Veja resumo do ano de 2022 do Vasco até a AGE deste domingo
Sábado, 06/08/2022 - 12:53
O futebol do Vasco provavelmente vive seus últimos momentos sob a administração do próprio clube. Caso os sócios aprovem no domingo, a partir da próxima segunda-feira a 777 Partners vai assumir o comando da SAF e passará a tomar as decisões que envolvem o time vascaíno. Financeiramente, todos sabem que o clube vem de anos terríveis, mas o departamento conseguiu se organizar em 2022 em prol do objetivo que é fundamental para o sucesso do grupo americano nos próximos anos: o retorno à Série A.

Depois da queda em 2020 e de um 2021 cheio de equívocos, em que o time sequer entrou no G-4 da Série B, o Vasco conseguiu se firmar entre os quatro primeiros nesta temporada e entregará o futebol à 777 com o acesso pavimentado. Nem tudo deu certo, mas tendo em conta as dificuldades financeiras, houve mais acertos do que erros no ano que será histórico para o clube.

Montagem do elenco

A mudança no perfil do elenco ajuda a explicar a trajetória do time na Série B. O Vasco apostou na solução caseira ao contratar Carlos Brazil para ser o gerente de futebol. O dirigente, que já havia gerido a base do clube e estava no Corinthians, chegou em 15 de dezembro do ano passado com a missão de montar um time praticamente do zero e com o mercado já em andamento.

Esta foi a primeira dificuldade do departamento, já que os jogadores visados já negociavam com outros clubes. O primeiro reforço tentado por Carlos Brazil, por exemplo, foi o atacante Edu, que se destacou pelo Brusque na última Série B, mas àquela altura já havia fechado com o Cruzeiro.

O lado financeiro foi o grande dificultador. O Vasco atrasava salários, o que descredibilizou o clube no mercado e fez o gerente de futebol ouvir um "não" atrás do outro - Zé Ricardo até brincou com isso na ocasião. Com as lições do ano anterior, o departamento mirou no simples e foi em busca de uma equipe menos técnica, porém mais competitiva. A grande sacada, até por força da ocasião, foi trazer atletas que estavam dispostos a vestir a camisa vascaína e que viam no clube a grande chance da carreira.

Jogadores contratados para o Carioca: Thiago Rodrigues, Luis Cangá, Anderson Conceição, Juan Quintero, Weverton, Edimar, Yuri Lara, Matheus Barbosa, Zé Gabriel, Luiz Henrique, Bruno Nazário, Vitinho, Isaque, Getúlio e Raniel.

Com apenas sete jogadores remanescentes da temporada anterior, o Vasco optou por inchar o elenco, prevendo que nem todos os reforços iriam se encaixar no time comandado por Zé Ricardo, que conviveu com dúvidas e pressão da torcida, ainda mais após um Campeonato Carioca ruim.

Parceria com a 777

Três meses após assumir, Carlos Brazil passou a ter a opinião da 777 Partners nas decisões do departamento de futebol. Em fevereiro, o clube e a empresa americana assinaram um Memorando de Entendimento para a venda de 70% da SAF do Vasco. A primeira grande contribuição do grupo foi o empréstimo-ponte de R$ 70 milhões em março, o que resolveu a situação dos salários atrasados.

A partir dali, os atrasos deixaram de ser um problema nas negociações com potenciais reforços em momento de necessidade de qualificar o elenco para a Série B. A 777 cedeu ao Vasco profissionais da sua área de scouting, e o clube passou a trabalhar em parceria com a empresa na análise do mercado. Mas, ainda sem grana para contratar, a ajuda não era garantia de acerto. O nome de Zé Santos, por exemplo, foi indicado pelo grupo americano.

O jogador é um dos que não se encaixaram no time. Ele e Lucas Oliveira, contratado do Bangu, treinam separadamente no CT Moacyr Barbosa. Assim como os atacantes Laranjeira e Vinicius, que vieram da base do clube. São jogadores da posição que se tornou mais carente na Série B. Entre os atacantes tentados pelo Vasco estão Pedro Raul, Vinicius e Nicolas - todos optaram pelo Goiás.

Jogadores contratados após o Carioca para a Série B: Danilo Boza, Gabriel Dias, Carlos Palacios, Erick, Lucas Oliveira, Zé Santos.



Mudança de patamar

O prestígio de Zé Ricardo mudou de patamar na Série B. Pressionados pela demissão do treinador, Carlos Brazil e o presidente Jorge Salgado o bancaram no cargo, e o tempo provou que os dois estavam certos em confiar no trabalho. Os resultados começaram a aparecer, o Vasco se provou o time competitivo que se pensou meses antes e chegou ao G-4, de onde não saiu mais desde a sétima rodada. O técnico, porém, recebeu proposta do Japão e pediu demissão três jogos depois.

