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Bruno Mazzeo fala das 'loucuras' que já fez para ver o Vasco jogar


Segunda-feira, 25/07/2011 - 08:11

Quando tinha 6 anos, o ator e roteirista Bruno Mazzeo, 34, ganhou uma máquina de escrever do pai, Chico Anysio. Enquanto Chico escrevia as falas do Professor Raimundo, Mazzeo digitava suas primeiras piadas. Aos 14, colaborava na Escolinha do Professor Raimundo. As portas da Globo se abriram. Nesta entrevista, ele diz como foi difícil ascender profissionalmente e que já fez terapia para entender a razão de os seus textos serem editados. Ainda assim, conta que sabe lidar com as incertezas do mundo artístico. Só não compreende como celebridades, como Luan Santana, não se manifestam quando são envolvidos em polêmicas.

Agência Estado — Em dois anos, você está lançando o seu segundo filme. As coisas na sua vida costumam acontecer assim, muito rápido?

Bruno Mazzeo — Eu sou acelerado e tenho ideia fácil. Agora, na sequência, tenho três filmes. O cinema é um brinquedo novo, sabe? Enfim, sou muito pilhado. Em casa, estou sempre produzindo. Mas acho que com a idade vou ver que não preciso trabalhar tanto (risos)

AE– Essa animação é por influência de seus pais (Chico Anysio e a atriz Alcione Mazzeo)?

Mazzeo — Meu pai é assim também. Sempre foi de trabalhar muito. Ele já viajou o Brasil e eu sempre o acompanhei aos finais de semana, já que morava com a minha mãe. Mas como também nasci nesse meio, sei que as oportunidades oscilam. É uma profissão que num dia você está em cima e, no outro, você está embaixo. Sei que não é moleza. Meu pai sempre ensinou que sucesso é um acidente de percurso.

AE — O que mais o seu pai te ensinou?

Mazzeo — Ele colocava uma minimáquina de escrever do lado da mesa dele. Eu ficava do lado dele, enquanto ele criava. Eu tinha uma Olivetti, portátil. Mas almejava tanto a máquina dele, sabe? Era enorme, fazia bem mais barulho do que a minha (risos). Depois, ele me deu, mas logo ganhei um computador.

AE— Mas por ser filho de Chico Anysio as coisas foram mais fáceis?

Mazzeo — Como tudo, tem o lado bom e o ruim. Eu não vivi o lado ruim de ser filho de Chico Anysio. O lado bom é que eu usufruí 100%, senão, não teria entrado na TV tão cedo. Na medida em que ele via que eu curtia aquilo e tinha talento, ele me incentivava. E comecei a escrever textos para a Escolinha do Professor Raimundo (em 1991, com 14 anos). Para me motivar a não largar tudo de uma hora para a outra, me davam um cachê simbólico por cada piada aprovada.

AE — E você teve muitas aprovadas?

Mazzeo — Eu tive algumas. Lembro que a primeira aprovada foi dita pelo Walter D’Ávila (o Baltazar da Rocha), que sempre fechava a Escolinha. Depois, aos 19 anos, fui fazer o Sai de Baixo. Ali, aprendi a me desapegar do texto. Eles editavam tanto meus textos, que pensei: Se eu não desapegar, vou ficar sofrendo o resto da vida. Eu sofri pra caramba. Pensei em largar tudo. Mas isso tudo me incentivou a fazer coisas fora, como o teatro e a coisa do Multishow. Comecei a entender que, se eu dependesse da Globo aprovar minhas coisas para eu ser feliz, eu estaria jogando minha felicidade na mão dos outros.

AE — Você chegou a levar esses questionamentos de trabalho para algum tipo de tratamento médico?

Mazzeo — Sim. Eu levei para a terapia. Eu falava da vida como um todo, mas o problema era o trabalho. Era um momento de uma renovação comigo, mas na Globo também. O canal estava começando a perder audiência para coisas que não era dramaturgia. Tipo Ratinho.

AE —E quando você acha que se deu alta da terapia?

Mazzeo — Não vou saber em que momento. Na verdade, nem sei se estou de alta (risos). Varia. Às vezes, estou bem. Às vezes, não. Depende

AE— E nessa oscilação, como seu pai ajuda? Ele faz críticas?

