São Januário e a Torcida Vascaína

Jorge Luiz Medeiros Braga

Nos anos 1920 eclodiram vários movimentos políticos, artísticos e sociais que visavam romper com um Brasil arcaico e historicamente marcado por exclusões estruturais. Nessa época, o futebol encontraria na construção do estádio de São Januário um sinal claro de que todas as mudanças desejadas chegariam também ao futebol. Podemos identificar nesta grande obra uma antecipação do processo de popularização e de massificação do futebol, consolidado nos anos 1940, quando grandes públicos formavam parte imprescindível do cenário deste esporte no Brasil.

Tudo começou com a vitória do Vasco no campeonato de 1923, um título inédito para um clube que não pertencia à elite do futebol, provocando uma reviravolta, pois até então o Fluminense (maior vencedor de campeonatos) tinha como principais adversários Flamengo, Botafogo e América. Estes venceram praticamente todos os campeonatos e conseguiam reunir as maiores torcidas da cidade.

O advento do Vasco da Gama como um novo forte rival no futebol carioca, fez com que junto das três maiores torcidas (Flamengo, Fluminense e Botafogo), fosse incluída a torcida vascaína que ganharia inclusive da torcida do América a simpatia de uma forte presença lusitana. Talvez pela cor da camisa (vermelha) ser igual a do Benfica, ou pelo sonho de todo imigrante "de fazer a América", até a passagem do Vasco para a primeira divisão, a torcida americana era a que tinha mais torcedores portugueses. É o que constatam os historiadores do clube: "perdemos, então, a preferência maciça que gozávamos entre nossos irmãos lusitanos. Até essa data, o América - sem ser propriamente o clube da colônia, como veio a ser, em seguida, o grêmio cruzmaltino - era aquele que contava com maior número de portugueses em sua torcida" (CUNHA e VALLE, 1972, p.140).

O Vasco montou um time de futebol somente em 1916, depois de se tornar importante como um clube de remo1 (fundado em 1898). Durante 6 anos, o clube disputou campeonatos na terceira e segunda divisão, não crescendo muito sua torcida. No entanto, bastou o clube ingressar na primeira divisão (1923) com um time forte que vencia adversários após adversários, para a torcida ser adotada pelos brasileiros e pela comunidade portuguesa2 que identificou no time o seu representante no esporte: "Quanto mais o Vasco vencia, mas os campos se enchiam. Até o estádio do Fluminense ficou pequeno. Gente que nunca tinha assistido a uma partida de futebol deu para comprar a sua arquibancada. Tudo português, o português se julgando obrigado a ir onde o Vasco ia" (RODRIGUES FILHO, 2003, p.121).

O jornalista Mário Filho, nesta passagem, reproduz o preconceito dos sócios dos grandes clubes ao caracterizar a torcida do Vasco como a "torcida dos portugueses". Era a maneira como os clubes da zona sul, formados por brancos elitistas e racistas, encontravam para descaracterizar o seu rival. Seria mais fácil identificar um confronto entre Brasil e Portugal, metrópole e colônia, que assumir preconceitos raciais e sociais dos clubes grandes, vencedores de todas as competições até 1922. Para o geógrafo Fernando Ferreira, a discriminação sofrida pelos jogadores e torcedores do Vasco tinha várias origens: "A campanha empreendida contra o Vasco da Gama possuía um caráter muito mais amplo do que se costuma divulgar, sendo possuidora de um cunho racista, elitista e xenófobo, representado pela perseguição à "maldita" tríade preto - pobre - português". (FERREIRA, 2004, p.45).

O time do Vasco campeão provocou uma mudança estrutural no comportamento dos torcedores. As rivalidades se acentuaram, as tensões latentes na sociedade se afloraram, revelando que o desemprego e a presença de imigrantes3 (que chegavam em massa neste período4), acirravam os ânimos. O público ia ao estádio para cobrar dos seus jogadores todo o empenho para não deixar o Vasco vencer:

"antes do Vasco, a torcida era toda respeito. A prova está em 1924, o Vasco fora da AMEA. Um jogador enterrando o time a torcida pedindo a deus para que ele saísse de campo, não querendo, porém ofendê-lo de jeito nenhum. Havia uma maneira delicada de avisar o clube que o jogador precisava ser substituído, para evitar a derrota, de pedir que cedesse o lugar ao outro. Era olha o telefone! (...) nada de insultos. Com o Vasco na AMEA, porém, o torcedor não podia dar-se a esse luxo de amabilidades. Se um jogador estava jogando mal tinha de sair logo, o mais depressa possível, senão o Vasco acabava ganhando o jogo. Os jogadores começaram a ouvir gritos, descomposturas, o torcedor se justificando que pagara a entrada" (RODRIGUES FILHO, op. cit., p. 140).

