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Caetano confirma conversas com Flu e diz que Libertadores pesou para ficar


Domingo, 19/06/2011 - 12:44

Ele não faz gol, mas virou objeto de desejo de vários dirigentes do futebol brasileiro. Nos últimos meses foi cortejado e sondado pelo Fluminense e por dois outros clubes de fora do Rio: um gaúcho, outro paulista. Motivado, porém, pelo desafio de disputar a Libertadores, no ano que vem, o diretor-executivo Rodrigo Caetano - ex-meia esquerda de 41 anos, formado em administração de empresa, com MBA de gestão empresarial - resolveu recusar as propostas ( a do tricolor quase três vezes maior do que recebe atualmente) e permanecer no Vasco, disposto a cumprir seu contrato, que vai até o fim de 2012.




Antes de mais nada, uma pergunta se impõe: você esteve ou não na Unimed, para conversar com o Celso Barros, presidente da patrocinadora do Fluminense?

Estive sim, duas vezes. Mas não agora, como se chegou a noticiar. Fui conversar com ele em Dezembro do ano passado, quando meu contrato com o Vasco estava acabando. E mantive o Roberto (presidente do Vasco) informado o tempo todo.

Mas o Fluminense voltou a procurá-lo agora?

Sim. Mas, desta vez, não houve encontro e nas vezes que nos falamos, pelo telefone, sempre expliquei a ele (Celso Barros) que só discutiria que só discutira qualquer coisa mais concreta após a final da Copa do Brasil.

E depois do título?

Conversei primeiro com o Roberto e com o Mandarino (José Hamilton, vice-presidente de futebol) e resolvi ficar. Nosso objetivo de conquista um título importante no primeiro semestre foi cumprido e agora inicia-se um novo ciclo extremamente importante, tendo a Libertadores como principal meta.

E esse desafio (a Libertadores) foi fundamental para que você decidisse ficar?

Sem dúvida. É um projeto que me encanta. Principalmente porque temos praticamente um ano para trabalhar nele. Flamengo e Fluminense, em 2009 e 2010, não tiveram tanto tempo, porque se classificaram através do Brasileiro, ou seja, no final do ano, e logo no início da temporada seguinte, já estavam jogando a Libertadores.

Se o Vasco tivesse perdido a Copa do Brasil, você teria saído?

Talvez, sim. Porque estaria se encerrando um ciclo sem que tivéssemos atingido o objetivo traçado, que era a conquista de pelo menos um título importante: do Estadual ou da Copa do Brasil. Seria o caso de repensar toda estrutura do futebol, e a diretoria poderia preferir fazer mudanças e optar pela minha saída. Não sei...

E houve alguma compensação financeira para que você recusasse a proposta milionária do Flu?

Nem quis discutir isso agora. Pode ser que mais pra frente a diretoria entenda que vale a pena fazer um reajuste, até para colocar algum tipo de multa rescisória no meu contrato, pois atualmente isso não existe. Mas é claro que a conquista da Copa do Brasil e a certeza da Libertadores, em 2012, valorizam o clube e todos os seus profissionais.

Uma pergunta mais apimentada, para responder de bate-pronto: se você fosse o presidente de um clube, aceitaria pagar R$ 300 mil mensais a um executivo de futebol? (Esta foi a proposta tricolor)?

(pensando um pouco) Não sei. Tanto, talvez não. Mas acho que essa função está se valorizando cada vez mais e entendo que deva ser bem remunerada. Quanto, exatamente, prefiro não comentar.

E o que faz, exatamente, um diretor-executivo de futebol? Não é um nome mais pomposo para o velho surpervisor?

Acho que houve uma evolução muito grande na função. O supervisor de antigamente era um 'tarefeiro'. O executivo de futebol é responsável por muitas coisas...

Quais, exatamente?

Estruturar e organizar todo o departamento de futebol, montar a comissão técnica e, com a participação dela, o próprio elenco; definir, com a diretoria, o orçamento e cuidar de sua execução e, naturalmente, liderar o grupo passando confiança e segurança. Não é pouca coisa. Vivo praticamente 24 horas em função do clube.

Você foi jogador, quando e como resolveu ser executivo da bola? Nunca pensou em ser técnico?

Técnico? Nunca! Depois que parei fui estudar administração de empresa e fiz também um MBA em gestão empresarial. Tudo já pensando em ser dirigente profissional. Era algo que, ainda em meus tempos de jogador, eu sentia que seria necessário. O futebol deu um salto gigantesco nas gerações de receitas e era natural imaginar que seriam necessários bons profissionais para ajudar a geri-lo dentro e fora das quatro linhas.

Algum 'supervisor' da velha guarda te inspirou?

Sim. Antônio Carlos Verardi, do Grêmio. Ele está até hoje no clube, mas em outras funções. Sempre foi extremamente competente.

Voltando ao Vasco, você está há dois anos e meio em São Januário. Chegou quando o clube estava para começar a disputar a Segunda Divisão. Quais as melhores e piores lembranças desse período?

