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NETVASCO - 16/02/2010 - TER - 11:20 - Fernando Horta, sobre presidir o Vasco: 'Só vou se eles me chamarem'

O rei do samba é português!

Fernando Horta nasceu perto de Felgueiras, mas é rei e senhor no Brasil. A história do português que chegou a presidente da Unidos da Tijuca, uma das maiores escolas de samba do Rio de Janeiro e forte candidata ao título em 2010

Na entrada do barracão da Unidos da Tijuca na Cidade do Samba, todos os olhos estão postos na pequena televisão. Passava a novela das 3, e uma dezena de mulheres e crianças da comunidade amontoam-se nas cadeiras gastas da sala de espera como se aguardassem num consultório. O silêncio respeitoso pela trama só era interrompido pelo som estridente de berbequins e marteladas no grande hangar onde se ultimam os preparativos dos carros alegóricos. Falta um mês para o Carnaval e o cheiro a cola, resina e verniz, engrossado pelo calor, deixa o ar sufocante. Ninguém parece importar-se.

Os olhos desviam-se da cena empolgante que passa no pequeno ecrã para observar e dar passagem aos portugueses - "É visita para o Presidente. São patrícios!". Rapidamente, voltam a fitar a televisão. Afinal, os portugueses não são por ali novidade. A mais portuguesa das escolas de samba brasileiras está habituada a ter presença lusa, ou não fosse o seu presidente um ilustre portuga nascido e criado até aos 12 anos na zona de Lixa, perto de Felgueiras.

Lá em cima, nos seus frescos aposentos, Fernando Horta recosta-se na sua cadeira de design egg chair e bate com o charuto na enorme secretária solenemente posta num pequeno estrado, ao mesmo tempo que recorda os tempos difíceis quando a família vivia na aldeia. "O meu pai emigrou para o Brasil com 38 anos. A família ficou, e foi chegando um de cada vez. Eu fui o último, vim com a minha irmã mais velha", conta no seu sotaque já contagiado pelo brasileiro. O seu pólo Ralph Lauren amarelo quase fluorescente condiz com a decoração da sala nas cores da escola de samba que dirige há 23 anos. Foi ele que voltou a colocar a Unidos na liga da frente das escolas de samba e lhe deu uma gestão profissional, disputando os primeiros lugares nos desfiles de Carnaval. Foi ele que contratou para rainha da bateria a mediática loira Adriane Galisteu. Foi ele que pôs renovada energia no pé dos tijucanos para sambar com fervor durante todo o ano a pensar em Fevereiro.

Do fado para o samba

Mas afinal, como é que um homem da terra do fado vira rei e senhor na terra do samba? É verdade que sempre foi festeiro. A "culpa" foi do pai, que o pôs a viver numa das zonas mais boémias da cidade, perto da Lapa. Foi entre um chope e um sambinha que espigou na sua adolescência, sempre pronto a divertir-se. "Ah, fiquei bem integrado nos costumes brasileiros, acabei por vir mesmo para ficar", diz. O rapaz, enturmado, rapidamente começou a fazer-se à vida. Aos 15 anos, trabalhava de manhã e estudava à noite. Com 17 anos foi trabalhar numa casa de cristais, antiguidades e obras de arte. Aos 21 anos abriu o seu próprio negócio e inaugurou a primeira loja nesse ramo no bairro da Tijuca. Assim nasceu a ligação com a comunidade.

Na altura, era o verdadeiro Menino do Rio: "Era um playboy, carro importado...". Já vivia o Carnaval à maneira carioca e frequentava a quadra da escola de samba. Acabou por se envolver a fundo: "Tinha uma série de funcionários que trabalhavam na escola, comecei a ajudar financeiramente de vez em quando, emprestei um prédio para a construção das esculturas, comecei a envolver-me, ajudar na gestão e em 1987 acabei presidente sem querer". Diz que só foi porque lhe pediram. "A comunidade fez uma lista de 17 mil assinaturas", recorda enquanto se refastela mais na cadeira de presidente, sua de orgulhoso direito.