Muitas foram as formas de impedir um novo clube grande e com uma torcida em ascensão e motivada. Para tanto foram lançados vários recursos para isolar o Vasco formando uma nova liga, a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), e excluindo o Vasco (em 1924 - quando foi bicampeão invicto). Um outro motivo alegado é que ele não tinha estádio para jogar.

O Vasco da Gama ingressa na AMEA em 1925 após o convite dos próprios dirigentes desta entidade carioca de futebol, preocupados ao constatarem que, comparando os campeonatos de 1924 da AMEA e o da LMDT (Liga Metropolitana de Desportes Terrestres), a renda dos jogos da LMTD em 1924 foi maior (com a presença principal do Vasco) que a renda dos jogos da AMEA (FRANZINI, 2003). O comparecimento em peso da torcida vascaína nos jogos em que o clube acabou por vencer mais um campeonato, comprovou que embora contando com o apoio da Confederação Brasileira de Desportos aos amadores da AMEA, esta estava ameaçada pelo interesse crescente do público nos jogos mais emocionantes. Assim "de nada adiantaria a AMEA o apoio oficial da CBD, se o público nos estádios era bem inferior àquele que assistia aos jogos da LMTD. Se em curto prazo, a AMEA parece vitoriosa, nota-se que o profissionalismo e a profissionalização do futebol ocorreram de forma irreversível" (CALDAS, 1990, p.88). Seria imprescindível para o sucesso do campeonato do ano de 1925 a inclusão do Vasco para a garantia do crescimento da nova liga. No entanto, a aceitação do clube é feita com a condição de que o Vasco não poderia "jogar em casa" (no campo da rua Moraes e Silva5) e o clube teria que construir um estádio condizente com o nível dos clubes da AMEA, sendo este um dos argumentos para a exclusão do clube do campeonato de 1924 da AMEA, em vez de reconhecer que os motivos principais estavam no racismo e na preocupação elitista dos dirigentes "parecendo, esta, mais uma das estratégias ad hoc para impedir a participação do Vasco no campeonato de 1924" (SILVA e VOTRE, 2006, p.50). Para Mário Filho (1994) isto fez com que a comunidade lusitana se enchesse de brios diante do argumento de que o Vasco não era clube a altura dos demais por não possuir um estádio em condições de representar clubes da primeira divisão do principal campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro. Foi então que "do campinho da rua Moraes e Silva, o Vasco deu um salto para São Januário (...) hoje o Maracanã não deixa ver direito o esforço gigantesco" (p.79).

Começou assim uma intensa campanha de arrecadação de recursos para a construção do estádio. Listas corriam pela cidade onde pessoas de diferentes estratos sociais contribuíam, uma lista de contribuição que ficou conhecida como a "Campanha dos 10 mil" (RODRIGUES FILHO, 2003, p.88), "o êxito foi tanto que, ao final de 1926, oito mil novos sócios tinham ingressado no clube"6. Inicialmente foram arrecadados fundos para a compra de um terreno em São Cristóvão. Este bairro foi escolhido por vários motivos. De acordo com o geógrafo Fernando Ferreira, o bairro tinha as características condizentes com a origem do clube bem como de outros fatores que intervieram na escolha do local:

"a relativa proximidade com o antigo campo da Rua Morais e Silva e com a zona portuária, parte da cidade onde o clube fora fundado; a existência de uma numerosa colônia portuguesa em São Cristóvão, composta tanto por moradores quanto por comerciantes e industriais; a identificação do bairro com Portugal, construída desde a chegada da Família Real, em 1º de janeiro de 1809 à Quinta da Boa Vista" (FERREIRA, 2004, p.34).