O início foi bem díficil...Inclusive porque muitos dos jogadores que procurávamos (para montar o elenco da Série B) não queriam nem ouvir nossa proposta, pois achavam que se desvalorizariam, disputando a Segunda Divisão. Aí foi muito importante a ajuda do Carlos (Leite, empresário). Por isso que eu digo que o bom empresário é aquele que trabalha aliado ao clube. Age como parceiro. É natural que também pense no seu lucro. Mas todos os jogadores dele que estão no nosso elenco só estão porque nós os escolhemos e consideramos utéis.

Dorival Júnior e Carlos Alberto foram apostas que deram muito certo na campanha de volta à Primeira Divisão. Mas o primeiro acabou não renovando e o segundo saiu brigado. O que houve?

Dorival todos nós queríamos que ficasse. Mas ele se valorizou muito com o título da Segunda e não tivemos como cobrir as propostas que surgiram. Já o Carlos Alberto teve um 2009 espetacular, mas sofreu em 2010 com muitas lesões, que acabaram comprometendo o seu rendimento. Já no início de 2011 aquele início desastroso acabou causando muito estresse, e ele e o presidente se desentederam no vestiário, após uma derrota e sua permanência ficou inviável. Mas é um jogador que respeito muito, por tudo que fez, nos ajudando num momento dificilimo.

Mas você recomendaria a contratação do Carlos Alberto, em outro clube que você estivesse trabalhando?

(pensando um pouco antes de responder). Recomendaria, sim. Ele é um grande jogador. O problema é que abate muito quando enfrenta problemas que o impedem de jogar normalmente, como as seguidas contusões. Aí, este abatimento acaba comprometendo o seu próprio comportamento. Daí alguns problemas que já enfrentou na carreira...

A campanha da volta foi o seu período mais díficil em São Januário?

Não! Apesar de todas as dificuldades para montar o elenco e garantir não somente o retorno à Primeira Divisão como o título da Série B - uma exigência nossa e da torcida! - os piores momentos, para mim, foram no ano passado, quando houve até uma ocasião em que pensei, seriamente, em deixar o clube.

Quando?

No dia em que os torcedores invadiram o gramado para cobrar resultados do time e do técnico Celso Roth. Aquilo foi inadmissível. Fiquei muito chateado mesmo.

E como os torcedores entraram? Normalmente quando isso acontece há a cumplicidade de algum dirigente...

Nesse caso, não. Eles entraram por um portão lateral que estava aberto e quando vimos já estavam no gramado. Se algum dirigente tivesse tido participaração, aí mesmo é que eu sairia. Foi muito desagradável, mas não acontecerá mais.

Por falar em Celso Roth, a inesperada saída dele para o Internacional não o surpreendeu?

Sim. E foi também uma grande decepção. Eu o indiquei, apostava muito no trabalho dele e nada deu certo. No início do Brasileiro, fizemos apenas cinco pontos em 21 possíveis, mas ainda assim achava que ele poderia se recuperar. Mas veio a proposta do Inter e ele preferiu sair. Foi a pior experiência que tive com um treinador do Vasco.

Falando de técnicos, você já contratou, além do Dorival e do Roth, o Vágner Mancini, o Paulo César Gusmão e agora o Ricardo Gomes. Como foi com cada um deles?

Eu apostava muito no Mancini, mas não deu certo. Se você me perguntar o motivo, sinceramente não sei. Ele é um treinador inteligente, bem preparado e que sabe se comunicar com os jogadores. Aqui, entretanto, depois de um ótimo começo - chegamos a golear o Botafogo por 6 a 0, em pleno Engenhão - perdemos a final da Taça Guanabara e a coisa desandou. Já o PC (Gusmão) foi muito bem ao substituir o Roth no Brasileiro do ano passado, mas neste início de temporada também acabou enfrentando sérios problemas, com aquelas quatro derrotas seguidas. Aí, não tem jeito...

E o Ricardo Gomes? Como você chegou a ele e o que o diferencia dos demais?

Antes de decidirmos pelo Ricardo, conversei com muita gente. E só ouvi elogios a respeito dele. No São Paulo, chegaram a me dizer: ele não foi campeão por detalhes (perdeu a Libertadores, para o Inter, e o Brasileiro, para o Flamengo). Mas, certamente, será em outro clube. Conversei até com o Washington (ex-centroavante), que se derramou em elogios, embora tivesse sido barrado por ele no São Paulo. Aí, o chamamos para uma conversa e decidimos que ele era mesmo o melhor nome. E acertamos.

E qual o mérito dele nesta conquista?

Em primeiro lugar, recuperar a autoestima do grupo, que estava baixa após aquele início desastroso na Taça Guanabara. Depois, até por estarmos jogando sem pressão - já que não havia mesmo expectativa naquele primeiro turno - ele pôde armar e soltar o time ao seu gosto. E começamos a disparar goleadas e reencontrar o rumo. O título da Copa do Brasil foi a coroação deste trabalho. Mas, a partir de agora, a pressão, a expectativa e as cobranças serão bem maiores. E o Ricardo sabe disso. Temos time para disputar o Brasileiro com chance de ser campeão.

