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Eduardo Costa conta que foi chamado de maluco ao aceitar jogar no Vasco


Terça-feira, 26/07/2011 - 10:42

No dia 3 de janeiro deste ano, Eduardo Costa era apresentado como reforço em São Januário. Na época, o clube vivia um momento de esperança. A expectativa era de que a temporada ruim de 2010 ficasse no passado e um ano de glórias se iniciasse. Mas não foi bem o que aconteceu, pelo menos no começo. Poucas semanas depois vieram o início terrível no Campeonato Carioca e a eliminação precoce na Taça Guanabara, que culminaram com a demissão do então técnico PC Gusmão e o afastamento das duas estrelas maiores do elenco: Felipe e Carlos Alberto.

Naquele momento, duas situações passaram na cabeça do recém-chegado jogador. A primeira foi que, como um dos mais experientes, tinha de tentar se impor e ajudar a colocar o trem de volta nos trilhos. A segunda foram as lembranças de conversas com amigos na época em que comentou a possibilidade de deixar o Monaco, da França, por um contrato de seis meses no Vasco. As resenhas não eram das mais animadoras.

- Me chamavam de maluco. Falavam que o Vasco não pagava os salários, que as campanhas nos últimos anos eram terríveis, incluindo a queda para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro... Mas eu precisava disso, precisava de um desafio. Confiei no que o Rodrigo Caetano me passou e apostei na história do Vasco. É um clube grande, tradicional e com uma história bonita. Isto não iria se perder em algumas temporadas ruins - relembrou Eduardo Costa, admitindo que não esperava início tão ruim.

E valeu a aposta. Figura importante no título da Copa do Brasil, pouco tempo depois, o volante de 28 anos nem cogitava a possibilidade de voltar ao Monaco, quando o período do empréstimo estava chegando no fim. E ali, iniciava-se outra batalha, desta vez fora dos campos. Com o clube francês vivendo grave crise em função do rebaixamento, Eduardo Costa ficou sem contrato com o Vasco e sem conseguir resolver sua situação. A solução foi embarcar em um avião e negociar pessoalmente a rescisão de seu compromisso para poder assinar novamente com o clube que o conquistou. Durantes estes dias, a aprensão foi semelhante à do início da temporada.

- Foi difícil. No início, as conversas estavam boas, mas tudo mudou quando o Monaco foi rebaixado. A diretoria do clube passou três semanas desorientada, sem conseguir resolver nada. Não atendiam telefonemas e não respondiam os contatos. E o prazo aqui estava acabando... Temi, sim, pelo pior. Apareceu um dirigente novo lá que cogitou a minha permanência, mas deixei claro que minha ideia era voltar e batalhei pelo que eu queria. Abri mão de muita coisa para conseguir isso, mas no fim tudo compensa. Estou feliz no Vasco e no Rio de Janeiro, uma cidade boa de se viver. Fora que estou mais próximo da minha família - afirmou.

Calmo e com a fala mansa - postura bem diferente do surto de raiva ao ser substituído na vitória sobre o Atlético-MG -, Eduardo Costa conversou com o GLOBOESPORTE.COM. Confira abaixo a entrevista.

Como você encarou o mau início de temporada do Vasco?

Foi difícil. Fiquei surpreso pelo começo. O Vasco tinha tudo para dar certo. Iniciou o ano com jogadores experientes e de qualidade, como Felipe, Carlos Alberto e Zé Roberto e ainda estava procurando se reforçar mais. Mas tudo na minha vida sempre foi muito difícil. Não tinha para onde correr porque pior não ia ficar.

Em meio a tanta crise, você consolidou sua posição de líder do elenco mesmo com tão pouco tempo. Como foi esse processo?

No auge, o Felipe acabou afastado. Além da qualidade que ele tem, era menos um para ajudar com a experiência. Estava praticamente sozinho ali. Mas o Vasco possui um grupo com jovens de muita qualidade e de cabeça boa. Vemos a dupla de zaga, o Romulo... Todos grandes jogadores. E ainda chegou o Ricardo Gomes que foi determinante para a mudança.

Ele é um dos personagens principais da reviravolta?

A chegada dele deu muita confiança. Veio em um dos momentos mais difíceis do clube e não pipocou. O Ricardo Gomes teve uma coragem que muitos não teriam. A gente já tinha um grupo bom, mas faltava algo e a chegada foi determinante para isso. Encaixou como uma luva.

E a Copa do Brasil, qual o peso da conquista?

Quando se tem dificuldades como as que tivemos, damos mais valor ao que se conquista. Cria-se um vínculo. Foi um título difícil, conquistado por um time que se formou em menos de seis meses. Depois disso, não tinha como voltar para o Monaco. Abri mão de certas coisas, mas precisava disputar essa Libertadores. Como já disse, a negociação foi complicada, mas o final foi feliz.

Já se sente um carioca?

O povo carioca é especial. Tem uma abertura que para mim é muito boa, já que sou mais quieto. Saio na rua, e o povo já vem e conversa. São culturas diferentes. Vou a um shopping, por exemplo, de bermuda e chinelo, e isso é normal. Lá na Europa, se você não entra em um restaurante de terno e gravata já te olham atravessado. E aqui ainda tem a praia. Chego e pego logo um coco, que nem um carioca.

E a amizade com Ronaldinho Gaúcho?

Temos uma amizade desde novos. Ele subiu para os profissionais um ano antes de mim, e ali criamos um vínculo que juntou nossas famílias também. Dividíamos quarto na concentração e sempre nos falamos. Mas temos nos encontrado pouco. Sou casado, tenho uma filha, e o Ronaldinho está solteiro. O ritmo, como todos podem ver, é diferente mesmo. Mas sempre que conseguimos, nos encontramos ou então falamos por telefone.

Desde que o Ricardo Gomes trocou seu posicionamento, surgiu um Eduardo Costa mostrando qualidade na saída de bola. Sempre foi uma característica sua?

Ele me conhecia da época da Seleção Brasileira pré-Olímpica e dos anos em que joguei na França. Não foi uma surpresa para o Ricardo, mas acho que tem muita gente que só está conhecendo este meu lado agora.

O que você pode passar para os companheiros sobre experiências na Libertadores?

É uma competição que engana. Na primeira fase você, pega alguns clubes que não conhece bem, mas na hora do jogo vê que não é bem assim. Na hora da tabela enfrenta um colombiano sem muita expressão, mas tem o clima do país, a pressão do estádio... Não é fácil. Disputei a de 2009 pelo São Paulo, e nos classificamos com dificuldades. Empatamos com o Tolima, por exemplo. E este ano, o mesmo Tolima tirou o Corinthians.

E a expectativa de jogar ao lado do Juninho?

Olha, é sempre bom jogar ao lado de jogadores de qualidade como ele. Eu só joguei contra, lá na França. Então existe sim uma expectativa. Vamos ver como será.

Fonte: GloboEsporte.com