internacional, o Estadual é visto como laboratório. Desde 2010 que o Colorado utiliza a competição para dar rodagem a seus jovens do time B. Neste ano, a frequência de jogos com reservas foi a menor com relação aos anos anteriores, mas o Inter ainda tem uma a proporção bastante significativa: seis vezes, em 16 partidas pelo Gauchão. A falta de importância do Estadual para o Colorado foi tanta que o time reserva entrou em ação até no clássico com o Grêmio, ainda no primeiro turno. Em 2011, a receita falhou e o time caiu nas quartas de final do turno, diante do Cruzeiro. No returno, com força máxima, o Inter foi campeão. Um ano antes, o time não conseguiu se recuperar e viu o Grêmio faturar os dois turnos.

PROPORÇÃO TIME RESERVA/JOGOS

Internacional: 6/16

Anos 80 e 90: nada de ‘poupar’ no dicionário

Se no Século 21, a Libertadores virou motivo para poupar jogadores nos Estaduais, no passado o quadro não era assim. Os históricos times do Flamengo de 1981, São Paulo de 1992 e Palmeiras de 1996 são exemplos.

O Fla disputava o Carioca no segundo semestre e o calendário do Terceiro Turno coincidiu com a reta final da Libertadores para Zico & Cia. Maratona: oito jogos em 22 dias. O técnico Carpegiani nem quis saber de economizar esforços.

Com o São Paulo, a final do Mundial contra o Barcelona, em 1992, caiu entre os jogos decisivos do Paulistão, contra o Palmeiras. Foram três vitórias, duas no Brasil e uma no Japão, para consagrar o supertime de Telê Santana.

Times pequenos fazem protesto

Vítimas da política do “poupar“, os pequenos – que não conseguem mais ter a certeza de casa cheia quando recebem os principais times do estado – culpam os times grandes pelo esvaziamento. Neste ano, a maior parcela é do Rio.

– Com três grandes na Libertadores, o torcedor perde o interesse pelo Carioca, ainda mais porque eles colocam times reservas para jogar. Ficamos tristes porque os grandes abandonaram a competição desse jeito – disse o presidente do Macaé, Valter Bittencourt.

O presidente do Madureira, Elias Duba, se coloca na pele do torcedor e também faz seu protesto.

– Os clubes grandes estão enchendo os jogos de reservas. Nesse último Madureira x Vasco, por exemplo, nem eu fui ao jogo. Preferi ficar em casa vendo pela televisão. Como o torcedor vai ao estádio desse jeito? – afirmou o dirigente.

Com a palavra

Décio Becker - Presidente do Cerâmica (RS)

'Quer reservas? Que use no Estadual todo'

Olhando do ponto de vista dos grandes, penso que os clubes estão certos em poupar jogadores. Também faria o mesmo se estivesse na pele deles. Mas colocar reservas para jogar algumas partidas desequilibra o campeonato.

Há um prejuízo técnico. Se um time quer usar reservas, deveria usá-los em todos os jogos. Se um pequeno enfrenta um Inter completo, ele está em desvantagem com relação ao que enfrenta o mesmo Inter sem titulares. Pode até passar a impressão de favorecimento.

Fonte: Lancenet