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Cabral pai cita frase de Olavo sobre base: 'Tudo na mão dos empresários'


Domingo, 11/12/2011 - 20:51

Exploração de menores

Num encontro com o amigo Olavo Monteiro de Carvalho, presidente da Assembléia Geral do Vasco, alertei-o para a transmissão pela TV, dali a pouco, de um jogo do time sub-20 do Vasco com o Atlético-MG. Estabeleceu-se em seguida o seguinte diálogo:

(Ele) O problema é que os jogadores não são do Vasco. Está tudo na mão dos empresários.

(Eu) Inclusive aquela garotada vascaína da Seleção Brasileira Sub-15?

(Ele) Aquela garotada também.

Compareci no dia seguinte ao Redação SporTV, e abordei o tema, pedindo providências do presidente Roberto Dinamite. O Vasco, em seguida, divulgou uma nota informando que, de acordo com a legislação vigente, nenhum atleta com menos de 16 anos pode ter vínculo com qualquer clube.

Saí em campo para conhecer melhor o assunto e conclui que a própria lei em vigor estimula uma farsa trabalhista que prejudica todos os clubes do Brasil. Pelo seguinte: como os clubes estão impedidos de estabelecer vínculos profissionais com atletas menores de 16 anos, qualquer um eu, você, qualquer um mesmo pode procurar a família do jogador e firmar um contrato garantindo participação nas futuras receitas do jovem atleta. Para usar uma expressão corrente no mercado de capitais, o negócio está aberto para quem quiser investir na baixa, com a esperança de ganhar na alta.

O investimento varia de acordo com as necessidades da família do garoto. Você pode, por exemplo, pagar dois mil reais a ele ou ao pai dele. Se você for proprietário de uma casa vazia, você pode oferecer como moradia à família do atleta, caso ela seja de outra região do Brasil. Oferece a casa de graça, mas cria, oficialmente, um aluguel que certamente não será pago, mas passará a figurar como crédito para o investidor. Trata-se de um expediente muito comum utilizado pelos empresários e que tem sido muito rentável para eles. É que o simples pagamento de salário não impede que apareça um concorrente e ofereça mais dinheiro. Já que, com o oferecimento de uma casa para morar, o empresário compromete a família inteira do jogador.

Enquanto isso, mesmo sem a garantia de futuros vínculos profissionais, os clubes se sentem obrigados a investir na formação, na saúde e na educação da garotada. É nos clubes que o jovem atleta aprende as regras do futebol, que aprende a chutar com as duas pernas, que adquire as condições físicas para as futuras atividades e que encontra o horário adequado ao estudo e ao desenvolvimento da carreira (já fui honrado pelo Vasco com a formatura do ensino médio de uma turma que ganhou o nome de "Sérgio Cabral" e que tinha, entre os formandos, nada menos do que o craque Philippe Coutinho).

Você não acha que está na hora de ser criada uma legislação que defenda os clubes desses empresários do lucro fácil?

Fonte: Coluna Sérgio Cabral - Lance