O preconceito contra os portugueses, foi-o vencendo aos poucos. "É claro que havia discriminação. Aqui o português é brega. Briguei tanto por causa disso quando era miúdo... Mas fui convencendo o pessoal com o meu trabalho". E apressa-se em acrescentar: "Mas não sou de sofrer muito não, se tiver de brigar, eu encaro!".

Nas vésperas do Carnaval passa oito a dez horas dedicado só à escola de Samba, deixando os seus vários negócios no país - uma rede de lojas e mais duas fábricas de vidro, negócio de automóveis, loja de decoração e arte - praticamente entregues à filha de 32 anos.

Ai que vida boa...

Fernando Horta, com os seus 57 anos, ainda tem pedalada para a festa todas as quintas-feiras de Setembro até Fevereiro, quando a escola de samba sai para a rua para ensaiar para o grande dia do desfile. A mulher também acompanha. "Para meu azar, acho que ela até já gosta mais do que eu." Já tem uma neta de 9 meses, mas não é avô babado. "Babado não! É que ainda quero ser pai", diz em tom de graçola. Da mulher? "Com ela não, essa já não tem idade..." A gargalhada foi prontamente acompanhada pelo funcionário da escola de samba que assistia à conversa. E ela não é ciumenta, com tanta menina seminua e visivelmente saudável a sambaricar por ali? - pergunta a jornalista, sentada junto ao estrado presidencial num banquinho tipo manicure. "Não, ela não é ciumenta. A gente está habituado, fica igual a pedra!", esclarece. Nova gargalhada geral.

E como no Brasil samba rima com futebol, a sua segunda paixão vai para o Vasco, o clube carioca fundado por portugueses. "Eu não falo com gente do Flamengo. Uma vez descobri que um cara era do Flamengo, deixei de lhe falar." Já esteve aliás na corrida a presidente do grémio, que perdeu na recta final. "Agora, só vou se eles me chamarem como aconteceu aqui. O Vasco precisa de uma gestão profissional".

Em Portugal, mantém negócios (no vinho) e boas relações: "Mário Soares, João Soares, Isaltino de Morais, Reinaldo Teles, Fátima Felgueiras, actores de televisão, são todos meus amigos". Quando a presidente da Câmara de Felgueiras fugiu para o Brasil, em 2003, pensou-se que foi para perto dele. "É tudo mentira!", garante.

Por orientação do presidente, foram pelo menos seis os carnavais de inspiração lusa que levaram os tijucanos ao rubro e fizeram Portugal brilhar nos 590 metros da Avenida Marquês de Sapucaí, onde está o Sambódromo do Rio de Janeiro.

É segredo!

Este ano, o enredo tem o título "É segredo!". Fernando Horta acredita que é para ganhar. Foi roubar à Mangueira o casal mestre-sala e porta-bandeira Marquinho e Giovanna, o enredo é "mágico", "tem tudo para dar certo". E como é segredo, terá de esperar até domingo de Carnaval para ver se, como dizia Chico Buarque, "cada paralelepípedo da velha cidade essa noite se vai arrepiar". A Unidos da Tijuca será a terceira escola a desfilar. E uma coisa é certa. Bem lá na frente, no seu fato de presidente, com os nervos à flor da pele e o ânimo ao rubro, estará Fernando, o portuga, a comandar as tropas sambantes.


Fernando Horta, presidente da Unidos da Tijuca


Fonte: Expresso (Portugal)

Nota da NETVASCO: Francisco Horta é grande benemérito do Vasco desde 2002. Nas eleições de 2008, integrou a chapa de Amadeu Pinto da Rocha, como 1º vice-presidente, contra a chapa de Roberto Dinamite. Em outubro de 2009, revelou que se candidataria à presidência nas próximas eleições.

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