Mesmo com a proibição de importação de cimento belga imposta pelo então presidente da República em 1926, Washington Luís, garantida um ano antes para a construção do Jockey Club Brasileiro7, o clube começou a realizar a obra que iniciou em 6 de Junho de 1926 e concluída em menos de um ano: em 21 de abril de 1927. Inaugurado o estádio do Vasco da Gama, conhecido como estádio de São Januário, em função de a rua ter o mesmo nome e de ser o local de passagem do Bonde de número 53.

Sendo o jogo inaugural marcado para uma data estratégica de 21 de abril, dia que celebrava a morte de Tiradentes, "herói da inconfidência mineira", "mártir da independência do Brasil", a data expressava o interesse do clube em se firmar como a principal agremiação esportiva da cidade, garantindo traços da nacionalidade e mantendo um pé na tradição lusitana. Contra todos aqueles que afirmavam a origem estrangeira do clube de São Januário, a reação dos sócios e simpatizantes do novo clube ganhava cada vez mais simpatia da população carioca.

Durante a inauguração o próprio presidente do país, Washington Luís8, o mesmo que negou permissão de importação do cimento da Bélgica, talvez se penitenciando pelo erro de não acreditar na força de vontade de um grupo de abnegados, apareceu durante a festa. Coube ao aviador português Sarmento de Beires, realizador da travessia Lisboa-Rio cortar a fita simbólica. A festa contou com a presença de diversas personalidades da sociedade carioca.

O jogo inaugural foi contra um clube de São Paulo (Santos9), dando uma dimensão nacional para o evento que se realizava, assim como no ano seguinte com a inauguração dos refletores (o primeiro estádio do Brasil a possuir aquela novidade), na partida o convidado foi um clube do Uruguai (bicampeão olímpico na época), o Wanderers.

Nos próximos anos São Januário, com capacidade para 40.000 espectadores, será o maior estádio de futebol do Brasil10 e da América do Sul (o estádio do Centenário no Uruguai será construído em 1930). E fonte de identidade coletiva para os torcedores vascaínos, interessados em construir uma representação coletiva positiva de seu clube em função dos preconceitos das torcidas adversárias (SILVA, 2001).

São Januário é um marco no futebol carioca e brasileiro ao simbolizar um monumento de luta contra a discriminação11, ao transformar um palco coletivo de exibição esportiva em um lugar que encarnava as disputas simbólicas que se travavam em torno do futebol e da sociedade brasileira no final dos anos 1920. Uma resposta clara contra seus adversários, especialmente contra os clubes da zona sul, como o Fluminense, que possuía o maior estádio do Rio de Janeiro, construído em 1919, para o então campeonato sul-americano disputado naquele ano. Entretanto sua construção teria tido o apoio do governo e não teria a contribuição direta dos torcedores, como foi feita pelos torcedores vascaínos.

Após a sua inauguração em 1927, São Januário se tornaria indiscutivelmente o principal estádio do país por vários anos (o maior do Brasil até a construção do Pacaembu em 1940). Contudo ele levou três anos para ser o palco da seleção brasileira se exibir. Depois da Copa de 1930, o Brasil disputou três amistosos com as seleções da França, Iugoslávia e Estados Unidos, todos eles em São Januário. Antes disso, entre 1927 e 1930, a seleção brasileira disputou quatro jogos não-oficiais no Brasil, todos eles disputados nas Laranjeiras12.

A resistência em disputar jogos da seleção em São Januário, neste período, demonstra a preocupação do Fluminense com a força do Vasco e o poder político dos tricolores na política esportiva. O que estava em disputa era, especialmente, para o Fluminense, ter perdido para o Vasco a referência de possuir o principal local esportivo da cidade, da capital do Brasil. Enquanto a torcida do Fluminense se orgulhava do clube nos anos 1910, que servia de modelo para os outros com o seu estádio e sua sede luxuosa, o Vasco, nos anos 1920, fez com que sua torcida se orgulhasse de sua força na construção do seu próprio estádio e na afirmação de sua importância.

O novo estádio seria mais um passo decisivo para as mudanças que se operavam no interior do futebol, entre elas, as principais serão: a popularização crescente do mesmo entre diversas camadas sociais e no aumento da exigência dos torcedores por melhor qualidade técnica dos jogadores de seus clubes, o que certamente incentivou a profissionalização dos mesmos.

Durante anos o estádio do Vasco, até a construção do Maracanã em 1950, foi o principal lugar para eventos públicos da cidade além das exibições de futebol, servindo como palco de comemorações cívicas, com Getúlio Vargas13, durante o Estado Novo (1937-1945).

