Vasco teve aproveitamento de 22,2% nos jogos do Brasileiro em que vendeu o mando de campo
Sexta-feira, 01/11/2019 - 20:43
O Goiás conseguiu na quinta-feira um precioso empate em casa, por 2 a 2, contra o Flamengo , líder do Brasileirão e que vinha de seis vitórias consecutivas na competição. Uma das razões para o bom resultado veio antes mesmo de o time entrar no gramado: a recusa em vender o mando de campo .

Antes da partida, a diretoria do clube esmeraldino havia recebido oferta de R$ 1,7 milhão para receber o Rubro-Negro no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Recusou. Em campo, somou ponto importante na tabela e com seus torcedores.

— O assédio foi grande, mas eu disse que poderiam esquecer. Recusamos todas as ofertas. A melhor era de R$ 1,7 milhão limpo. Eu não poderia trair a torcida do Goiás neste momento —afirmou Marcelo Almeida, presidente do Goiás, em entrevista ao Globoesporte.com.

O time goiano, que voltou à Série A após quatro anos ausente, é o décimo colocado do campeonato, com 39 pontos.

Aproveitamento de rebaixado

Nem todo dirigente pensa assim. Neste Brasileirão, sete partidas já tiveram seu mando de campo negociado. A iniciativa, por um lado, é sinônimo de ganhos financeiros. Por outro, esbarra em péssimo desempenho esportivo.

Desses sete jogos, os mandantes somaram quatro derrotas, dois empates e só uma vitória, do Fluminense sobre o Corinthians, em Brasília, por 1 a 0. O aproveitamento de 23,8% só é melhor do que o do lanterna Avaí (19,5%). Por outro lado, os 20 clubes que disputam o Brasileirão conquistaram 58,7% dos pontos que disputaram quando jogaram diante de sua torcida.

Para clubes com ambição de se manterem na Série A do Brasileirão, jogar em casa é essencial. Pontos preciosos podem ser desperdiçados ao abrir mão de jogar em casa, normalmente contra times fortes como Flamengo, Palmeiras e Corinthians, que acabam, na prática, atuando em casa em estádios como o Mané Garrincha, em Brasília.

— O time perde força, sem dúvida. É inquestionável. Jogar para a torcida te dá mais força. Os números mostram isso. A maioria dos clubes pontua dentro de casa. Isso está totalmente fora de questão. Não vendemos mando — afirma Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.

Em setembro, o dirigente se recusou a negociar o mando de campo da equipe cearense contra o Palmeiras. O jogo foi disputado na Arena Castelão, com vitória palmeirense por 1 a 0. Se tivesse vendido o mando, receberia até R$ 800 mil.

— Negamos (a proposta) porque temos uma relação muito boa com a nossa torcida. Estamos crescendo no número de sócios-torcedores. Não acharia aceitável tirar um jogo do Fortaleza de perto do nosso público. A questão financeira não justificaria — argumenta o dirigente.

Está na regra

Embora seja uma iniciativa questionável, a venda de mandos é regulamentada pela CBF. Desde 2018, a entidade voltou a permitir o modelo de negócio sob algumas regras: a prática é proibida nas últimas cinco rodadas e cada clube pode vender no máximo cinco mandos durante o torneio.

— Embora não exista proibição, não há dúvida de que a venda do mando de campo altera o equilíbrio daquele jogo específico e, em um contexto mais amplo, pode trazer prejuízo a estabilidade da competição. Por isso, sob o aspecto esportivo é muito difícil encontrar um fundamento — comenta o advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito esportivo.

Ajuda nas finanças

O recordista em vendas foi o Vasco, que vendeu três mandos, com aproveitamento baixo: dois empates e uma dolorosa derrota, de goleada, para o arquirrival Flamengo (4 a 1), em Brasília. Em São Januário, o aproveitamento é de 55,5%. Quando vendeu mando, somou apenas 22,2% dos pontos que disputou.

Último colocado do Brasileirão, o Avaí aproveitou problema em seu estádio para vender o mando do jogo contra o Flamengo, pela 18ª rodada do torneio. A Ressacada não contava com gerador de energia, exigência da CBF.

— O Avaí até tentou junto à CBF uma dilatação nos prazos para atender à exigência, mas não conseguiu. Por isso, fechou com a empresa que levou o jogo com o Flamengo para o estádio Mane Garrincha. Se a Ressacada estivesse liberada, o jogo não sairia dali. O Avaí teve ofertas para venda de outros jogos, contra Corinthians e Palmeiras, e não cedeu — afirmou o clube catarinense, através de sua assessoria de imprensa.

Outro clube a ceder à tentação da venda foi o CSA. O time alagoano recebeu o Flamengo no estádio Mané Garrincha, em Brasília, com lucro foi considerável: R$ 1,5 milhão limpos.

— Se tivéssemos feito em casa não conseguiríamos isso. O estádio Rei Pelé tem capacidade para 18 mil pessoas. O Flamengo tem torcida em nível nacional. Tivemos bom retorno financeiro — afirma Rafael Tenório, presidente do CSA.

Na capital federal, a partida atraiu 37.673 torcedores, que geraram renda de R$ 2.949.665.

Lutando contra o rebaixamento, porém, a diretoria do time alagoano descarta repetir a iniciativa até o final do Brasileirão.

— Os investidores querem (jogos contra) Flamengo, Vasco, Fluminense, Palmeiras e Corinthians. Não querem Santos, Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio e Inter. Mas decidimos não vender mais nenhum jogo — conta Tenório.

Fonte: O Globo Online