Como é o seu diálogo com os técnicos? Há muitos treinadores que não admitem interferência em seu trabalho. E costumam se meter em tudo. Inclusive em decisões que, antigamente, era dos supervisores. O novo executivo de futebol tem espaço com esse tipo de profissional?

Bem, aqui no Vasco temos procurado que se adaptem à nossa forma de trabalhar, onde o diretor-executivo é quem traça e executa as diretrizes básicas do departamento. Na minha visão, a era do técnico 'faz-tudo' está acabada. É claro que ainda existem profissionais que agem assim e alguns têm sucesso. Mas não creio que durem por muito tempo. O treinador tem que se concentrar é no seu trabalho de campo. É entender que, mesmo assim, algumas de suas decisões precisam passar pelo crívo da diretoria, representada pelo executivo de futebol.

Que tal um exemplo?

O técnico não pode, simplismente, decidir afastar um jogador que tem multa rescisória alta e ponto final. Se ele não o quer mais, precisa me avisar, para que tentemos negociar o atleta, sem que o patrimônio do clube seja desvalorizado com o afastamento e a execração pública que iss provoca. E sem que isso no cause, também, dívidas trabalhistas pesadas no futuro.

Com o aumento vertiginoso das receitas e a chegada de profissionais no futebol, os clubes terão jeito? Deixarão de ser deficitários e se tornarão, enfim, lucrativos?

O ambiente para que isso aconteça nunca foi tão propício. Veja o exemplo do Vasco: no balanço de 2010, se não me engano, o prejuízo ainda foi em torno de R$ 20 milhões, mas se computarmos todas as dívidas antigas que foram pagas no período, veremos que o futebol já começa a dar lucro. Acho que muito em breve todos os clubes bem administrados começarão a ser superavitários. E nem precisarão vender tantos jogadores para sobreviver. Estamos vivendo um período de travessia do caos absoluto. Bastar agir e pensar com profissionalismo.

Você é gaúcho, jogou e começou a carreira como administrador por lá. Como foi o impacto de sua chegada a um clube do Rio onde, sabidamente, é bem mais precária do que no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Paraná e em Minas?

Dos clubes cariocas, o Vasco é um dos que tem menos problemas, até por ter um estádio. Mas é claro que nossa estrutura ainda está bem aquém do ideal. Ainda assim, o Rio tem algumas vantagens fascinantes. Em lugar nenhum do Brasil, o futebol é tão adorado pelo povo. A gente sente isso na rua, no contato com o povo. Só o carioca mesmo para idolatrar um executivo do futebol. Na chegada do Vasco, após a conquista da Copa do Brasil, os torcedores me carregaram como se eu tivesse jogado e feito gol! Coisa de louco, de emocionar mesmo.

E qual é o gol do diretor-executivo?

É saber montar um bom elenco e dar a ele todas as condições para que tenha o melhor desempenho possível. Além, é claro, de tornar o futebol como um todo rentável, dentro do orçamento previamente combinado com a diretoria.

Os diretores-executivos de futebol vieram para ficar?

Aposto que sim. E já estou pensando em organizar até um seminário entre nós num futuro próximo. Seria o primeiro passo para a criação de uma associação da classe. Venho conversar sobre isso seriamento com o Ocimar Bolichelo (do Paraná) e o Felipe Ximenes (do Coritiba), que são ótimos executivos. Quanto mais nos organizarmos, melhor será para todo mundo.

E o que a torcida do Vasco pode esperar, daqui pra frente? Já classificado para a Libertadores, o Vasco vai 'brincar' no Brasileiro e na Sul-Americana?

De jeito nenhum. Vamos lutar pelos dois campeonatos. Mas, é claro, que se a nossa situação não for boa em relação à disputa do título, faltando uns dois para acabar o ano, começaremos a discutir seriamente a possibilidade de antecipação das férias para alguns jogadores mais desgastados, pois nossa grande meta, no ano que vem, é a Libertadores. Com todo o tempo que temos pela frente, é nossa obrigação chegar a ela muito bem preparados. E por ter certeza de que chegaremos.

Reforços à vista para a Libertadores?

Ainda é cedo para falar nisso. Ainda mais porque, com os jogadores que contratamos esse ano (Anderson Martins, Alecsandro, Eduardo Costa, Diego Souza, Bernardo e Leandro) e a chegada do Juninho Pernambucano, o elenco está bem forte para o final da temporada.

E Juninho Pernambucano, o que esperar dele?

Tenho certeza de que será muito útil. É um pessoa especial dentro e fora de campo. Seu primeiro treino já impressionou pelo fôlego e pela velha categoria. Aliás, fiz questão de contar a todos, quando da apresentação dele, que o Juninho foi meu banco lá no Sport, quando ele estava começando a carreira, em 1995.

Verdade?

Claro que não...(risos). Mas serviu para descontrair o ambiente. Fomos contemporâneos por um curto período, mas ele sempre jogou muito mais do que eu...

Fonte: O Globo