Daí surge o grande erro da gestão.

Maurício Souza

O Vasco não esperava perder Zé Ricardo naquela altura do campeonato. Após dois jogos e duas vitórias com o interino Emilio Faro no comando, o departamento cometeu o grande erro da temporada ao fechar com Maurício Souza. Dos 12 comandantes avaliados, o técnico foi o escolhido de Carlos Brazil para a função. O gerente de futebol apostou no nome pelo trabalho vencedor na base - Maurício é o treinador com mais títulos nas categorias inferiores - e pelo baixo custo.

Maurício não era o nome preferido do Comitê de Futebol e da 777 Partners, que queria alguém mais experiente. O coordenador técnico Eduardo Húngaro também conhecia de perto o trabalho do treinador na base e defendia a contratação. Maurício Souza então foi contratado, mas já chegou ao Vasco com uma rejeição muito grande da torcida. Não teve paz para trabalhar.

Se defendeu a contratação de Maurício, Carlos Brazil também bancou sua demissão oito jogos depois. A derrota para o lanterna Vila Nova, com uma mudança na escalação que incomodou desde a véspera da partida, foi a gota d'água. Ainda em Goiânia, o gerente de futebol decidiu pela saída do treinador e comunicou ao presidente Jorge Salgado e a Paulo Bracks, contratado alguns dias antes para ser consultor da 777 e futuramente o diretor executivo da SAF do Vasco. No dia seguinte, assim que a delegação voltou ao Rio de Janeiro, Maurício Souza foi desligado.

Correção de rota

Entendeu-se que não dava para insistir em Maurício como foi feito com Zé Ricardo, porque o treinador não abriu mão de implementar suas ideias e, mesmo com as dificuldades do time em jogar segundo seu modelo, manteve suas convicções. A mudança aconteceu no momento certo, e o departamento optou por manter Emilio Faro até a entrada da 777. Ninguém mais quer fazer apostas.

A demissão de Maurício não foi a única correção de rota do Vasco na temporada. Um dos méritos do trabalho de Carlos Brazil foi a elaboração de contratos curtos, visando somente à Série B, e as mudanças no elenco com a competição em andamento.

O clube, que teve dificuldades de se desvencilhar de jogadores que não deram certo nos últimos anos, tem conseguido fazer isso nesta temporada. Já com a previsão de que nem todos corresponderiam, o Vasco dispensou alguns atletas nesta janela, casos de Weverton, Isaque, Bruno Nazário e Vitinho, e ainda busca um destino para outros não aproveitados. As saídas não geraram prejuízo, já que os jogadores foram realocados no mercado.

A ideia também foi abrir espaço para qualificar o elenco para a reta final da Série B. Nesta janela, o Vasco contratou seis jogadores, todos de acordo com a 777, mas ainda com os limites impostos pelo orçamento do clube. O foco foi no ataque, com dois atacantes de lado e um centroavante. Mesmo com os seis reforços, hoje o elenco não está inchado como antes.

Jogadores contratados na janela de julho: Matheus Ribeiro, Paulo Victor, Alex Teixeira, Bruno Tubarão e Fábio Gomes. Gustavo Maia também tem acerto encaminhado com o clube.

Vale destacar que as contratações feitas ao longo da temporada têm status de aposta. Ao mesmo tempo que algumas não deram certo e saíram, outras chegam nesse momento. Com exceção de Alex Teixeira, o Vasco não contratou ninguém das prateleiras de cima.

Alex Teixeira e outros crias

A grande contratação do ano foi, sem dúvidas, Alex Teixeira, que fez sua estreia pelo time no último domingo, contra a Chapecoense. Revelado pelo Vasco, o desejo do atacante de voltar a São Januário foi um grande peso para o acerto, tanto que ele deixou o salário a cargo do clube.

Mas a chave do negócio foi a proposta do Vasco de um contrato curto, até o fim do ano, deixando o caminho livre para o jogador decidir depois se segue no clube ou dá sequência à carreira internacional, que ainda está nos seus planos. Alex não contava com essa possibilidade.

O clube ainda tentou trazer outros crias nesta temporada. Alan Kardec, Mateus Vital e Paulinho receberam o contato de Carlos Brazil, mas são nomes fora da realidade financeira. O último entrou na lista de interesses da 777, e o negócio dependerá da empresa.

Transição base-profissional

Se buscou repatriar crias da base, o Vasco fez esse ano um trabalho de transição interessante com os meninos que vieram das categorias de baixo. A base é um dos pontos que pesa a favor do gerente de futebol, que em 2018 foi responsável pela reestruturação do segmento. Contratado para a função de coordenador técnico de transição, Kadu Borges comanda um processo que rende resultados ao time na temporada.

