Natação Paralímpica: História da vascaína Susana Schnarndorf será contada em dois documentários

Quinta-feira, 21/07/2016 - 16:25
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Há duas formas de se narrar a história de Susana Schnarndorf. A mais óbvia, para muita gente, é pelos dramas. Em 2005, ela descobriu uma doença rara que interromperia uma premiada carreira no trialto e limitaria sua vida. Ao lado das deficiências físicas vieram a depressão e a necessidade de se adaptar a uma rotina de remédios, privações e incertezas.

Já a segunda forma é uma escolha da própria Susana, uma nadadora gaúcha de 48 anos que está perto de participar de sua segunda Paralimpíada. É pela esperança:

— Eu não sou um super-herói, também tenho meus dias ruins. Mas estou na luta. Não vou desistir. As portas podem se fechar, mas tenho que deixar uma janela aberta.

Ela mesma abriu uma janela até a conquista da vaga que lhe permitirá disputar os primeiros jogos no Brasil. Há três anos, Susana era apontada como favoritíssima para receber uma medalha na Paralimpíada do Rio, entre 7 e 18 de setembro. Há um ano, porém, passou a ser uma atleta desacreditada, em decorrência da progressão de uma doença chamada Atrofia Múltipla de Sistemas (conhecida pela sigla MSA, por seu nome em inglês). Em 2015, os tempos de prova iam piorando. Suas chances para 2016, desaparecendo.

É preciso entender a gravidade da MSA para saber pelo que passa Susana. Trata-se de uma doença rara, neurodegenerativa, que pode afetar desde a fala até os movimentos dos membros. A nadadora, por exemplo, tem 40% de capacidade respiratória e dificuldade de coordenação motora. Sua medula e seu córtex cervical estão atrofiados. Ela toma remédios diariamente, mas não importa o que faça para controlar o avanço da MSA, vai piorar sempre. A única diferença é que às vezes piora mais, às vezes menos.

No Campeonato Mundial de 2015, em Glasgow, seu desespero foi perceber que estava piorando mais. Ela havia recebido a medalha de ouro no Mundial de 2013, em Montreal, na modalidade 100 metros nado peito na classe S6 — como é chamada uma das classificações funcionais dos atletas paralímpicos de natação, divididos conforme suas deficiências para tornar a disputa justa.

Ainda em 2013, fora eleita a melhor atleta paralímpica brasileira. Mas, em julho do ano passado, embarcou para a Escócia cabisbaixa porque sabia que não teria mais chances de medalhas.

— É raríssimo vê-la chorando como aconteceu em Glasgow — afirma a cineasta Giovanna Giovanini, que, em parceria com Rodrigo Boecker, prepara o documentário “1.000 dias”, sobre a preparação de Susana para os jogos. — Geralmente ela é despachada, faz piada com a doença. Ela diz, por exemplo, que tinha uma mão boa e outra ruim, e que agora tem uma mão ruim e outra péssima. Mas no ano passado foi diferente. Ela sofreu muito, foi muito duro. Para piorar, algumas publicações, por irresponsabilidade, disseram que foi desleixo.

PENTACAMPEÃ COMO TRIATLETA

O avanço da MSA fez que Susana pedisse, em outubro, a revisão de sua classe, com vista aos Jogos Paralímpicos — por causa da doença, ela iniciou no esporte na classe S8, depois foi para a S7 e então para a S6. O resultado só foi anunciado em abril deste ano, permitindo que ela passasse a competir pela classe S5. A mudança a colocou novamente em condições de alcançar bons resultados. O melhor deles, até aqui, aconteceu no início de junho, no Aberto de Berlim, quando Susana enfim conseguiu o índice para a Paralimpíada. A confirmação final veio anteontem, com a convocação pelo Comitê Paralímpico Brasileiro dos 278 atletas que estarão na competição.

— Eu gosto de treinar. Todo mundo fica cansado, mas eu continuo treinando, gosto da daquela sensação de se estar esgotada — diz Susana. — Fiz tudo o que podia para representar o Brasil e estarei lá.

Antes de ser uma atleta paralímpica de ponta, Susana era uma triatleta de ponta. O diagnóstico da MSA veio em 2005, quando tinha no currículo o pentacampeonato brasileiro e contabilizava 13 participações no Iron Man. Mais importante, era mãe de três filhos.

— Eu pensei que não estaria aqui para vê-los maiores — diz. — Quando descobri a doença, fiquei muito mal. Mas em 2010 comecei no esporte paralímpico. Treinei muito. Em 2011 já entrei para a seleção brasileira, e em 2012 fui pra os Jogos de Londres (foi quarta colocada nos 100 metros peito e quinta nos 200 medley). Senti uma diferença grande na evolução da doença. Geralmente se morre de MSA depois de sete ou oito anos. Mas eu tenho há 11 e estou aqui.

O rápido sucesso despertou o interesse pelo trabalho de Susana. Em 2011, já assinou um contrato de patrocínio com uma empresa de engenharia, a Radix. Depois foi procurada pelo cinema. Ela é uma das personagens do documentário “Paratodos”, de Marcelo Mesquita, sobre atletas paralímpicos brasileiros, que estreou em junho. O outro filme em que estará presente, “1000 dias”, é exclusivo sobre sua vida e deve ficar pronto em 2017.

— Vamos acompanhá-la até o fim da Paralimpíada, para terminar a montagem no meio do ano que vem — afirma o diretor Rodrigo Boecker. — Estamos há três anos do lado dela e vemos como ela luta por esse sonho de uma medalha. Ela não quer que ninguém a ajude, sua luta é pessoal.



Fonte: O Globo Online