Mazzeo — Nossa, ele me dá vários toques. É cuidadoso e, ao mesmo tempo, respeitador. Na minha última peça, por exemplo, ele me avisou: Bruno, você está falando muito alto. Tem coisas que você falou que eu quase não entendi.

AE — Com o sucesso, veio a exposição. Como lida com os paparazzi?

Mazzeo — Isso me incomoda profundamente. Mas estou aprendendo a lidar. Não vou deixar de viver a minha vida. Mas tem uma festa ou outra que eu não aproveito como antes. É chato ver num site uma foto minha com o meu filho. Pra mim, isso não é nada noticiável. Acho isso cafona. Incomoda dar um Google esperando ver uma matéria minha e as 20 primeiras coisas que aparecem não têm nada a ver com trabalho. Em função disso, já tirei o alerta do Google. E não entro mais no (site) Ego. Estou me blindando aos poucos.

AE — No Twitter, você se policia? Você foi xingado depois que escreveu que o Luan Santana é a versão vesga do Wagner Moura.

Mazzeo — Demais. Não escrevo mais no Twitter como antes. As redes sociais viraram um celeiro de xingamento. Achei um pouco assustador ver crianças dizendo: Eu quero que você morra. É uma criança, cara! Depois, são essas crianças que matam no colégio. Fico admirado que o Luan Santana, ídolo dessa juventude, não se manifeste. Ele não pode deixar os fãs dele xingando a Rita Lee velha caquética. Poxa, pera aí, é a Rita Lee, sabe? Um dos grandes cinco nomes da música. O artista tem de se manifestar. Não pode ficar em cima do muro o tempo inteiro. Em algum momento, ele vai ter de falar alguma coisa além de pedir voto para prêmio, entendeu? Poxa, quando eu era jovem, eu ia para o show do Renato Russo e ele falava contra o governo. E não ficava ali fazendo assim... (Bruno faz um coração com as mãos).

AE — Justamente por se assustar com esse cenário, policia o seu filho?

Mazzeo — Eu fico apavorado. Ele vai no Google e coloca o meu nome, querendo ver fotos minhas. Ele ainda é pequeno (João tem 6 anos). Ele vai no YouTube e joga Super Homem, mas aparecem milhares de outras coisas. Então, sempre tem alguém por perto. Não sei como vai ser quando ele crescer e começar a entrar no Skype. Não quero nem pensar nisso.

AE — Mas você é um pai neurótico?

Mazzeo — Ainda não, porque ele está totalmente sob o meu controle. Não sei como vai ser quando ele já estiver indo para festinhas, sabe? E tomando aquela cerveja. Espero que ele seja comportado (risos).

AE — Você passeia muito com ele? Curte ir a um futebol?

Mazzeo — Eu amo ver o Vasco jogar. Sou torcedor fanático. Antigamente, eu viajava pelo time. Já cheguei a pegar o carro e ir a Cabo Frio ver um jogo. Já fui para BH, Porto Alegre... Claro que, com a idade, fui perdendo o fanatismo. Antes, eu ficava mal. Daí, eu vi que os jogadores não sofriam tanto, sabe? (risos). Vi que não valia a pena. Mas agora, meu filho está entrando nessa. Tadinho, o Vasco perdeu o título para o Flamengo e ele chorou. Contaminei ele, sabe? (risos).

AE — Por ser torcedor, você evita fazer piadas de futebol?

Mazzeo — De futebol, não. Só de política. Eu sempre prefiro não declarar o meu voto. Eu quero estar livre para falar de qualquer um. Eu sou contra todos eles. Mesmo que tenha sido o cara em que eu votei.

AE — Você disse que não tem medo do fracasso. O que o assusta?

Mazzeo — Eu não penso no fracasso nem no sucesso. Eu quero fazer meu trabalho. O resto é consequência. O meu medo é ficar impossibilitado de exercer meu trabalho. Não faço questão de glamour.

AE —Recentemente, seu pai esteve internado. Você ficou assustado?

Mazzeo — Obviamente. Mas isso é vida, sabe? Nesses casos, não há nada a ser feito, não é mesmo?

Fonte: Agência Estado