A utilização de estádios de futebol (principalmente São Januário) para a exaltação do regime e da promulgação de leis favoráveis aos trabalhadores foram características marcantes deste período, que criou uma série de outras celebrações nacionais. Através de grandes eventos de massa, procuravam criar um clima de comunhão coletiva por meio de várias datas comemorativas, como o aniversário de Vargas (19/04), o dia do trabalhador (1/05), a Semana da Raça e da Pátria (Setembro), a Revolução de 1930 (3/10) e a implantação do Estado Novo (10/11). "A criação de um calendário cívico, com ciclos de comemorações e festas, teve um papel importante na construção de uma nova imagem da nação. As cerimônias cívicas, com sua intensa carga dramática, teriam um papel importante no sentido de produzir unidade, dando uma aura de sacralidade a imagem da nação". (PARADA, 2006 a, p.56).

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) também criaria novas funções para os estádios de futebol. O estádio de São Januário seria transformado em Posto da Cruz Vermelha, com o apelo do presidente do clube para mulheres voluntárias se apresentarem ao estádio para o serviço patriótico. O estádio do Vasco da Gama também serviu para a Escola de Instrução Militar, número 307, para o juramento de 8 mil reservistas14. Na cidade eram espalhados milhares de cartazes de propaganda da Educação Física, afirmando "os benefícios para a mocidade de nossa Pátria". Dessa forma, "duas idéias conduziriam a nova relação entre política e esporte: a preocupação com a educação física e a associação entre esporte e civismo" (PARADA, 2006 b, p.155).

Ao mesmo tempo em que a ideologia nacionalista e trabalhista era mais enfatizada, o Estado Novo via surgir o movimento de massa que fugia ao seu controle com manifestações antifascistas e, em conseqüência, direta ou indiretamente contra a ditadura no Brasil. Nesse mesmo período era feita a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, através do Decreto-lei número 5.452, em primeiro de maio 1943, tentando minimizar os prováveis efeitos da contestação ao regime e assegurar o apoio dos trabalhadores. O discurso de Vargas em 1943 em São Januário exalta a figura do trabalhador brasileiro, visto como bom patriota. Enfatizando o nacionalismo, o discurso funde o trabalhismo e a nação.

No entanto, a ditadura agonizava com o fim da Guerra na Europa e o cenário era de redemocratização com as eleições marcadas para o final do ano de 1945. Em maio deste ano, Luis Carlos Prestes15 conseguiria reunir, após sair da cadeia, mais de 100.000 pessoas em São Januário para um comício. O estádio São Januário e os dirigentes do Vasco, acusados durante anos de servir a Ditadura Vargas, foi o palco de uma grande manifestação de oposição, mas pouco lembrado.

A cessão do estádio para o comício de Prestes causou a saída do presidente do Vasco16, o Professor Castro Filho, em virtude do seu pedido de renúncia em decorrência do protesto de sócios e dirigentes influentes do clube movidos pelo sentimento anticomunista predominante em diversos setores.

O futebol carioca nos anos de 194417 e 194518 reviveu com muita intensidade a maior rivalidade do futebol carioca a partir dos anos 1920 com a acirrada disputa para ser o time mais popular da cidade. O Vasco, detentor da maior torcida do Rio de Janeiro na década de 20, segundo o próprio Mário Filho, em Histórias do Flamengo19, viu seu opositor ultrapassar na preferência popular durante os próximos anos. Seria a oportunidade ideal de retomar a liderança entre os cariocas, além da rixa ter contornos nacionais, visto a hegemonia do futebol carioca (através das locuções radiofônicas) em todo o território nacional.

Mário Filho, na véspera do jogo do primeiro turno do campeonato carioca de 1945, reconhece que aquela partida teria contornos diferentes dos jogos anteriores e revela que a disputa nas arquibancadas seria uma competição à parte: "a torcida de cada candidato vem desempenhando um papel importante. Há o 'Avante Flamengo!' e o 'Com o Vasco onde estiver o Vasco', cartazes e bandeiras desfraldadas. O estádio se divide em grupos de torcedores que se empenham em duelos. O que era raro num match, tornou-se comum, o obrigatório. Trava-se também entre as torcidas"20.