O projeto de transição elaborado pelo Vasco foi adaptado do trabalho feito pelo River Plate na Argentina. A ideia é inserir os garotos no dia a dia do profissional sem integrá-los definitivamente para tirar o peso da mudança de nível.

O principal exemplo do bom resultado desse processo é Andrey Santos. O volante de 18 anos foi integrado no início da temporada, passou a vivenciar o ambiente de treinos e jogos e, só na Série B, começou a ser mais utilizado. Ganhou chances, correspondeu e se tornou um dos principais nomes da boa campanha que o time faz até agora.

Recentemente, o departamento de futebol definiu por puxar o meio-campista Marlon Gomes e o atacante Eguinaldo, de 18 e 17 anos, respectivamente. O objetivo era que os dois revezassem entre a base e o profissional, mas ganharam espaço no time de cima. Os dois desceriam para jogar a final do Carioca Sub-20 na última quinta, mas o Vasco optou por mantê-los no grupo de Emilio Faro.

O lateral-esquerdo Matheus Julião vivenciou, há uma semana, esse processo de transição. Ele passou uns dias no CT Moacyr Barbosa, mas voltou ao sub-20, já que o Vasco contratou Paulo Victor para a posição nesta janela. Quem pode pintar também no time de cima ainda esse ano é o lateral-direito Paulinho, outro destaque da base. O clube ainda analisa a possibilidade.

Não renovação de Andrey e compra de Eguinaldo

Outro erro da gestão em 2022 foi a falta de acordo com Andrey Santos pela renovação. O garoto, destaque da temporada, tem contrato até agosto do ano que vem e não chegou a um consenso com o Vasco para estender o vínculo. Além do retorno técnico, o volante é esperança de retorno financeiro num futuro breve e já tem propostas de outros clubes. A equipe do jogador ficou insegura com o processo de mudança do clube para a SAF e preferiu aguardar a 777 para negociar.

Por outro lado, nesta semana o Vasco conseguiu um grande feito ao fechar a compra de Eguinaldo do Artsul. O negócio foi conduzido por Brazil, mas o pagamento de R$ 640 mil por 70% dos direitos do atacante de 17 anos vai ficar a cargo da 777, caso a venda da SAF seja aprovada em AGE no domingo. O jovem já até marcou seu primeiro gol pelo profissional, na vitória por 4 a 0 sobre o CRB.

Renovações

O Vasco agora aguarda a entrada da 777 para definir renovações de contratos de alguns jogadores. Diferentemente do que aconteceu esse ano, com o desmanche do elenco em janeiro, o clube entende que é preciso ter uma base para o time do ano que vem e que há jogadores que corresponderam bem e têm capacidade para seguir em São Januário. O goleiro Thiago Rodrigues e o volante Yuri Lara são atletas que se destacaram na temporada.

Carlos Brazil e Paulo Bracks

Atual gerente de futebol do Vasco, Carlos Brazil trabalha em conjunto com Paulo Bracks, homem forte do projeto da 777 Partners para a SAF. A partir da semana que vem é provável que Bracks já assuma o posto à frente do futebol vascaíno, com Brazil ao lado. O gerente tem contrato com o clube até o fim do ano, mas ainda não foi definida sua função na gestão do grupo americano.

Mas a relação dos dois vem de antes. Carlos Brazil é um dos idealizadores do Movimento dos Clubes Formadores do Futebol Brasileiro (MCFFB), do qual foi o primeiro presidente e também era o mandatário quando assumiu o futebol profissional do Vasco no fim do ano passado.

Foi à frente desse movimento que Brazil conheceu Paulo Bracks, quando o executivo era diretor de competições da Federação Mineira de Futebol. Depois Bracks se tornou diretor da base do América-MG e o contato entre os dois se manteve nos últimos anos.

Nas últimas semanas, os dois têm trocado ideias sobre o futebol do Vasco e tomado decisões juntos. Lideraram a busca por reforços nesta janela, com Brazil à frente das negociações. Paulo Bracks está mais ligado ao processo de definição por um novo treinador, como aconteceu no contato com Odair Hellmann, até porque o assunto será responsabilidade da 777. A expectativa é que o executivo do grupo americano se junte ao dirigente vascaíno no CT Moacyr Barbosa nos próximos dias.

Está confirmada para este domingo a Assembleia Geral Extraordinária em que os sócios do Vasco vão decidir, de uma vez por todas, a aprovação ou não da venda de 70% da SAF para a 777 Partners. Com o aval dos sócios, o futebol vascaíno passa a ser responsabilidade da empresa americana na segunda-feira.



Fonte: ge