Funcionários informaram que Wendel não havia jantado nem tomado café da manhã

Sexta-feira, 10/02/2012 - 07:34

A semana do Vasco termina da pior maneira possível. Depois de estrear na Libertadores com derrota para o Nacional do Uruguai, continuar com problemas financeiros, a falta de estrutura das divisões de base do clube ficou evidente de forma trágica. Ontem, o jogador Wendel Júnior Venâncio da Silva, de 14 anos, que fazia seu segundo teste na categoria sub-15 vascaína, morreu pela manhã durante o treino físico da equipe, no Centro de Treinamento de Itaguaí, onde a base treina desde 2010. Segundo informações de funcionários, o garoto estava sem jantar e sem café da manhã, pois não tinha direito a refeições por ainda não ter vínculo. Para complicar, não havia médico e ambulância no local para socorro rápido.

O jovem passou mal e desmaiou durante o treinamento, realizado sob forte calor, Após convulsão, faleceu. Como não havia ambulância e médico, ele foi levado à UPA de Itaguaí, onde chegou morto. O treino da tarde já havia sido cancelado por causa da falta de comida para o almoço.

O garoto, de São João Nepomuceno, Minas Gerais, estava passando por testes indicado pelo ex-jogador do Vasco Marcos Aurélio Ayupe. Ele estava sendo observado por Cássio, técnico do time sub-15, que o socorreu e o levou até à UPA.

A falta de ambulância nos treinos em Itaguaí não é novidade. Jogadores da base confirmaram que raramente há um médico do clube e nunca viram uma unidade móvel. O pai de um ex-jogador da base disse que eram comum as reclamações dos meninos em relação à estrutura do CT, propriedade do ex-jogador Pedrinho Vicençote. Os jogadores temiam sofrer algum tipo de lesão, sem meios de socorro rápido. Em muitos casos, eles eram socorridos por integrantes da comissão técnica e, nas ocasiões mais graves, levados para o hospital mais próximo.

O responsável pela base do Vasco, Humberto Costa, o vice-presidente médico, Manoel Moutinho, e o chefe do departamento médico, Clóvis Munhoz, chegaram ao local à tarde. Ajudaram nos trâmites burocrático e centralizaram todas as informações. Funcionários e a família não deram entrevistas. O corpo do menino foi levado para o IML de Campo Grande, onde passou por necropsia, foi liberado e levado para Minas. A mãe de Wendel estava em estado de choque.

Clube divulga nota

O caso será investigado pela Polícia Civil. A 50a- DP de Itaguaí instaurou inquérito para apurar a morte de Wendel. O delegado titular Júlio César vai intimar algumas testemunhas a depor a partir de hoje. No entanto, não houve perícia no local ontem. O delegado pediu urgência ao IML para obter o resultado do exame de necropsia feito no início da noite.

— As primeiras informações são de que ele foi socorrido rapidamente e levado à UPA local, com parada cardiorrespiratória. E que não havia um centro médico no local. Primeiro, vamos ouvir as pessoas envolvidas para saber se ele tinha algum problema congênito. Também ouviremos a família assim que houver condição — afirmou o delegado, que não pretende indiciar ninguém até tudo ser apurado. — Espero ter o laudo em mãos até o final da próxima semana. O resultado ajudará a verificar se a existência de um centro médico poderia ter evitado a morte do garoto.

O presidente Roberto Dinamite se pronunciou sobre o caso apenas por nota oficial, assinada em conjunto com outros dirigentes. No documento, ele afirma que o garoto fazia testes no clube desde o dia 7 deste mês e havia se apresentado com atestado médico válido, assinado pelo seu médico e estava respaldado por isso para poder praticar futebol. Segundo a nota, aos 12 minutos da avaliação, ele sofreu mal súbito e foi levado imediatamente à UPA de Itaguaí, o que confirma que não havia médico no local.

Proprietário do CT, Pedrinho Vicençote, ex-jogador do clube nos anos 80, recebe 10% dos direitos sobre os jogadores, como forma de pagamento pelo uso das instalações. Mas agora o clube está querendo pagar aluguel para não ficar refém de Pedrinho.

Em reportagem do jornal “EXTRA”, de novembro do ano passado, o empresário dissera que a cessão era gratuita. O Vasco cobre as despesas do local, que chegam a R$1 milhão anuais. A estrutura conta com cinco campos, quadra de areia, além de alojamento para 72 pessoas e refeitório.

A base do Vasco ainda treina em Itaguaí porque o projeto do CT de Maricá está em fase inicial e deve ficar pronto somente em três anos. O proposta do clube é ter um centro com seis campos de futebol, alojamentos, refeitórios e lavanderia. E também um médico.

Fonte: O Globo