Em encontro com Mauro Galvão, Dedé diz que espera jogar até os 36 anos

Sábado, 04/02/2012 - 16:53

Faltava três minutos para o fim de Vasco e Bangu, em Moça Bonita, em 1998. Mauro Galvão pediu para Antônio Lopes: ‘deixa eu ficar no ataque’. Com a autorização do delegado, lá foi o "Capitão das Américas" fazer o gol do título Carioca, antes da conquista da Libertadores e de fazer história no clube de São Januário. Na última sexta-feira, no renovado estádio vascaíno, o Jogo Extra encontrou os dois grandes ídolos da retaguarda do clube nos últimos anos para um bate-bola. Normalmente extrovertido, Dedé ficou até tímido com Galvão, hoje com 50 anos, 27 a mais do que o Mito.

— Esse joanete está incomodando, seria melhor ele não jogar domingo (hoje) — disse Galvão, ao fim do encontro, ao ver Dedé mancando. É o carinho de quem quer ver um novo "xerife das Américas".

Vocês têm biotipo bem diferente, mas são os dois grandes ídolos da zaga do Vasco em muitos anos. O que pensam sobre isso?

Mauro Galvão: Eu sempre tive que usar minha característica mais forte, a antecipação, aquela coisa de cercar o cara. Tentava evitar o choque, mas sabia usar o corpo no momento certo, mesmo não sendo um cara muito forte. Sempre digo: sou magro mas sou duro (risos). Se você colocar bem o corpo consegue interceptar o adversario. E tem a bola, na verdade você tem que ter a noção de tirar a bola. 

Dedé: Por ser muito alto, quem não me conhecia podia achar que eu era lento. Porque zagueiro alto geralmente é assim, só tem mais força. Mas eu me considero bem rápido e procuro usar muito bem isso, a velocidade e a força.

Quais atacantes mais difíceis que vocês enfrentaram?

Dedé: É o Neymar, com certeza. É muito difícil jogar contra o Loco Abreu, o Fred, que são jogadores inteligentes, que conhecem e procuram a deficiência dos zagueiros, mas o Neymar é diferente de todos. De qualquer jeito ele faz de tudo para ganhar. Na bola aérea, ele briga, no chão é difícil, na habilidade então. É completo, atrapalha muito.

Mauro: Enfrentei muitos bons, mas o Romário... A maior dificuldade era que ele fugia do contato direto, não ficava como zagueiro gosta, perto, quando se tem uma referência. Ele encostava no lateral, aproveitava a subida e, quando tinha um cruzamento, estava sempre no segundo pau esperando. Dentro da área sempre foi um dos melhores. Mas o Reinaldo, do Atlético-MG, também era. Eu estava começando a carreira, ele era experiente, dificultava muito com aquele time do Galo.

Você citou o exemplo do Reinaldo, que jogou nos anos 1970 e 1980. E você parou com 40 anos, eleito melhor do Brasil quase 20 anos depois. Como explicar tanta longevidade?

Mauro: O importante é ter uma vida a ver com seu trabalho. No futebol, se você levar a sério, tem condições de jogar por muito tempo. Claro que tem que ter a felicidade de não se machucar. Eu só operei menisco, mas não tive nada de ligamento, de tendão de Aquiles. Eu tenho acompanhado muito o Dedé, vejo nele um cara centrado, que se cuida, ele entende que é a profissão dele, que tem que ter disciplina. Muitas vezes a diferença entre um jogador e outro é essa. O cara tem qualidade, tem boa técnica, mas não se cuida, é preguiçoso. E o resultado vai para o jogo.

E você, Dedé, se imagina jogando até os 40 anos?

Até hoje não senti dor muscular, de joelho, nada. Me cuido bastante, sou focado, não bebo, não sou de gandaia, sou bastante família. Tenho o objetivo de jogar como o Mauro até uma boa idade, mas sei que até os 40 é para um cara diferenciado, como ele. Se chegar aos 36 já acho válido.

O Mauro só saiu aos 28 anos do Brasil, após a Copa da Itália, em 1990. Como você vê a hora do Dedé sair?

Mauro: Na minha época era muito difícil um zagueiro sair, ter propostas assim. Eu recebi algumas antes, mas a Suíça (Lugano) apareceu mesmo depois do Mundial. Achei muito legal o Neymar ter ficado no Brasil, o Dedé também. Acho importante, são estrelas do nosso futebol. Acho importante ele jogar a Libertadores, ser uma referência nesse time, como são o Fernando Prass, o Juninho, o Felipe, o Diego Souza, tem a gurizada também, o Allan, o Rômulo. Vejo o Vasco muito bem hoje, como estávamos em 1997 e 1998, quando o time era quase o mesmo na Libertadores. Só mudou o ataque, saíram Edmundo e Evair, mas Donizete e Luizão entraram muito bem também. A tendência é de ir melhorando, de que o Vasco comece com tudo na Libertadores.

Em 1998, o Vasco enfrentou o River Plate, de Francescoli, Gallardo (hoje técnico do Nacional-URU), Sorín. O River daquela época é o Boca Juniors de hoje. Dedé já se imaginou na Bombonera lotada, aquela pressão?

Dedé: Quero pensar partida por partida. Vai ser uma competição muito difícil, lógico que estamos muito focados nesse início, mas desejo jogar na Bombonera cheia contra o Boca. Vai ser um peso muito grande a gente chegar lá, essa primeira partida de quarta já vai ser muito difícil. O Felipe já contou da época dele na final, no Equador. Que pintaram a parede do vestiário, que soltaram fogos para não dormirem, essas coisas absurdas.

Que histórias lembra daquela Libertadores, Mauro?

Mauro: Na final, tinha muita fumaça no vestiário, até hoje não sei o que era. Nem no intervalos entramos lá, nos trocamos no corredor. Quando chegamos no estádio também tinham os caras de roupa típica, fazendo um ritual. Nosso início na competição foi complicado. Perdemos os dois primeiros fora e empatamos com o América do México. A coisa estava feia (risos). Aí ganhamos as três em São Januário. O time tem que estar pronto para a fase de classificação e depois para o mata-mata.

Aquela história de que não sabia onde era o bico do pé, no Inter. Dá para jogar a Libertadores sem dar bico, Mauro?

Mauro: (Risos) Aquilo foi num treino, uma brincadeira com o Falcão. Mas na Libertadores tem que dar bico. Tem que saber sair jogando, às vezes sai uma jogada de gol, num lançamento. Mas se está cercado na área, tem que dar o bico. Aí o feio fica bonito.

O Mauro jogou ao lado do Ricardo Gomes na Copa de 1990. Você sempre diz que aprendeu muito com o Ricardo, o que lembra do Mauro?

Dedé: Lembro da antecipação dele, tento usar isso junto com a minha velocidade. Não vi o Ricardo jogador, mas imagino esses dois ídolos juntos, dois ídolos. Do meu pai então que é botafoguense (Galvão foi bicampeão Carioca em 1989 e 1990). É uma honra estar aqui com ele. Só me motiva a fazer cada dia mais, para chegar perto de onde ele chegou.



Fonte: Extra Online