A final do campeonato de 1945 foi uma apoteose para o Vasco que vence invicto a competição. Apesar disso, o último Vasco e Flamengo do ano, disputado na Gávea, foi marcado pela violência, apesar dos esforços dos líderes em manter a cordialidade. Segundo o jornal paulista A Gazeta Esportiva21, em 24 de novembro de 1945:

"repentinamente, um tremendo sururu rebentou nas gerais, onde estavam localizadas as torcidas do Flamengo e do Vasco. Algo de inenarrável tivemos ensejo de presenciar por essa ocasião, pois, aproximadamente, perto de 10.000 pessoas trocavam pancadarias, tijoladas, cassetadas e outras coisas mais, tais como tiroteio de morteiros de bombas, que eram arrojados de um lado para outro, contra a multidão, pela própria multidão. Um espetáculo deprimente! Nunca vimos coisa igual em nossa vida. Cercas eram arrancadas, assim como tijolos da geral, e, estes, cruzavam o ar, qual um autêntico bombardeio, atingindo homens, crianças e senhoras (...)" (apud SILVA, 1999, p.175).

Para comemorar a vitória, a torcida vascaína fez uma passeata em plena Avenida Rio Branco, no centro do Rio. A mesma avenida que foi o palco de desfile dos pracinhas há poucos meses. A manchete "A Passeata dos Vascaínos", dava o tom do ato que misturava política e futebol (a eleição presidencial seria naquela semana), e revelava o efeito carnavalizador sendo transportado dos estádios para as ruas da cidade:

O Clube de Regatas Vasco da Gama organizou para hoje, ao meio dia, uma passeata monstro (...) solicitando por intermédio da imprensa o comparecimento de toda torcida vascaína, inclusive os chefes das existentes em todos os bairros cariocas: concentração na Praça Mauá e desfile pela Av. Rio Branco rumo a diversos bairros. Organização da passeata 1 parte ciclistas formando como bateristas, 2 homenagem aos desportistas brasileiros com inúmeros painéis e alegoria, 3 parte banda de musica e clarins, 4 parte Expresso da Vitoria, carro alegórico, 5 parte "A morte do Sapo", carro alegórico, 6 "O almirante é amigo de todos", carro alegórico, 7 parte 200 automóveis ornamentados conduzindo diretores do clube, sócios e torcedores22.

O fato de a torcida carregar seus ídolos nos ombros não era uma novidade, nem a festa no estádio em comemoração ao título, mas a presença de torcedores no centro da capital do país, em um dia da semana, se confraternizando e festejando um título, era o sinal de respeito que esses torcedores alcançaram. Representam que uma nova era para o torcedor de futebol já estava presente. O ano de 1945 foi o início efetivo da consolidação das torcidas organizadas23 (uniformizadas) no Rio. Após este ano, alguns torcedores se tornariam símbolos permanentes dos clubes e consolidariam a organização das torcidas nas arquibancadas e sociais.

Fortalecia-se o clubismo, isto é, um "sistema complexo caracterizado pela adesão afetiva dos torcedores aos clubes de futebol, tendo como desdobramento a constituição de comunidades de sentimento" (DAMO, 2006, p.41). Cabia às torcidas organizadas (uniformizadas), liderar um difícil processo de conciliação de sentimentos que pareciam incompatíveis: a paixão pelo clube e a tolerância com os torcedores rivais. Com o crescimento do tamanho dos estádios, esta tarefa seria ampliada.

Uma nova realidade se fazia sentir: a presença do torcedor mais do que nunca poderia ser esquecida. O futebol, como esporte e espetáculo, teria que contar ainda mais com a sua participação. Entre dirigentes, sócios, torcedores e a imprensa, era consensual que o grau de participação e mobilização afetiva teria que continuar. As torcidas uniformizadas seriam integrantes permanentes do noticiário futebolístico.

O último grande momento de São Januário antes da criação do Maracanã foi a disputa do Sul-Americano em 1949. Seria uma preparação para a seleção brasileira para a Copa de 1950. E o resultado não poderia ser melhor: vitória do Brasil, após 22 anos sem conquistar aquele título. A base daquele time era o Vasco, uma festa para sua torcida... Uma festa BRASILEIRA, com certeza.

© 2009-, Jorge Luiz Medeiros Braga

Notas

Referências Bibliográficas

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