Raniel fala sobre o desafio de jogar no Vasco; veja reportagem do 'Globo Esporte'
Quinta-feira, 13/01/2022 - 15:00
Raniel tem apenas 25 anos, mas a bagagem do atacante do Vasco parece de alguém que já viveu muito mais. O peso do passado, porém, não vai mais incomodar. É que a partir de agora, o camisa 9 espera começar uma vida nova para assumir pela primeira vez na carreira o papel de protagonismo que buscou nos últimos quatro clubes que passou.

Em sua apresentação ao Vasco na última quarta-feira, o centroavante falou sobre os obstáculos enfrentados nos últimos anos e garantiu maturidade para corresponder às expectativas do torcedor. Ao ge, explicou o novo Raniel que chega ao Rio de Janeiro com a vontade de fazer história.

- Antes eu era um moleque, ainda sou, mas com a mente bem mais firme. Passei por vários problemas, o doping, meu filho, a trombose, mas não uso nada disso como desculpa. Não quero que ninguém tenha dó, mas que me vejam como guerreiro, como alguém que passou por tudo isso e conseguiu estar hoje num grande clube como o Vasco. Isso me fortaleceu demais, consegui me aproximar mais de Deus. Nada foi em vão, hoje estou pronto para construir uma nova história e tenho certeza que vai dar muito certo - disse em entrevista ao apresentador do Globo Esporte, Tiago Medeiros.

"A 9 é minha, espero corresponder com muitos gols e levar o Vasco para o seu devido lugar".

Revelado pelo Santo Cruz, o jogador teve no Cruzeiro a oportunidade de aparecer no cenário nacional. Foi onde viveu os melhores momentos da carreira curta, que poderia nem ter começado. Depois de uma infância difícil no Recife, Raniel se apegou ao futebol para vencer na vida, mas a falta de estrutura psicológica quase o levou para outro caminho.

A primeira barreira profissional veio ainda aos 17 anos, quando foi promovido ao time profissional do Santa Cruz e testou positivo no exame antidoping por uso de cocaína. O principal nome das categorias de base do clube pernambucano precisou ficar afastado dos gramados por quase um ano.

Em março de 2020, Raniel passou pelo que considera a maior provação da vida. Um acidente doméstico fez com que o filho Felipe, na época com apenas 10 meses, ficasse internado em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por quase um mês.

Para completar a série de problemas que enfrentou, em outubro de 2020 Raniel teve trombose venosa profunda na perna direita em decorrência da Covid. O atacante precisou passar por cirurgia e, por pouco, não teve a carreira interrompida mais uma vez.

- Filho é nosso fruto no mundo, o que aconteceu mexeu muito com minha cabeça. Serviu para aprender, para Deus me mostrar o melhor caminho. A minha lesão também, eu quase perdi minha perna e quase parei de jogar. Não é pra me vitimizar, quero mostrar o guerreiro que sou e provar que tudo isso ficou no passado.

A superação do jogador vai além dos problemas familiares, físicos e com drogas. Raniel é mesmo um guerreiro, como faz questão de frisar. Ainda bebê, o atacante foi entregue pelos pais, que não tinham condições de criá-lo, à avó materna, que depois, com depressão, acabou entregando-o a uma vizinha. Dione, a mãe de criação, faleceu quando o novo camisa 9 do Vasco tinha oito anos, e ele passou a ser criado por um dos irmãos de criação, Junior.

A mudança de Raniel passa então pela aceitação. O atacante cansou de procurar culpados, mesmo tendo razão em fazê-lo, e decidiu assumir a responsabilidade pelos problemas que enfrentou. Resolveu dar um basta. Quer recomeçar.

Em 7 de dezembro de 2020, sete anos depois do doping por cocaína, o atleta decidiu interromper o consumo de bebida alcóolica. A data que marcou a mudança de hábitos está eternizada em uma tatuagem no rosto. Para lembrar que os antigos costumes prejudicaram a caminhada como jogador.

- Tive muitos problemas, isso pesou muito para eu beber. Bebia muito, saía muito, e isso me atrapalhou. As coisas ruins aconteciam na minha vida e eu procurava refúgio na bebida. Hoje sou um cara concentrado, sério, focado, com toda disposição do mundo para despontar no Vasco.

Para despontar, Raniel precisa fazer o vascaíno esquecer, pelo menos temporariamente, de Germán Cano. A missão do Vasco é encontrar um fazedor de gols, posição carente dos últimos anos. O atleta, que começou a jogar como centroavante na base do Cruzeiro, se considera apto para vestir a camisa 9 e escrever o nome no quadro de goleadores da temporada.

- Um grande desafio pra mim. Na minha vida toda sempre teve desafio e esse vai ser mais um que vou superar. Venho disposto, sabendo da responsabilidade que é vestir a camisa do Vasco, mas sabendo também que estou muito preparado para essa missão. Creio que será um ano muito proveitoso para mim e para o clube - concluiu.

De certo, a trajetória e os percalços já fazem do pernambucano Raniel um vencedor.



Fonte: ge